ESCOLHAS DOLOROSAS
ShiryuForever94
[Projeto] Ano Zodiacal I, Signo: [Capricórnio], Saint Seiya (Cavaleiros do Zodíaco), Yaoi, Saga de Hades Chapter Sanctuary, Missing Scenes, Songfic (Choose Your Battles – Katy Perry), Saga e Shura (SaShura), Hurt, Confort, Family, Drama, DeathFic para alguns personagens.
Advertências: Violência, Sofrimento Emocional, terror (pois fala do inferno, ou meikai).
Classificação: NC-17
Dedicatória: Presente de Natal e Ano Novo para o meu amor, Akane Mitsuko (Blanchett) e para Vic Valle Castle. Presente de Aniversário para Shura de Capricórnio
Resumo: Estavam naquele lugar há algum tempo, alguns meses, talvez um ano, não havia como medir o tempo. Durante todos aqueles dias, semanas, meses, vira a transformação que o inferno podia fazer em alguém...
Disclaimer: Saint Seiya não me pertence. Todos os direitos são de Masami Kurumada, Toei, Shueisha.
ESCOLHAS DOLOROSAS
ShiryuForever94
Capítulo UM
Havia muitos nomes para aquele lugar. Desde o princípio dos tempos que estar ali significava o fim de tudo, mas ao que parecia, para aquele grupo em especial, seria um começo.
Inferno, a morada dos mortos, lugar de grande sofrimento e de condenação.
Infernum, "as profundezas", "mundo inferior".
Meikai.
Hades, o inferno grego, e também o nome do deus do mundo subterrâneo, filho de Chronus.
Já para os romanos, o deus dos infernos era Plutão. Os condenados às penas eternas habitavam o Tártaro e os justos nos Campos Elísios...
Sheol para os hebreus. Geena no Novo Testamento. Poço sem Fundo no Alcorão...
Perdição.
Não importava o nome. O que era realmente de se tomar nota era o fato de que ali estavam todos os restos humanos que ninguém mais queria, muitos temiam e quase ninguém sabia como lidar.
Todo tipo de vício, maldade, loucura, horror. Assassinos, traidores, pérfidos, pedófilos, traficantes, torturadores, nojentos em geral, inomináveis seres que ficavam sob a guarda de Hades e seu exército de esquecidos.
Eram cento e oito espectros, dentre os quais havia três juízes do inferno cujo trabalho era impedir que toda aquela putrefação subisse novamente ao mundo dos vivos. As ironias do inferno: condenados que vigiavam condenados, numa eternidade de dor e lamentação. Não havia inocentes por ali. Talvez houvesse alguma honra, mas isso é outra história.
No meio de toda a terra vermelha tinta de sangue, ouvindo os gritos de agonia, as lamúrias e o desespero, Shura de Capricórnio apenas observava a tudo e a todos, recostado em uma das muitas rochas das planícies sem fim num raro momento em que não estava sendo torturado e ensinado a obedecer a Hades. Havia tomado uma decisão e precisava ter certeza de que toda a profunda dor e desolação que sentia serviriam para algo.
Um homem sem esperança. Um corpo que já não era seu, mas muitas vezes controlado pela súrplice, ou sapuris, arroxeada, quase negra, presente do Deus do Submundo, Hades, o Imperador dos Mortos.
O que um cavaleiro de ouro, em tese um dos seres mais honrados do universo, estava fazendo no inferno? O que ele, justamente tido por ser o mais leal a Atena, fazia naquele lugar, envergando trajes arroxeados plenos de cosmo de Hades, o Imperador que pretendia dominar o mundo e matar Atena a quem o dourado jurara defender?
Ninguém jamais poderia saber, mas ele se preparava para assassinar sua deusa em troca da vida eterna a ser dada por Hades a seus soldados monstruosos. Ou era isso que o Imperador do Submundo queria que não apenas Shura, mas Saga, Camus, Afrodite e Máscara da Morte acreditassem. Havia ainda outros cavaleiros por ali, todos sem exceção com olhares mortos e trajes roxos que os mastigavam por dentro, solapando suas almas e exigindo que obedecessem sem titubear ao seu novo senhor.
