Nota inicial: Eu queria escrever uma VegeBul diferente. Não queria mudar a personalidade de nenhum dos dois, mas sim as circunstâncias de vida de ambos. E se Bulma não fosse tão rica, seria tão confiante ou seria uma mulher insegura?

E se Vegeta tivesse uma tragédia irreparável em sua vida, como ele seria? E se ele se sentisse punido por algum crime que jamais cometeu, seria tão difícil e orgulhoso? E se ele não pudesse andar? Sempre vi um traço de melancolia no príncipe dos sayajins, então, resolvi carregar nessas tintas e adicionar algum drama. O "aquário" como verão na história é onde nada esse imenso tubarão ferido.

Essa é a história de duas pessoas que se encontram e precisam ajudar um ao outro, porque ninguém é a salvação de ninguém.

Capitulo 1 – O headhunter

Bulma sentou-se, finalmente, e olhou as horas. Era o fim do seu exaustivo plantão de 12 horas no hospital universitário de West City, e ela suspirou de cansaço. A rotina como enfermeira de pronto-socorro não era como a de uma enfermeira clínica, e ela sabia disso mais que ninguém. Passava o plantão inteiro correndo, atendendo chamados de médicos e preparando prescrições com toda atenção.

Não era como atender a uma rotina de pacientes internados: eram médicos gritando e sendo ríspidos, pacientes desconfiados e irritados, e, no verão, era bem pior: tanta gente de férias e querendo viver ao ar livre sempre gerava acidentes com uma enorme quantidade de casos complicados, de crianças que caíam nos parques a vítimas de quedas com traumas diversos, de afogamentos até garotas idiotas que se queimavam seriamente enquanto tomavam sol no quintal tentando acelerar o bronzeamento com alguma fórmula caseira estúpida.

Então, às sete da noite, com o sol ainda brilhando lá fora, ela estava pronta para tomar um gole de café ou uma água, tomar uma chuveirada, trocar de roupa e encontrar seu namorado para saírem quando a outra enfermeira do turno, uma loura bonita chamada Lunch, a chamou dizendo:

- Precisamos de você aqui.

- Mas meu turno acabou agora! – ela gemeu – não é possível que...

- O meu também acabou, vem, vem rápido.

Lunch puxou-a pelo corredor levando à enorme galeria do pronto socorro, um lugar cheio de baias onde havia leitos de espera para quem ia ser examinado ou entrar em pré-internação. Cada leito era circundado por uma cortina, e ela viu que havia um ajuntamento de mulheres, médicas, enfermeiras e auxiliares, junto à ultima baia. A sorte era que o pronto-socorro não estava tão cheio – ela pensou.

Elas chegaram diante da baia e Luch abriu o caminho, dizendo:

- Meninas, eu trouxe a Bulma para ver se ela consegue...

Aquela não era uma baia de leito, mas ali havia uma cadeira médica, onde pacientes com menos gravidade e pequenos cortes nas partes superiores do corpo recebiam suturas ou injeções. Sentado na cadeira estava um rapaz bonito, alto e musculoso, que tinha um cabelo arrepiado. Ela reparou que, sem a mínima necessidade, ele estava sem camisa e conversava com duas ou três das garotas que o cercavam.

- Mas eu tenho medo – ele disse, e seu rosto adquiriu uma expressão infantil que contrastava totalmente com o seu tórax atlético definido. Ele tinha uma das mãos enfaixadas, e a segurava junto ao corpo numa postura defensiva.

- Benzinho, é o protocolo... – disse Suno, uma enfermeira bonita e ruiva, que tinha uma seringa preparada na mão e esfregava incessantemente o braço direito dele com um algodão, enquanto ele parecia prestes a levantar e sair correndo.

"Benzinho?" – pensou Bulma, olhando para a garota, que parecia hipnotizada pelo rosto bonito do rapaz, que ela imaginou estar se aproveitando da situação porque não era possível que aquele homem enorme e forte estivesse com medo de tomar uma ridícula injeção.

- Posso saber o que está acontecendo aqui? – ela perguntou, olhando para as demais auxiliares, que engoliram em seco. Bulma era conhecida pelo seu profissionalismo e seriedade, embora fora do hospital fosse uma garota alegre e brincalhona.

