DISCLAIMER: As Crônicas de Gelo e Fogo não me pertence, e tampouco os seus personagens.
YOUNG BLOOD - CAPÍTULO ÚNICO
por acid
A vida é cheia de pequenas ironias, coisas que não fazem sentido, paradoxos inexplicáveis. Ele parecia um anjo – cabelos claros, olhos cristalinos tão puros que pareciam roubar o azul do céu, a pele de alabastro. Ele parecia um anjo, mas você sempre soube melhor do que ninguém que ele não era anjo algum. Ele não era nem virtuoso, nem casto, nem imaculado. Loras Tyrell era um demônio, sujo, sombrio e nefasto, absolutamente perverso, o seu demônio. Seu, e isso é importante.
Você nunca imaginou que você pudesse ser assim, tão possessivo.
Loras sabe como te provocar, fazer com que você perca o controle, que as coisas percam o sentido. Você é Renly Baratheon, Senhor de Ponta Tempestade e Mestre de Leis no Conselho do Rei, mas você esquece tudo o que você é, o que você não é e o que você deveria ser quando ele puxa as suas cordas e te usa como a marionete que ele te mostrou que você gosta de ser, tão suja, sombria e nefasta quanto ele, e não há nada que você mais goste no mundo do que se sentir assim, dele, sabendo que ele também jamais poderia pertencer a alguém que não fosse você.
Você não gosta de batalhas e nem de sangue, mas você consegue assisti-lo lutando em uma arena por horas a fio – ele é como o fim do mundo, o estopim de uma guerra, o ápice de uma batalha, o olho de uma tempestade. E quando ele te olha, ao longe – com os olhos frios feito o metal da ponta da lança bem segura entre os dedos dele, os lábios quase curvados em uma sombra de um sorriso que, se vocês estivessem sozinhos, seria um sorriso inteiro, prepotente e convencido e completamente indecente – tudo o que você consegue pensar é no depois; em como você vai beijar cada nova marca que tenta macular o corpo dele, em como você vai cuidar de cada ferimento mínimo do seu cavaleiro, em como vocês vão comemorar as vitórias dele com vinho âmbar, promessas ofegantes e beijos exigentes.
Na primeira vez que ele diz que é você quem deveria ser o rei, você não dá muita atenção. Ele te corta com uma navalha afiada e faz o seu sangue escorrer por sua pele em um caminho carmesim que você detestaria se tivesse sido feito por qualquer outra pessoa; mas foi ele, era a mão firme e bonita e delicada dele que segurava a navalha, e o tom da voz dele é suave quando ele tenta te convencer de que você seria um bom rei. Você era o quarto na linha de sucessão, então você só entendeu o sentido de toda aquela conversa quando ele desatou os nós das suas calças e se ajoelhou à sua frente, as mãos firmes e bonitas agora segurando as suas pernas, te mantendo imóvel enquanto ele murmura um "você seria um rei maravilhoso" com a voz completamente dominada pelo desejo antes de te engolir inteiro, o seu cavaleiro das flores, o seu escudeiro, o seu amante, o seu demônio.
Na segunda vez em que vocês falam sobre isso, porém, é diferente. É de verdade, porque o seu irmão – o rei – está morto, e você está fugindo de Porto Real antes que os Lannister tomem controle do Trono. Você se pergunta, enquanto cavalga sozinho até Ponta Tempestade, se ele ainda vai estar disposto a lutar por você, se ele realmente falava sério quando disse que você seria um bom rei. Rei Renly Baratheon, você pensa, e o título te parece estranho e errado, e só existe uma coisa no mundo que você já quis mais do que esse título – mas isso, você já tinha.
