Naruto pertence a Kishimoto Masashi. E nenhuma de nós é Kishimoto Masashi u.u
Música: Feel for you - Nightwish
autoras: Luh-Sama e Emaleth Mayfair
One-shot - Sasori x Ino x Deidara
Poupée Chère
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You were my first love
(Você foi o meu primeiro amor)
The earth moving under me
(A terra se movendo sob mim)
Bedroom scent, beauty ardent
(Cheiro do quarto, beleza ardente)
Distant shiver, heaven sent
(Tremor distante, aos céus enviado)
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O ruivo estava jogado em uma cadeira, suas vestes úmidas. Tomava uma garrafa de absinto. Já era sua segunda. A bebida, apesar de forte, não surtia, em seu corpo de marionete, o mesmo efeito que em um corpo humano. O desespero era evidente em seu rosto: espessas lágrimas rolavam no que um dia fora a face fria e imutável de Akatsuna no Sasori.
O quarto não parecia mais o de um luxuoso hotel, com paredes alvas e limpeza impecável. Agora estava imundo, como o cenário ainda intocado de um crime. As paredes, antes alvas e limpas, agora estavam manchadas, resultado de vários copos lançados em ataques de fúria, como se o líquido contido em cada um deles pudesse lavar a culpa do que ali aconteceu. Nem mesmo as belas obras de Monet que enfeitavam o quarto escaparam da ira do rapaz: algumas estavam manchadas como a parede, e outras, jaziam rasgadas fora das molduras.
O rapaz levantou-se da cadeira, derrubando a garrafa já vazia, e aproximou-se de uma cama situada ao centro do quarto. Em meio aos lençóis sujos de sangue, sua obra-prima repousava em seu sono eterno.
Sentou-se no chão ao lado de cama para melhor admirar a mulher provocante, cuja beleza chocaria até Courbet. Suas melenas loiras se espalhavam sobre o leito escarlate do próprio sangue. Ficou ali pelo que pareceram horas, buscando o brilho alegre de outrora em seus orbes celestes, sem êxito.
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I'm the snow on your lips
(Eu sou o gelo nos seus lábios)
The freezing taste, the silvery sip
(O gosto congelado, tomando devagar um gole prateado)
I'm the breath on your hair
(Eu sou o vento nos seus cabelos)
The endless nightmare, devil's lair
( O pesadelo infinito, a cova do diabo)
Only so many times
(Somente algumas vezes)
I can say I long for you
(Eu posso dizer: Eu esperei por você)
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Ouviu batidas frenéticas na porta. Caminhou até ela o mais rápido que sua embriaguez permitia. Atendeu o inconveniente visitante, deixando-o chocado ao ver o estado do local.
- Sasori no danna, o que aconteceu aqui? - Indagou o loiro com olhos arregalados, antes de entrar no cômodo.
- Entre Deidara, venha contemplar a arte eterna. - Ria, chamando o jovem com uma das mãos. O rapaz hesitou, entrando lentamente.
A primeira coisa que lhe chamou a atenção foram as manchas vermelhas no chão ao lado da cama. Temeroso, subiu seu olhar, encontrando uma cena que o sufocou: Ino, a protagonista dos seus mais íntimos sonhos transformada em marionete.
Não era segredo nem pra Sasori o amor que o loiro tinha pela moça. Muitas vezes presenciou a loira com o mestre, até nos seus momentos mais íntimos. Mas tudo o que sempre fazia era chorar e idealizar seu amor platônico. Esgueirando-se pelos cantos como uma alma condenada, apenas observando o relacionamento dos dois.
Ele sim a amava de verdade. Talvez Ino estivesse melhor se houvesse ficado com Deidara.
A fúria tomou conta do corpo do loiro, o rosto ficava cada vez mais ruborizado e a respiração descompassada, não demorando muito para que lágrimas rolassem pelo seu rosto. Sabia que mais cedo ou mais tarde isso aconteceria. Desde o momento em que o Danna a capturara, sabia que sua intenção era adicionar a loira à sua coleção.
Um sentimento de culpa o invadiu, pois poderia ter feito algo para evitar aquela catástrofe.
- O que significa isso?! - Gritou entre soluços
Sasori apenas ignorou os gritos do parceiro, sua mente estava turva pela embriaguez, esta limitava seus movimentos. Voltou a sentar-se na mesma cadeira, atordoado. Fê-lo para evitar uma queda. Não que fosse se machucar, mas sabia que, caso caísse, não saberia levantar sozinho, devido ao seu estado. E o loiro, a julgar pela sua reação, não o ajudaria.
Ficou sentado lá, de cabeça baixa, mirando um ponto qualquer no chão. Não tinha coragem de encarar o parceiro.
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The lily among the thorns
(O lírio entre os espinhos)
The prey among the wolves
(A presa entre os lobos)
Someday, I will feed a snake
(Qualquer dia, alimentarei uma cobra)
Drink her venom, stay awake
(Beberei seu veneno, ficarei acordado)
With time all pain will fade
(Com o tempo toda a dor vai cessar)
Through your memory I will wade
(Através da sua memória eu raramente prosseguirei com dificuldade)
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Sentia vergonha de si mesmo. Nem ao menos ousava responder a todas as acusações que Deidara jogava, aos gritos, contra ele. Porque sabia serem verdadeiras.
