Como ela acreditara nas palavras dele? Por tanto tempo ele demonstrara com palavras, gestos, atitudes - com todo seu corpo e coração - que a amava acima de tudo, e com uma simples frase alegando o contrário ela deixava de acreditar? Aquela era uma atitude tão Bella. Claro que ela acreditaria em Edward, ainda mais quando este alegava não amá-la mais. Ele sabia das inseguranças, medos e manias de inferioridade de Bella. Sua Bella.

Sua Bella. Nunca pensou ser possível alguém amar como ele a amava. Com tanta intensidade, tanta energia que um simples corpo humano não comporta. Um amor com a intensidade que apenas o corpo e a mente de um vampiro - fortes e eternalizados - são capazes de possuir. Desde o primeiro momento em que viu Bella ele soube. No início foi confuso, angustiante, e até doloroso. Mas Edward sabia que não poderia fugir para sempre. Estava eternamente apaixonado por ela. E quando o sentimento se mostrou recíproco, o vampiro teve o primeiro vislumbre do que ele acreditava ser felicidade. E isso lhe trouxe tantas emoções. Emoções contraditórias.

Emoções contraditórias. O sentimento de felicidade que lhe invadia, sem sua permissão, ao mesmo tempo em que tinha a certeza de não ser merecedor de tais divinas sensações. Alguém como ele não merecia o olhar de Bella. Ou seu sorriso. Ou seu toque. Ou suas palavras. Não. Alguém como ele não podia amar e ser amado por tal anjo imaculado. Não alguém como ele. Um monstro.

Um monstro. Era o que ele era, alegassem o contrário ou concordassem. Isso não mudaria nada. Ele era um monstro, teria que viver com essa realidade. Mas não arrastaria Bella para esse mundo sem volta. Não a impediria de crescer, ter filhos, envelhecer, amar quem pudesse dar tudo o que ela realmente merecia. Era a única coisa que Edward poderia dar a Bella: a possibilidade de viver. Puro altruísmo.

Puro altruísmo. Isso era algo que Edward pouco compreendia ou sequer acreditava até então. Porém agora conseguia entender o que todos chamavam erroneamente de altruísmo. Era tudo movido por amor. Ou amor à alguma causa, amor à algum grupo, amor à algum familiar, ou ainda, um amor à uma única pessoa. E por esse amor, as pessoas eram capazes de realizar qualquer coisa. Mas Edward tinha consciência de que, mesmo que aparentemente as atitudes de alguém 'altruísta' beneficiasse o outro, na realidade quem mais se beneficiava era o próprio realizador. Porque Edward sabia que dar uma vida para Bella, por mais que isso acarretasse na separação deles, o faria descansar em paz, sabendo que ela estaria feliz com outro alguém.

Outro alguém. Por mais que ele soubesse que Bella sofreria no início, tinha certeza de que após algum tempo ela se recuperaria, e seguiria a vida. Isso ao mesmo tempo aliviava e queimava. Aliviava porque era por isso que ele havia ido embora: para que Bella tivesse uma vida plena. Porém, mesmo sabendo disso, seu coração inevitavelmente se angustiava com a idéia de nunca mais vê-la, e de não ter mais seu amor. Não te-la era igual a morte.

Morte. Edward não queria mais viver. Porém sabia que enquanto Bella estivesse no mundo, ele também estaria. Esperaria apenas pela morte dela, para então ir se juntar a ela.

E mesmo com todo esse conformismo, Edward lutava em extinguir seu último raio de esperança. Esperança de que eles voltassem a se reencontrar e que pudessem viver plenamente um com o outro. Ele tentou, porém não conseguiu tirar de si essa última e apaixonada pontada de esperança.