Cap I – Embarcando num Cruzeiro.
Era mais um entardecer qualquer naquela cidade qualquer, aliás, tão qualquer quanto os passageiros que embarcavam naquele cruzeiro de luxo.
"Hunf! Luxo... Não adianta nada essas damas e cavalheiros sempre com dias cheios, bolsos cheios, mas seus corações tão vazios quanto o meu..."
Tudo parecia indiferente para aquela mulher. Talvez o motivo se desse pelo fato de ela ter perdido os pais e o irmão mais novo quando adolescente, herdado muito dinheiro e passado sua vida sendo criada por tios que só pensavam em ter toda aquela herança que era dela por direito. Era uma mulher, linda, desejada, sedutora... Mas nunca conhecera o amor de verdade, neste lado era amarga, fria, inexperiente.
"Tá, eu vou fazer esse inferno de Cruzeiro que deve ser melhor do que passar o ano novo com aquela falsa solidariedade dos meus tios..." – E foi com essa determinação que Sango embarcou com seus pares de diamante pendurados na orelha, mostrando para todos aqueles da mesma classe que ela que fazia parte daquele grupo. "Os bercinhos de ouro anônimos", só podia ser...
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"Dessa vez vai dar tudo certo, tenho tudo que preciso para ser tão bom quanto eles!" – Um rapaz pensava exuberante arrumando seu terno. Com seus lindos olhos azuis brilhando tanto quanto seu sorriso, que por sinal era bem atraente. Olhava as moças entrando no Cruzeiro de cima a baixo, sem deixar nenhuma escapar de sua "comilança" com os olhos. A cada dama que embarcava ele parecia se aproximar mais de onde elas estavam, mas uma se destacou ao ver daquele homem.
"Uau! Desacompanhada ou não essa passou a ser meu sonho de consumo!"
O rapaz praticamente a seguiu. Ignorou totalmente a cara de poucos amigos que a mulher estava no momento.
- Deseja algo, moço?
- Desejo conhecer-te melhor, bela senhorita.
- Argh, não consigo acreditar nisso... – a jovem acelerou os passos.
- Algo errado em querer estar contigo? Vejo que a senhorita está desacompanhada e penso que gostaria de um parceiro... – ele agora acompanhava os passos da mulher.
- É? E por que não pensou que eu simplesmente quero sossego e por isso estou sozinha?
- Olhe, não seja tão rude... – o rapaz parou na frente da mulher com o sorriso mais sedutor e inocente do mundo. Seus olhos seguiam ingenuamente os lábios da moça. – Então... O meu nome é Miroku, e a senhorita se chama...?
- Sango... – estava desanimada, mas era educada o bastante para ignora-lo.
- É um imenso prazer conhece-la, senhorita Sango. – Miroku beijou-lhe a mão e a fez corar.
- Er... O prazer é meu... E... Você é sempre educado assim com as moças bonitas? – Essa pergunta pode ter sido estimulante para o próprio ego de Sango, mas no fundo sua pergunta tinha sentido.
- Moças bonitas há de sobra por aqui, não acha? São ricas, belas, intelectuais... – Ele olhava para todos os cantos da parte externa do barco, observando as moças ali presentes, mas sua atenção voltou para os olhos chocolates da moça de um modo profundo. - ... Mas não iguais a você.
- Como sabe? Mal me conhece, mas te digo para não criar falsas esperanças de mim, senhor Miroku.
- Senhor? Por favor, me chame só de Miroku.
- Tudo bem, senh... quer dizer... Miroku – Sango sorriu envergonhada pelo "quase erro" que cometera.
- Você tem um belo sorriso... Ei, pode me dizer o número do seu quarto?
- Como? Não acha isso muito inconveniente?
- Ah... Vocês mulheres sempre pensando maldade de nós homens... - o homem ria descontraído, frustrando a moça. – Eu só quero instruí-la para chegar até ele porque conheço todo esse espaço.
- Ok... Vou ficar no 402...
- É o segundo quarto à esquerda se você pegar o elevador que fica no salão de atrações, perto da grande sala de jantar, logo ali em frente, consegue ver? – ele apontava.
- Obrigada... Foi de grande ajuda...
- Disse logo onde fica seu quarto porque vejo que estou incomodando-te nesse momento...
- Imagine, não está incomodando tanto assim... Mas preciso mesmo ir para o quarto, estou cansada da viagem até aqui, nos vemos por ai, certo? – O sorriso da mulher era forçado, mas mesmo assim lindo.
- Até mais ver, senhorita Sango... – O rapaz estava numa pose de cavalheiro e acenou para a mulher até a mesma sumir entre a multidão dos ricos que estava se preparando para a partida do Cruzeiro.
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Sango já estava deitada na cama luxuosa e bem espaçosa de seu quarto, tentando esquecer todos os problemas, pois agora estava no oceano, queria flutuar como o grande navio, em balanços tranquilos. Fechou os olhos lentamente como se quisesse sentir o mar, só que algo passou por sua cabeça. Algo que ela jamais imaginaria recordar prestes a dormir.
- Moças bonitas há de sobra por aqui, não acha? São ricas, belas, intelectuais... – Ele olhava para todos os cantos da parte externa do barco, observando as moças ali presentes, mas sua atenção voltou para os olhos chocolates da moça de um modo profundo. - ... Mas não iguais a você.
Ela virou-se na cama e passou a olhar distraída para o teto, automaticamente lembrou-se do efeito que o olhar profundo daquele homem a causou. Um desejo repentino, uma vontade de seduzi-lo e ser seduzida por ele, tudo isso em frações de segundos. Sorriu. Parou de sorrir quando notou o quão cheia de esperanças estava com um homem que ela não sabia nem quem era.
- "Por que pensei nele agora?" – Estava inconformada com seu subconsciente. – "Ah, talvez tenha sido porque não tenho nada melhor para pensar mesmo..."
Depois dessa dose de auto explicação Sango cerrou os olhos e não demorou muito para adormecer sozinha naquele quarto. Apenas a luz da lua que entrava pela pequena janela testemunhava sua solidão.