- Como pode fazer isso com ela, un? Ela te amava! - gritava o loiro - Por que, Danna? Por quê?
Sasori se lembrava exatamente o porquê. Vingança. O mesmo motivo que, um dia, causaria a morte de Itachi.
O único motivo pelo qual capturara a bela loira foi para se vingar da amiga desta. Queria se vingar pelo que a kunoichi de cabelos rosa fizera a seus preciosos marionetes. E que outra forma melhor de se vingar se não roubar-lhe alguém importante também?
Mas parece que o feitiço virou contra o feiticeiro. Não conseguira atingir ninguém a não ser a si mesmo.
Ao olhar para a figura loira sobre a cama, Sasori começou a se lembrar do quão angelical sempre fora sua amada. Por maior que fosse seu desprezo, lá estava ela, sempre sorrindo e se entregando sem maiores exigências. Como fora egoísta.
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Barely cold in her grave
(Raro frio em meu túmulo)
Barely warm in my bed
(Raro calor em minha cama)
Settling for a draw tonight
( Prontificar-se para desenhar hoje à noite)
Puppet girl, your strings are mine
(Menina marionete, suas cordas me pertencem)
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Foi como se só naquele instante percebesse a importância da jovem em sua vida. Ouvir sua voz ecoar pelas paredes, sempre alegre, tão cheia de vida. Era como se aquela voz preenchesse o vazio de sua semi-vida.
Ignorando completamente a presença de Deidara, caminhou até a cama, deitando-se ao lado do seu anjo adormecido.
Sua mente ainda perturbada gritava, pedindo ao artista que o próprio também se transformasse em uma marionete sem vida. Sim, pois apesar de ser uma marionete quase completa, ainda havia resquícios de vida em seu corpo.
Deidara ficou atônito com a cena que muito parecia com a de uma tragédia grega.
Permaneceram afundados no silêncio sepulcral por vários minutos. Sasori virou seu rosto para poder ver Deidara e pedir um último favor.
- Deidara, sei o quanto deve estar me odiando. - Falou com certa dificuldade - Mas eu te peço que tire este último sopro humano que há em mim para que eu me torne definitivamente uma marionete.
Deidara ficou surpreso diante de tal pedido.
- Mas Danna...
- Por favor... - Insistiu.
- Posso saber o motivo? - Indagou, aproximando-se da cama.
- Para amenizar a dor do meu mais terrível erro. - Sussurrou. - A arte é eterna, mas o amor é efêmero. - Deidara não entendeu o real sentido daquelas palavras. - Torne nosso amor uma arte, para que nosso amor seja eterno.
- Amor? - Deidara repetiu, indignado. - Você a matou! - Gritou. - Como pode chamar isso de amor!?
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This one is for you for you
( Isso é para você, para você)
Only for you
( Só para você)
Just give in to it never think again
(Renda-se a ele e nunca pense novamente)
I feel for you
( Eu sinto por você)
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- Você não entende nada. É muito estúpido. - respondeu o ruivo. - Nem mesmo sobre arte você consegue entender.
Deidara ficou estático. Uma onda de fúria tomou conta de seu corpo.
- Arte, rá. - ironizou. - Sua maldita arte a matou. E você vem dizer que eu não entendo?
Sasori guardou silêncio.
- Fique com seu tormento, Danna, use a "eternidade" refletindo sobre o que fez. - O loiro se virou para ir embora.
- Deidara... - O loiro parou de andar. - Desculpe-me.
- Sasori, - Pela primeira vez tratou o ruivo com tamanha intimidade. - eu tenho pena de você.
- Não vai me fazer esse favor? - Indagou o ruivo, sem levantar da cama.
- Espero que reflita bastante sobre o que fez. - Com isso, passou a mão na maçaneta e abandonou o local.
Sasori apenas continuou lá, deitado, abraçado à sua mais perfeita obra. Não tinha um coração, mas a parte viva que ainda continuava nele doía.
Perdeu sua amada e perdeu seu amigo. Os dois loiros que marcaram sua vida. Talvez aquela história tivesse um desfecho melhor se eles estivessem juntos.
A arte era eterna e o amor era efêmero. A culpa transformava um curto espaço de tempo em uma eternidade.
ooOOoOoOOoo
Após dias de martírio, recolheu a sua mais preciosa marionete. Só usou-a novamente para concluir sua vingança contra a kunoichi de cabelos rosa. Depois disso, guardou-a para nunca mais voltar a usá-la. Não suportava ver os vestígios daquela que tanto amou.
A dor da culpa o acompanharia pela "eternidade". A lembrança dos beijos e carícias o atormentava, enquanto apenas aguardava pacificamente a visita da morte, alguém piedoso o bastante para arrancar-lhe o fardo que se tornara sua vida. Uma vida solitária, tendo como companhia apenas a marionete de quem um dia foi sua amada Ino.
Eba, tragédia. Ai está, o desafio de escrever uma InoxSaso (meio SasoxInoxDei). Espero que tenham gostado dessa oneshot se vira nas duas horas,
resultado da reunião de duas autoras inspiradas no meio da noite (Confesso que me inspirei no conto "Retrato Oval", de Edgar Allan Poe).
Foi um prazer escrever com a Emaleth Mayfair. Ela é uma das melhores autoras que eu já conheci.
Beijinhos, R&R!
Se forem bonzinhos e mandarem reviews, quem sabe não rola uma com fina feliz?
