N/A: Como diz o título, é uma morte, e também é uma agonia. Pode-se dizer que é uma divagação pré-morte. Tive essa ideia quando participei de um debate sobre qual seria a pior morte possível para um certo personagem: afogamento, sufocamento, "queimamento", etc. Digamos que eu estava do lado do sufocamento...

AVISO: Este texto contém spoilers acerca do Casamento Roxo [A Tormenta de Espadas/Game of Thrones 4x02]


Ar.

Algo tão inútil, tão trivial e simples. Algo tão absurdamente comum que não merecia o seu pensamento.

Algo tão importante agora.

"É a torta", pensa, "É essa maldita torta".

Tosse uma vez. Tosse duas vezes. Tosse tantas vezes até que o próprio ato de tossir se torna impossível.

Ar.

Seus pulmões pedem. Apenas mais um pouco, apenas mais uma dose. Como um bêbado qualquer caído nas ruas pede mais um gole de cerveja preta ou rum. Apenas mais um bocado de oxigênio para se satisfazer, para continuar respirando. Bebe mais um gole de vinho, tentando desobstruir a garganta, mas a respiração apenas fica mais difícil.

Mas que bela hora pra engasgar!

Todos os olhares estão voltados para ele agora, parece evidente que ele está passando por dificuldades. As conversas cessam e o silêncio reina por todo o salão. Uma mistura de expressões variando da preocupação à curiosidade. Registra todo eles na variação de um segundo que parece durar para sempre.

"Apenas respire", pensa incomodado, "Respire!".

- Ele está engasgado! – ouve alguém gritar.

Cambaleia e perde o equilíbrio, caindo no meio do pátio. Ouve murmúrios, exclamações e gritos de surpresa.

"Ajudem-me, seus idiotas!" tenta gritar, "Eu sou o seu rei!", mas nada sai de sua boca além de gemidos e estranhos grunhidos e ninguém ousa se aproximar. Ninguém, exceto uma mulher que o segura pelos ombros e o põe em seu colo. Mas nem o toque da mãe consegue tranquilizá-lo agora.

Ar.

Seus pulmões não pedem mais, eles demandam e imploram! Ardem e queimam, entrando em uma série interminável de espasmos, violentamente fazendo o corpo se contrair e descontrair, como um peixe que se debate quando é tirado da água. Ar, seus pulmões imploram. Ar, algo tão ordinário, mas que ela daria o próprio reino para ter mais um pouco.

Busca, puxa, suga.

Inspira, inspira, inspira.

Mas o fôlego se perde em algum lugar.

Estende as mãos, trêmulas e convulsivas, tenta agarrar algo, tenta limpar a garganta, tenta fazer o ar entrar.

"Estou sufocando!" a verdade afunda "Me engasguei e agora estou sufocando!".

As mãos continuam tentando fazer o ar entrar em uma tentativa desesperada, mas só há sangue e mais sangue, dor se misturando á asfixia em um frenesi carregado de pânico.

"Ar! Preciso de ar! Preciso respirar!".

Respirar nunca parecera algo tão importante agora.

Respirar. Respirar.

Respirar só mais uma vez.

Era tudo o que ele pensava antes de morrer.