Disclaimer: Durarara! não me pertence, porque se pertencesse a Erika teria razão no que a Shizaya diz respeito! Não pretendo beneficiar financeiramente com esta Fanfic.
Géneros: Shounen ai, humor, romance, hurt/comfort, fluff
Nota: Eu sou contra o novo acordo ortográfico da Língua Portuguesa.
Nota2: Eu tentei ao máximo não fugir à personalidade original dos personagens, no entanto, tendo em conta que as situações descritas não acontecem no anime, foi necessário imaginar (baseando-me na personalidade original) as reacções das personagens. E tudo isto para dizer que se acharem que está fora da personagem (OC), aceitem as minhas desculpas (eu pessoalmente acho que não, mas eu sou suspeita, por isso fazei a vossa justiça).
Nota3: Esta é a minha primeira fanfic de Shizaya.
Loucura
Prólogo
Ikebukuro.
Pareceria à primeira vista, para um observador comum, apenas mais um bairro movimentado de Tóquio.
Dissimulado.
Um lugar dissimulado, como tantos outros aliás, cuja verdadeira essência se oculta em pormenores que, por serem insignificantes, fazem toda a diferença.
Mas ninguém se apercebe? Claro que sim.
Muitas pessoas se apercebem, mas o que acontece, na maior parte dos casos, é o desconhecimento do valor de determinados detalhes, ou a falta de uma perspectiva mais ampla.
Mas quem haveria de querer tal conhecimento? Quem haveria de querer ver tudo? Só um louco, decerto.
O conhecimento trás poder e, como tal, solidão.
Só um louco escolheria a solidão. Os seres humanos necessitam de outros seres humanos por perto. É um facto.
"Eu não sou humano", dizia ele com um sorriso malicioso, arrancando uma a uma as pétalas de um malmequer, sentado na beira do topo de um prédio abandonado. O Sol estava quase a pôr-se, e a vista era maravilhosa. As pétalas brancas da flor rodopiavam elegantemente com a brisa do fim de uma tarde fresca de Novembro, elevando-se no céu e dispersando em várias direcções. Por algum motivo havia ali um vaso com malmequeres, cujas flores continuavam bonitas.
Um jogo. Oh, sim, um jogo muito divertido!
Eles não faziam ideia, aquelas formiguinhas adoráveis que se deslocavam fastidiosamente lá em baixo, desejando voltar a casa o mais rápido possível para estarem com as pessoas que amam.
Ele soltou uma gargalhada de escárnio.
"Tão previsíveis os meus adoráveis humanos", murmurou rindo com gosto, "tão aborrecidos e tão interessantes…!"
Era como ter um tabuleiro de xadrez gigante, um jogo de xadrez com muitas e variadas peças do qual só ele é que conhecia as regras.
Mais ninguém sabia tanto sobre aquele bairro como ele, todos se vergavam na presença do seu conhecimento, todos eram manipulados pelas suas palavras, pelos seus actos.
Reagiam todos da mesma maneira. Sem excepção.
Era mentira. E ele sabia disso.
Havia uma excepção.
"Mas ele não é humano, é um monstro", sorriu.
Também isso era mentira, e apesar de nesse caso não o admitir, no fundo sabia que havia naquele 'monstro' mais humanidade do que seria possível imaginar.
"É o rei do meu jogo!", exclamou, levantando-se e erguendo os braços, ficando de pé na beira do prédio "Assim que ele cair…xeque-mate…!", murmurou com um sorriso, saltando para as escadas de incêndio do prédio e serpenteando por elas agilmente até ao chão.
Mas seria mesmo assim? Tão simples como um xeque-mate?
Capítulo I – Como uma traça para a luz
"DESAPARECE SUA PULGA NOJENTA!", rugia Shizuo a plenos pulmões, fazendo a sua voz troar ameaçadoramente na noite de Ikebukuro, e arrancando um poste de iluminação faiscante do chão, arremessando-o violentamente na direcção do moreno.
Estavam naquilo havia horas, a rua estava já parcialmente destruída.