- Ele tem medo de injeção – esclareceu Vikal, a outra auxiliar que cercava o rapaz. Lunch, atrás de Bulma, deu uma risadinha. Bulma encarou o rapaz, que a olhava, mudo.

- Você não tem vergonha não? Um homem desse tamanho fingindo ter medo de injeção para receber atenção de garotas?

- O quê? – ele perguntou – seu cabelo é azul. – completou, de forma totalmente aleatória. Bulma revirou os olhos.

- Conheço o tipo – ela disse, tirando a seringa das mãos de Suno e dizendo rispidamente – voltem ao trabalho, pelo amor de Deus.

As garotas saíram, todas de cara amarrada, e Bulma ia aplicar a injeção quando o rapaz deu um pulo e se escondeu atrás da cadeira, gritando:

- AI, MAMÃE, NÃO!

Ela parou e pela primeira vez, levou o medo do rapaz a sério. Reconhecia uma fobia, quando via uma. Imediatamente, ela mudou de atitude e sua voz se suavizou:

- Ei, não se preocupe, eu não vou te machucar. – ela segurou a seringa fora da vista dele e prosseguiu – há quanto tempo você tem esse medo?

- Bom – ele disse, sem abandonar a postura defensiva – sei lá, acho que sempre tive.

- Pode sentar na cadeira, eu não vou te dar a injeção agora. – ela disse – Lunch, pode me dizer o que já foi feito e porque ele precisa da injeção?

- É uma antitetânica. Ele se machucou treinando... qual esporte mesmo?

- parkour – ele disse, sem sair do lugar – eu fui pular um muro e meti a mão numa garrafa quebrada sem querer – ele esclareceu.

- Suturou? – ela perguntou.

- Não – disse Lunch – ele não deixou. Usamos pontos falsos e enfaixamos.

- E porque ele está sem camisa? Tem algum trauma ou escoriação?

- Elas disseram que era melhor eu tirar – disse o rapaz, apontando para Lunch. Bulma a olhou feio e ela deu um sorrisinho sem graça.

- Porque você não se senta? – perguntou Bulma, gentilmente – eu não vou te dar a injeção. – ela pensou "ainda não, mas ele precisa da injeção".

Ele sentou-se com um ar desconfiado, e ainda não muito certo de que acreditava na conversa. Ela o tratou como trataria uma criança, perguntando:

- Então... qual o seu nome?

- Goku. – ele disse – Son Goku.

- Você é atleta profissional, Goku?

- Não, não – ele riu – eu só pratico parkour e luto num dojô. Até com um cara que trabalha aqui, o Tenshinhan... acho que ele é fisioterapeuta.

Lunch perdeu a cor de repente. Tenshinhan era seu namorado. Ela não queria que ele soubesse que ela tinha bancado a assanhada para cima de Goku e disse:

- Você conhece o meu Tenshin?

Ele a olhou, com seus grandes olhos negros e disse:

- Ah, você é a Lunch? Ele fala de você!

- Jura – ela se empolgou, porque o namorado normalmente era bem fechado – o que ele diz?

- Ah, normal, diz que você é legal, mas meio braba às vezes. Estourada, foi isso que ele disse. Você é?

- Sou – disse ela, secamente. Ela esperava algo mais elogioso.

- E ele também diz que nunca tinha namorado uma garota tão bonita. – Goku completou e Lunch sorriu de orelha a orelha. Bulma observou a conversa e disse:

- Lunch, porque você não conta a ele aquela história de você e Tenhsin na cachoeira?

Lunch se empolgou e começou a contar um episódio em que ela e Tenshin estavam numa cachoeira e desabou um temporal e o rapaz a salvou da morte, muito no começo do namoro deles. Lá pelas tantas, Bulma, a pretexto de enfatizar alguma coisa, segurou no braço de Goku e disse:

- O namorado dela é bem forte e alto, acho até que mais que você.

- Sim, sim, é mais alto que eu, eu o conheço – ele disse, pedindo depois a Lunch que prosseguisse com a história. Bulma não largou o braço dele, e, aproveitando-se da distração, segurou apertando ligeiramente o braço, injetando a agulha intramuscular exatamente no clímax da história de Lunch.

- Ai! – ele disse, meio apavorado quando percebeu a picada, apenas para ver que ela estava acabando de inocular o líquido nele.

