Disclaimer: Naruto e seus respectivos personagens não me pertencem.
Classificação etária: T
Afável
Capítulo I
A dúvida
Aqueles olhos azuis me fitavam transbordando uma espessa presunção, irritando-me profundamente. Ela me olhava desafiadoramente, como se fosse a dona da verdade. Devolvi-lhe um olhar de escárnio e indiferença, fingindo não me incomodar com a sua postura. Delibei um pouco do suco à minha frente, notando a maneira como o seu sorriso ganhava ainda mais vida. Ela sabia que eu estava mentindo e eu tinha plena consciência da minha derrota, todavia, jamais daria o meu braço a torcer. Nem a ela, nem para ninguém!
Continuei concentrada no suco de laranja, e ela em mim. Terminei de beber todo o conteúdo, chamando o garçom para pedir mais um copo. Revirando os olhos, Ino perdeu a nossa batalha de indiferença uma para com a outra, suspirando.
— Certo, Testão, pode parar com esse seu joguinho retardado e desembucha de uma vez. – falou, aproximando-se de mim na mesa.
Acomodei-me melhor no assento, bocejando preguiçosamente.
— Pensei que você já tinha dito saber de toda a verdade. – falei, ignorando o olhar estranho que a loira me mandou. — Além do mais, nem sei do que você está falando, Porca.
— Sabe! – declarou, jogando um guardanapo sob a mesa. — E não se faça de idiota, sua cretina pegadora de gostosões!
— Pegadora de gostosões? – ri de sua sentença. — Do que você está falando?
— Eu já te disse para não se fazer de idiota, sua... Sua... – ponderou mais um pouco, procurando o adjetivo que melhor me descrevesse. — Sua sortuda de uma figa!
— Sortuda? Eu? – sorri, enquanto o garçom trazia o suco que havia pedido. — Pode ser mais específica?
Seus olhos se espreitaram, deixando quase impossível visualizar o seu tom azulado. Cruzando os braços, em seu rosto formou-se uma carranca horrorosa que emanava um ódio profundo. Já fazia quase uma hora em que ela tentava obter alguma informação mais precisa de mim, porém eu sempre achava um jeito de desviar do assunto. Mas Ino era esperta, e não duvido que logo ela me surpreenda.
— Você está pegando todos do seu time. – acusou-me, fazendo-me engasgar seguidamente. Sorriu, mais uma vez, presunçosa. — Você, Haruno Sakura, está saindo com os cinco.
— Não sei de onde saiu tamanha caraminhola, Ino. – limpei algumas gotículas da mesa, sorrindo para a loira. — Sua imaginação anda cada vez mais fértil.
— É claro. – comentou, debochadamente. — E eu também ando vendo coisas. – arqueei uma sobrancelha, permitindo que ela notasse a minha curiosidade. — Ah, não se faça de boba, eu sei que você me viu, Testão.
Engoli em seco, embora meus olhos continuassem a fitá-la friamente.
— Me viu? – mais uma vez, disfarcei não entender do que ela falava. — E o que há de mais em me ver?
— Tirando a vertigem que o brilho da sua testa me dá, nada demais. – revirei os olhos com a sua declaração, fazendo-a sorrir. — Mas eu estou falando de outra coisa.
— Outra coisa?
— Sim, outra coisa. – comentou, descruzando os braços. — Do tipo: você e "certos" ninjas.
— Kami-sama, como pode uma kunoichi ser vista com ninjas? Que absurdo! – desta vez, fora ela quem revirou os olhos. — É só isso que você tem a me dizer, Porca?
— Não, Testão, e você está me obrigando a ser mais direta!
— Então seja de uma vez, Ino. – delibei mais um pouco do suco.
— E vi você de agarramento com os garotos do seu time. – engasguei novamente, fazendo sorrir triunfantemente. — E foi um de cada vez.
— Eu não sei do que você está falando. – disse, limpando a mesa novamente.
— Então por que você engasgou? – mandou-me um cínico olhar.
— Por tamanha sandice que você acabou de falar. – respondi, me defendendo. — Não sei de onde você tira essas histórias.
— Eu vi, Testão. – deu de ombros. — E se você continuar negando, eu vou pessoalmente falar com cada um deles e...
