Kyouyama

Capitulo 1: Sonhos do Passado

-Por… Por quê? Por que você... Se sacrifica para me salvar?Expõe sua vida ao perigo... E desiste de coisas que lhe são importantes...

-Yoh!

-Mas e daí? Não vê que eu odeio as pessoas? Eu odeio, odeio, odeio tudo! Eu sou suja... Não mereço isso...

-Yoh!

-O que você está fazendo mamãe?!! Não é hora de ficar relutando!!! Você se esqueceu de todas as dores que passou?!! Lembre-se!!! Lembre-se do quanto sofreu!!! Odeie!!! Amaldiçoe!!!

-YOH!

-Como... Eu conseguiria me esquecer? Eu odeio esse mundo... Mais que qualquer outra coisa...

-YOH!

-Só que... O ódio que eu tenho por esse mundo... É pequeno comparado ao amor que sinto por ele. Quem deve sumir é você, oni.

-Acorda seu lerdo!

E então eu estava no chão, minhas pernas para cima de uma cadeira, e minha cabeça doendo do tapa que o Horo-Horo me deu.

-Itai... – murmurei enquanto esfregava a minha cabeça, no lugar onde Horo-Horo me bateu. - Por que fez isso Horo-Horo?

-O filme já acabou há três minutos. – disse Manta para mim – Você dormiu o filme inteiro!

Filme? Ah é... Nós estavamos num cinema. Manta descobriu que estavam fazendo um filme baseada na vida do Pailong, e nos convidou para ir assistir com ele. Agora me lembro. Tava tendo uma cena chata e eu acabei dormindo... Então foi só um sonho. Eu estava sonhando com aquele dia novamente. O dia em que eu salvei Anna-chan.

Não... Isso não é certo. Aquele foi o dia que eu e Anna-chan nos salvamos.

-Eu dormi por tanto tempo assim? – perguntei, abrindo um sorriso sem graça.

-Você teve sorte que não roncou, ou eu teria te matado. – Ren está de mal-humor. Será que o fim do filme mostrou algo que ofendeu a família dele?

-Vamos, antes que Anna-san se irrite.

Anna-chan. Me lembrando daquela época agora, eu consigo ver o quanto a Anna mudou... Fico feliz. Agora ela é bem mais social. Ela mudou... Está mais feliz...

-Aquela menina... Possui uma sensibilidade muito aguçada e, por isso, é muito mais medrosa do que os outros. Mas isso acontece porque ela conheceu o verdadeiro terror. No dia em que ela for capaz de superar todas essas barreiras, ela conquistará uma forca que não se abalará por nada nesse mundo ou no outro. Eu não tenho idéia de quando será isso, mas tenho certeza que encontrará muito diferente quando voltarem a se ver. É uma garota muito complicada mas eu conto com você, Yoh.

-Deixa comigo.

A vovó tinha razão. A Anna é medrosa, mas só porque ela sabe o que é terror. Agora que nós nos reencontramos (na verdade faz três anos que nos reencontramos) ela mudou muito, eu agradeço por isso. Eu irei tomar conta dela, que nem prometi a vovó, ao Matamune e para mim mesmo.

Irei tomar conta dela e a farei feliz. Disso eu tenho certeza. Anna está feliz e eu vou ter certeza que ela sempre esteja feliz!

-Como foi o filme? – perguntei curioso, enquanto voltavamos para casa.

-Chato. Depois de ver o Pailong no Shaman Fight eu acharia que um filme sobre ele seria mais legal. – respondeu Horo-Horo, colocando as mãos atrás da cabeça.

-Esse era o filme sobre a vida dele, não a vida depois da morte, imbecil. – Ren está mesmo de mau humor.

-Aposto que seu sonho foi mais interessante. – continuou Horo-Horo.

Meu sonho? Claro… Quando eu e Anna-chan nos conhecemos… Nossa história tem tanta coisa junta: Romance, Ação, Drama, Comédia... Tragéida. Acho que muitas pessoas adorariam fazer um filme de uma relação como a nossa.