"Ups…parece que falhaste outra vez Shizu-chan", casquinou Izaya, desviando-se do objecto que o loiro lhe atirara, "tens a certeza de que não precisas de óculos graduados? Sabes o que são óculos graduados, Shizu-chan? As pessoas usam-nos para ver melhor", provocou.
"Eu sei perfeitamente o que são óculos graduados seu anormal!", cuspiu-lhe Shizuo, procurando já outra objecto qualquer para lhe atirar.
"Muito bem! Parece que és mais esperto do que eu pensava! Acabas de ser promovido de protozoário a ameba unicelular! Que é basicamente o mesmo, mas com um nome mais chique!", disse o moreno, encostado a um poste, com aquele sorriso perverso e ludibriante que o caracterizava a bailar-lhe provocativamente nos lábios.
"Antes ser ameba uni…uni…essa coisa, do que ser como tu!", vociferou o ex-bartender, cerrando os punhos e começando a tremer furioso.
"Como eu Shizu-chan? E como é que eu sou diz-me lá?", perguntou o informante, fazendo ar de quem está muito interessado na resposta.
"Um socio…sociopato…?", exclamou Shizuo num tom de voz pouco convincente, pois não tinha a certeza de estar a dizer aquilo como deve ser.
"Um sociopato? Uau…não fazia ideia que era um pato! E social! Um pato social! As coisas que eu descubro nas nossas fascinantes conversas Shizu-chan!", disse Izaya, com aquele sorriso incrivelmente sarcástico.
Shizuo corou, sentindo-se vexado.
"C-cala-te! Era qualquer coisa assim! Sociopato, sociopata…o que é que interessa? O que quer dizer é que tu não te preocupas com nada nem com ninguém para além da ti e dos teus planos estúpidos!", rugiu Shizuo furioso, procurando controlar-se para não lhe atirar nada de muito grande, pois nesse momento passava atrás dele uma senhora com uma criança pela mão.
"Ah Shizu-chan, vejo que andaste a pesquisar…", constatou o moreno, sorrindo de olhos fechados e afagando o queixo em sinal de aprovação. Quando abriu novamente os olhos, olhou directamente para Shizuo, sorrindo com o seu ar de sempre, mas desta vez havia algo mais, algo que não costumava estar lá, mas que Shizuo já vira de relance uma ou outra vez, "não se deve julgar um livro pela capa…!"
Shizuo ficou mudo por instantes com a intensidade daquele olhar, mas depressa se recompôs.
"O que é que queres dizer com isso sua pulga?", perguntou Shizuo com um sorriso de troça nos lábios, "tu és exactamente aquilo que pareces! Um idiota que só se sente bem a atormentar os outros!"
"Ora, ora Shizu-chan…não digas coisas tão horríveis, magoas os meus sentimentos…", disse Izaya com o mesmo sorriso de antes, mas por algum motivo não conseguia pensar num comentariozinho sarcástico para acrescentar.
"Que sentimentos? O teu suposto amor pelos humanos? Tsk…tretas!", disse Shizuo.
Estavam agora completamente sozinhos na rua, perto do parque.
Eram 22:00, do mês de Novembro, pelo que era já noite cerrada e as pessoas que ainda andavam na rua evitavam passar perto deles por motivos do conhecimento geral.
"Não é suposto Shizu-chan, é verdade", disse Izaya calmamente, quebrando o silêncio, "E já que estamos a conversar como dois velhos amigos, e tu já destruíste metade da rua, penso que podemos aproveitar para trocar algumas impressões e pôr a conversa em dia. A primeira é que é verdade que eu amo todos os humanos, por serem todos tão previsíveis e incrivelmente maçadores, com as suas choraminguices e pieguices, sempre a sofrer com as suas inúteis emoções. Mas ao mesmo tempo são divertidos entendes? Eles gostam de sentir dor! De sofrer sabes? Acham que é isso que os torna humanos e que os distingue das bestas… Pátetico…!", disse sorrindo, com ar de repulsa, "E há humanos por todo o lado sabes Shizu-chan? Tantos! 7 Biliões! São tantos, tantos! Mas Ikebukuro é especial! Oh sim, definitivamente especial!", esclareceu o moreno sorrindo com um ar de adoração alienada. Sentou-se num banco de jardim que ali havia e encostou-se para trás contemplando a luz tremeluzente de um dos postes de iluminação que Shizuo ainda não destruíra, "Aquelas traças ali em cima. Consegues ver Shizu-chan?", perguntou Izaya apontando indolentemente para a luz e sorrindo.