Shion também lá estava, ainda altivo e com o olhar mais triste que Shura jamais vira.
Ressuscitados dos mortos para servir ao Senhor dos Mortos. Era vida? Shura já não sabia o que era aquilo. Não estavam mais vivos mas sentiam dor e medo. Sentiam fome, sentiam sede e podiam quase tocar o desalento e a tensão que permeavam todo o ambiente.
No entanto, se alguém realmente se aproximasse de Shura e prestasse atenção, notaria uma calma fria e rígida determinação. Ele já não se importava consigo mesmo, não ligava para mais nada, apenas para o que tinha a fazer. Tristeza profunda no já antes de poucas palavras e soturno capricorniano.
"Você geralmente é bem calado, mas hoje está basicamente morto. Quer dizer, mais morto que já estivemos. Ah, você sabe do que estou falando." Saga parou a alguns metros do capricorniano. Embora estivessem fora de seus ambientes, sabia o quão perigoso podia ser tentar surpreender um cavaleiro de ouro. Era sempre melhor guardar alguma distância e se deixar pressentir.
"Morri quando assassinei Aiolos, apenas que não me dei conta de quão corrompida estava minha alma e meu corpo seguiu respirando. Depois, tentei matar Shiryu, ele sim um guerreiro de valor, um moleque de catorze anos que me mostrou o quão errado eu estava. Não espere sorrisos e alegria de mim, Saga. Não sou de passar por cima de tudo e seguir como se nada tivesse acontecido."
Silêncio. Quer dizer, quase isso, pois os gritos, lamúrias e uivar de um vento fétido jamais paravam.
"Tenho certeza que ambos já o perdoaram." Saga falou um pouco mais baixo. A mesma dor que Shura tinha no coração, ele também possuía, afinal fora ele a ordenar a execução de Aiolos. Sem falar em todos os pecados perpetrados por seus anos dominando o Santuário. Não sabia quantos havia assassinado. Talvez jamais expiasse toda aquela culpa. Talvez por isso não se sentisse tão mal estando no inferno. Ele merecia. Mas Shura... Precisava contar a ele. E arcar com as consequências.
"Não quero falar nisso. Temos trabalho a fazer, não importa mais." Shura deu meia volta e sequer olhou para o companheiro. Estava concentrado e preocupado. Será que haveria mais mortes? Como passariam por todos os demais cavaleiros de ouro? Não podiam dizer nada a eles e não queria ter que feri-los, mas se fosse preciso... Apenas mais um capítulo em sua desonrosa jornada pela vida. Ou morte.
"Você deveria falar com alguém. Sua alma é um livro aberto para mim, Shura. Sei que não gosta disso, mas eu fui o Grande Mestre, tal como Shion, e sei muito bem ler cosmos, mesmo quando o cavaleiro tenta ocultá-lo. O seu pode estar deturpado, corrompido e sangrando como o meu, afinal estamos usando trajes forjados por Hades, mas eu ainda consigo ver. Eu posso enxergar claramente sua dor. Fale comigo, Shura. Sou seu amigo." O coração de Saga pulou. Sentia um pouco mais que amizade, mas não havia nada que pudesse ser mais fora de hora que sentimentos como aquele na situação em que se encontravam.
Shura parou de andar e voltou o olhar tingido de comiseração para Saga. "Minha dor? Ela não é nada. Você não estava lá para contar a Aiolia que o irmão dele era um traidor. Você não tirou o herói de uma criança, você não o viu chorar sem lenitivo! Eu vi! Eu tive que admitir a monstruosidade que cometi para uma criança que antes era feliz e cheia de amor no coração. Sabe o que é arrebentar os sonhos de uma alma inocente, Saga? Eu sei! Não venha me falar de dor! Eu vi toda a dor do mundo nos olhos de Aiolia e jamais irei me perdoar por isso!"
