Capítulo I – Voltando para casa

Narrado por Brian

Boca seca... Mãos trêmulas... Coração disparado... Pernas bambas. Era assim que eu me sentia ao desembarcar do avião de volta a Edmonds. A viagem de uma hora parecia ter durado semanas ... meses até. Eu precisava controlar a minha ansiedade e esperar até a noite para vê-la, mas sentia um vazio enorme dentro do meu peito por saber que estava tão perto e que, ao mesmo tempo, não podia senti-la ... abraçá-la. Ela me faltava. A expectativa de poder sentir seu perfume e o calor do seu corpo junto ao meu estava me levando à loucura. Eu mal podia esperar para ver seu sorriso e ouvir sua voz ao responder ao meu pedido. Um arrepio enorme perpassou minha espinha. E se ela dissesse "não"? E se ela quisesse primeiro se formar na faculdade para depois pensar em compromisso? Sacudi a cabeça para tentar espantar aqueles pensamentos negativos. Ela me amava, eu tinha certeza disso, e mesmo se ela quisesse esperar até depois de sua formatura, eu esperaria. Esperaria a minha vida toda por ela até que ela voltasse para mim, para ser minha para sempre.

O portão da área de desembarque finalmente foi aberto e eu já podia ver os rostos conhecidos e sorridentes à minha espera. Deixei o carrinho com as malas de lado para receber o abraço caloroso do meu anjo que correu em minha direção assim que me viu e se atirou em meus braços. Era impressionante como eu me sentia emocionado ao olhar em seus olhos verdes e ao senti-la me abraçar. Em momentos assim, eu sempre me lembrava da felicidade que senti no dia em que ela me prometera voltar, há catorze anos.

Eu olhava para ela com o rosto triste. Eu sabia que ela ia partir.

"Eu amo você, meu anjo! Vou sentir a sua falta" – disse-lhe através dos meus pensamentos.

_ Eu não vou deixá-lo, anjinho! Nunca! Ficaremos separados por pouco tempo! – ela disse acariciando meu rosto.

Franzi o cenho confuso e ela sorriu.

_ Vejo você de novo em setembro! – ela disse olhando para minha mãe.

"Promete?" – pedi abrindo um imenso sorriso.

_ Prometo! – ela respondeu me dando um beijo na testa.

"Eu vou ficar esperando por você" – eu sorri com o coração batendo forte em meu peito.

Ela olhou pela última vez para cada um de nós e enquanto uma brisa fresca acariciava meu rosto ela caminhou em direção à luz levando nas mãos os três botões de rosas que havíamos levado para ela. A sensação de paz e de felicidade que tomou conta de mim era imensa. Corri em direção à minha mãe e a abracei com força colocando a mão sobre sua barriga a tempo de sentir os bebês se mexendo dentro dela. Fechei meus olhos e sorri com a certeza de que ela cumpriria sua promessa.

Linda ainda enchia meu rosto de beijos enquanto o restante da minha família se aproximava de mim com os olhos cheios de saudades e os sorrisos de quem tinham esperado muito tempo por aquele momento. Minha mãe soltou-se dos braços do meu pai e correu em minha direção com os olhos marejados. Era visível a emoção que ela sentia ao ver o filho mais velho de volta ao lar. Sentir seu abraço quentinho e macio me fez sentir novamente em casa:

_ Filho, que saudades de você, meu anjinho! – ela disse com a voz embargada ainda abraçada a mim.

_ Oi, mãezinha! Eu também estava com saudades! – eu a apertei em meus braços com os olhos fortemente fechados tentando controlar a emoção.

Quando reabri os olhos, meu pai e Gabriel já estavam parados diante de nós. Estiquei meus braços para os dois com minha mãe e Linda ainda agarradas ao meu corpo e os puxei para um abraço coletivo. A sensação de tê-los ali, de sentir o amor que eles tinham por mim não poderia ser descrita em simples palavras. Mas, apesar de todo o carinho que estava recebendo da minha família, senti a ausência de uma pessoa também especial.

_ Onde está Sofia? – perguntei ao me desvencilhar de tantos braços.

_ Ela e Mel foram ao shopping. Parece que vão levar seu pai e seu tio Emmett à falência hoje. – minha mãe respondeu com um sorriso enorme na face.

