A Voz
Será que alguém sente minha falta?
Será que realmente estou sozinha?
A voz retumbava em sua cabeça. Ela falava, repetia constantemente as mesmas palavras. Ele podia ouvi-la, mas não podia vê-la. Isso de certo já seria perturbador, se não fosse ainda o fato de ela estar morta.
Será que alguém lembra meu nome?
Aquele familiar som já era presente em sua vida. Para ele não existia mais silêncio. Mesmo nas horas mais quietas, em que ele, sozinho, fazia nada mais do que encantar-se com o negro céu da noite, ela cochichava em seu ouvido, dizendo palavras cheias de dor e solidão.
Por que ninguém se lembra?
Algumas vezes ele tinha vontade de responder. Algumas vezes ele tinha vontade de dizer a ela que se lembrava, que ela não estava sozinha. Tinha vontade de confortá-la, de abraçá-la, mas então se lembrava de que não podia vê-la. E nem sabia se ela poderia ouvi-lo.
Ele sente remorso por ter feito o que fez?
Quando ela dizia isso, ele sabia de quem ela estava falando. O assassino, o homem que ceifara sua vida. E a de tantos outros. O homem várias vezes fora para ela uma ameaça, e então subitamente se transformou em aliado. E mais do que isso. O homem que ela acreditava amar, e por quem acreditava ser amada. Ele tinha medo de dar esta resposta, pois tinha certeza de que seria "não".
Eu achava que minha vida era ruim... Mas a morte...
Será que ela sabia onde estava? Será que ela percebia que estava vagando pelo mundo o qual uma vez pertencera? Outra razão pela qual ele mantinha-se em silêncio, deixando-a lançar suas infinitas perguntas ao vento.
Onde está meu pai?
Ele se lembrava da época em que passara junto dela. De quanto ela era ligada ao pai. E apenas imaginava o quanto ela deveria ter sofrido com a morte dele. Pelas mãos do mesmo homem que viria a causar a sua própria. Ele se lembrava, no entanto, do dia em que a vira encarando este homem frente a frente, quase morrendo, e sobrevivera. E ele a deixara para trás naquele dia. Como faria novamente em seu próximo encontro. Abandonara-a. e então quando ouviu dela novamente, foi apenas para saber que ela estava morta.
Por que teve que ser assim?
Ele podia ter evitado. Sabia que podia. Por isso cada palavra que entrava em seus ouvidos machucava seu coração, rasgava sua alma. Ele queria, mais do que nunca, consertar aquilo. Consertá-la. Por que estava nas mãos dele. Mas ao mesmo tempo ele tinha medo. Medo de que ela perguntasse algo que ele não fosse capaz de responder.
Será que alguém pode me ouvir?
Maldito o dia em que ele foi encontrar aquela médium. Maldito o aperto de mão que eles deram. Maldito dom possuído por aquela mulher! Maldito ele por não ter evitado tudo aquilo. A perda de seus poderes. A morte dela.
POR QUE NINGUÉM RESPONDE? POR QUE ESTOU SOZINHA?
Ele a ouvia chorar todas as noites. Mal conseguia dormir desde que começara a ouvi-la. Ele queria que parasse, que ela parasse, que tudo acabasse. Sentia a dor dela. Isso estava minando suas forças, sugando sua vida como um vampiro sedento, deixando-o seco e vazio. Ele precisava de algum modo, salvá-la.
Porque Peter Petrelli sempre tem uma missão.
Será que ninguém sente a minha falta?
Será que realmente estou sozinha?
"Eu sinto sua falta, Elle... Você não está sozinha... Não mais."
E então a voz parou.
FIM