Goku ficou completamente sem reação enquanto Bulma tirava a agulha de seu braço, sorrindo e dizia:

- Viu, Goku, foi rapidinho e quase nem doeu!

Ele a encarou, espantado, e disse:

- Você me aplicou a injeção! Você conseguiu! Nunca ninguém me aplicou uma injeção!

Bulma riu e disse:

- Desculpa eu ter te enganado, mas é um risco muito grande se cortar dessa forma e não tomar a antitetânica.

- Não, não, não se preocupe! – ele disse. – Como é mesmo seu nome?

- Bulma.

- Bulma – ele repetiu, acrescentando, como que para si mesmo – não vou esquecer, Bulma!

- Ok – ela disse, e se preparou para sair, enquanto Lunch chamava um médico para liberar Goku.

Já no vestiário, depois de uma chuveirada, Bulma encontrou com Lunch e reclamou:

- O bonitão de vocês me fez perder quase meia hora. Coitado do Yamcha, deve estar me esperando...

- Ah, mas ele era bem gato...

- Quem deu aquele golpe baixo de fazer o coitado tirar a camisa?

- Foi a Vikal. – Lunch riu – mas quem diria que ele ia me fazer ganhar o dia?

- Quer dizer que você é a namorada mais bonita que o Tenshin já teve? Aí garota, tá podendo... falando nisso, onde ele está?

- Ah, hoje é dia dele fazer uma sessão particular para um ricaço aí, o cara não admite 5 minutos de atraso, exige sessão três vezes na semana no horário que ele marca, e o Tenshin que se vire para cumprir...

- Ai, que porre. E ele vai? Como faz quando é dia de hospital?

- Quando começou o cara pediu a escala de Tenshin no hospital para saber quando ele estaria comprometido. Mas tem dias que ele pede para ele ir à noite, ou pela manhã super cedo... um saco. Já vi o Tenshin saindo de madrugada igual um doido pra cumprir o horário.

- Nossa, por que se submete a isso?

- Porque o cara paga por uma hora mais do que o hospital paga por um dia, Bulma... e ele não trata o Tenshin mal, só é exigente. Deve ser ruim ser rico e estar preso a uma cadeira de rodas.

- Bom, lá isso é, mas deve ser muito pior ser pobre numa cadeira de rodas.

- Ser pobre é ruim de qualquer jeito! Mas hoje... hoje meu Tenshin vai ganhar algo especial porque disse que eu sou a garota mais bonita que ele já namorou – ela piscou e mostrou o sutiã preto por baixo da blusa que usava.

As duas riram e acabaram de se trocar. Bulma desceu e encontrou seu namorado parado, impaciente, diante do seu belo carro esporte amarelo. Yamcha era médico num outro hospital de West City, e normalmente eles se encontravam quando estavam ambos de folga juntos e não estavam absurdamente cansados, o que era raro, mas naquele dia eles tinham um compromisso, era aniversário da mãe dela.

- Você comprou o presente? – ela perguntou. Como aquele dia Yamcha tinha passado em consultório e não em rotina, tivera mais tempo que ela para isso.

- Sim, sua mãe vai adorar. Comprei aquele perfume importado que ela adora.

- Ah, você salvou minha vida, Yanny. – ela disse, afundando na poltrona do carro. Eles dispararam na direção da casa dos pais dela, e ela deu um suspiro cansado. Se pudesse, deitaria naquele momento e dormiria até o dia seguinte.

Bulma era uma enfermeira dedicada, mas poderia ter sido médica se quisesse. Suas notas eram boas, mas, na verdade, ela gostava mesmo era de poder ministrar os cuidados aos pacientes. Por isso escolhera a enfermagem em detrimento da medicina, porque sentia que essa era a sua vocação.

Ainda na faculdade geral de West City ela conhecera Yamcha. Ele era um rapaz de outra cidade, Satan City, e os dois se conheceram quando ela era estagiária e ele residente no mesmo hospital universitário onde ela agora trabalhava. Quando acabou a residência, Yamcha logo conseguiu colocação em um hospital particular e abriu um consultório da sua especialidade, otorrinolaringologia. Ele estava ascendendo rapidamente e ganhando muito dinheiro, enquanto Bulma ainda estava no hospital universitário.