_ Sofia resolveu passar o dia no shopping com a prima hoje. – meu pai completou com um sorriso torto nos lábios – Parece que elas resolveram dedicar o dia e o dinheiro dos pais à beleza feminina! – ele dizia revirando os olhos.

Eu ri alto. Já podia imaginar o tamanho do rombo no cartão de crédito do meu pai e do tio Emmett. E o pior de tudo é que os dois não iriam ficar bravos. Eles eram verdadeiros fantoches nas mãos das filhas. Bastava olhar nos olhinhos de cachorrinho abandonado que elas faziam toda vez que queriam alguma coisa e eles se derretiam todos. Eu tentava não cair nas armadilhas delas, mas fracassava vergonhosamente e ainda tinha que aguentar as gozações do meu pai, do tio Emmett e até do Seth. O fato é que nenhum de nós, homens fortes e decididos, conseguia resistir ao biquinho que a mulherada daquela família fazia. Éramos, todos, um bando de frouxos quando se tratava de dizer não a qualquer uma delas. Simplesmente impossível, impensável, inconcebível...

O vento fresco que entrava pela janela do carro em movimento enchia minhas narinas com o cheiro gostoso de Edmonds. Cheiro de verde, cheiro de mar ... cheiro de casa. De olhos fechados, eu sentia o sol ameno batendo em meu rosto, que estava para fora da janela, dando-me as boas vindas de volta ao lar, trazendo-me a paz e a alegria de estar de novo com a minha família. Linda e minha mãe me enchiam de perguntas. Queriam saber de tudo o que eu tinha feito nos últimos meses. As duas falavam ao mesmo tempo e eu praticamente não conseguia entender uma palavra sequer. Gabriel e meu pai se dobravam de rir da cena cômica enquanto eu me desdobrava para responder a todas as perguntas. Era impossível negar a felicidade que todos sentiam pelo meu retorno. Eu mesmo mal conseguia me conter. Minha vontade era sair andando pelas ruas da cidade, sentindo o cheiro característico de cada lugar. Mas eu sabia que teria que passar o dia escondido na casa dos meus avós onde, mais tarde, aconteceria o jantar no qual eu "chegaria" de surpresa.

O carro entrou na garagem da enorme casa onde eu tinha passado uma boa parte da minha infância. As lembranças de muitos momentos felizes vividos ali invadiram a minha memória tornando impossível conter o sorriso imenso que rasgava meu rosto. Era indescritível a sensação de estar em casa novamente. Meu coração batia disparado no peito pela expectativa de reencontrar todos os meus familiares, mas ele batia em um ritmo especialmente diferente pela ansiedade de rever a menina-mulher que povoava e dominava meus pensamentos. A saudade era enorme e chegava a doer. Eu já sentia que o dia seria longo e torturante, mas tinha que ser forte e me segurar para não sair correndo pelas ruas da cidade atrás dela. Saber onde ela estava e não poder ir até lá era angustiante. Era o mesmo que colocar um dependente químico diante de sua droga preferida e não deixá-lo senti-la. Tortura.

Assim que entrei pela porta da sala da casa recebi o abraço carinhoso de minha avó que me saudava com os olhos marejados de emoção. Seu anjinho estava de volta e não sairia de perto dela por tanto tempo novamente. Meus tios e meus primos também me esperavam com enormes sorrisos estampados em suas faces e, aos poucos, consegui abraçá-los e beijá-los. Senti meu peito se apertar ao olhar no rosto de Nikki. A saudade que eu sentia de Mel triplicou naquele momento, mas eu sabia que, apesar de serem gêmeas idênticas, Nikki era como uma miragem. Parecia com Mel, mas não era ela. Mesmo assim, olhar em seu rosto só me fez ficar ainda mais ansioso para que a noite chegasse logo e eu pudesse estar com meu amor em meus braços novamente, sentir seu perfume, seu calor, sua suavidade e, principalmente, sentir o sabor dos seus lábios.

Aos poucos, a casa foi ficando novamente silenciosa. Todos precisavam retomar seu ritmo de vida normal para que Mel não suspeitasse de nada. Sozinho no meu antigo quarto eu procurava uma forma de me distrair para que o dia passasse mais rapidamente, mas nada conseguia desviar meus pensamentos daquela que era a minha única dona. E, como cativo obediente que eu era, não via a hora de me ver, mais uma vez, preso em seus braços delicados e em seus olhos brilhantes.