-Sobre o que você sonhou, Yoh-kun? – perguntou Lyserg, me olhando curioso. As vezes Lyserg realmente se parece com uma garota as vezes.

-Eu sonhei com a noite que salvei a Anna do Grande Oni. - respondi, eu já tinha contado um detalhe ou dois sobre aquele dia, mas eles não sabem muito bem o que aconteceu, e nem de onde vinham os onis.

-Você tem sonhado bastante com aquela noite, não é verdade Yoh-kun? – perguntou meu melhor amigo.

-Sim... Desde que Baa-chan nos ligou semana passada, eu me lembro daquela noite.

Eu abri um sorriso. Baa-chan nos ligou semana passada, dando uma importante noticia. Desde então toda vez que fecho meus olhos eu me lembro de alguma parte daquele ano novo. Anna também parece estar se lembrando daquela época. Mas acho que ela está tão feliz quando eu.

Pensando agora, acho que ela estava muito feliz semana passada. Quando eu entrei em casa ela não estava muito diferente do normal, estava usando o vestido preto de sempre, e aquele lenço na cabeça, o que a deixa muito bonitinha. Na verdade, eu sempre a achei bonitinha! Desde que a vi pela primeira vez.

Mas agora me lembrando daquele momento... Acho que ela estava segurando um sorriso.

-Yoh? Já chegou? – perguntou Anna quando chegamos em casa.

-Cheguei sim! – disse sorrindo para a minha noiva.

-Hum... Kino-sensei ligou... – disse Anna.

-Cheguei!

-Voltou cedo Yoh? Cabulou aula novamente?

-Hahaha! Nada disso Vovô! Hoje começaram as ferias de inverno.

-hum? Férias de inverno?

-Estou morrendo de fome. O que tem para comer vô?

-Nesse caso, Yoh...

-O que foi? Acho melhor não olhar meu boletim.

-Hunf! Isso não me importa. É que recebi noticias da Kino essa manhã.

-Da vovó lá da província de Aomori?

-Sim. Yoh... Nós encontramos a garota que será a sua (candidata a) noiva. Se acabaram as aulas é muita sorte. Amanhã viajará até lá para conhece-la.

-Hein...?

-Ligou?

-Sim. Ela disse para arrumarmos as nossas malas. Em uma semana nós estaremos indo para Osorezan para ver os preparativos do nosso casamento. – ela olhou para os meus amigos. Todos nós tinhamos ido fazer compras parao jantar – Ela disse que se quiser, pode levar seus amigos.

Eu abri um sorriso. Sim, o nosso casamento está próximo. Muito proximo.

-Nós vamos para Osorezan amanhã, né? – perguntou Chocolve, me tirando dos meus pensamentos.

-Sim. Amanhã de noite o nosso trem estará partindo. - respondi, sorrindo. – Vocês já foram para Osorezan?

-Não, mas faz tempo que eu quero visitar essa cidade! – disse Manta feliz - Ela é bem perto do Monte Osore, um dos três campos espirituais mais famosos do Japão! ...

-Campo Espiritual? – perguntou Ren.

-Eu acho que já ouvi falar disso... – comentou Lyserg.

-Sim! Muitas pessoas relacionaram aquela montanha a morte! ...

Professor Manta começou a dar uma outra palestra, todos prestavam atenção, menos eu... Já tinha ouvido tudo antes. Mas de uma outra pessoa. Às vezes me impressiono o quanto Manta e Matamune são parecidos... E ao mesmo tempo diferentes.

-Quer dizer então que não é a primeira vez que você vai... Ao Monte Osore?

-Esta é a minha primeira vez.

-Por que fez essa cara?