Ele a pressionava dizendo que ela estava com a carreira estagnada, porque assim que terminara a faculdade, passara na seleção de enfermagem para o mesmo hospital onde estagiara, mas a verdade era que Bulma tinha uma certa resistência a mudanças, principalmente mudanças bruscas. Era uma coisa que ela tentava trabalhar em si mesma, mas quando via, ela corria para uma zona de conforto onde as coisas pareciam mais seguras e no seu devido lugar.

Era assim com o hospital, e, aos poucos, ela percebia que era assim com o seu namoro. Yamcha era bonito, charmoso, tinha bom papo, mas depois de sete anos juntos, Bulma não lembrava mais porque eles haviam ficado juntos. Nunca havia sido uma grande paixão, uma grande atração. Apenas havia acontecido, e, como parecia estúpido terminar o namoro, ela ia seguindo com ele.

Algumas semanas haviam passado depois do episódio do jovem praticante de parkour e Bulma saía, sonolenta, do seu plantão noturno semanal, indo a pé para casa, que era bem próxima ao hospital.

Tinha passado na cafeteria do hospital e havia tomado um café da manhã simples, e tudo que queria era dormir até pelo menos duas horas da tarde. Era manhã de sexta, e teria o fim de semana inteiro de folga por conta do plantão noturno, e já pensava no que faria com tanto tempo livre quando um carro grande, luxuoso e escuro emparelhou com ela, andando bem devagar, logo depois dela entrar numa rua secundária e pouco movimentada, já próximo ao conjunto onde ela morava. Ela percebeu o carro e começou a andar mais rápido, com medo de ser algum tarado ou sequestrador.

O vidro do carro baixou lentamente, e ela, olhando discretamente, viu que havia um homem de terno e óculos escuros dentro do carro, e ela realmente se sentiu ameaçada, acelerando o passo até que ele disse:

- Ei, Bulma, não corra tanto!

Ela achou que conhecia a voz e ele repetiu:

- Dá para parar, Bulma, sou eu o Goku.

Ela conhecia aquele nome... quem era mesmo?

- Eu preciso falar com você!

Ela se virou, segurando um baton dentro da bolsa para dar um bom blefe:

- Se isso é alguma espécie de assédio, eu tenho spray de pimenta aqui.

O rapaz dentro do carro riu e tirou os óculos escuros dizendo:

- Sou eu, Bulma, o Goku! Você me deu uma injeção, lembra?

Ela parou e percebeu que estava tremendo.

- Você me deu um susto!

Ele sorria para ela, de dentro do carro e disse:

- Você me desculpe! Mas eu tenho uma proposta de emprego para você.

- Emprego?

-É, emprego.

- Mas eu já tenho emprego, Goku, você sabe que eu trabalho no hospital.

- E se eu te disser que eu sou um headhunter e falei de você para meu chefe e ele tem uma proposta para você melhor que trabalhar no hospital e certamente muito menos cansativa, você topa pelo menos ouvir?

Ela parou. Estava exausta. De repente, se deu conta de algo:

- Como sabia meu horário de saída do plantão?

- Eu perguntei para o Tenshinhan onde eu podia te encontrar e ele perguntou para a namorada dele.

- Mas por que eu?

- Por que você conseguiu me aplicar uma injeção – ele riu – e isso impressionou meu chefe.

- Quem é seu chefe?

- O nome dele é Vegeta Prince. E ele precisa de cuidados especiais. A enfermeira atual dele vai se aposentar e ele estava ansioso procurando outra. Eu falei de você.

- De mim?

- Sim. Topa a entrevista? O salário vai ser muito bom.

"Uma hora com ele paga mais que um dia de hospital" – ela se lembrou. Claro que era o ricaço para quem Tenshin trabalhava. Ela tinha tempo naquele momento, embora estivesse com sono. Tomou uma decisão impulsiva, o que não era muito o seu estilo, e disse:

- Pode me levar até lá agora?

- Agora? – Goku coçou a cabeça – preciso ligar para ele para saber.

Ele pegou o celular e ligou rapidamente para alguém, explicando a situação, enquanto Bulma esperava do lado de fora, maldizendo o sol que já começava a ficar forte. Ouviu por um instante e então disse para ela, assim que desligou:

- Ele disse que está ótimo! Entra aí. – ele destrancou a porta do carro e ela entrou. O carro, além de luxuoso, era novo em folha. Ela disse, para puxar assunto.

