Capitulo I

Harry sentiu a chuva cair-lhe suavemente no rosto. Percorria uma floresta sombria e uma estranha sensação de frio e mal-estar apoderavam-se do seu corpo. Conseguia ver um vulto negro lá no fundo.

- Harry... Harry... – sussurrava o vulto. Harry seguiu-o e, no momento em que chegou tão perto que o conseguia cheirar, sentiu uma forte dor no estômago.

- Outra vez com crises de sonambulismo? – Escarneceu Dudley, aproveitando para o pontapear mais uma vez e fugir. Harry, ainda estremunhado, dá conta de que tudo não passa dum sonho. Estava realmente encharcado e dorido, mas isso devia-se ao facto de estar deitado num jardim público rodeado de pulverizadores frenéticos.

Arrastou-se até à casa dos tios. Desde a morte de Sirius que começou a ser sonâmbulo. Ele estava realmente afectado com tudo o que lhe tinha acontecido. A sua vida não era nada fácil e estava com grandes problemas emocionais.

- Onde estiveste, rapaz? – Gritou o tio Vernon, não por se preocupar com Harry, mas sim porque lhe podia acontecer alguma coisa e os seus amigos excêntricos lhe aparecerem por casa. Harry não respondeu, limitou-se a subir as escadas para o seu quarto e sentou-se na cama a olhar para a fotografia dos pais. Sentiu um aperto no peito e deixou fugir umas lágrimas. Se ao menos Hermione e Ron estivessem ali com ele, tudo pareceria melhor.

Nessa mesma noite, Harry continuava na cama, deitado de barriga para cima, a ver voar a snitch dourada que tinha roubado o ano anterior no seu último jogo de Quidditch. Não tinha saído do quarto nem para comer. Sentiu frio, mas nem tivera forças para se levantar e fechar a janela. Dudley, após devorar o seu jantar, comia sofregamente o de Harry, rejubilando-se com a ideia do primo morrer à fome.

De repente, alguém bateu à porta. Harry dá um salto e deixa cair os óculos.

- Sim? – perguntou ele irritado. Uma voz rouca respondeu do outro lado.

- Anda imediatamente comer! Não quero que aqueles teus amigos esquisitos invadam a minha casa por teres morrido à fome!

Harry desceu as escadas contrariado, mas a verdade é que tinha de comer. Emagrecera vários quilos desde que chegara a Privet Drive. Não tinha sono, não tinha apetite, não tinha interesse pela vida. O tio Vernon, que agora estava mais atento ao bem-estar do sobrinho estas férias, levou-o ao médico, coisa que espantou Harry. Ele estava com uma depressão. Sabia que se estivesse em Hogwarts umas poções de Madam Pomfrey o curariam num instante, mas neste caso o tio Vernon insistiu para que ele tomasse a medicação muggle.

- Andas a tomar os teus comprimidos direito?

- Sim. – rugiu Harry de mau humor. Dudley fez uma careta imitando um louco. Harry ignorou-o. Quando acabou de comer, foi para o quarto e deitou-se a ouvir música muggle. Na verdade, nunca se tinha interessado muito por música, do seu mundo só conhecia as Weird Sisters e do mundo muggle ele sempre fora excluído. No entanto, tinha passado bastante tempo em lojas de música enquanto deambulava pelas ruas para passar o tempo.

- "I am trying to get well, but I'm just crying for the end..." – repetiu Harry, enquanto ouvia uma música, procurando a snitch com o olhar. O seu quarto estava um caos. Devido aos seus ataques de fúria e angústia, o chão estava coberto de folhas rasgadas e ensanguentadas, as almofadas manchadas das tantas lágrimas que as afogaram, as roupas encostadas a um canto, juntamente com o malão que continha os utensílios escolares, que ele ainda não tinha tocado desde a sua chegada de Hogwarts, e, por fim, a gaiola vazia de Hedwig encostada à janela.

- Não aguento mais este sufoco. – murmurou Harry para si próprio, atirando uma almofada contra a parede e levantando-se logo a seguir, dirigindo-se à porta. Desceu as escadas e saiu para o ar fresco da noite. Foi passeando pelas ruas escuras, já suas conhecidas, e dirigiu-se para o parque infantil, o seu lugar favorito. Sentou-se no baloiço e lembrou-se dos seus amigos. Sentiu uma grande saudade deles, mas a verdade é que sabia que todos estariam em perigo. Não queria ser um assassino, preferia sem dúvida morrer, mas estava determinado em vingar a morte dos seus entes queridos, tinha de destruir Voldemort.