— Não! – a minha exaltação apenas aumentou o riso daquela loira, que se calou. — Digo, não vá os perturbar com uma bobagem dessas.
— Claro, claro. – pegou o meu copo, bebendo o restante do meu suco. — Argh! – chiou, fazendo uma careta. — Não faz mal adoçar só um pouco, sabia?
Continuou disfarçando, cantarolando baixo a sua vitória. Ela já tinha a confirmação que queria, mas ainda não estava satisfeita. É claro que eu não precisava mais negar, todavia, era de seu anseio que lhe contasse tudo! Cada minucioso detalhe da roubada em que eu me meti. Era como um de seus jogos, de caça e caçador. E, inevitavelmente, eu era a vítima.
— Porca...
— Conte-me tudo, Testa! – mandou um sinal para o garçom, pedindo por mais suco. — Desta vez com adoçante, hein! – gritou, chamando a atenção de alguns clientes. As nossas bebidas chegaram rapidamente, e eu fiz uma careta ao sentir o gosto doce e enjoativo do suco. — Agora me conte, tim-tim por tim-tim.
— Bom, eu...
— Desde quando você está de caso com eles?
— Eu...
— Você já ficou com todos ao mesmo tempo?
— Err...
— Qual deles é o mais bem dotado?
— Ino!
— Me desculpe, a curiosidade fala muito alto, sabe. – deu de ombros. — Mas me conte, como foi que isso aconteceu?
— Eu não sei, já faz algum tempo que...
— Mas e o Panaca? – ela me interrompeu, arqueando uma sobrancelha.
— Panaca? – indaguei, curiosa.
— É. – respondeu. — Aquele seu ex-namorado. – cocou o queixo. — Como era o nome dele mesmo? Panaca? Pataca? Babaca?
— Tanaka. – lhe respondi, revirando os olhos. Ela nunca ia com a cara dos caras com quem eu saía, e sempre achava uma razão para implicar com eles. — O nome dele é Tanaka.
— Oh, sim. Tanaka! Como pude me esquecer. – fingiu um aborrecimento, mas deu de ombros indiferentemente. — Como ia dizendo, vocês não estavam juntos quando começou a sair com os cinco, nãos é?
— Não. – respondi, fazendo uma segunda careta por causa do suco. — Mas foi ele quem me abriu os olhos.
— Sério? – aproximou-se mais, arregalando seus olhos azuis. — Tipo, ele te flagrou num momento quase intimo com os garotos e te deu um pé na bunda?
— Não. – falei, fazendo uma careta, desta vez, por causa da sua colocação maluca. — Ele me acusou de não estar apaixonada por ele.
— Hm. – ela coçou o queixo, ponderativa. — Te acusou de estar apaixonada por outro, presumo.
— Não. – articulei, fazendo-a franzir o cenho. — Me acusou de estar apaixonada por outros. – suspirei. — Pra ser mais específica, me acusou de estar apaixonada por outros cinco.
— Oh! – olhou para os lados, observando se não havia ninguém nos escutando. — Conte-me melhor essa história. E, por favor, não poupe nenhum detalhe.
— Certo. – respondi. — Mas antes traga um suco de laranja sem açúcar para mim.
Afinal, não desejava que a minha garganta ficasse seca.
.
.
Era uma noite de sábado, e eu saí do centro cirúrgico, acompanhada pelos demais médicos que auxiliaram na operação. Passamos mais de seis horas ali, numa desgastante operação. Alguns comemoravam a missão bem sucedida, enquanto outros se queixavam de ter gasto muito tempo num único caso. E eu me encaixava no primeiro grupo, embora eu tivesse que concordar com o segundo. Era apenas um pequeno problema de pedras nos rins que se agravou para um problema ainda maior por causa de falta de experiência de alguns médicos. Shizune e eu fomos chamadas prontamente, interrompendo o que fazíamos apenas para poder ajudar.
Suspirei, retirando a máscara cirúrgica.
— E veja só quem está ficando mais velha. – senti dois tapinhas no ombro, fitando o sorriso acolhedor de Shizune. — Feliz aniversário, Sakura-chan! Tudo de maravilhoso para você neste seu aniversário, querida!
— Shizune-s...
Interrompeu-me com um abraço apertado, roubando-me o ar. Sorri, tentando retribuir o afago.
— Não devia ter vindo trabalhar. – advertiu-me, se afastando.