Ele está te esperando na sua sala de reuniões quando você chega a Ponta Tempestade, e, por um momento, tudo o que você consegue fazer é encará-lo como se você não soubesse como alguém como ele podia existir; os olhos claros dele te escrutinavam, preocupados, e eles nunca estiveram tão quentes e azuis quanto agora, e você finalmente se sente seguro desde que saiu de Porto Real. Loras apanha o seu rosto com as duas mãos, meio transtornado, e pergunta o que você vai fazer agora. Você se lembra da última conversa que teve com Eddard sobre a sua estratégia – tomar o controle de Porto Real, atacar antes que os Lannister ataquem – e da recusa dele. Honroso demais, você devia saber, e agora uma guerra estava prestes a estourar e você precisava pensar com cuidado, agir no momento certo, fazer—
"Você sabe o que precisa fazer agora, não sabe?" o seu cavaleiro pergunta, e ele ainda segura o seu rosto entre as duas mãos e você sabe que ele deve estar tão perdido quanto você, mas existe alguma coisa na expressão dele – uma ferocidade – que faz um arrepio estranho percorrer a sua espinha e, de alguma forma, você sabe que ele estava falando sério quando vocês falaram pela primeira vez sobre a coroa. "Renly?"
"Sei," você responde, e você segura a cintura dele com força e o empurra até a parede mais próxima, arrancando um baque surdo das costas dele e um gemido dos seus lábios, "Eu sei, eu sei."
E é isso o que você precisa fazer, é isso – empurrá-lo contra a parede, abafar os gemidos dele com os seus lábios, desgrenhar os cabelos dele com os seus dedos. Desprender o broche que segura a túnica dele, arranhar a pele branquíssima do torso dele, marcar o pescoço imaculado dele com as suas mordidas desesperadas demais. Sentir o gosto metálico do sangue que escapa dos lábios dele, o corpo dele estremecendo sob o seu toque, é isso o que você precisa fazer. E Loras também sabe o que ele precisa fazer, porque ele arranca as suas roupas de qualquer maneira, beija a pele sensível entre a sua orelha e o seu pescoço, empurra os próprios quadris contra os seus e, pelos Sete, faz tanto tempo desde a última vez em que vocês estiveram juntos que nada disso é suficiente. Então você segura uma perna dele junto do seu quadril e se empurra contra ele, obrigando-o a segurar nos seus ombros com força para não perder o equilíbrio, um gemido alto e absolutamente indecente escapando da garganta dele e é disso que você precisa – então você continua se empurrando contra ele, contra ele, contra ele e os lábios entreabertos dele não param de murmurar palavras desconexas que não fazem sentido nenhum, mas que são exatamente o que você precisa ouvir e é tão bom, tão desesperado e tão perfeito que você enterra o rosto na curva do pescoço dele, seus lábios traçando beijos na clavícula bem-desenhada dele instintivamente.
Vocês não passam de um borrão absolutamente desesperado e faminto, e de repente é tudo demais para que você consiga suportar – você sentiu tanto a falta dele, você sentia tanto medo, você estava tão perdido e agora tudo estava tão certo, tão simples. As suas mãos deixam a parede atrás dele e o envolvem com firmeza quando vocês terminam, e por mais que seja você quem está dentro dele, você sabe que nunca se sentiu mais entregue a alguém do que agora.
Você sabe o que você precisa fazer.
A cerimônia de noivado acontece em Jardim de Cima, o lar dele, e apenas os Tyrell e os senhores mais importantes das casas do Sul estão presentes. Dizem que usar uma coroa não é uma tarefa fácil, mas a coroa dourada de rosas e espinhos que adorna a sua cabeça é leve e perfeita, e você não sabe como duvidou, um dia, das palavras de Loras – você nasceu para ser um rei, o rei que os Sete Reinos precisam, e tudo o que você tinha que fazer agora era derrubar Stannis e os Lannister, o que parecia ser mais difícil do que realmente era; o poderio do Sul e da Campina eram suficientes para derrotar ambos, e você ainda tinha que se reunir com os seus exércitos de Ponta Tempestade e, com sorte, aliciar alguns dos senhores de Stannis.