Um clarão irrompeu no céu seguido de um violento ribombar dum trovão. No instante seguinte, começou a chover torrencialmente. Já começava a ficar tarde, então Harry dirigiu-se calmamente para casa, sentindo as gotas da chuva caírem na sua face e misturarem-se com as suas lágrimas.

Era mais ou menos meia-noite quando Harry pôs a chave na fechadura da casa dos Dursleys. Entrou, tentando fazer o mínimo barulho possível, mas a verdade é que ainda via o clarão da televisão ligada na sala. Sentiu um formigueiro na cicatriz, mas não se preocupou, visto já ser habitual. Começou a dirigir-se para o quarto, mas o silêncio começou a pô-lo nervoso. A televisão estava acesa, mas não havia sinal de estar alguém em casa. Então, Harry resolveu ir à sala, antes de se deitar, para desliga-la. Entrou na sala, mas no momento seguinte desejou ter ignorado a televisão e ido logo para o seu quarto. O seu estômago deu um nó e ele ficou paralisado. Passaram-se apenas uns poucos segundos, desde o minuto em que Harry vê os corpos dos seus tios mortos e fica sem reacção, até ao momento em que pegou na sua varinha e se pôs alerta. Ofegante, vasculha a sala com os olhos e encontra o primo escondido atrás dum maple, sentado, balançando-se para a frente e para trás.

- Dudley, quem fez isto? – sussurrou Harry, mas Dudley não respondia. O seu rosto exprimia medo e sofrimento.

Harry olhou rapidamente para trás quando ouviu o ranger do soalho.

- Quem está aí?

Silêncio.

– QUEM ESTÁ AÍ? – repetiu Harry, agora gritando. Esforçava-se para que a sua voz não tremesse.

E foi então que ele viu. Recortada na parede apareceu uma sombra. Uma sombra dum homem atarracado transformando-se numa ratazana. Tudo aconteceu a uma velocidade alucinante. Harry gritou "Lumus Maxima" e, ao avistar o rato com a sala agora completamente iluminada, atirou-se a ele. No segundo seguinte, um clarão azul-esbranquiçado ilumina a sala e os guinchos do rato transformam-se nos guinchos dum homem.

Harry levantou-se rapidamente e apontou a varinha firmemente ao peito de Wormtail.

- Que estás aqui a fazer? Porquê que mataste os meus tios? – Harry respirava com dificuldade e a sua varinha lançava faíscas, tal era a sua fúria. – RESPONDE, MISERÁVEL!

- Sabes muito bem a razão. Era desejo do Senhor das Trevas que a tua tia desaparecesse. – Wormtail tinha um sorriso perverso nos lábios.

- Um dia, salvei-te a vida, mas agora não te vou deixar escapar!

- Não! – o sorriso desaparecera dos lábios de Wormtail e nasceu-lhe uma expressão de medo. – Por favor! Foi o Senhor das Trevas que me mandou. Eu não tive escolha.

- E agora também não vais ter!

Harry olhou na direcção da voz que acabara de ouvir. Dudley aproximara-se de Wormtail e, num ápice, bateu-lhe com um vaso na cabeça, fazendo sangue esguichar para todo o lado.

- NÃO! – Harry tentou parar o primo, mas ele era mais forte e já tinha destruído a cabeça de Wormtail quando Harry gritou "Petrificus Totalus". Dudley caiu rijo no chão e Harry apressou-se a ver o estado de Wormtail. Estava morto.

- O que é que foste fazer? O QUE É QUE FOSTE FAZER? - Harry entrou em pânico e começou a andar para a frente e para trás na sala cheia de sangue, tentando encontrar uma solução. Olhou para o envelope que estava caído no chão, com certeza era a expulsa-lo por ter usado magia. Apontou a varinha a Dudley que limpava a cara manchada de sangue e exclamou:

- Finite! Agora pega rápido nas tuas coisa, temos de ir já embora antes que apareça alguém do Ministério ou até mesmo a Policia.

- Eu não vou a lado nenhum contigo! Os meus pais estão mortos e a culpa é tua!

- E vais ficar aqui à espera que chega a polícia e te leve preso? Como é que vais explicar a morte dos teus pais à polícia?

Dudley estava de pé com as bochechas roxas de raiva, tal como o seu pai.

- Tens razão. Mas então, para onde vamos?

- Eu sei um sítio. Vai pegar rápido nas tuas coisas e não te preocupes com mais nada.