NOTA: Essa fanfiction não tem nenhum interesse ou apoio comercial nem há intenção de fazer apologia à violência contra mulher, homem, idoso e etc.
Como mostrarei no decorrer do conto, o sofrimento de quem fez coisas erradas sempre estarão presentes e como a vida é um jogo onde o GAME OVER é a única certeza.
Escrevi isso porque sou muito fã da Graphic Novel, simplesmente considero Eddie e Sally um casal perfeito que não deu certo devido a decisões erradas, ações sem pensar e o fato de não se dizer aquilo que pensa.
Tenho certeza que o Comediante amou a Espectral I do jeito louco dele, mas amou. Mas isso não desculpa o fato dele ter tentado estuprá-la, o que considero o pior dos atos contra quem quer que seja, cuja punição deveria ser a morte.
Não tem perdão.
Não tenho certeza de quantos capítulos a fic terá, mas o plano é que isto seja como um livro de memórias da Sally, que com certeza deve ter muitas histórias pra contar.
Os personagens de Watchmen pertencem a DC Comics (que amo) e foram criados por Alan Moore e Dave Gibbons exceto os claramente introduzidos por mim nessa fantasia de fã.
Fic NC 17, com palavrões e linguagem explícita. Mistura acontecimentos do HQ e do filme e seus especiais e extras, além de coisas da minha cabeça.
Crianças, vão assistir Os Incríveis e Procurando Nemo, ou ler Peter Pan.
Espero que gostem, por favor revisem, me digam o que pensam de bom e de ruim.
Obrigada pela atenção.
O Espectro de Jupiter
Era primavera de 1986, e Sally Júpiter, a lendária heroína Espectral dos anos 40, estava sentada confortavelmente numa cadeira de praia em Malibu, sozinha, contemplando aqueles jovens vigorosos correndo de um lado para o outro, se exercitando, namorando ou simplesmente tomando sol e apreciando aquele belíssimo mar azul.
Por volta do meio dia, a moça que a acompanhava em sua viagem correu desesperada em sua procura.
- Sally! Sally! Sally! – gritou a moça.
- Sou velha, mas não sou surda Berta. – respondeu Sally enquanto tentava se levantar da cadeira, sem sucesso.
A moça chegou perto, quase chorando e se ajoelhou em frente à Espectral.
- O que foi criatura?! – Sally se assustou ao ver a expressão de espanto nas feições da moça.
- Veja o que acabou de chegar! Olha isso! – então lhe mostrou uma caixa marrom.
- O que é isso? – Sally ficou intrigada do porque de todo aquele alvoroço por uma simples caixa.
- Um homem do governo veio trazer. Veja o remetente!
Quando os olhos claros da velha pousaram no remetente, seu coração quase parou e sua vista escureceu.
- Oh meu Deus! – Sally deixou escapar um sussurro antes de pegar rapidamente a caixa das mãos de Berta e mandar que ela a deixasse só.
O sol brilhava forte e parecia que todas as pessoas da praia tinham sumido no momento que ela leu novamente e com calma:
De Edward Morgan Blake Para Sally "Jupiter" Juspeczyk. CONFIDENCIAL.
Com mãos trêmulas ela abriu cuidadosamente a caixa que fora lacrada várias vezes.
Finalmente aberta, revelou a ela vários envelopes brancos, um em especial era grosso e tinha um coração mal desenhado com lápis de cor vermelho e as iniciais E & S em tinta azul dentro deste coração, e ela subentendeu que se tratava de uma carta de amor. Uma coisa totalmente inesperada e muito estranha vinda de Edward Blake, o Comediante.
O coração de Sally parecia que ia sair pela boca e ela temeu ter um infarto e morrer sem saber o que tinha escrito na carta.
Na caixa também tinham alguns papéis com o carimbo do condado de Nova York que ela não olhou com muito interesse e um fino álbum que ela não abriu imediatamente.
Foi direto no envelope com o coração vermelho e o abriu. Nele tinham várias folhas, era uma grande carta escrita à mão.
Nova York, 22 de setembro de 1985
Sally
Se essa carta chegou às suas mãos, com certeza eu devo estar morto. Eu sei que isso vai acontecer mais cedo ou mais tarde porque eu vi o que não devia. Por isso me preveni e escrevi pra você porque não tenho coragem de ir te ver, sinto muito, mas eu tenho muito, muito... Medo da sua reação.
Ela arregalou os olhos. Ele admitindo que tinha medo?!
Não fique triste nem chore, e também não pare de ler por aqui. Pelo amor de Deus!
Ela parou e uma lágrima quente rolou pelo seu rosto marcado de rugas e cheio de maquiagem forte. "- Oh Eddie, como você pôde me pedir pra não chorar por você?! Como você pôde ir embora sem me ver uma última vez?" – ela pensou e chorou alto por alguns minutos que pareceram horas que se arrastavam dolorosamente.
Depois ela se forçou a continuar a ler.
