A fanfic a seguir é a quarta de uma série de one-shots para os "Missing Moments" em Harry Potter and the Deathly Hallows, todos envolvendo Ron e Hermione. Essa fanfic é dividida em duas partes, e os eventos acontecem durante o Capítulo Oito (The Wedding); há diálogos retirados diretamente desse capítulo.
Uma Questão de Imporância
Parte 1
Faltavam cinco minutos para as três da tarde. Ron olhou-se pela última vez no espelho, certificando-se de que encontrava-se apresentável. Não havia muito o que fazer realmente; pelo menos estava em melhor estado do que da última vez que teve usar vestes de festa, graças a Fred e George. Lembraria de agradecê-los mais tarde, caso seu plano desse certo.
Após poucas horas de sono, Ron acordara decidido. Talvez fosse pelo fato de Dumbledore ter deixado algo de sua própria criação para ele em seu testamento, fazendo com que ele se sentisse parte de um plano maior, ou talvez fosse a expectativa de que após dois copos de uísque de fogo a coragem para fazer o que planejava fazer simplesmente surgiria. Mas os motivos não importavam muito em horas como aquela. Porque naquela manhã, quando Ron Weasley abriu os olhos, ele decidiu que beijaria Hermione Granger.
Havia seguido todas as dicas de "Doze Maneiras de Enfeitiçar Bruxas" à risca, e agora não podia mais adiar o inevitável. Era o último estágio ao qual ele estava disposto a levar sua relação com Hermione no momento, e a oportunidade parecia, se não perfeita, pelo menos interessante.
Provavelmente não seria como ele gostaria que acontecesse, mas dadas as circunstâncias era o melhor que podia fazer. Era bem verdade que gostaria de levar Hermione a um lugar bacana, como ela merecia. Em sua mente, ele imaginava os dois andando até Hogsmeade, conversando educadamente, ambos sabendo o que estava para acontecer. E antes que ele pudesse evitar, seguraria a mão dela e ela o olharia um pouco sem graça e eles sorririam... ele se aproximaria dela e colocaria seus cabelos para trás, acariciando seu rosto... ela apertaria a mão dele carinhosamente, incentivando-o a continuar. Ele aproximaria seus lábios dos dela, aproveitando cada segundo restante para aquele momento tão esperado... e então ele ouviria diversos "cracs" ao redor deles, e feitiços voariam em todas as direções e ele tentaria protegê-la, mas seria tarde demais...
Afastou a imagem de sua mente, afrouxando o colarinho de suas vestes. Sim, o casamento de Bill e Fleur era o mais próximo de um encontro que Ron poderia chegar em tempos como esse.
Respirou fundo e saiu em direção à festa. Parou em frente ao quarto de Ginny, imaginando se Hermione já estaria pronta e um pensamento lhe ocorreu. Poderia simplesmente entrar e beijá-la e acabar logo com a angústia em que se encontrava, e eles aproveitariam o restante da festa juntos.
Encostou-se na porta. Se ele entrasse ali agora, não teria mais a preocupação em achar o momento certo ou esperar até que nenhum Weasley estivesse por perto. Se ele entrasse ali agora... ouviu passos, e sem pensar duas vezes, saiu apressado em direção às escadas. Harry o alcançou.
- Pronto?
Ron assentiu.
- Como se sente sendo um Weasley?
- Apertado. – Harry respondeu, e eles desceram juntos para o jardim, prontos para receber os convidados.
- Um pesadelo, é isso que a Muriel é. – Ron começou a desabafar com Harry. A Tia Muriel sempre o deixava com uma vontade incrível de se jogar em um lago e se afogar. Como essa não era uma informação essencial para Harry, Ron preferiu falar sobre o dia em que ela decidiu não passar mais o Natal n'A Toca, graças a Fred e George. E ele a viu e sua concentração se perdeu em algum lugar do vestido dela. Hermione aproximava-se rapidamente deles, o cabelo liso caindo em suas costas.