- É que esse lugar se fosse possível, gostaria de evitar. Um dos três campos espirituais mais famosos do Japão e que se localiza em Shimokita, o extremo norte da ilha de Honshu. Monte Osore! Dos buracos e fendas criadas por antigas atividades vulcânicas, saem vapores cheios de enxofre que criam uma paisagem desolada... Mais adiante, tem o silencioso solene do lago vulcânico com duas margens vazias de areia branca... Esta visão indefinível que pode tanto ser infernal como paradisíaca fez as pessoas associarem o local a morte... E aqueles que sentem falta de seus entes falecidos começaram a buscar forcas nessa montanha... Lá é o local que fica na divisa entre este mundo e o do alem. O local onde as almas que perderam o seu lugar vão parar. É muito melancólico.

Glup...

-Ai que "meda". É ai que encontro a noiva?

-Hahahaha!Está com medo senhor Yoh? O sucessor da família Asakura não devia temer os mortos.

-Você não acabou de dizer que também não queria ir lá? E como conhece tanto se disse que nunca foi?

-Está escrito.

-Planisferio turístico?!!

Professor Manta continuou a dar uma aula sobre Osorezan até chegarmos na pousada. Eu fiquei comparado Manta e Matamune na minha cabeça. Além do nome, da altura, da memória fotografica e da capacidade de dizer palavras que eu não entendo, os dois não tem tanta coisa assim em comum. Manta se preocupa demais, na verdade, ele sempre se preocupa com tudo, diferente do Matamune, que está sempre calmo.

Quando chegamos na pousada, nos dividimos. Anna deixou a gente ir no cinema com algumas condinções. A primeira delas era que o jantar fosse o mais gostoso que já preparamos. A segunda era que precisariamos preparar alguns lanches para amanhã, enquanto nos preparamos para a viagem. Anna não queria gastar mais dinheiro do que preciso. Ela não queria que, caso a gente sentisse fome enquanto esperamos pelo trem, e acabe comprando algo. Ela pediu para prepararmos uma mochila cheia de comida. A terceira era que assim que a gente voltar do cinema a gente tinha que começar a arrumar toda a casa. Iamos passar uma três semanas ou mais em Ozorezan. Ela não queria a nossa pousada suja.

Horo-Horo foi fazer as compras, Lyserg foi começar a fazer o que podia do jantas e Chocolove, Ren e Manta começaram a limpar a casa. Eu ainda tinha que terminar de arrumar minha mala. Depois eu iria ajudar Lyserg com a comida.

Quando cheguei no meu quarto, encontrei a Anna lá dentro, fazendo minhas malas, novamente. Toda vez que temos que viajar, eu deixo de fazer as malas para o último segundo. Na verdade, eu acho que nunca arrumei minhas malas. Sempre que me lembro que eu esqueci de arrumá-las eu descubro que Anna já fez isso para mim. A Anna já até sabe onde minhas roupas ficam... O que me assusta um bocado.

-Anna...? – chamei.

-Oi Yoh. – disse ela fechando a mala.

-Já terminou de fazer a minha mala? – perguntei.

-Sim. Eu já tinha começado antes de você chegar, mas parei para tomar um pouco de água... A minha também já esta pronta.

-Obrigado por sempre fazer minhas malas... – disse sorrindo.

-Se eu não fizesse... Você iria para Osorezan sem nenhuma mala. – disse Anna se levantando – Professor Manta está dando aula...?

-Sim, eu já ouvi tudo aquilo, há cinco anos atrás... – falei sorrindo.

-Você sente falta dele, não sente? – perguntou Anna olhando nos meus olhos, meio triste.

Eu sempre soube que Anna sente muita culpa pelo que aconteceu com o Matamune. Ela Ela se sente culpada que eu sacrifiquei meu primeiro espírito guardião, meu grande amigo, para salvá-la. As vezes eu acho que ela se pergunta se eu me arrendo da minha decisão.

Mas não tem razão para ela se sentir assim. Eu sacrifiquei o Matamune, foi minha escolha salva-la. E eu NÃO me arrependo disso. Quero dizer, se eu não tivesse sacrificado o Matamune, Anna não estaria aqui comigo...