Tenho tanto pra te contar que a minha cabeça de velho dói só de me esforçar pra tentar lembrar tudo.
Ela sorriu por entre as lágrimas.
Mas vou tentar ser bonzinho e escrever tudo o que eu sinto neste momento.
Não pare de ler Sal, por favor, sei que você, mais do que qualquer pessoa no mundo inteiro, tem o direito e a razão pra nem se preocupar com o que tenho a dizer, mas peço que continue lendo.
Nesse instante ela pensou que ia morrer de tristeza.
Em primeiro lugar, deixe-me contar como me senti a primeira vez que ouvi falar de você.
Ela teve que sorrir novamente enquanto limpava as lágrimas. Ele iria narrar para ela coisas que nunca tinha sido capaz sequer de falar em voz alta sozinho num quarto?
Eu tava dando um jeito nuns bandidinhos mequetrefes nas docas quando ouvi falar numa gostosa que seduzia os ladrões pra depois descer o braço neles.
Ela sorriu largamente.
Fiquei muito interessado em vê-la e logo o Hollis me procurou nas docas onde eu apavorava, falando num tal grupo de heróis mascarados que ele tava fazendo parte e me queria no bando. A minha primeira pergunta foi: "A bonitona de amarelo vai estar no grupo?" E ele me respondeu: "Ela já está!" e fui logo disparando: "Tô dentro cara!" Sem mais enrolação. Eu não podia perder a chance de te ver de perto.
Ela sorriu e limpou novamente as lágrimas que teimavam em cair sem parar, manchando o papel. A praia foi esvaziando, pois o céu começou a ficar nublado. Não chovia muito na Califórnia, ela bem sabia, mas o céu estava escurecendo rapidamente. Então ela voltou sua atenção novamente para a carta.
Nossa Senhora! Quando te vi, quase não acreditei que pudesse existir uma mulher tão linda como você. Sal, você tinha um corpo de me fazer desmaiar de desejo, eu ficava todo aceso!
Ela sabia que ele sempre a achou a mulher mais gostosa do mundo, ele tinha dito isso a ela várias vezes enquanto estavam fazendo amor, durante o tempo em que foram amantes.
Ainda lembro do teu perfume. Não leve na maldade, mas você me deixa louco até hoje!
"- Você não me viu muitas vezes depois que eu envelheci não é mesmo?" Ela abriu um sorriso largo.
Lembra da festa de Natal em 39?
"- Ah se lembro Eddie!" ela fechou os olhos e quase pode sentir o cheiro do pernil assado misturado ao do charuto dele. O barulho da risada sexy da Silhouette enquanto futucava as asas do Traça e deixando este, furioso.
Eu fiquei te cercando a festa inteira e aquele seu agente irritante me olhando torto. Careca ridículo!
Ela sempre soube que o Eddie nunca fora com a cara do Laurence Schexnayder e vice versa. Pareciam sempre disputá-la.
Naquela noite eu te puxei pra dançar, lembra? E você tinha medo de que eu pisasse o teu pé porque eu era muito grande e pesado. Você riu tanto quando percebeu que eu era um pé de valsa! Ainda posso ouvir você rindo com a cabeça encostada no meu peito. Você tão pequenininha, nem chegava à altura do meu ombro. Tempo bom Sally.
Ela chorou novamente. Ele dançava tão bem que ela se sentiu flutuar outra vez naqueles braços fortes e quentes como naquela noite de Natal.
E as fotos que tiravam da gente?
Em toda foto dos Minutemen ele sempre dava um jeito de sair ao lado dela, vide a foto mais famosa do grupo na qual ele ficou ajoelhado, mas saiu pertinho dela. E na noite da festa ele sempre a agarrava ou corria pra perto dela quando o fotógrafo parecia preparar a câmera.
Sabe, tenho um porta-retrato com aquele recorte de jornal onde aparecemos eu e você agarradinhos dançando. Sempre formamos um belo casal não é Sally?! Admita gata!
Se não fosse aquela monstruosidade que aprontei com você e também outras merdas que andei dizendo, vendo e fazendo desde que aconteceu, garanto que estaríamos casados até hoje! Garanto! No tô brincando ou te zoando!
Ela largou a carta, que caiu em seu colo e levou ambas as mãos ao peito, novamente num pranto de fazer dó se alguém a visse. "- Como você pôde me dizer isso só agora?! Como pôde brincar assim comigo Edward?" Ela demorou muito para se recompor do choque dessas palavras. Ele nunca tinha falado em casamento ou que poderia mantê-la junto a ele, e também tinha toda aquela confusão na época das guerras, tanto a Mundial quanto a do Vietnã. Mas agora que ela tinha certeza que ele havia pensado nisso uma dor afiada percorreu o corpo da pobre velhinha. Ele estava morto e não havia volta.
Sally decidiu ir para dentro da casa que Dan e Laurie alugaram para as férias dela porque um vento frio começou a soprar e ela sabia que precisava de uma cama próxima de si para poder se jogar quando lesse mais da carta dele.
