Lã, estrelas, neve.
Escrito por: Hinata Plusle
Gênero: Romance
Classificação: K
Personagens: Takato, Juri
Resumo: Uma noite de natal... Normal.
Alguns anos depois de tantas lutas que sacudiram Shinjuku, os envolvidos voltaram a ser simplesmente pessoas anônimas.
Na residência Katou, alguém cantarolava. Pedaços de linha enchiam um dos cômodos da humilde instalação. O fofo momento, porém, foi interrompido por uma outra pessoa:
- Nee-chan, tem gente na porta. Pode deixar vir?
A tal pessoa parou um pouco o que fazia para olhar ao menino na porta:
- Quem é?
- O filho dos donos da Padaria.
- Ah, Takato-kun? Pode deixar subir.
- Tá bom.
O garoto foi embora, deixando a porta entreaberta.
- Esse Masahiko-kun... Esquecendo o rabo* toda hora...
A moça continuou com o seu trabalho, mesmo quando o barulho de passos começou a ser ouvido, indicando que alguém subia as escadas. Os barulhos de passos foram ficando mais fortes até cessarem abruptamente.
- Katou-san?
Um garoto de voz suave e palavras polidas bateu à porta e entrou.
- Ah, olá, Takato-kun!
Juri deu um sorriso radiante.
- Ué... O que você está fazendo?
Takato viu as linhas e agulhas espalhadas no chão, bem como um montinho de luvas, cachecóis e gorrinhos de várias cores e tamanhos, espalhados num canto da cama.
- Estou terminando os presentes de Natal do pessoal.
- Já não tinha terminado?
- Faltava achar algumas cores e só encontrei ontem.
- Nossa, você fez cores diferentes pra cada um?
- Sim!
Juri, então, reparou que Takato ainda estava em pé na frente da porta.
- Pode sentar, Takato-kun.
- A-ah, sim!
Takato sentou-se ao lado da moça, ficando vermelho exatamente no mesmo momento. Juri deu uma risadinha.
- O-O que foi?
Takato ficou mais corado ainda.
- Nada, Takato-kun, nada...
Enquanto Juri ainda ria levemente, Takato resolveu prestar atenção em outras coisas para não se embaraçar mais. Resolveu comentar os presentes:
- Você vai dar luva, cachecol e gorrinho pra todo mundo?
- É.
- Não dá trabalho fazer tudo? Dá pra comprar, não é?
- Dá. Mas vale a pena fazer. Não daria pra dar um presente do mesmo nível se eu comprasse pronto. Andamos meio apertados, sabe?
- Época de vacas magras? Entendo.
Takato observou um pouco mais os presentes caprichados.
- Você fez com a cor dos D-arcs de cada um?
- É isso mesmo. Azul para a Ruki-chan, vermelho para você, verde para o Jen, branco** para o Ryou-san, marrom para o Hirokazu-kun, laranja pro Kenta-kun, rosa pra Shiuchon e roxo pra Ai-chan e pro Mako-chan***.
Takato estranhou:
- Laranja pro Kenta?
- Se eu desse da cor do D-arc dele****, ele não ia querer usar, com o Hirokazu toda hora do lado para encher o saco.
- Isso lá é verdade.
Takato observou Juri fazendo um cachecol vermelho em silêncio por alguns minutos até que resolveu perguntar:
- Ué, Katou-san, achei que vermelho fosse uma cor fácil de achar...
- Até é, mas é tudo muito puxado pro bordô. Esse vermelho vivo foi uma guerra pra achar.
Takato corou ao lembrar que os artigos vermelhos eram todos para ele.
- Você procurou pelo bairro inteiro só para achar um tom de vermelho mais bonito?
- É. Não queria dar um presente com cor "morta", muito menos para você.
Takato corou de leve, mas logo deu um largo e radiante sorriso, dizendo uma frase que há muito tempo não enunciava:
- Você é uma boa menina mesmo.
Juri, que não ouvia alguém dizer isso desde muito tempo atrás, ficou vermelha e depois de cara amarrada:
- Takato-kun! Isso foi golpe baixo!
Takato deu uma risadinha. Juri nem teve tempo de processar a cara de quem ia fazer "arte" do rapaz ao seu lado quando foi atacada por um travesseiro. Tirando-o da frente do rosto, disse, com uma cara ainda mais arteira:
- Ah, é?
E devolveu a "travesseirada". Takato não deixou barato, e ambos continuaram "atacando" um ao outro até se cansarem e pararem, rindo descontroladamente.
