Disclaimer: The GazettE e Miyavi não me pertencem. Essa fic não tem fins lucrativos.
Sinopse: Quando Miyavi descobre que está tudo por um fio, sua força de vontade é a única coisa com a qual pode contar.
Casal: Miyavi x Kai
Notas: Essa fanfic é de 25/09/2008 e foi concluída em 01/10/2008. Foi a minha primeira fanfic deste fandom e estava postada no Nyah Fanfics, mas que como não autorizou mais as histórias com pessoas reais, tive de procurar outro lugar pra postar.
O que for
Manhã. Hospital.
Mais um dia. Uma idéia na cabeça, uma esperança. Ansiedade. O rapaz tatuado e de cabelos coloridos estalava os dedos das mãos, tornando-se mais nervoso a cada passo através dos corredores, a medida em que chegava mais perto daquele quarto onde estava a sua vida, seu tesouro. Seu destino.
Abriu a porta, delicadamente, sem fazer qualquer barulho. Andou a passos rápidos em direção ao leito onde repousava o corpo inerte. Acarinhou seu rosto pálido, mas não houve qualquer sinal de vida. Nenhum movimento, nenhum som a mais que os apitos das máquinas que o mantinham vivo.
– E então? Alguma mudança? – perguntou ao loiro com uma faixa no nariz, que estava parado na porta.
– Nada. – respondeu, balançando a cabeça - Continua na mesma.
O rapaz cheio de piercings suspirou, desanimado pela expectativa frustrada e Sentou ao lado da cama, observando o rapaz adormecido, procurando por alguma coisa, qualquer coisa que os médicos possam não ter notado. Deparou-se com a mesma coisa: os olhos fechados, a palidez de seu rosto, o silêncio que lhe parecia insuportável tornando esses dias tortuosos. Segurou sua mão, tentando sentir um pouco de seu calor. Mais um apelo ignorado. Um entre tantos que fazia todos os dias.
– Eles não falaram nada? Nada mesmo? – insistiu.
– Nada. Só falaram sobre as chances de... – começou a falar, mas ao ver o rosto do outro, hesitou.
– Não! Já sei o que você vai falar. É melhor que nem comece! – levantou o tom de voz, irritado, colocando-se na defensiva, mas também pronto a atacar.
O loiro sabia que era um assunto muito delicado. Não o culpava por ter essa reação. Então engoliu as palavras sem dizê-las, abaixou a cabeça e saiu do quarto, sob os olhos em chamas do outro.
Ao perceber que o loiro saíra, o rapaz abaixou a cabeça. Punhos cerrados tentando conter sua cólera por ser mais uma vez obrigado a ouvir o mesmo discurso. Sempre que chegava ao hospital, esperava ouvir uma boa noticia, ao menos uma. Sonhava com isso todos os dias desde que tudo começara... mas era sempre a mesma coisa. A cada dia, a cada vez que ouvia dizer que nada mudara, a cada prognóstico negativo, uma esperança a menos. Cada apelo ignorado era um motivo a mais para desistir. Todos insistiam nisso, que lutar contra isso era como dar murros em ponta de faca.
Já não havia muito a ser feito... um pequeno fracasso era uma razão a mais para dar ouvidos ao que todos diziam ser a razão... talvez realmente fosse melhor...
Não! Eu não posso desistir agora!
Respirou fundo, tentando não se abater. Não podia sucumbir. Precisava ser forte. Por ele. Sabia que ele podia ouvir e entender o que se passava ao seu redor. Não podia ser fraco. Ele dependia disso para sair dessa.
– Não se preocupe... não tenha pressa. Eu vou te esperar. – sussurrou para ele, enquanto fazia um afago em seus cabelos.
ooOooOooO
Se arrependimento matasse, Miyavi certamente estaria morto. Se pensasse muito nisso, talvez já estivesse com um vidro de comprimidos na mão, ou uma navalha pronto pra fazer com que isso acontecesse, mas sua racionalidade e força o impediam de tal ato. A culpa também era grande o suficiente para o manter ali, comtemplando dias a fio, as conseqüências de seus atos. Ou ao menos o que julgava ser.