— Mas o dever me chama.
— Sim, sim. Infelizmente. – completou, arfando cansada. — Mas aposto que você ganhará muitos presentes!
— Até imagino quais. – resmunguei, imaginado o jantar romântico que Tanaka, provavelmente, estaria preparando.
— Ainda é cedo. – comentou, olhando no relógio, mas logo fez uma careta. — Não, não é mais. – suspirou, aborrecida. — De qualquer forma, ainda há tempo para um jantar romântico, não é?
— É... – mas eu não estava nem um pouco a fim de um jantar, principalmente com o Tanaka. — Bom, eu tenho que ir. – falei, jogando a máscara e as luvas no lixo. — Obrigada pelos votos, Shizune-san.
Já estava saindo, quando senti meu pulso sendo capturado.
— Sakura-chan. – falou, olhando-me seriamente. — Tenha bastante juízo. – suspirou. — Aos dezoito anos as coisas mudam, tenha isso em mente.
Sorri, lembrando que foi a mesma coisa que a minha mãe me disse, ao me ligar de manhã. E sem esperar por mais algum conselho, caminhei rumo à recepção, desviando de pessoas que possivelmente poderiam se lembrar do meu aniversário. Nunca gostei muito dessas coisas, aliás, nem sei bem como reagir em tal ocasião. De certa forma, era estranho para eu notar que o meu dia, nada mais era, do que um dia normal. Bom, na verdade nem me importava com isso, contudo, só almejava que as pessoas não ficassem tanto no meu pé. Afinal, todos os dias são os nossos aniversários, tecnicamente.
Andei em passo acelerado para o vestiário, trocando-me rapidamente. Coloquei as minhas vestes habituais e iniciei a minha caminhada para a saída. Continuei a desviar de algumas pessoas, agradecendo mentalmente à Kami, por meu namorado não estar ali. Não que o meu objetivo fosse evitá-lo pelo resto da noite, mas eu apenas queria chegar em casa, tomar um banho e depois, somente depois, fazer o que é que a sua mente estranha desejasse – o que provavelmente seria um jantar. Todavia, assim que botei um pé para fora do hospital, dei de cara com cinco homens, de braços cruzados, fitando-me intensamente. Parei, olhando-os de maneira confusa, e antes que eu pudesse fazer qualquer coisa, um deles avançou na minha direção.
— Sakura-chan! – Naruto capturou-me, num abraço caloroso, e eu não pude deixar de notar o seu aroma. — Feliz aniversário!
— Obrigada, Naruto. – respondi, notando os olhares saudosos do restante do Time Sete.
— Nós viemos te fazer uma surpresa. – falou, deixando-me curiosa. — E vamos logo, antes que o seu namorado Panaca apareça!
— É Tanaka! – falei, enquanto era arrastada pela calçada. — E para onde estão me levando?
— É surpresa, Sakura-chan.
Andamos por mais algumas ruas, indo numa direção que poucas vezes me atrevi a ir. Eles me levavam para alguma casa noturna ou balada, eu já nem sabia direito, e era profundamente estranho notar que isso estava acontecendo. Embora muito unidos, nunca fomos de compartilhar esse tipo de coisa. Às vezes íamos ao Ichiraku, mas era diferente. Sempre comemorávamos os aniversários num restaurante qualquer, mas numa boate? Nunca! Eu deveria me sentir honrada, porém, a única coisa que era capaz de sentir era um adverso calafrio.
Havia uma enorme fila, mas surpreendentemente, nós seis não tivemos de pegá-la. Kakashi e Yamato andaram na frente, e sem precisar trocar uma única palavra com o segurança, a nossa entrada foi permitida sem nenhuma cessação. Poucas luzes faziam o ambiente e, prontamente, fixamo-nos numa mesa afastada. Os cinco ninjas jaziam calados e eu os acompanhei na taciturnidade, embora a música fosse ensurdecedora. Naruto batucava as mãos, inquieto. Sai me fitava, desenhando algo em seu caderno. Kakashi continuava lendo o seu livro, soltando algumas risadas baixas. Yamato coçava a nuca, negando as bebidas que o ofereciam. E Sasuke me olhava profundamente, sem emoção.