O geminiano ficou sem palavras. Aquela mágoa era profunda e triste demais. Shura queria expiar seus pecados, por isso aceitara sem maiores reclamações a nefanda missão. Saga já cometera muitos crimes, mas talvez ainda pudesse ajudar. "Não vai passar por isso sozinho. Você e Camus irão comigo. Nós vamos no segundo grupo de ataque e vamos conseguir." Determinação, certeza, fé. Saga sempre seria um grande cavaleiro, mas mais que isso, um homem de valor.
"Por que? Não prefere Máscara da Morte e Afrodite? Ao menos eles sempre foram do jeito que são e não se esconderam atrás de uma falsa perfeição que jamais tiveram! E eu ousei me encher de orgulho e bradar para Shiryu quão incrível eu era!" Shura sentia suas entranhas em fogo. Estava com tanta raiva de si mesmo! Shiryu contara a ele toda a verdade, aquela que ele se negara a enxergar e que custara a vida de Aiolos!
Saga respirou fundo. Estavam naquele lugar há algum tempo, alguns meses, talvez um ano, não havia como medir o tempo. Durante todos aqueles dias, semanas, meses, vira a transformação que o inferno podia fazer em alguém... Shura realmente sentia-se culpado agora. Mesmo tendo morrido para salvar Shiryu, mesmo que tivesse se enganado quanto ao que ele, Saga, quando era Grande Mestre, havia ordenado, Shura se culpava. Será que ele não sabia? Não se lembrava? Talvez fosse preciso conversar mais com ele. Precisava fazer o que vinha pensando em fazer há algum tempo. Seria doloroso, cruel e com consequências imprevisíveis, mas ele precisava fazer alguma coisa a respeito.
Não havia como adiar mais a hora da verdade.
Haviam se tornado mais chegados desde que haviam sido confinados na mesma cela pequena e sem conforto. Quando o frio era demais, Saga abraçava o corpo menor e apenas vibrava o cosmo para aquecer a ambos. Alternavam-se na tarefa para não ficarem muito fracos e ouvia os gemidos de Shura quando ele tinha pesadelos. Muitos pesadelos. Lágrimas em borbotão, tremores, medo. Saga o confortava como podia e por algumas vezes vira o impulso suicida em Shura. Abraçava-o. Não podia permitir que ele se perdesse daquele jeito. Shura era forte, leal, honesto, de valor! O que fizera a ele... Como pudera?
A morte de Aiolos fora algo que mudara completamente a vida de Shura, a de Aiolia e, porque não dizer, a de Saga. Fora o início do horror em que se transformaria o Santuário.
Renascidos no inferno, os cavaleiros de ouro que lá ficaram confinados esperando que Hades decidisse o que gostaria que eles fizessem haviam tido bastante tempo para conversar. Fora dos treinos pesados de cavaleiros de ouro, apenas mantidos vivos, ou com o que parecia um arremedo de vida, tudo que podiam fazer entre os intervalos de trabalhos forçados e tarefas que provassem sua submissão a Hades, era conversar.
Nessas conversas, Saga havia descoberto muito sobre Shura. Haviam crescido no Santuário, eram órfãos, mas havia mais, muito mais. Ouvira suas histórias sobre a morte trágica dos pais, sobre a fome e o frio, sobre a determinação em ser o melhor. O treino com a excalibur, as mãos que sangravam até ficarem fortes e mortais o bastante. O olhar sério, o temperamento difícil e distante. Shura não era uma pessoa fácil de se lidar, mas Saga se pegara admirando-o pela firmeza do caráter, pela determinação, pela capacidade de saber-se errado ao atentar contra Atena e por ver tanta dor quando o assunto era Aiolos.
Saga se apaixonara por ele. Não fora algo planejado. Talvez muita solidão no inferno, mas se havia ainda alguma alma ali, estava caída de amores por Shura.
"Você precisa saber de uma coisa, Shura." O tom da voz de Saga mudara um pouco. Havia medo nela. E Saga não temia nada. Ou era a imagem que transmitia de si.
Shura franziu o cenho, sentindo a vibração da dúvida vindo de Saga em borbotões. Era sério... Muito sério. Encarou-o sem dizer palavra, aguardando.
Nota da autora: Será postado um capítulo por semana. São apenas quatro capítulos. Espero que gostem. Obrigada por lerem e comentarem.