- Carro bonito.

- Não é meu, é da empresa – ele riu – eu nunca ia ter um carro careta desses. Gosto de coisas mais... diferentes.

- Tá bom. Qual seu carro?

- Um fusca 1963.

- Um fusca?

- Não é qualquer fusca – Goku riu – é um fusca de época, todo original, de um modelo clássico com motor de 1600 cavalos, coisa de colecionador. Amarelo crepúsculo, cor clássica da Volkswagen. Consertado, reparado e restaurado por mim!

- Voce deve parecer enorme nele! – ela riu.

- Ei – ele defendeu – sabia que Ferdinand Porsche dizia que o fusca era o melhor design da vida dele? Eu nunca me senti apertado no Nimbus.

- Nimbus?

- É. É como eu chamo meu carrinho.

- Tá bom...

- Você sempre faz isso?

- Isso o quê?

- Duvida dizendo "Tá bom?"

- Não sei. Pode ser. Tá muito longe?

- Não. Estamos chegando.

- Goku... você acha que seu chefe vai... sei lá, gostar de mim, aprovar meu jeito?

- Se vai? Claro que vai. E você tem uma coisa essencial para lidar com ele.

- O quê?

- Coragem. Ele intimida um pouco.

Eles chegaram a um prédio residencial, uma torre de luxo num dos melhores bairros de West City. A princípio Bulma achou que o tal sujeito devia ter dinheiro, mas não ser o ricaço milionário que Lunch dizia, afinal, ricos moravam em mansões. Ali era apenas um loft de luxo. Mas Goku esclareceu as coisas para ela, sem que ela pedisse, conforme deixavam o carro na garagem subterrânea e caminhavam até uma porta de elevador onde havia um scanner de leitura biométrica de digital, onde Goku pôs a mão para reconhecimento, dizendo enquanto esperavam o elevador chegar:

- Esse prédio ficou pronto há nove anos, e Vegeta se mudou para a cobertura, que equivale mais ou menos a oito apartamentos dos do prédio. É uma cobertura duplex, com piscina aquecida, cozinha gourmet, 8 quartos e elevador privativo. Vegeta supervisionou o projeto pessoalmente. Há cinco anos ele foi reformado para atender às condições especiais dele – ele abriu a porta do elevador e deu passagem para ela, que perguntou:

- Ele é engenheiro?

- Sim, é. Mas atualmente ele preside o grupo empresarial que herdou. E ele trabalha aqui, não sai de casa, por isso o apartamento é tão confortável.

- Goku... eu preciso saber por que ele precisa dos meus serviços.

Goku a encarou, sério, e disse:

- Por favor, não toque nesse assunto com ele. Depois, se você topar, eu a levo para conversar com o Dr. Kamisama, o neurologista que o atende e ele vai te dar todos os detalhes que você precisa, a enfermeira atual pode passar todos os procedimentos. Nunca toque nesse assunto e finja que ele não está numa cadeira de rodas. Acima de tudo, nunca pareça sentir pena dele.

- Por quê?

Goku suspirou.

- Ele não aceita bem a sua condição. Nunca aceitou, na verdade. E ele está assim há cinco anos. Eu o conheci antes disso e posso te dizer que se trata do cara mais orgulhoso que existe. – ele abriu a porta do apartamento e a riqueza do ambiente atingiu Bulma imediatamente.

Era um loft com pé direito alto no amplo salão de entrada, com acesso ao segundo andar através de um mezanino. No lugar de uma escada, havia uma rampa muito bem integrada ao ambiente, o que sinalizava que Vegeta devia gostar de circular pelo apartamento. A decoração era de bom gosto, mas muito impessoal, sem fotos, com flores colocadas em jarros muito discretos sobre uma ou outra mesa. Tudo era tão limpo e estéril que parecia que ninguém morava ali.

A porta da cozinha estava aberta, e Bulma viu uma moça de cabelos pretos presos e ar austero cozinhando. Ela usava um dólmã de chef e uma bandana chinesa amarrada na cabeça. Goku olhou para ela e disse, educadamente:

- Bom dia, Chichi. Essa é a Bulma.

A garota olhou para Bulma e sorriu brevemente, dizendo:

- Muito prazer. Tornou a ficar série e prosseguiu: Goku, as favas de baunilha importadas que eu pedi não chegaram.