Sua rotina era essa. De casa para o hospital, do hospital para casa. Não se sentia em condições de trabalhar, por mais que fosse pressionado por seu empresário. Como poderia cantar e parecer feliz quando tudo na sua vida estava a ponto de desmoronar?
Maldito ciúme! Por que fizera aquilo de novo? Por que tinha de fazer aquilo? Por um nada! Por besteira! Por imaginação fértil! Mania de ver ameaças onde elas não existiam! Agora por causa disso estavam naquela situação... talvez nunca mais o tivesse de volta! E não seria por rejeição... isso se contornava, mas por algo muito maior, uma barreira intransponível, ainda pior que a morte.
O nunca.
– Miv... você precisa parar com isso. Esse maldito ciúme ainda vai acabar com a gente. – ele disse várias vezes, a última delas com uma nota chorosa na voz, com os olhos cheios d´água.
Era a décima briga só naquele mês. Dessa vez por causa do homem da iluminação. Miyavi vira ele e Kai conversando. Kai estava falando sobre a luz que era melhor para o show que estavam planejando. Talvez o homem tenha lhe dito alo engraçado, ou simplesmente demonstrado ter entendido o que ele queria com alguma sugestão, pois ambos sorriram. Viu quando apertaram as mãos no final, e no sorriso que o sujeito dera para seu namorado, devidamente retribuído.
– Isso não aconteceria se você se desse ao respeito! Eu não sou um palhaço! Eu tenho cara de palhaço por acaso?
Cada palavra que relembrava vinha como se fosse um tapa. Ardia, doía profundamente. Lembrava de seu rosto triste e entendia a gravidade do que fizera. Mais uma vez uma crise de ciúmes acabava com a noite. Por um motivo torpe: um sorriso. Mais um ato de Kai mal interpretado.
– Droga! Por que nunca acredita em mim?! A nossa vida está virando um inferno! – implorou.
– A sua postura não ajuda muito, não é, Kai? Sempre por aí, sempre se dando ao desfrute... como se eu fosse um palhaço, se eu não valesse nada. Se você me amasse de verdade, eu não precisaria ficar repetindo isso.
A ironia de sua própria voz o incomodou. A brutalidade de seus atos também. Lembrou de como agarrou seus braços, dos olhos deles que mais pareciam de um animal ferido. Do medo que viu ali. A aspereza das palavras doía mais do que a iminência de uma agressão física. Bastava lembrar para que pudesse sentir-se como ele, colocando-se em seu lugar ouvindo cobranças impossíveis, sendo vítima de acusações infundadas por atos mínimos. Agora que se lembrava dos seus olhos, sentia-se mal. Vinha a náusea... era sua culpa que tudo isso tivesse acontecido. Tudo por causa de um sorriso!
Por que aquele ciúme que mais parecia doença? Por que o deixou sozinho aquela noite?
Estava em seu apartamento, tentando distrair suas idéias ouvindo música num volume ensurdecedor, pensando que mais uma vez havia exagerado e feito muito barulho por nada, e no que poderia fazer para consertar isso quando recebeu um telefonema... e pelo tom de voz da pessoa do outro lado percebeu que algo muito grave havia acontecido.
Um acidente.
Foi como se o mundo tivesse parado naquele momento. Não conseguiu ouvir nem entender mais nada. Simplesmente correu para o hospital, cantando pneus, sem saber direito o que acontecera. Só sabia que era Kai.
Rezava para que não fosse algo grave, que ele estivesse bem. Apenas um susto. Tinha que ser apenas um susto.
Mas não era. Soube disso quando finalmente chegou ao hospital e se deparou com os rostos tensos de seus companheiros de banda. Pior ainda quando soube o que tinha acontecido, e percebeu os esforços deles para contar tudo com o máximo de serenidade possível. Não foi preciso muito para que as lágrimas começassem a rolar por sua face.
Kai pegou o carro para dar uma volta e esfriar a cabeça como sempre fazia quando estava nervoso. Tinha mesmo de sair. Estava sendo esperado por seus companheiros na sede da gravadora para mais uma reunião de trabalho e decidir sobre a próxima turnê. Apenas saíra mais cedo. Queria dar umas voltas, afinal queria ter concentração suficiente para pensar apenas no trabalho e não na vida pessoal. Seus problemas pessoais teriam de ficar para depois.