"Claro que sim sua pulga! O que é que queres dizer com isso?", perguntou Shizuo irritado. Nem queria acreditar que estava ali, a 'conversar' com aquela pulga, a ouvir os disparates dele e que não lhe estava a atirar nada à cabeça, mas, a verdade é que para além de querer ouvir o que ele tinha a dizer, não tinha vontade de lhe fazer nada. Talvez fosse efeito do ar que ele fizera antes. Porque não ouvir o que ele tinha a dizer se não tinha mais nada para fazer?
"Calma Shizu-chan…se eu falar rápido demais não vais perceber o que eu quero dizer…", provocou, olhando para o loiro pelo canto do olho mas olhando depois para cima novamente, "…as traças, Shizu-chan, são atraídas para a luz…apesar de isso as destruir gradualmente…mas ainda assim elas vão, uma vez e outra…sabem que é quente, magoa-as, vai queimando-as aos poucos…mas elas amam essa luz, adoram-na verdadeiramente, e por isso continuam a ir uma vez, outra vez e outra vez até que…", nesse momento uma traça caiu morta no chão à sua frente, e Izaya apanhou-a mostrando-a a Shizuo, "isto acontece…!", deixou-a cair ao chão e esmagou-a com pé, soltando uma pequena gargalhada de regozijo, afastando o pé e observando o insecto contorcido.
"Eu sabia que não batias bem da cabeça, mas nunca pensei que quisesses morrer…!", disse Shizuo ajeitando os óculos, num tom que procurou fazer parecer despreocupado, mas que por algum motivo não era nada convincente.
"Oh não Shizu-chan! De maneira nenhuma!", exclamou Izaya, fazendo um ar sério por um momento, sem no entanto deixar de ter aquele sorriso de canto, e sentando-se direito no banco a olhar para Shizuo, "eu não quero morrer! De onde é que tiraste essa ideia horrível…?"
Só essa simples ideia era suficiente para fazer o moreno ter pesadelos, era-lhe insuportável saber que de um momento para o outro deixaria de existir se morresse, e pior, que não podia controlar esse facto.
Shizuo ergueu uma sobrancelha olhando para Izaya com ar inquisidor.
"Disseste que há humanos em todo o lado e dizes agora que tens medo de morrer. Sabes que eu te odeio e que quero acabar com a tua raça. Porque é que continuas a vir a Ikebukuro, sua pulga demente?"
Izaya entreabriu levemente os lábios sem se aperceber e se não se tivesse controlado a tempo teria ficado com um ar chocado.
Sentiu um formigueiro no corpo quando o seu coração começou a bater com uma força desnecessária.
Aquela era a pergunta chave.
Poderia dizer-lhe que gostava de o vir importunar, ou algo típico, mas provavelmente vacilaria.
Aquelas palpitações estranhas só podiam significar uma coisa, da qual ele tentava fugir com todas as suas forças.
E ele não respondeu à pergunta, era humilhante demais.
Sorriu misteriosamente.
"Bem observado Shizu-chan…estás a evoluir…!", disse provocando-o.
"O que é que queres dizer com isso seu idiota? Isso não responde ao que eu perguntei!", vociferou o loiro, começando novamente a ferver.
"Eu odeio-te Shizu-chan…a sério que te odeio…tu não podes ser humano…não acredito que tu sejas humano…!", disse Izaya sorrindo, evasivamente olhando para os seus sapatos.
"Tsk…", fez Shizuo irritado. Não gostava quando Izaya falava assim. Pegou num cigarro e acendeu-o, colocando-o entre os lábios. Irritante! Pulga irritante!