Narrado por Sofia

Apesar de estar morta de saudades do meu irmão e de ter me corroído de vontade de buscá-lo no aeroporto com meus pais e meus irmãos, eu sabia que estava distante dele por uma boa causa. Eu fazia um esforço enorme para não deixar transparecer a minha ansiedade pelo jantar de hoje à noite. Mel já tinha me perguntado diversas vezes se eu estava sentindo alguma coisa porque, às vezes, eu me calava, completamente absorta em meus pensamentos, tentando imaginar sua reação quando visse meu irmão entrar pela sala de jantar. Já tínhamos passado a manhã toda no salão de beleza onde eu tinha inventado diversas coisas para fazer: desde as unhas dos pés e das mãos, embora as tivesse feito dois dias antes, passando por depilação, massagens, cabelo e até maquiagem. Almoçamos em um dos restaurantes do shopping mesmo. Eu queria ter ido ao Arnie, mas fiquei com medo de que Brian tivesse a mesma idéia e preferi não sair da minha zona de segurança. Mel, às vezes, me parecia um pouco melancólica. Embora nos divertíssemos sempre juntas, hoje ela estava mais calada do que o normal. Eu já tinha tentado sondar discretamente o que se passava com ela, mas ela só dizia que tinha acordado se sentindo um pouco cansada. Ela mal tinha tocado em seu almoço e seu rosto começava realmente a transparecer algum cansaço. Pensei se não seria melhor irmos para a minha casa, já que Brian ficaria na casa dos nossos avós.

_ Mel, você quer ir embora? Eu estou percebendo que você não parece estar se divertindo! – eu disse preocupada.

_ Me desculpe, Sofia. Eu não sei o que vem acontecendo comigo ultimamente. Eu tenho me sentido tão estranha! É como se eu estivesse constantemente cansada apesar de dormir e me alimentar bem. Se você não se importar, eu gostaria realmente de ir embora. – ela me respondeu com o semblante triste.

Já estávamos nos dirigindo para o estacionamento do shopping quando demos de cara com Mark, o imbecil que vivia andando atrás de Mel. Ela já tinha deixado mais do que claro para ele que não estava interessada. Ela só o via como colega, mas ele não se conformava com a rejeição. Desde que ele tinha tentado ficar com ela em sua festa de aniversário de 16 anos e meu irmão tinha atrapalhado seus planos, ele tentava seduzi-la em todas as oportunidades que encontrava.

_ Oi, gatinha! – o meloso se aproximou de nós com os braços abertos na direção de Mel.

Ela parou completamente travada ao perceber suas intenções. Melinda era muito ingênua e não sabia lidar com a malícia das pessoas. Eu sabia que teria que fazer alguma coisa para impedir aquele abraço e não hesitei em me colocar na frente do corpo dela e bloquear o acesso dele.

_ Tchau, Mark! – eu disse puxando Mel pela mão e desviando dele, mas ele agarrou seu braço puxando-a para si.

_ Não vai falar mais comigo, gatinha? – ele disse ainda segurando seu braço.

Mel, que até então parecia um bichinho assustado, o encarou puxando o braço com força e se desvencilhando das mãos pegajosas de Mark.

_ Eu não sei quantas vezes vou ter que repetir até que você me entenda, Mark. Mas eu vou dizer a mesma coisa até esse seu cérebro atrofiado processar as minhas palavras: EU.NÃ.Ê. Entendeu? Ou será que eu preciso repetir mais mil vezes? – ela disse pausadamente deixando-o completamente atordoado.

Para ser sincera, eu também nunca tinha visto Mel falar assim com ninguém. Talvez aquela reação mais incisiva fosse conseqüência do cansaço que ela dizia sentir. De qualquer forma, tanto eu quanto Mark ficamos olhando para ela de boca aberta e totalmente sem reação.

_ Vamos embora, Sofia. Este shopping já deu tudo o que tinha que dar por hoje! – ela disse irritada me arrastando pela mão até o carro.