-Sim... Mas não me arrependo do fato que o sacrifiquei para te salvar... – disse abraçando minha Anna-chan pelas costas – Eu posso trazê-lo de volta quando eu quiser... Mas se eu tivesse deixado você morrer lá... Nunca mais poderíamos nos ver...

Ela apoio a cabeça no meu omrbo e fechou os olhos, relaxando em meus braços, e se segurou minhas mãos. Esse é um dos raros momentos que eu e Anna estamos juntos. Geralmente não dura muito, mas é muito gostoso enquanto dura.

-Ah! – disse Anna se separando de mim. Eu gostaria que tivesse durado um pouco mais – Eu achei isso no meio das suas coisas...

Ela me entregou um papel, quando vi, era o poema que Matamune tinha escrito para mim.

Para o Yoh:

Essa pessoa que aguarda por ti certamente não te deixará solitário. Ao menos, isso não. Isso não.

Essa pessoa que irá encontrar certamente não te fará sentir solidão. Ao menos, isso não. Isso não.

Para a Anna:

Mil origamis de grous negros dobrados. Pacientemente, essa pessoa carregará teu triste e pesado mistério noturno. Mesmo sem dobrar. Sem dobrar.

Mil grous negros de origami. Pacientemente, essa pessoa abraçará junto de ti a solidão diurna. Mesmo sem dobrar. Sem dobrar.

Para mim (Matamune):

Mil anos existi. Deste pesar finalmente me livrarei. Mesmo vazio. Mesmo vazio. Meu espírito fragilizado. Desta pesada carcaça finalmente me libertarei. Mesmo vazio. Mesmo vazio.

Mesmo não sendo merecedor... É com prazer que vejo a possibilidade de desfalecer. Frio, talvez me considerem. Mas nada posso fazer. Ao invés disso, eu aceitaria um sorriso.

Na rua, desamparado, entristecido. No caminho, aborrecido, sem vontade. Amor é encontro, separação, um pedaço de pano surrado. Monte Osore re-voir.

Mesmo que te mostres firme, amoleces. Aos sonhos ingênuos, te entregas. Amor é encontro, separação, um pedaço de pano surrado. Monte Osore re-voir.

Entre os vivos ainda ando e a tristeza se mantém. Nos encontros de ano novo a alegria vai e vem. Amor é encontro, separação, um pedaço de pano surrado. Monte Osore re-voir.

Essas palavras mal escritas finalmente chegam ao fim. O mundo que brilha lá no alto, onde será? Será a terra onde mora o santo Jizô? Amor é encontro, separação, um pedaço de pano surrado.

Monte Osore re-voir. Monte Osore au revoir...

-O Matamune escreveu esse poema... – falei depois que terminei de ler.

-Aquele gato é muito estranho... – disse Anna – Que tipo de espírito escreve poesia?

-Ele também fica lendo por muito tempo... É o jeito dele! – disse sorrindo.

Ficamos um tempo em silêncio. Sem dizer nada, pensando no que tinha acontecido há cinco anos atrás. Os momentos tristes, quando achamos que tudo estava acabado. E os momentos felizes, quando tudo acabou e aproveitamos a compania um do outro. E são em momentos assim, de silêncio, pensando no nosso passado, no nosso futuro e simplesmente pensando um no outro que realmente percebemos como fomos feitos um para o outro.

-Vai estar muito frio lá? – perguntei, afinal, Anna morou a vida toda lá, ela deve saber sobre o clima.

-Sim. Então recomendo a você e seus amigos irem de casaco. Talvez neve. – disse Anna-chan. Dessa vez parece que fui eu que arruinei o momento para ela.

-Certo irei avisá-los! – respondi sorrindo – O clima frio não deve ser problema para o Horo-Horo!

-Mas antes, preciso que você de uma saída. – disse Anna-chan olhando para mim seria.

-Uma saída? Mas Horo-Horo já foi fazer as compras! – disse confuso.

-Sim, mas ainda precisamos pegar nossas passagens. Agora vai!

-Hai Anna-chan! – disse e desci as escadas para pegar as nossas passagens.