- Vamos, Katou-san, continua a fazer esse cachecol. Vamos chegar atrasados!
- Como eu vou fazer se você não para de rir do meu lado?
- Mas você também não para!
As risadas, invés de diminuírem, ficaram ainda mais altas. Foram necessários vários minutos até que se acalmassem.
- Agora, falando sério, vamos chegar muito tarde, Katou-san. Você ainda não se arrumou.
- Olha quem fala! Toda vez que você chegava na hora na escola chovia!
Juri deu um sorriso maroto, enquanto Takato fazia uma careta esquisita. Ainda rindo, a moça continuou fazendo o tal cachecol. Logo ele estava pronto.
- Essa peça era a última. Agora é só embalar e eu me arrumar.
- Quer ajuda?
- Não dispenso agora, não. As luvas, os cachecóis e gorrinhos da mesma cor, você coloca no mesmo saquinho e põe o laço na cor da linha. Só cuidado com os roxos, são dois.
- Ok. Os roxos são pra Ai-chan e pro Mako-chan***, né?
- Isso.
Logo os embrulhos estavam feitos. Takato foi mandado para o andar de baixo e algum tempo depois, Juri desceu as escadas, de banho tomado, roupa de passeio e duas sacolas cheias de presentes.
- Podemos ir?
O rapaz que já "mofava" na sala levantou-se e respondeu alegremente, como uma criança subornada com doces:
- Claro!
Em poucos minutos, ambos já estavam na rua, a caminho da casa de Ruki.
- Incrível como ela não deu piti quando perguntamos se a festinha podia ser na casa dela.
- Ela deve ter pensado que pelo menos não era a festa de ano-novo*****.
- Se chegarmos atrasados, toda essa calma dela vai embora.
- Vamos apressar o passo, então, Katou-san?
- Não. O dia está lindo demais para passarmos correndo por ele, não acha? Não estou a fim de ficar com pressa em pleno Christmas Eve******.
- "Dia"? Não seria "noite"?
Foi só aí que Juri reparou que já tinha começado a anoitecer.
- Ih! Já está ficando escuro! Ah, pelo menos a gente pode observar as estrelas.
- Ficou com mania de olhar pra elas e prever o futuro?
- Não, quem faz isso é a Miki*******. Eu só acho que elas são bonitas.
- Mas só tem uma.
Takato apontou para a primeira (e no momento única) estrela no céu.
- Por isso mesmo. A primeira estrela, dizem, realiza desejos. Claro que não se deve apoiar nisso, mas um pouco de crendice não faz mal de vez em quando, né?
Juri percebeu que Takato apontava a estrela com o dedo.
- Não se aponta diretamente para estrelas, Takato!
- Tá bom, tá bom!
Takato recolheu a mão, para apenas observar a estrela naquele céu azul-escuro, de fim de pôr-do-sol.
- Mas ela é bonita mesmo, não?
- As primeiras estrelas que vemos são invariavelmente muito brilhantes. Se aparecem mesmo quando o Sol não se pôs totalmente e com todas as luzes da cidade, é porque a luz delas realmente é muito forte. Não é algo de se admirar?
- De certa forma, sim. Mas mesmo as que só vêm depois, ou que nem vemos, têm seu mérito, não acha? Só de estarem ali, brilhando...
- Isso é verdade.
Um silêncio se formou, enquanto Takato e Juri observavam a estrela sem sequer se mexerem.
- Sabe, Takato-kun?
- Hum?
- Lá no Ocidente, há quem diga que o deus máximo, que chamam simplesmente de "Deus", mandou o seu filho pra cá há mais de dois mil anos, e que o nascimento dele foi no Natal. Dizem também que três reis magos seguiram uma estrela para chegar até esse filho, para presenteá-lo com... Ih, não lembro mais o que era. Não sei até onde isso é verdade, ou se há alguma verdade nisso tudo. Mas não seria legal se pudéssemos seguir essa tal estrela guia, se ela existisse de verdade?
- Contanto que fosse com gente que gosto, jamais acharia ruim.
- Será que ela é a Ichibanboshi********? Será que é a estrela do Norte? Alguma estrela de Subaru*********? Ou será que seria Orihime**********, sem ter nada a ver com o Natal? Não seria divertido segui-la?
- Imagino que sim.
Juri percebeu, então, que Takato estava "nas nuvens" de novo.
- Ei! Você está me ouvindo?
Ela deu-lhe um cutucão.
- Aaah! Que susto!
- Você estava distraído de novo, viu!