- Uau... – Ron disse, tentando absorver cada detalhe de Hermione com seus olhos. – Você está maravilhosa!
- Sempre o tom de surpresa. – ela respondeu, sorrindo. – Sua Tia Muriel não pensa assim, acabei de encontrá-la lá em cima, ela estava dando a tiara para a Fleur e disse: "Oh, essa é a nascida trouxa?" e então "Má postura e tornozelos finos".
- Não leve pro lado pessoal, ela é rude com todo mundo. – Ron disse, e Fred e George juntaram-se a eles e entraram em uma conversa animada sobre Muriel e Billius. Ron no entanto, não parava de olhar Hermione com o canto dos olhos. Realmente não haveria oportunidade melhor para colocar seu plano em ação. Já podia imaginar a noite chegando e ele a chamando para mostrar alguma coisa em algum lugar um pouco mais afastado de todos os convidados e...
- Focê está maravilhosa!
Ron conhecia aquela voz, conhecia aquele sotaque. Se virou e viu que também conhecia aquele rosto. Pegou o convite das mãos de Viktor Krum. Havia alguma coisa errada, tinha que ter alguma coisa errada!
- Viktor! – era a voz de Hermione. Ron sentiu suas orelhas queimarem. – Eu não sabia que você... céus... que bom te... como você está?
- Por que você tá aqui? – Ron disse. Precisava fazer alguma coisa. Não iria deixar qualquer jogador de Quadribol com reputação duvidosa atrapalhar o que ele havia planejado.
- Fleur me convidou.
Antes que Ron pudesse responder, Harry tomou a iniciativa e se ofereceu para mostrar a Krum onde ele se sentaria. Ron olhou de Hermione, que estava vermelha e extremamente interessada em seus sapatos, para Fred e George, que sorriam. Precisou de todo seu auto-controle para não perguntar a Hermione se ela estava feliz que Vicky havia chegado.
- Ah, lá vem eles. – George disse. – Vamos sentar.
Sem reparar muito no que estava fazendo ou para onde estava indo, Ron seguiu Fred, George e Hermione, sentando-se na segunda fila, ao lado de Harry.
Enquanto o bruxo baixinho pronunciava Bill e Fleur marido e mulher, Ron não pôde deixar de notar que toda a determinação que sentira naquela manhã esvanecera. Afinal de contas, que chances ele, Ron Weasley, tinha se comparado com Viktor Krum? Viktor era o apanhador do time da Bulgária, um jogador famoso internacionalmente; Ron era, com muito sacrifício, o goleiro do time da Grifinória – e apenas porque Cormac McLaggen tinha um temperamento ruim. Viktor era relativamente mais velho que Hermione; Ron era mais novo. Viktor havia representado o Instituto Durmstrang no Torneio Tribruxo; Ron... Ron mal conseguia aparatar.
Por outro lado, não foi Viktor que ficou ao lado de Hermione quando ela se tranformou num gato ou quando foi petrificada por um basilisco. Não foi Viktor que encarou detenções com Snape por ele ter sido injusto com ela, e certamente não era Viktor que sempre tentava defender Hermione quando Draco Malfoy a insultava. Não, Ron sempre estivera ao lado de Hermione. Talvez não da maneira que ela precisasse ou gostaria, mas ele sempre estivera lá à sua maneira, sempre presente na vida dela, enquanto Viktor estava capturando pomos de ouro pelo mundo.
Talvez Ron realmente não tivesse muitas chances se fosse comparado com Krum. Mas apesar de sua confiança ter sido abalada, ele não estava disposto a desistir, simplesmente porque era Hermione, e valia a pena lutar por Hermione.
Quando Bill e Fleur finalmente foram declarados marido e mulher (ele sentiu um aperto no peito ao ver que Hermione tinha lágrimas nos olhos), Ron tomou a iniciativa de procurar uma mesa para ele, Harry e Hermione. Avistou Luna sentada sozinha, e como não havia nenhum búlgaro com barbichas estúpidas por perto, aproximou-se. Após algum tempo, no entanto, Luna saiu para dançar sozinha e Viktor apareceu, ocupando o lugar deixado por ela.