Você sorri, e os seus olhos encontram os de Loras quando Mace Tyrell propõe um brinde aos noivos. O rosto dele está sério, você percebe, e você o conhece bem demais para saber que alguma coisa está errada; aliás, você o conhece bem demais para saber exatamente o que está errado, e você precisa se empenhar de verdade para não sorrir muito com o pensamento.
Foi Loras quem teve a ideia, naturalmente. Vocês não tiveram tempo para tentar casar Margaery Tyrell com Robert, mas Loras sempre dizia que a irmã era uma boa menina, pronta para fazer qualquer homem feliz – e com um pai pronto para fazer qualquer homem extremamente poderoso, então vocês não precisaram pensar muito antes de fazer a proposta ao Senhor de Jardim de Cima, que também não precisou pensar muito para aceitar. "Isso não é uma proposta, Vossa Graça, é uma honra," ele disse, e aceitou mais do que de bom grado o título de Mão do Rei para si e o de Rainha dos Sete Reinos para a filha. Foi um preço pequeno a se pagar, porque Margaery realmente era uma boa menina. Ela era linda como uma flor delicada, sabia quando e o que falar, e, mais importante do que qualquer outra coisa, ela tinha os olhos dele.
Foi Loras quem teve a ideia, você pensa, e a vontade de sorrir aumenta quando você se pergunta se ele sabia que ia sentir tanto ciúme assim.
Você oferece a mão para ajudar Margaery a se levantar para o brinde, todo cortês, e ela a aceita prontamente, um sorriso absurdamente radiante iluminando o rosto bonito dela – e você conhece aquele sorriso, porque Loras também sorri assim e você nunca consegue deixar de sorrir também. Então você sorri para ela, inevitavelmente, e os seus olhos procuram os dele outra vez, também inevitavelmente, e Loras ainda está completamente sério e os olhos de jade dele estão te perfurando e você nunca sentiu mais vontade de toma-lo para si na sua vida. Nunca.
A Mão do Rei então proclama alguns votos de felicidade e fidelidade ao rei – a você – e os brados dos seus senhores fazem um arrepio brincar em sua espinha, um sentimento de orgulho e de alguma coisa quente te inflamando por dentro. Margaery aperta o seu braço delicadamente, como se ela quisesse te mostrar que ela está feliz por você, e você encara os olhos dela, verdes e quentes e brilhantes e exatamente iguais aos dele e sorri, plantando um beijo terno na testa dela e murmurando um "minha rainha" contido.
Você está esperando quando, mais tarde, ele entra em seu quarto. Loras é como o fim do mundo, o estopim de uma guerra, o ápice de uma batalha, o olho de uma tempestade. Loras Tyrell, um demônio sujo, sombrio e nefasto, absolutamente perverso, o seu demônio.
Seu, e isso é importante.
"Você é meu." ele diz, te empurrando na direção da cama com tanta raiva que você nem tenta resistir. Ele cai sobre você e segura os seus pulsos acima da sua cabeça em um aperto firme e dolorido que você odiaria, se não fosse ele. "Meu."
Você ri, porque Loras não faz a menor ideia. A menor ideia.
"É fácil pra você brincar de esposo perfeito com ela, não é?" ele torna, apertando ainda mais os seus pulsos, a respiração ofegante sobre o seu rosto.
"É," você responde, como se fosse nada, e toda a fúria do rosto de Loras se dissolve, transformando-se em alguma coisa que você nunca viu; decepção. Ele solta os seus punhos inconscientemente e você sorri, leva uma mão ao rosto perfeito dele e desliza os dedos nele em uma carícia que ele definitivamente não estava esperando. "Ela tem os seus olhos."
E então ele sorri, quente e brilhante e radiante, daquele jeito que se você já não estivesse sorrindo, você sorriria, e ele cola os lábios nos seus.
Você é dele, e você odiaria ser de qualquer pessoa – mas você é dele.