Olhei para os lados, observando o vulto das pessoas se mexendo num ritmo alucinado (aquilo era um tipo de dança?). E ignorando os olhares atípicos dos rapazes, comecei a beber um líquido incolor, que cortou a minha garganta em milhares de pedacinhos e aos poucos ia libertando-me da gravidade. Sorri para eles, que me fitavam de maneira estranha, enquanto eu bebia cada vez mais.
— Então é isso? – indaguei, roubando um copo de Sai. — Vocês me roubam de um jantar com o meu namorado, só para vir até aqui e ficarem me encarando?
— Segundo um livro, na maioridade é cabível que a festa seja num lugar mais divertido e agitado. – Sai falou, enquanto Naruto concordava com ele, maneando com a cabeça.
— Certo. – comecei a falar, me escorando na mesa redonda em que estávamos. — E do que adianta irmos para um lugar agitado e divertido, se estamos parados? E vocês nem estão bebendo!
— Sakura-chan, o teme e eu ainda temos dezessete...
— E daí? – olhei-os desafiadoramente. — Como se vocês não tivessem feito nada pior, tsc. – mirei os demais rapazes, rindo debochada. — E vocês três não são menores de idade!
— Yare, talvez seja melhor pararmos por aqui, não é mesmo? – Kakashi falou, roubando-me um copo e garrafa. — E talvez seja melhor acabarmos com a noite também. – Yamato concordou.
— De jeito nenhum! – Naruto protestou, puxando-me. — Não antes da nossa dança, Sakura-chan. – puxou-me em direção da pista, mas algo segurou em meu pulso. Era Sasuke.
— Não, dobe.
— Teme... – o loiro praticamente rosnou.
— Talvez todos devessem dançar. – o ninja desenhista falou, pensativo. — Num livro dizia que a garota deve dançar com o seu príncipe em seu aniversário.
— Isso é em aniversário de quinze anos, transparente. – Naruto falou, revirando os olhos. — Além do mais, só pode ser um príncipe.
Naquele instante, pensei no Tanaka. Era bem provável que ele estivesse preocupado comigo, com o meu atípico atraso.
— Poderíamos dançar todos. – Yamato sugeriu, chamando a atenção de todos. Ainda que embaraçado, ele continuou. — Se for do desejo da Sakura, é claro.
As atenções se voltaram apara mim, fazendo com que um nó se formasse no meu estômago.
— Bom... – pensei um pouco, corando. — Só se for todos de uma vez!
Eles se entreolharam, mas logo deram de ombros, avançando em minha direção. Caminhamos para a pista, e durante o trajeto, tropecei incontáveis vezes por causa das luzes instáveis – embora eu acredite que os meus pés também estivessem. Os cinco me rodearam, ao ritmo acelerado da música, e sem me dar conta de quando comecei, já me movimentava desengonçadamente em todas as direções. Ora bailava com Sai, ora com Kakashi, e às vezes, até mesmo, com Sasuke. E, ainda que concentrada no dança, também era capaz de roubar algumas bebidas. Eles sorriam e eu me perdia em seus olhos enigmáticos.
Tudo o que eu mais queria era me jogar em seus braços, permitindo-os que me guiassem para onde quisessem me levar. Eu confiava em cada um deles, e não me importava com as decisões que tomassem. Continha cinco homens a minha volta, embora nenhum me pertencesse, eu simplesmente me sentia a dona deles – ainda que fosse mais fácil eu os obedecer, do que o contrário. Nós seis bebíamos, pulávamos, cantávamos e nos entregávamos a um êxtase estranho, mas que compartilhávamos entre si. É claro que cada um se portava a sua maneira, mas nunca havia presenciado Sasuke, Yamato, ou mesmo Kakashi tão soltos (ou seriam bêbados?).
Naruto se agarrou ao meu corpo, fazendo-me suar frio. Apreciei seu gesto, agarrando-o de volta. No entanto, os demais rapazes pareciam incomodados com tal ato, e logo resolveram fazer o mesmo. Algumas pessoas nos fitavam, estranhando o que viam, no entanto, pouco nos importávamos, ou melhor, eu pouco me importava. Alguém me puxou, tentando exclusividade, porém outro me trazia de volta. As luzes não paravam de piscar, num ritmo instável, e a face de cada um era passada na minha mente como um borrão. Tudo estava sendo tão rápido, que quando dei por mim, seus corpos se esfregavam ao meu, roubando-me o controle.