Mark não veio atrás de nós. Permaneceu parado como um tonto no meio do estacionamento observando nossa saída com o olhar ainda chocado. Assim que destravei o alarme do carro, Mel entrou batendo a porta com força e imediatamente levou as mãos ao rosto começando a chorar. Assustei-me ao ver as lágrimas correndo pelo seu rosto de forma descontrolada. Algo estava terrivelmente errado com ela, algo que, talvez, nem ela mesma tivesse consciência. Liguei o carro e saí cantando pneu assim que percebi que Mark tinha saído de seu transe inicial e andava com passos firmes e decididos em nossa direção. Eu queria parar em algum lugar para tentar conversar com Mel que ainda chorava ao meu lado, mas não sabia se Mark estava nos seguindo em seu carro para abordá-la assim que parássemos.

_ Sofia, me leve para a casa da vovó. – Mel disse me pegando desprevenida. O que eu diria agora? Como eu diria a ela que não podíamos ir até lá sem levantar suspeitas? Amaldiçoei Mark por sua aparição inoportuna. Se ele não a tivesse enervado, nós poderíamos estar a caminho da minha casa agora sem que eu tivesse que passar por essa saia justa.

_ Você não prefere ir para a minha casa ou para a sua? – eu tentei disfarçar minha ansiedade.

_ Eu não quero que a mamãe me veja assim. Ela ficaria preocupada e se formos para a sua casa e a tia Bella me vir deste jeito, vai dar no mesmo. – ela respondeu derrubando qualquer argumento meu.

_ Vamos ligar para a vovó então para avisar que estamos indo até lá. – eu disse pegando meu celular sem esperar por uma resposta. Eu só esperava que minha avó percebesse a situação sem que eu tivesse que explicar muita coisa. Brian teria que ficar trancado em seu quarto ou a surpresa iria para o espaço.

Felizmente, minha avó percebeu o recado por trás do meu telefonema e tratou de me tranqüilizar dizendo que avisaria Brian de que estávamos a caminho.

_ Mel, você precisa contar ao Brian sobre as investidas do Mark. Esta história pode acabar mal. Você sabe que ele vai fazer de tudo para forçar uma intimidade que vocês não têm na frente do Brian para que ele brigue com você. – eu disse preocupada com a reação do meu irmão caso ficasse sabendo por outra pessoa, e não por ela, que Mark a abordava frequentemente.

Se Brian sequer sonhasse que Mark ainda andava atrás de Mel, ele certamente iria atrás daquele palhaço e, com certeza, dessa vez as coisas não iriam acabar em um simples empurrão. Meu irmão podia ser um doce de pessoa, mas quando o assunto era Mel ele virava uma fera, assim como o meu pai. Acho que o ciúme era ingrediente principal na composição do cromossomo Y da família Cullen.

_ Eu tenho medo que ele vá atrás do Mark e faça alguma bobagem, Sofia. – ela respondeu com o olhar triste – Eu não me perdoaria se algo de ruim acontecesse com Brian por minha culpa!

_ Pode ser ainda pior se ele souber das investidas do Mark por outras pessoas, Mel. Você sabe que há muitas garotas na cidade loucas para terem uma chance com ele e elas não pensariam duas vezes antes de tentar envenená-lo contra você. – eu tentava convencê-la a contar a verdade.

Eu sabia que Brian não reagiria bem ao saber do assédio de Mark sobre Mel, mas ele certamente ficaria furioso se soubesse que Mel tinha escondido a verdade dele. Pelo espelho retrovisor, notei um carro de vidros escuros nos seguindo. Eu sabia que aquele imbecil não iria engolir mais um fora de minha prima. Ele era orgulhoso demais para admitir que alguém ousasse dizer não a uma investida dele. Mel estava distraída e não notou que Mark nos seguia. Achei melhor não dizer nada a respeito para não deixá-la ainda mais nervosa. Pisei mais fundo no acelerador a fim de chegar mais rapidamente à casa de minha avó. Uma vez que tivéssemos passado pelos portões, estaríamos livres dele, os seguranças jamais o deixariam passar.