- Não? Vou ligar para a delicatessem, fique tranquila. Eles entregam ainda hoje.

- Ok, ela disse, e voltou ao trabalho.

Goku levou Bulma pela rampa até o mezanino, e, dali, para um corredor lateral com diversas portas, todas fechadas. Ele abriu a última e Bulma tomou um ligeiro choque, porque o quarto era enorme – mas não era um quarto, e sim uma estação de trabalho.

Havia monitores pelas paredes, e parecia que todos eles estavam piscando ao mesmo tempo, mostrando cotações de bolsas de valores, moedas, projeções de mercados futuros. A sala tinha um janelão panorâmico gigante, diante do qual um homem, sentado numa cadeira de rodas de costas para quem entrava, vociferava ao celular numa língua estrangeira.

Ele não devia ser um homem muito alto antes do acidente ou o que quer que o houvesse confinado àquela cadeira, mas seu tronco e braços eram bem fortes. Bulma pôde notar que ele usava uma cadeira manual, provavelmente para manter-se forte. Apesar de estar visivelmente trabalhando, ele usava uma camiseta de malha branca, um moleton cinza e estava descalço. De repente, encerou a ligação com um comentário ríspido e Goku disse:

- Os caras da Govinda?

- Sim, idiotas. Tem uma caneta? A minha já sumiu – Goku tirou uma caneta do bolso e passou a ele, que subitamente virou-se e olhou para Bulma, com uma expressão neutra, segurando a caneta. Então perguntou, como se ela não pudesse ouvir, para Goku: - ela é a milagreira que te deu a injeção?

- Sim – Riu Goku – ela mesma.

- Kakarotto disse que você aplicou uma injeção nele. Como conseguiu?

- Quem é Kakarotto?

Ele olhou impaciente para Goku, pelo jeito, não gostava de explicar as coisas.

- Olha, eu e Vegeta nos conhecemos desde criança e ele me chama pelo apelido que eu tinha aos dez anos – disse Goku, corando.

- Ah, entendi... bom, eu percebi que ele tinha uma fobia, mas precisava tomar a injeção de qualquer jeito. Então eu lidei com a fobia da melhor forma e apliquei a injeção nele. – ela disse, objetivamente.

Vegeta a encarou por um instante e então disse, enquanto rasbiscava algumas anotações em um bloco:

- A enfermeira Uranai se aposenta no fim do mês. Ela pode te treinar pelo tempo necessário. Te dou alguns dias para resolver sua situação no hospital. Eu pesquisei o salário de lá. Não é dos mais atraentes. Porque está num emprego abaixo de sua habilidade?

Ela se sentiu pressionada, mas não se deixou intimidar, e disse:

-Eu tenho lá boas relações pessoais, e é um bom lugar para se aprender no início da carreira.

Ele largou o bloco e a caneta e a avaliou por um instante. Os olhos pretos percorreram o rosto dela um instante antes dele dizer:

- O emprego é seu. Veja os detalhes com Kakaroto. E converse com o Doutror Kamisama. Ele vai explicar tudo que precisa. Quando começa?

- Pode ser em uma semana? – ela perguntou.

- Cinco dias. Se você for esperta, assim que se livrar vem. Vou te pagar o triplo do que recebe lá, com horas extras por fora. Kakarotto, posso ficar com a caneta?

- Claro... eu sempre tenho uma no bolso por sua causa mesmo...

Vegeta olhou para Bulma e disse:

– Se vier trabalhar mesmo para mim, tenha sempre uma caneta no bolso. Por algum motivo as minhas vivem sumindo!

Ela não disse nada. ele deu uma ultima olhada na sua direção e então disse, secamente:

- Preciso trabalhar.

Goku chamou Bulma discretamente e eles saíram do recinto. Vegeta rodou sua cadeira até diante do janelão de onde se via toda cidade. Antes de Goku fechar a porta passou pela cabeça de Bulma que aquele homem olhando pela janela, em sua cadeira de rodas, parecia completamente melancólico.

Notas:

Esse é o começo da nossa história. No próximo capítulo vamos saber como Vegeta foi parar numa cadeira de rodas e saber mais sobre a vida de Bulma.

Goku e Chichi estão na história também, mas não são o casal principal. Aliás, a princípio nem são um casal quando a história começa.