Entrou calada na casa, sem ajuda de Berta, e num sinal de "não" fez a moça se afastar enquanto caminhava para seu quarto segurando firmemente a caixa.
Espalhando o conteúdo da caixa em cima da cama, ela se sentou e pegou a carta novamente. Seus olhos foram logo pra parte na qual tinha parado. Ela não ia agüentar ler tudo novamente.
É muito difícil pra eu falar disso, e só com você eu posso tentar. Só com você, a única que me viu sorrindo alegre e com amor. A única que viu que o Comediante também sabia sorrir de verdade, sem deboche ou sarcasmo.
Ela se sentiu única e especial outra vez.
Lembro de cada detalhe infame daquele meu ato podre, eu era muito babaca naquela época, muito novo, muito burro e como era acostumado a não ser rejeitado nunca, eu fiquei furioso, puto da vida e... você me bateu também, e isso, ah mãe do Céu, isso martela na minha cabeça até hoje!
"- Na minha também Eddie! Na minha também!" ela passou a mão esquerda na testa enrugada.
Não, não tô tentando achar desculpas ou o que quer que seja pra aliviar minha culpa, o que eu fiz foi burrice e não tem perdão. Estupro é o pior crime que pode existir e acredite e mim Sally, por Deus: aquela foi a primeira e única vez que tentei algo assim! A única vez!
Eu disse isso pra nossa Laurie uma vez quando ela me perguntou, e ela me jogou um copo de whisky na cara no meio de um monte de gente importante.
Aquelas pessoas que se danassem, eu nem liguei pra elas, mas ver a carinha da Laurie, que é sua cópia fiel, versão morena graças a mim é claro, bêbada, triste e furiosa daquele jeito...
Ela me olhou estarrecida do mesmo jeito que você me olhou depois que eu tentei te estup... que eu te machuquei! E isso me fez perceber como é grande essa mancha do meu, do nosso passado!
Eu chorei Sally, eu chorei tanto! E eu não sou homem de chorar e você bem sabe disso.
Sally sabia muito bem e também chorou quando se lembrou do Jon trazendo Laurie nos braços, bêbada, suja e gritando maldições ao próprio pai, sem saber da verdade completa. "- Se arrependimento matasse, eu já teria morrido muito antes de você Eddie!
Estuprar é pior que matar e graças a Justiça Encapuzada eu não cometi esse ato demoníaco contra a pessoa que se tornou meu mundo desde então.
Ela chorou desesperadamente ante a esta revelação. Ficou repetindo "a pessoa que se tornou meu mundo desde então" várias vezes até que a curiosidade a fez voltar a ler. As emoções de toda uma vida contidas em algumas linhas escritas com a caligrafia forte e feia de um homem de guerras como ele, falando de arrependimentos, sentimentos ocultos e desejos não realizados era de um impacto devastador nela.
Eu não esperava que sua reação fosse aquela, já que eu achava que teus sorrisos magníficos eram um indício de alguma atração que você sentia por mim. Bobo engano, você simplesmente era fofa e gentil com todos por lá.
Eu não percebi isso, e quebrei a cara, quer dizer, J. E. a quebrou.
Sinto tanto pesar por aquela malvadeza, por cada soco e chute que eu te dei, você tão frágil e delicada, tão macia.
Sally, você ainda me odeia tanto quando pensa nisso?
Ela se lembrou do jeito que eles tinham se olhado depois da foto. Ela o olhou com desejo antes de entrar na sala dos troféus, ele sempre foi lindo, lindo demais.
Ela o desejou naquela noite. Desejou saber o que havia embaixo daquela roupa ridícula de palhaço que não marcava o corpo dele. Desejava saber se aquele bruto poderia ser delicado e sensível na cama.
Desgraçado olhar. Ela provou do punho dele e de seu próprio sangue e lágrimas naquela noite.
"- Não entendo como te rejeitei depois daquele beijo no pescoço e daquele gemido no meu ouvido. Eu não esperava que sua reação fosse tão violenta. Eu nunca gostei de ser dominada, e não me senti pronta pra deixar que você exercesse poder sobre mim. Fazia tanto tempo que alguém não me tocava, e eu não queria que fosse rápido, não queria que fosse ali. Por que reagimos daquela forma Eddie? Por que tinha que acontecer logo com a gente? Porque você tinha que revidar meu soco? Por que eu te soquei?! Oh Deus! Oh Eddie, por que tinha de acontecer justo com nós dois?!"
Ela ficou falando baixinho, como que se quisesse que ele voltasse do além para responder-lhe esta pergunta. Somente esta!
Queria tanto ouvir de você a resposta pra isso, queria tanto poder ter coragem de falar com você sem medos, reservas ou vergonha e machismo sobre o que eu sentia e sinto até hoje por você. Queria falar sobre várias coisas, porque, sobretudo por isso, pela tentativa de estupro, EU ME ODEIO!
Continua no próximo capítulo.
