Essa fanfic não é minha. A versão original se chama "The Butterfly Effect", e foi publicada pelo usuário Gramm845. Isso aqui é simplesmente uma tradução, feita com muito carinho (e com permissão do autor), de uma das minhas fics favoritas.

Capítulo 1

Ada ofegava levemente, e uma fina camada de suor lustrava sua testa. O sangue do pequeno corte acima da sua sobrancelha não escoava no olho, ainda. Ele corria pela lateral do seu rosto, como uma lágrima vermelha; ela o sentia se aproximando do seu olho cada vez mais. A contusão no pescoço dificultava sua respiração. O inchaço havia se expandido para a traquéia, logo ela começaria a arquejar. O tempo se arrastava num passo de caracol.

Calma...fica calma...calma e controle em qualquer situação...sua idiota, nunca mais deixa isso acontecer...

Ela repetia isso na cabeça, mas sem efeito. Por mais que ela tentasse se acalmar, seu pulso acelerava e cada vez mais adrenalina era sintetizada em seu corpo. Bem como havia sido nas entranhas do laboratório subterrâneo em Raccoon City, na última vez que Ada se viu numa situação tão precária. O mínimo que ela podia fazer era manter as aparências, passar a ilusão de que ainda estava no controle. Mas isso não a ajudaria. Às vezes aparências não são tudo. Se ela não estivesse calma por dentro, as coisas rapidamente fugiriam de controle.

A Beretta PX4 na sua mão direita pesava como um tijolo, e tinha a trava de segurança liberada. Com o braço completamente estendido e imóvel, seus músculos ardiam de fadiga. O esquerdo estava relaxado ao seu lado, dolorido da luta que ocorrera há pouco. A arma tinha um pente de 17 balas, cinco das quais ela havia usado. Bastante munição de sobra. Mas bastante para quê? Merecia o homem na mira o projétil 9 mm esperando na câmara? Ou os outros 11 no pente?

Não.

Por que ele estava lá? Foram ordens ou interesse pessoal? Sua motivação foi seu trabalho? Ou quem ela era para ele? Acontecera tudo tão rápido. O assassino se virou e mirou assim que passou pela porta, e depois caos.

A concentração de Ada, normalmente impenetrável, continuava a se deteriorar. Ela piscava com mais frequência, a curva perfeita dos seus cílios movendo-se violentamente sobre seus olhos finos. Ela queria olhar para o lado, ver que a muralha de fuzis e metralhadoras não apontava para ela. Mas fazer isso só aumentaria a suspeita dos vários canos já virados em sua direção. Em vez disso, ela fixou seus olhos nos dele, ciente de que também estava na mira. O coldre tático envolvendo seu tronco parecia ter encolhido três tamanhos. Por que ela prendeu tão apertado? Não era tão incômodo uma hora atrás. Sua mão esquerda queria subir e afrouxar o fecho.

A poeira no ar revelava partes dos feixes de mira laser dos fuzis, emaranhados como uma teia de aranha. Os pontos vermelhos projetados se concentravam principalmente no homem mas, de canto de olho, Ada captava vislumbres de vermelho em seu corpo; alguns dos pontos estavam nela.

Pensa...Pensa! Para de perder tempo!

A cada segundo suas chances diminuíam. Se ela fosse agir, teria que ser agora. Que escolha ela faria?

"Você realmente jogaria tudo no lixo?" Perguntou a agente dentro dela, fria e imparcial. "O objetivo pelo qual você lutou até hoje?"

Sua consciência apresentou a resposta lógica: não, de jeito nenhum. Os últimos 6 anos não podem de forma alguma ter sido em vão. Ainda mais por um motivo tão frívolo quanto emoção. Jogar fora todo seu trabalho agora não seria só estúpido, seria loucura.

"Mas o que você quer mais?" Retrucou a mulher dentro dela.

Ele. De qualquer jeito. Foda-se seus objetivos e a Organização. As coisas são como são por má sorte, simplesmente isso. Eles estavam em lados opostos. Ela fazia tudo para mantê-lo afastado, mas o destino sempre acabava os unindo.

"Não é o destino", disse a mulher. "É você. Você é o motivo. Você vai mesmo deixar ele morrer por causa disso?"

Os dois lados da mente de Ada se confrontavam. A agente tinha vantagem, mas a mulher era forte. Ada permanecia parada, com o braço esticado, arma na mão. Essa deu uma breve tremida, mas logo se estabilizou, ainda apontando para o peito dele, diretamente sobre o coração.

"Tá esperando o quê, Wong?" Perguntou uma voz distante, vindo do aglomerado de armas à sua esquerda.

Ouviram-se uma sucessão de cliques e o som de tecido se movendo enquanto a posição dos atiradores mudava. A única razão possível para a alteração era que eles tinham um novo alvo. As únicas pessoas no cômodo além dela eram o cadáver à sua direita, e ele, à sua frente. Alguns dos pontos vermelhos sumiram dele.

"Quantos devem ser? E as posições? Dependendo de como eles estiverem, eu posso conseguir."

"Esquece", a agente zombou. "O lugar não é favorável. Você pode ter cobertura, mas não dá pra ver todos de uma vez. Eles estão em muitos. Você não tem chance."

Ela estava certa, é claro. A sala estava cheia de caixas e outros entulhos, perfeitos para cobertura, mas eles tinham número. Se ela tentasse qualquer coisa seria massacrada.

"Ela NÃO tá certa"
, vociferou a mulher. "Você tem a habilidade necessária."

Outro argumento pertinente. Sua mente exigia um veredito.

A agente: "Uma simples puxada do gatilho e você tá a caminho do seu objetivo. Só uma pequena inconveniência."

Verdade. Por que ela deveria se importar? Tudo que importava era seu objetivo. Todo o tempo e esforço dedicados a ele iriam por água abaixo, tudo por causa dele. Ela estaria se fazendo um favor; menos uma preocupação para o futuro. Com ele fora do caminho, sua vida seria muito mais fácil.

A mulher: "Uma simples puxada do gatilho e você estaria se livrando de uma das poucas coisas que te manteve de pé esse tempo todo. Você conseguiria viver com isso depois? Melhor o próximo tiro ser na sua própria cabeça, sua psicopata."

Verdade, também...ele é o que a mantivera humana esse tempo todo. Mas e daí se a mulher estiver certa? Iriam os dois morrer de qualquer jeito. Na hora que ela tirasse a arma dele eles seriam alvejados. Se ele tivesse sorte todos iriam nela primeiro, mas não faria diferença; ele estava desarmado.

"Mas ele morreria sabendo que o que vocês tinham era verdadeiro", a mulher afirmou suavemente.

Ada engoliu em seco, já se arrependendo da decisão. Não ia ser fácil.

É isso, então. Quem sabe, talvez... tenha um anjo no meu ombro.

Ela respirou fundo, deixando o ar frio encher seus pulmões. A poeira coçava sua garganta, mas ela manteve a compostura. Fechou os olhos, sentiu sua pele gelar. Seus batimentos rápidos, mas controlados. A arma deu a última tremida, e ficou estável novamente. Ada abriu os olhos, de volta ao controle. O tempo voltou ao seu passo normal.

Arma firme na mão, ela soltou o ar, e engatilhou o cão.