~Für Rukia~
Prólogo - Anjo
Corria. Suas pernas não agüentavam mais. Os corredores eram todos iguais; Largos, revestidos de pedras rústicas, com pequenas janelas no topo, que deixavam passar os fracos raios lunares.
Os únicos sons perceptíveis para seu pequeno corpo infantil eram sua própria respiração e seus curtos e apressados passos.
-Papai! – Sua voz saiu esganiçada, seus ouvidos procurando localizar alguma outra voz..
Mais uma vez, dobrou à direita. E o corredor parecia igual a todos os outros.
Tropeçou na barra de babados do seu longo vestido rosa claro, seu corpo cansado tombando no chão. Seu rosto pálido estava encostado no piso frio.
-Papai... – Tentou falar, em um fio de voz.
Permaneceu na posição em que se encontrava, inspirando profundamente para recuperar o fôlego.
E então, um toque.
Um som doce e suave, seguido por outro, outro, e logo formando uma bela melodia.
Levantou-se desajeitada, procurando seguir o som.
Andou mais alguns metros, percorrendo os corredores que pareciam familiares, mas dessa vez, estava com uma estranha calma.
Visualizou uma bela porta de madeira, com belos detalhes dourados – Provavelmente ouro – e que possuía pelo menos quatro vezes seu tamanho.
Empurrou, com dificuldade, um dos lados. Formou, então, uma abertura de alguns centímetros, por onde passou a cabeça.
O cômodo era amplo e pouco, porém suficientemente iluminado. As janelas enormes ocupavam toda a alta parede à sua frente, iluminando o local com a luz da Lua Cheia e dando uma bela vista para um enorme jardim. As paredes na cor salmão, combinadas com as belas cortinas beges, davam um toque aconchegante.
No canto da sala, pôde ver um grande piano negro, sua presença onipotente chegando a intimidar a pequena criança.
E, tocando o piano, havia um pequeno garoto, provavelmente com a mesma idade que a sua. Ou melhor, ele não estava apenas tocando um piano. Seus dedos deslizavam pelas teclas como se já conhecessem o caminho; Não se intimidavam com o grande monstro obscuro, mas sim, tentavam acalmá-lo com um doce carinho.
O garoto possuía cabelos loiros, quase brancos, e seus fios lisos eram espetados. Vestia um terno preto e impecável, que contrastava com seus cabelos claros; Sua aparência chegava a ser angelical.
A intrusa passou alguns minutos observando o belo cenário, deslumbrada. Acordou de seu mundo apenas ao ouvir o silêncio.
Sorriu e bateu as pequenas mãos pálidas, uma palma contra a outra, o que fez o menino virar-se em um susto.
-Que bela música. – Falou, ainda com um sorriso gentil. – Você toca bem!
-Obrigado. – Murmurou o garoto, o rosto corando de vergonha.
Deu mais alguns passos, aproximando-se do loiro.
-Quer tocar? – Perguntou o estranho, agora com um sorriso doce.
A garota hesitou, olhando o enorme monstro.
-Vem, vem tocar! – Ele repetiu o convite, agora esticando a mão para a bela dama. Ela segurou a mão, aceitando, e sentou-se ao seu lado.
-Que música era essa que você estava tocando? – A garota perguntou, seus cabelos curtos balançando com um movimento de sua cabeça.
-Für Elise! – Respondeu o loiro. – Ou Pour Elise, os dois nomes estão corretos. Significa "Para Elise". – Um sorriso deslumbrante tomou conta do rosto do anjo, ao mostrar seu conhecimento.
-Aah, então essa Elise ganhou essa música tão linda só pra ela? – Os olhos da morena brilharam. – Que sorte!
-Na verdade, não. Essa música foi criada para Therese, só que para não confundir com outra música, "Für Teresa", e para não expor a tal Therese, Beethoven colocou o nome Elise. – Ele ficou sério momentaneamente, pensativo. – Pelo menos, essa é uma das teorias que existem, e a que eu mais confio. – A garota pareceu desapontada com a história, e o pequeno anjo pareceu perceber. – Ah, mas, se quiser, eu faço uma para você! – O sorriso voltou, ainda mais belo, e a menina retribuiu igualmente. – Qual seu nome?
-Rukia. Kuchiki Rukia! – Respondeu a garota. – E o seu?
-Então, eu vou fazer uma Für Rukia! – Falou, animado. – Ah, meu nome? Eu me chamo...
Acordou com o som incessante do despertador, jogando-o na parede em seguida. Sentou-se e coçou os olhos, com sono.
"Mas que merda. Por que ultimamente eu tenho tido esse sonho? E eu nunca consigo lembrar do nome do menino, ou sou interrompida antes de ouvi-lo...".
Desistiu de pensar ao ver que já estava atrasada. Pulou para fora da cama, e correu para se arrumar.
"Mas que aquele menino parecia um anjo... Sim, ele parecia".