"Por isso é que eu te odeio Shizu-chan…a tua única reacção é a fúria incontida…", riu-se Izaya.
Shizuo olhou-o intensamente, claramente furioso com o que acabara de ouvir.
"Eu odeio violência!", exclamou o loiro, soltando uma baforada de fumo.
"Nem imaginas como é divertido ouvir-te dizer isso Shizu-chan, quando passas a vida a tentar apagar-me com postes de iluminação!", disse Izaya rindo-se mais alto com a ironia do que tinha acabado de dizer.
Shizuo sentiu a cara começar novamente a queimar.
"Pois…pois…sim, é verdade! E se sabes isso, se sabes que eu te quero ver pelas costas e que estou disposto até a usar algo que odeio para te eliminar, porque é que continuas a vir a Ikebukuro?"
Izaya, não respondeu mais uma vez, limitando-se a sorrir enigmaticamente, apontando para a luz do poste acima da sua cabeça, deixando Shizuo confuso com o gesto. Levantou-se depois do banco de um salto, ajeitou o casaco, enfiando as mãos nos bolsos, e começou a caminhar na direcção oposta à do loiro.
"Foi uma bela conversa Shizu-chan! Espero que possamos repetir um dia destes, talvez com um chá e uns bolinhos a acompanhar!", disse o moreno em voz alta, soltando uma gargalhada que se assemelhou a um lamento. Falou de costas para ele, caso contrário a expressão deplorável que tinha no rosto só teria originado mais perguntas embaraçosas.
Shizuo ficara por momentos a olhar para luz do poste e não se apercebeu que Izaya se fora embora.
"OE!", exclamou em voz alta ao vê-lo à distância, mas não insistiu, nem o seguiu.
Deixou-se cair no banco em que Izaya estivera sentado momentos antes e encostou-se para trás.
'As traças são atraídas para luz, apesar de isso as destruir aos poucos', as palavras de Izaya recusavam-se a abandonar os seus pensamentos, para seu desagrado.
Que diabos quereria ele dizer com aquele paleio todo das traças?
Se calhar ele era mesmo estúpido, como Izaya dizia constantemente, mas não conseguia entender nada, e isso enfurecia-o. Tanto que nem conseguia descrever.
'Se calhar sou mesmo um monstro incapaz de sentir como as outras pessoas', pensou Shizuo. A verdade é que aquele era um pensamento recorrente. Várias pessoas pareciam concordar com Izaya, bastava notar a forma como ficavam aterrorizadas ao passar por ele.
"Eu odeio violência!", repetiu irritado para si mesmo, soprando mais fumo para o ar, voltando a contemplar as traças.
Era verdade, ele detestava violência! Mas aquela força toda não ajudava nada, e o facto de ferver rápido demais também não era grande ajuda.
Mas aquela pulga irritante! Aquele demónio em forma de gente! Só pensar nele já o deixava fora de si!
Mas porquê? Porque é que ele o irritava tanto? Não era como se ele fosse uma pessoa difícil de irritar, mas porque é conseguia sentir a presença dele quando ele estava por perto e só isso era suficiente para o enervar?
"Odeio-o! Aquela pulga! Há anos sempre a fazer-me usar algo que eu odeio!", pensou furioso, rangendo os dentes.
Ou simplesmente talvez não soubesse o que sentia e fosse essa a causa da sua ira.
'Raiva! É isso que eu sinto! Eu tinha razão quando disse que ele era esquisito e que traria chatices!', pensou irritado, endireitando-se no banco. Jogou o resto do cigarro para o chão e levantou-se, pondo-lhe o pé em cima.
E se não fosse raiva?
'Claro que é raiva! Que mais poderia ser?', pensou furioso.
Nessa noite caminhou sem destino durante várias horas, tentando deixar aqueles pensamentos em algum lugar, mas estes não pareciam querer colaborar com a sua vontade.
Próximo capítulo: A definição de ódio
É possível evitar a loucura quando não se compreende algo. Mas e quando se compreende demais?