Respirei mais aliviada assim que desliguei o motor do carro já dentro da garagem. Eu tinha muito medo por Mel. Ela não fazia ideia de como um homem obsessivo podia se tornar perigoso. Havia pouco tempo que minha mãe tinha me contado sua história e eu tinha ficado horrorizada com tudo aquilo. Ela tinha dito que sua ingenuidade havia nos colocado em risco enquanto eu ainda crescia em sua barriga e o que mais me assustava era que eu via esse padrão se repetindo bem diante dos meus olhos com Mel. Eu já tinha contado para minha mãe sobre as investidas de Mark e sobre o medo que Mel sentia de contar tudo a Brian. Minha mãe havia prometido que não contaria a ele, mas me aconselhou a convencer Mel a se abrir com meu irmão. Ela havia aprendido da pior forma que não se deve esconder uma coisa dessas do homem que a gente ama. Meu pai tinha reagido muito pior quando descobriu que ela tinha escondido a verdade dele e ela chegou a pensar que não conseguiria levar a gravidez até o fim em conseqüência da crise de hipertensão que teve. Felizmente, meu pai agiu rapidamente e tratou de nos proteger para que ela tivesse uma gravidez tranquila e hoje eu estou aqui.

Mel e eu já tínhamos entrado em casa e eu a segui até o andar superior. Ela parou diante da porta do quarto do meu irmão e eu congelei sem saber o que fazer.

_ Mel, vamos para o meu antigo quarto. O quarto de Brian deve estar todo empoeirado por falta de uso. – eu disse em voz alta para que Brian soubesse que ela estava por perto e ficasse em silêncio.

Eu apostava na alergia que Mel tinha a poeira para convencê-la a não entrar. Ela retirou a mão da maçaneta e caminhou em silêncio até o quarto ao lado se jogando sobre a cama assim que entrou. Fechei a porta logo depois de entrar com ela. Deitada de costas na cama, ela mantinha seu olhar fixo no teto enquanto sua mente parecia estar muito distante dali. Aproximei-me da cama, sentando-me ao seu lado e ela pareceu não notar a minha presença. Toquei levemente em seu braço e seus olhos tristes e de aspecto cansado pousaram em meu rosto.

_ O que você tem, Mel? – eu perguntei realmente preocupada com sua aparência fragilizada.

_Estou cansada, Sofia. – ela respondeu simplesmente, desviando o olhar.

Ali eu percebi que ela me escondia alguma coisa. Ela não sabia mentir e sempre que tentava não conseguia nos olhar nos olhos. Isso sempre a denunciava.

_ Mel, eu sei que você tem algum problema que não está querendo me contar. Por favor, se abra comigo? Nós somos amigas, você não confia em mim? – eu pedi.

Ela fixou seu olhar em mim, os olhos novamente molhados pelas lágrimas que ela tentava fracassadamente segurar, e disse com a voz embargada:

_ Eu não sei o que está acontecendo comigo, Sofia! Eu só sei que tenho me sentido constantemente cansada e, como se isso não fosse o bastante, eu ainda sinto uma saudade enorme do seu irmão. Talvez isso tudo seja sintoma de depressão, eu não sei. Eu sinto que preciso dele junto de mim como nunca senti antes. Eu só queria que ele entrasse por aquela porta agora e me abraçasse...

Mel não conseguiu completar a frase, já estava aos prantos novamente. Eu corri para abraçá-la enquanto ela soluçava descontroladamente. Ela se agarrou a mim e pude sentir seu corpo trêmulo. Eu já podia prever o desespero de Brian no quarto ao lado ouvindo as palavras de Mel e o choro que se seguiu. Meu coração batia esmagado no peito por vê-la naquele estado. E pensar que a solução para toda aquela tristeza estava a poucos metros dali, bem no quarto ao lado. Eu pedia a Deus para que Brian desistisse da surpresa e entrasse naquele quarto para acalmá-la e comecei a estranhar quando isso não aconteceu. Será que ele tinha saído antes de nós chegarmos?

Aos poucos, Mel foi ficando mais quieta e os tremores do seu corpo foram cessando lentamente. Minha prima aparentava uma fragilidade tão grande que me partia o coração. Ela deitou-se de volta na cama e fechou os olhos soltando um suspiro demorado enquanto eu acariciava seus cabelos em uma tentativa de fazê-la relaxar. Com o tempo, sua respiração tornou-se mais leve e pude notar que ela tinha adormecido. Melhor assim. Ela precisava realmente descansar. Fiquei ali ao seu lado velando seu sono. Quanto mais tempo ela descansasse mais rapidamente a noite chegaria e aquela angústia que oprimia seu coração teria fim.