O que estava acontecendo?
Uma mão segurava os meus cabelos, enquanto outra passeava na minha cintura, senti a respiração de alguém no meu pescoço e alguma pessoa acariciava o meu bumbum. Pisquei fortemente, mas as luzes errantes apenas me entorpeciam ainda mais. Vi sorrisos sacanas e algumas piscadelas deliberadas, minhas pernas iam perdendo as forças e, cada vez mais, sentia-me mais pressionada por eles. O calor já consumia o meu corpo, como chamas incandescentes, e um desejo estranho nublava a minha visão. Inconscientemente, busquei por seus corpos e, sem me conter, beijei uma face mascarada. Outro alguém me puxou e mãos insolentes apertaram os meus seios. Arqueei sob os toques, fitando os cabelos negros que afundavam em meu pescoço. O ar foi se tornando cada vez mais escasso e a sensação de estar sob as nuvens apenas aumentava. Olhos azuis sorriam para mim, contudo, logo fui tragada para uma estranha escuridão.
Eu havia desmaiado.
— Sakura-chan! – senti algo tocar a minha face. — Sakura-chan! – abri meus olhos, vendo algo amarelo à minha frente. — Sakura-chan!
— Naruto? – ele sorriu, enquanto Kakashi se aproximava com um copo de água em mãos. — O que houve? – olhei para o mascarado, tendo uma vaga lembrança do quase beijo que lhe dei. Rapidamente, voltei a fitar Naruto, enquanto me sentava para beber a água.
Percebi estar próxima a mesa que anteriormente dividíamos, um lugar mais calmo e arejado.
— Você desmaiou, Sakura-chan. – falou, abanando-me. — Talvez tenha sido por causa da bebida.
— Ou pela agitação. – Yamato falou.
— Talvez pelo cansaço. – Sai sugeriu.
— Também pelo calor. – Kakashi comentou, dando de ombros. Olhei para Sasuke, esperando pela sua sugestão, mas ele apenas me deu um olhar frio. — De qualquer forma – o Hatake retomou, pegando o meu copo de volta. —, é melhor voltarmos para casa. Já são quase quatro horas.
— Da manhã? – indaguei, levantado abruptamente.
— Exatamente. – Yamato falou, notando a minha agitação. — Por que o alarde?
— Tanaka. – falei, e todos pareceram confusos. Suspirei, revirando os olhos. — O meu namorado não sabe que eu estou aqui! – ponderei. — Aliás, eu nem sabia que viria para cá.
Levantei-me, sacudindo a poeira do meu traseiro, sem deixar de notar os olhares que me foram direcionados. Fingindo não notar, pigarreei, chamando-lhes a atenção. Eles me olhavam dúbios, todavia não havia ninguém mais confuso ali do que eu. Ora, o que diabos havia acabado de acontecer? Sorrindo sem graça para eles, recolhi um sapato que havia me escapado, sabe-se lá quando.
— Acho melhor te acompanharmos. – Sasuke sugeriu, chamando a atenção de todos.
— Não é necessário. – falei, embaraçada.
— Sim, é melhor. – Kakashi falou, e todos os garotos assentiram com a sua decisão.
Sem poder protestar, seguimos para a saída. Naruto se ofereceu para me carregar, todavia, o convenci que já estava bem. As ruas escuras nos cercavam, assim como o silêncio intrometido, que roubara qualquer vontade de conversar entre nós. O clima não estava apenas tenso, jazia enfadonho e palpável. Era óbvio que o que quase aconteceu, nem de longe, deveria acontecer, além do mais, o que sucederia se eu não houvesse desmaiado? Até que sórdido ponto chegaríamos?
Os nossos passos eram calmos, embora as nossas mentes estivessem à mil. Bom, pelo menos a minha estava. Eu era a única garota num estranho time composto por seis integrantes, e em momento algum me senti incomodada por tal fato. Pelo menos até ali. E o que mais me perturbava era saber que, de certa forma, nenhum deles se aproveitou de mim. É claro que houve mãos bobas aqui e ali, mas eu apreciava aquilo, me entregando e se oferecendo aos seus toques e investidas. Céus, aquilo era errado! Eu já era comprometida e com certeza eles também deviam se aventurar por aí, pois, Naruto, por exemplo, ainda se mantinha num bizarro e mal resolvido relacionamento com Hinata. Assim como havia boatos sobre Kakashi e Sasuke com distintas garotas. Yamato e Sai eram mais discretos, mas não duvidava que pudessem estar ligados à alguma pessoa.