- Ah, Katou-san, desculpa! Mas é que é a primeira vez que paro para prestar atenção no céu esse ano, mesmo ele já no fim... E não é que não termos neve valeu a pena, no final das contas?
Juri, só então, percebeu que não havia neve.
- Verdade seja dita, eu não tinha nem notado que não tinha. Bem... É que faz pouco tempo que eu realmente gosto de Natal, neve e coisas do gênero, sabe?
- Por quê, Katou-san?
Juri, de repente um pouco melancólica, suspirou e olhou um pouco para um laguinho próximo. Atirou uma pedra, que quicou duas vezes antes de cair.
- É que minha mãe faleceu dia 23 e nevava naquele dia.
Aquela aura ligeiramente tristonha desapareceu, pelo menos no exterior, tão rápido quanto tinha aparecido.
- Mas tudo bem. Hoje em dia eu associo dia 23 aos preparativos da festinha de Natal e neve a brincadeiras.
Juri olhou para o céu mais uma vez. Em questão de pouquíssimos minutos, o céu já se tornara um breu e milhares de estrelas brilhavam.
- Mas ainda gosto mais de estrelas. Olhe, aquelas ali são a constelação de Orion!
Juri apontou para as estrelas, mas não de forma tão direta como Takato tinha feito alguns momentos antes.
- Onde?
- Ali, ó, ali!
Takato não conseguia achá-la.
- Não consigo ver! É por isso que eu acho mais prático apontar logo!
- Ah, Takato-kun, desisto! Vamos logo pra festa!
Juri saiu correndo, dando risadinhas.
- Eeeeei! Espere aí!
Takato saiu correndo atrás da moça.
- Me alcance se conseguir!
- Aaaaah! Eu não devia ter cabulado tanta aula de Educação Física pra dar pão pro Guilmooooooon!
Takato e Juri continuaram correndo, entre risos e caretas, até chegarem à casa de Ruki, onde todos os já esperavam; Hirokazu já reclamando abertamente, mas com uma cara que desmentia tudo o que ele dizia (olhos brilhantes e sorriso maroto não condizem com impaciência, certo?) e escondendo (ou tentando esconder) um pedaço de visco***********.
FIM
Notas:
* Esquecer o rabo: "Shippo wo wasureru", significa fazer as coisas pela metade. Abrir gaveta e não fechar, jogar o lixo e não pôr saquinho novo, salvar arquivos e não escaneá-los, etc.
** O do Ryou até é Roxo/azul/whatever, mas se considerarmos a parte que "dá" a cor aos D-arcs de cada um, o dele é branco. Além do mais, não seria uma boa ideia dar o presente para ele e Ruki da mesma cor...
*** Mesmo Makoto sendo menino, por ser muito pequenininho, pode ser chamado com o sufixo "-chan" sem ter necessariamente segundos significados.
**** Pra quem não se lembra, o D-arc de Kenta é rosa bebê.
***** No Japão, o Natal não tem conotações religiosas, sendo bem mais discreto que no Ocidente, e o ano-novo é bem mais importante, tendo muito mais alvoroço e festas (que são maiores também). Por isso, lá não é "desconsideração" passar a noite de Natal com amigos, sem a família.
****** Sim, no Japão o dia 24 é mais importante que o dia 25. Calendários japoneses marcam o dia 24, e não 25 (na verdade, marcam por marcar, Natal não é feriado por lá).
*******Miki Nakajima: Uma das amigas de Juri, aparece pouco na série. É uma menina de cabelos castanhos, curtos, que usa um jumper dress azul.
******** No Japão a primeira estrela a aparecer à noite tem nome! Ichibanboshi (literalmente, primeira estrela).
********* Subaru: Plêiades (aglomerado de estrelas), muito conhecido no Japão.
********** Lenda do Tanabata: A princesa Orihime (literalmente, Princesa Tecelã), fazia belos tecidos. Foi apresentada a um rapaz jovem e belo, Kengyu (Literalmente, Pastor do gado). Ambos se apaixonaram e dedicaram suas vidas apenas a esse amor, esquecendo das suas obrigações. O pai de Orihime, não gostando disso, os separou. Orihime, muito triste, recebeu mais tarde a autorização de ver seu amado uma vez por ano, em 07/07 (sete de julho), e nesse momento, diz-se que os desejos que as pessoas escrevem em Tanzakus (pedaços de papel pendurados em bambu) tornam-se realidade.
*********** Visco: Para quem não sabe, é o velho Mistletoe.
