A Tumble For a Broken Man - Javert & Éponine
Ela sempre parece muito irritante para ele.
Acompanhando-o de uma distância segura em suas patrulhas, acenando para ele como se fossem velhos conhecidos, observando-o com seus grandes olhos castanhos...
Ela sempre parece muito irritante para ele quando começa a falar.
A jovem fala e fala, sem nunca parar, fala com gírias, por vezes deixa risadas joviais escaparem de sua garganta, e, o pior, sempre espera por uma resposta dele.
Ele odeia quando ela faz isso.
Ele a odeia pois ela é gentil e o ama e todos estes sentimentos de uma garota ingênua de dezessete anos com os quais ele simplesmente não pode lidar.
Ele não quer ouvir suas fantasias e seus desejos, e acima de tudo não quer ouvir o tom esperançoso que acompanha suas sentenças.
Ela parece realmente acreditar que eles possam ficar juntos.
Quando a Revolução acabar, diz ela, poderemos ser felizes, afinal? Poderemos ficar juntos?
Ele nunca lhe dá uma resposta. Ele não tem permissão para isso.
E ele sente que nunca terá. Eles são muito diferentes.
Não há amor.
Há somente a lei e a pátria, os criminosos sujos nas ruas que devem ser postos atrás das grades e o natural perfume juvenil que ela parece exalar por onde vai, e que o deixa louco.
Ela não é especial, e nunca será, ao menos não para ele. Certamente há alguém lá fora que iria amar uma doce, confusa garota apaixonada como ela. Uma garota que pensa que um homem como ele é capaz de amar.
Mas este alguém não é ele.
Na verdade, talvez possa existir um tipo de amor, ou talvez somente a luxúria. Ela não tem limites, não é como as damas da alta sociedade. Ela ri quando quer, diz o que quer, demonstra seus sentimentos quando bem lhe agrada.
Ela não tem nada a esconder. É um livro aberto para ele, e somente para ele. Em sua presença, ela é quem realmente é.
Mas isso não pode continuar.
Quando a Revolução acontecer, um dos dois morrerá. Ou talvez até mesmo ambos: ele morrerá por seu país, e ela morrerá devido a algum incidente nas ruas que anualmente mata milhões de inocentes.
Ele não quer que ela lamente sua morte.
Ele não merece que ela lamente sua morte.
Ele não merece que ela chore em seu leito, que diga as palavras "mas eu te amava!" tantas e tantas vezes enquanto as lágrimas sufocam sua voz.
Mesmo assim, ele não deixará que ela se aproxime. Que veja o que ele realmente sente.
Ele não quer que ela ouça suas confissões, suas divagações, seus murmúrios, suas preocupações. Ele não quer que ela ouça como é linda, e como ele odeia o fato de que nunca poderá retribuir seus sentimentos castos.
Ele odeia ter de ser tão egoísta com aquela pobre garota, que nada sabe do mundo, e que se dedica a ele e somente a ele.
Ele não quer que ela saiba que ele realmente se importa.