Suspirei, fitando o prédio verde e velho que eu ainda chamo de lar. Os rapazes me olharam, fazendo-me se perguntar como se despedir. Um aceno? Aperto de mão? Talvez um abraço? Um beijo de jeito nenhum!, pensei. Entretanto, optei apenas por um singelo "boa noite" e um olhar cortês. Dando as costas para eles, e me segurando para não olhar para trás, subi para o meu apartamento. Os corredores estavam escuros, e as minhas pernas voltaram a se instabilizar. Procurando as chaves no bolso, demorei mais do que o normal para destrancar a porta. E quando entrei, o cômodo estava completamente escuro e silencioso, encostei-me à porta, repousando a cabeça na madeira.
Suspirei.
E a luz se acendeu.
Uma vertigem me abateu e somente depois de longos segundos pude distinguir as coisas a minha volta. E, aparentemente, o meu namorado estava de braços cruzados, sentado atrás de uma bela mesa posta, com uma comida provavelmente fria. Diabos. Tirei os sapatos, jogando-os num canto, mandando um sorriso pérfido ao homem sentado.
— O cheiro ainda está delicioso. – menti, pois não havia mais nenhum aroma da comida.
— Onde você esteve?
— Hm... A comida está com uma cara ótima! – falei, sentando-se à mesa. — Oh, também tem vinho! – exclamei, enchendo uma taça e já a sorvendo.
— Onde esteve?
— Nossa, estou morrendo de fome.
— Eu lhe perguntei onde esteve! – gritou, batendo na mesa. Alguns talheres caíram ao chão, mas eu pouco me importei, voltando a beber o vinho. — Eu vi.
— Viu? – questionei, largando a taça na mesa. — O que viu?
— Eles. – falou entre dentes, demonstrando irritação. — Eles te trouxeram até aqui. – jogou um guardanapo sobre a mesa, raivoso. — Pra onde te levaram?
— Para o nosso campo de treinamento. – menti.
— Ah, é? – sorriu. — Então porque eu não te achei lá?
— Porque também fomos ao Ichiraku. – tornei a mentir.
— Engraçado, mas o velho disse não te ver desde a semana passada.
— Teuchi anda caducando. – dei de ombros.
— Certo, façamos de conta que você esteja me dizendo a verdade. – falou, recobrando a compostura, enquanto eu bebia mais vinho. — Por que não me avisou que sairia com aqueles ninjas?
— Porque nem eu mesma sabia! – finalmente falei uma verdade para ele. — E não os chame de "aqueles ninjas".
— E não são ninjas? – fingiu inocência, irritando-me.
— Eu não gosto do tom que você usa ao falar deles.
— E eu não gosto que você saia por aí com eles.
Observei seus olhos castanhos, que transbordavam uma posse imbecil sobre mim.
— Você não é o meu dono, Panaca.
Seus olhos arregalaram-se e uma tonalidade avermelhada tingia a sua face.
— Do que me chamou?
— Pelo seu nome, Panaca.
— Como é?
— Pataca. – continuou me olhando feio, fazendo-me ficar ainda mais confusa. — Babaca?
— Para mim já chega, Haruno Sakura! – declarou, saindo da mesa subitamente. — Você não merece o meu amor.
— Panaca...
— Calada! – gritou, tomando a taça das minhas mãos, jogando-a contra a parede. — Eu já devia saber que não daria certo me envolver com uma kunoichi que vive cercada por cinco ninjas desordeiros!
— Não fale assim deles! – levantei-me, desafiando-o. — E se está tão arrependido assim, saia!
Ele não disse mais nada, porém marchou em direção da porta. Parando e se virando para mim, antes de sair.
— Quer saber o que eu acho? – perguntou, enraivecido.
— Não! – lhe respondi.
— Você deve estar apaixonada por aqueles caras.
Saiu, batendo a porta e me deixando com uma estranha pergunta dentro de mim.
Será que eu estava?
N/A: E então, gostaram? Logo teremos mais!
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