A cidade estava tranquila, ao menos, a primeira vista. A verdade era que todos eles estavam de luto, alguém importante havia morrido e todos os habitantes sentiam sua falta, afinal, aquele que tinha morrido, apesar de ser um cidadão comum em estilo de vida, sempre era visto em obras em favor os moradores e da comunidade em geral.
O clima naquela cidade costumava ser nublado e, por vezes, chuvoso, por causa da quantidade de nuvens e dias chuvosos que prevaleciam no céu da cidade, mas foi em um mês de dias belos e ensolarados que agourou uma sucessão de tragédias. Ah! Que bela ironia que os poetas descrevem dias bons com a aparência ensolarada, mas foram exatamente os dias ensolarados que representaram seus dias ruins, ao menos, era o que os habitantes de Namimori acreditavam fielmente.
Tudo o que os moradores queriam saber é como isso foi acontecer e será que, de alguma forma, essa tragédia poderia ter sido evitada?
Mal sabiam eles, é que na verdade suas conclusões estavam erradas sobre algo. Não teve "um mês ensolarado que agourou a tragédia" como eles mesmos acreditavam tudo teve início cinco anos antes em um dia completamente normal para quase todos, menos uma determinada família.
Talvez eles não percebessem, mas o futuro é sempre incerto e alguém que pode sempre conectar o presente com o futuro pode ser a ponte para a salvação de todo o caos que estava prestes a sair das sombras e afetar diretamente o resto do mundo.
[Tsukeru]
A família Sawada era diferente das outras famílias. Tsuna sempre soube disso, mas ele achava que isso era por culpa dele. Afinal, ele era um garoto especial. Apesar de nunca entender o que queriam dizer com isso sempre que lhe dirigiam essa frase. Aquilo era um elogio, ou as outras pessoas não sabiam muito bem como o descrever?
Aos quatro anos de idade, seu pai, Iemitsu, levou seu irmão mais velho, Giotto, para a Itália, alegando que queria passar algum tempo com o seu filho mais velho. Tsuna estranhou aquilo, afinal, se ele queria passar mais tempo com seu filho mais velho, porque não ficava logo no Japão e vivia sua vida com os seus dois filhos e sua esposa! Aos quatro anos de idade, Tsuna deixou de considerar Iemitsu parte da família, afinal, o homem nunca estava lá e Tsuna poderia contar nos dedos de uma mão quantos dias seu pai ficou em casa de visita, ao todo, desde que ele se lembra. Três dias no total. E o pior de tudo, aquele homem apenas ficava deitado no tapete da sala apenas de cuecas transformando todo o chão em um lugar imundo cheio de garrafas de bebidas alcoólicas. Pelo amor de tudo o que é mais SAGRADO! O idiota ainda ousava oferecer essas bebidas para os seus filhos! Nenhum deles tinha sequer dez anos!
Com o passar do tempo, Tsuna foi crescendo e percebendo o quão diferente ele era das outras crianças de sua idade, via que por traz de cada brincadeira infantil tinha alguma lição de vida, tão bem escondida, que até mesmo os adultos ficavam surpresos quando ele dizia suas descobertas. Aos seis anos, Tsuna era um garoto introspectivo, cético e observador, e por isso não tinha amigos. Foi nessa idade, inclusive, que Tsuna foi sequestrado. Sua mãe, Nana, sem saber o que fazer ligou para Iemitsu incansavelmente até que ele atendesse, ela precisava de ajuda. Ao contar dos problemas, a resposta recebida foi "Tuna-chan deve estar dormindo na casa de um amigo e provavelmente se esqueceu de ligar para avisar, Nana-chan. Não se preocupe, não deve ser nada demais". Acontece que Nana sabia que seu filho mais novo não tinha amigos, e ele estava desaparecido fazia duas semanas, era pouco provável que ele tivesse se esquecido de voltar para casa. Isso abriu completamente os olhos de Sawada Nana para com quem ela havia se casado, e, mais duas semanas depois, Tsunayoshi é encontrado vagando pelo quarteirão de sua casa, coberto de sangue.
Aos oito anos de idade, algo mudou na vida de Tsuna, ele avançou algumas séries escolares, começou a se interessar por tecnologia e fez um amigo, seu primeiro amigo. Apesar de não admitir em voz alta, ele era grato ao seu amigo, por estar ao seu lado, o ajudando a suportar as consequências do sequestro que sofreu dois anos antes. Apesar de seu amigo ser tão introspectivo quanto ele, e não gostarem de aglomerações, ambos tinham motivos diferentes para isso, mas não impedia a amizade que tinham e isso os fazia serem felizes.
Durante os anos seguintes, ele continuou vivendo sua vida normalmente e, de novo, sua vida mudou. O garoto introspectivo tinha ido embora, era apenas tímido, mas continuava bastante observador para algumas coisas. Ele também começou a se destacar de uma maneira boa na escola e, por isso, se tornou popular. Apesar disso, ele continuava tendo apenas um amigo, seu primeiro e único amigo de verdade. Agora, aos treze anos de idade, Tsuna pressentia que algo iria acontecer, apenas não sabia o que. Talvez fosse apenas a sua intuição lhe alertando, mas ele preferia coloca-lo como uma preocupação de segundo plano. Preferindo deixar de pensar nisso enquanto ia para a escola, naquele horário, cedo para muitos, atrasado em sua concepção.
