Dezesseis de Janeiro - 2004
Você é muito certo e isso me irrita, cospe na minha cara – mesmo sem querer – que eu sou muito indecisa e essa sua atitude só consegue piorar as coisas. Eu sempre soube desde que começamos nosso torto relacionamento que tudo seria difícil.
Difícil é o meu temperamento, estou certa Harry? Acho que estou, uma vez que essa oração é a que sai da sua boca quase com a mesma frequência que o seu "eu te amo".
Nossos trabalhos dificultam as coisas, uma vez que você leva o seu a sério e eu levo o meu ainda mais, então seguimos a linha de nos encontrarmos na segunda e transar no mesmo dia.
Terça feira pela manhã você acorda com um sorriso no rosto e brigamos enquanto você se entope de chocolate quente durante o café. Na quarta não nos falamos por que você chega tarde e eu costumo chegar depois de você, gosto de ver você dormir então deixo pra lá e fico te observando até cair no sono.
Quinta eu acordo, estico o braço e não te encontro na cama por que você já fora trabalhar. Sexta- feira fica tudo bem e conversamos aleatoriedades até voltarmos a discutir.
Sábado você viaja a negócios e volta na segunda-feira para fazermos tudo novamente.
Às vezes ficamos bem por quase um mês, costumamos nos sentar no chão da sala e você não para de ouvir The Rolling Stones. Eu sempre digo detestar a banda só para te contrariar, até que você deixa uma música repetindo enquanto toma o seu maldito chocolate quente.
A música fala de um frio que testa o maldito amor constantemente, que nos faz esperar o verão dizendo que tudo vai melhorar e eu detesto o verão, mesmo quando nele seus cabelos extremamente negros brilham como nunca.
E quando estou sozinha coloco a música para tocar e eu queria estar com você durante os sábados que você passa em Paris. Ai está frio, Harry? Você me faz detestar um lugar que eu sempre amei, lembrar Paris agora me faz acreditar que estou perdendo você para uma maldita capital.
A caneca com o chocolate quente treme em minhas mãos e me faz sujar o chão. Estou com frio Harry.
Escrever antes de dormir me faz lembrar aquela vez em que fomos à Paris e tinha nevado rigorosamente, tivemos que ficar um dia a mais naquele maldito hotel barato que você tanto gostou.
"Disserte sobre isso, amor. Você não vai querer se esquecer."
Você sussurrou aquilo contra meus lábios e a única coisa que pude escrever foi sobre o branco e como o branco lhe caia bem, por que o verde dos seus olhos quase me consumiram quando entraram em contraste com o branco daquela neve.
Pansy P.