- Quem é aquele de amarelo? – ele perguntou, franzindo a testa.
- Aquele é Xenophilius Lovegood, pai de uma amiga nossa. – Ron não estava sorrindo. Assim que terminou de falar, levantou-se de seu lugar, e sem estender a mão para Hermione, disse:
- Vem dançar.
Por um momento Hermione pareceu surpresa, mas logo se levantou e eles foram para a pista, deixando Harry sozinho com Krum.
Sem uma palavra, Ron segurou na cintura dela. Hermione sorriu, e ele passou os minutos seguintes tentando conduzir a dança. Uma de suas mãos deslizava suavemente pelas costas de Hermione, e ele tinha seus olhos fechados, saboreando cada minuto...
Até que não conseguiu mais segurar e a dúvida que estava vagando em sua mente tomou a forma de palavras e saiu de sua boca sem que ele percebesse.
- Você está feliz em vê-lo de novo?
- Hmm? – ela murmurou.
- Krum. Está feliz? – Ron não estava sorrindo.
- O que você quer dizer?
- Vocês são... são... você se correspondia com ele, não era? – ele não conseguiu dizer a palavra amigos; sabia que Viktor e Hermione haviam sido mais que isso; mais do que ele e ela eram.
- Se o que você quer saber é se eu preferia estar dançando com ele do que com você... – ela deixou a frase no ar. Ron sabia que Hermione não tornaria as coisas exatamente fáceis dando a resposta para algo que ele não havia admitido que estava pensando.
- Preferia? – perguntou o mais calmo possível.
Hermione sorriu.
- Não. – ela disse simplesmente, mas encostou a cabeça em seu peito, e ele sorriu satisfeito.
Eles passaram as horas se divertindo ao som de várias músicas, inventando coreografias, tomando cerveja amanteigada e rindo de Ron, que tentava a todo custo não pisar nos pés de Hermione. A tarde se transformou em noite e enquanto eles dançavam uma música lenta (uma de suas mãos estava agora nos cabelos de Hermione), Ron olhava ao redor verificando se havia chegado o momento de agir. Sua mãe e seu pai estavam sentados em uma mesa com os Delacours, Lupin e Tonks; Fred e George não estavam em nenhum lugar que Ron pudesse ver, e Ginny estava conversando com Luna. Não precisaria se preocupar com Bill e Charlie, e muito menos com Harry. Assim que a música terminou, ele respirou fundo e disse:
- O que você acha da gente se sentar um pouco? – Hermione abriu a boca para responder, mas Ron não deixou – Eu quero dizer, eu e você, longe de todo mundo? – ele disse rapidamente. Era agora ou nunca.
Hermione sorriu, seu rosto enrubescendo ao mesmo tempo em que Ron sentiu suas orelhas queimarem, e acenou com a cabeça.
- Erm... eu vou... vou pegar uma cerveja amanteigada pra gente então.
- Certo... eu... eu vou falar com o Harry.
E ela saiu na direção oposta, enquanto Ron procurava um garçom que estivesse carregando cerveja amanteigada, um sorriso enorme em seu rosto. Mas ele nunca chegou a encontrar um, já que naquele momento um enorme lince prateado apareceu no meio dos convidados e Ron ouviu a voz de Kingsley Shackebolt:
O Ministério caiu. Scrimgeour está morto. Eles estão chegando.
- Hermione! Harry! Hermione!
Por que ele havia a deixado sozinha? Por que ele havia ido buscar bebidas? Se algo acontecesse com ela, ele jamais se perdoaria...
Saiu abrindo espaço entre a multidão, varinha em punho. Bruxos mascarados apareciam em todas as direções e Ron pensou que tudo estava perdido, até que...
- Ron! Ron!
Era a voz de Hermione, desesperada. Ele correu na direção que a voz dela viera e finalmente a viu, com Harry. Segurou na mão dela e no instante seguinte eles não estavam mais n'A Toca.