Horas se passaram. Na gravadora já havia impaciência, afinal de seu apartamento para a sede o trajeto era de apenas quinze minutos, vinte no máximo. Uruha tentou telefonar para ele, mas não se ouvia mais do que sons de buzina muito alto.
Saíram para procurá-lo, afinal o caminho era curto, talvez o trânsito estivesse congestionado. As buzinas impacientes que ouviram no telefone pareciam ser disso. Era normal. Talvez pudessem lhe dar uma carona, afinal a reunião não poderia começar sem ele, que era o líder. Claro que fingiriam brigar, que tirariam sarro pelo atraso, ainda que soubessem que estava com problemas. mas nada que durasse muito tempo. Era só pra descontrair. Nem estavam levando aquela busca muito a sério, na certa era apenas um atraso por causa de engarrafamento!
Mas bastaram poucos minutos para descobrir que não era isso. Logo encontraram um carro no caminho. Amassado, retorcido. Um aglomerado de gente em volta cercando o que parecia ser o local de um desastre. Luzes e sons de sirenes. Homens de vermelho em volta, tentando espantar a multidão que não se dispersava e lutando para retirar alguém de dentro do veículo.
Era Kai.
Seu carro colidiu de frente com o veículo de um motorista bêbado que vinha na contramão. Disseram que tudo aconteceu muito rápido. Apenas os sons de pneus cantando no asfalto numa tentativa de frear antes da colisão. Nada adiantou. Ainda capotou mais duas vezes até o carro parar. Kai estava inconsciente e ficara preso nas ferragens.
A meia hora que demoraram para retirá-lo pareceu durar uma eternidade. Nesse tempo ele não recobrou a consciência. Estava muito ferido, tivera uma grave hemorragia, teria de ser operado para contornar isso. Batera a cabeça, entrara em coma. Estava sendo mantido vivo por aparelhos. Não havia previsão para que acordasse.
Precisavam esperar. Miyavi esperava. Durante semanas dormira no hospital para estar perto dele. Queria estar ali quando Kai acordasse, ser a primeira pessoa a vê-lo. Queria pedir perdão e jurar que nunca mais duvidaria dele, que controlaria seus ciúmes ridículos. Nunca mais o magoaria. Queria levá-lo para casa e começar tudo de novo. Poder cuidar dele como só se cuida de quem ama, cuidar de cada machucado até que não houvesse mais marcas. Passou quase todo o tempo na cabeceira de sua cama.
Três meses se passaram. Os ferimentos de seu corpo cicatrizaram. E nada. Nenhum sinal de vida.
Os médicos faziam exames todos os dias tentando saber quando acordaria. Todos os prognósticos eram negativos. Não havia nenhuma previsão. Agora, mal sabiam se um dia poderia recobrar a consciência. Não era capaz de respirar sozinho. Dependia dos aparelhos para tudo. Foi quando começaram a falar na possibilidade de desligar as máquinas.
Não! Nunca!
Miyavi se recusou, assim como seus companheiros de banda num primeiro momento. Logo, para eles foi ficando muito claro qual seria o destino. Aos poucos, a imagem do amigo acordando e voltando para a banda foi evaporando, deixando no lugar apenas uma sombra do rapaz que se lembravam.
Miyavi, ao saber disso, passou a evitá-los. A expulsá-los do quarto, não deixando que o vissem, com medo de que eles fizessem algo a Kai. Passou a protegê-lo com unhas e dentes, a acompanhar todos os procedimentos das enfermeiras e dos médicos, temendo que desligassem os aparelhos.
Não o tocariam. Não o tirariam dele. Estava muito claro que Kai ia acordar. Só não estava na hora. Ele não ia morrer. Não deixaria. Protegeria-o de todas as formas. Faria o possível e o impossível para mostrar que todos estavam errados.
Kai acordaria, e assim que pudesse, levaria-o embora daquele lugar e juntos poderiam finalmente viver em paz. Como sempre sonharam, como sempre quiseram. Sem brigas, sem ciúme e sem mágoas.
Continua...
