DRACO MALFOY 101

por MSM


Warnings: Mature (linguagem), parceria forçada, sexto ano, fluffy, comédia, romance.

Sinopse: Então o impensado aconteceu e Malfoy (sim, Draco Malfoy), aparentemente, possui inclinações humanas. Mas não se desesperem, pois Hermione, através de minuciosas análises, irá provar que ainda assim, ele não passa de um bastardo sem coração.


Tudo começou – não que alguma coisa tenha começado, que fique muito claro, era só que "tudo começou" era uma introdução muito melhor do que "era uma vez" – por causa de uma aula de poções. E já que estamos apontando dedos, Hermione também culpava o período de ovulação do seu ciclo menstrual por tudo o que não havia sido conseqüência direta daquela aula que, até então, corria como outra qualquer: Snape já usurpara sessenta pontos da Gryffindor e Harry era praticamente amarrado em sua cadeira para não continuar respondendo para o professor. Absolutamente corriqueiro.

Snape havia lhes dito para extrair o pó das asas de três fadas mordentes e, por algum motivo absolutamente impensável por qualquer outra pessoa que não o próprio, Neville Longbotton chegara a conclusão que deveria espremer as asas das pobres criaturas para atingir tal feito, o que resultou num grito de horror do pobre menino quando a fada quase lhe arrancou um pedaço do dedo com os dentes. Foi neste momento que o professor resolveu tirar vinte pontos da Gryffindor por Neville estar sujando o chão de sangue. Foi aí também, que Harry Potter se revoltou, alegando que o mestre de poções não tinha explicado como arrancar o pó das asas das fadas, então, Harry perdeu mais quarenta pontos para a Gryffindor por insinuar que alguém seria estúpido o suficiente por não possuir um conhecimento tão trivial.

Sessenta pontos em vinte minutos de aula, como dito anteriormente; absolutamente corriqueiro.

Hermione estava se ocupando em explicar aos sussurros para os seus amigos como se tirava o pó das fadas quando o impensado aconteceu:

Draco Malfoy espirrou.

Sim, o menino louro e arrogante que sempre se sentava num canto obscuro da classe, próximo aos armários. O menino que se ocupara por seis anos em atormentar O Trio Maravilha (ou os três mosqueteiros, ou o triunvirato dos cabelos ruins, como o próprio Malfoy havia lhes dito tantas e tantas vezes) e que ainda a pouco quase chorara de tanto rir das injustiças cometidas contra a Gryffindor.

E não era um espirro como o de Harry ou de Ron que te fazia querer gritar 'Oh meu Deus, o apocalipse! Rápido, fujam para as montanhas!', era apenas... sabe? Atchim.

Hermione piscou.

Não era como se Malfoy não pudesse espirrar. Era só que, bem, a verdade era que ele não parecia ter inclinações humanas o suficiente para fazer algo tão inócuo quanto espirrar. Era como se a qualquer momento, alguém fosse tentar convencer Hermione de que ele dormia durante a noite, em vez de recolher almas penadas para cumprir o seu pacto com o demônio, que era um conhecimento comum de todos os gryffindors.

Era como se alguém fosse lhe dizer que, por Merlin, que ele era um menino normal.

"De ponta cabeça, você disse?", perguntou Ron, virando a sua fada de cabeça para baixo.

"Mmm?", foi tudo o que Hermione conseguiu articula ao ser brutalmente arrancada de seus devaneios.

"-assim?", perguntou Ron chacoalhando a sua fada que ainda se encontrava com as pernas pro ar.

"Não, Ron, eu disse que você não deveria virar a fada de cabeça pra baixo, ela vai-", ela se contentou em bufar quando Ron deu um grito agudo, interrompendo a frase de Hermione pela metade.

E esse era um exemplo concreto de como uma simples aula de poções podia custar quase três meses de respostas certas dadas em aula por Hermione. E as pessoas ainda tinha a coragem de lhe dizer que ela não precisava estudar com tanto afinco. Ela revirou os olhos, bufando mais de uma vez antes de arrancar a fada das mãos de Harry no intuito de evitar novas catástrofes, mandando que ele fosse até o armário de poções e pegasse o resto dos ingredientes.

Hermione observou o trajeto de Harry por entre as bancadas e por isso, e por esse motivo apenas, seus olhos passaram novamente por Draco Malfoy, o menino que espirrava. Ele estava sussurrando alguma coisa para Blaise Zabini, enquanto o outro segurava a fada mordente entre os dedos, sem a apertar. Malfoy fez um movimento rápido com dedos, como se estivesse dando um toque de pimenta do reino no prato principal de um almoço requintado.

Zabini fez o mesmíssimo movimento, segurando a fada entre os dedos, o pó das asas dela caindo na tábua sobre a bancada.

Harry cutucou o ombro de Hermione, fazendo com que ela se virasse para frente abruptamente, batendo a coxa no tampo da sua bancada, olhando para os lados ensandecida, como se alguém tivesse acabado de a surpreender enquanto tentava roubar cookies na calada da noite.

"O que é?", Harry ergueu as sobrancelhas.

"Eu só... trouxe o que você pediu."

"O que você quer, uma medalha? Senta logo, Harry.", ela disse, baixando o rosto e pensando sobre calotas polares, numa tentativa desesperada de fazer com que suas bochechas parassem de queimar.

Hermione tentou se concentrar em concluir as suas anotações, ela honestamente tentou. Foram os seis segundos de maior esforço mental da vida de Hermione, até que ela se rendesse à tentação de dar uma rápida olhada pela classe, para ver se algum dos colegas havia testemunhado a graça e a elegância que ela demonstrou ao ser surpreendida por Harry.

Pansy Parkinson estava apontando para ela e gargalhando, mas como a garota soava como uma gralha, Hermione havia há anos se decidido por desconsiderar quaisquer reações vindas dela. O problema com Pansy, no entanto, era que ela se sentava na bancada ao lado de Zabini que, por sua vez, dividia o espaço com Malfoy, o menino que não apenas espirrava como provavelmente sabia temperar saladas também.

Não era como se ela tivesse deliberadamente optado por olhar para o lado da sala em que a Slytherin se sentava, mas era lógico supor que seus colegas gryffindor teriam mais senso do que rir dela apenas porque praticamente derrubara sua bancada e o caldeirão, quer dizer, eles estavam acostumados com Neville, era necessário certo empenho para que alguém fosse considerado digno de uma risada na Gryffindor. Os slytherins, por outro lado, eram bastardos monótonos que viam graça em tudo o que acontecia, porque a vida deles era completamente insossa e cheia de trevas.

Todo esse desenrolar lógico da situação levava Hermione a encarar abertamente o rosto de Malfoy, que seguia impassivo enquanto Zabini dizia algo ao muxoxos com um sorriso no rosto, ela teria apostado o braço direito de alguém que gostava muito que o assunto em questão era ela.

Hermione estava a ponto de admitir derrota e fazer um voto consigo mesma que não mais faria nada de idiota durante a aula e não atrairia qualquer atenção para si mesma, quando Malfoy levantou o rosto e a encarou. Zabini ainda falava alguma coisa para ele, mas a expressão que Malfoy sustentava era como uma folha em branco. Ela esperou pelo erguer de sobrancelhas, pelo sorriso enviesado, pelo queixo erguido ou pelo modo como ele frisava os lábios e fazia qualquer um se sentir como o último dos seres humanos, mas nada.

Malfoy não fez absolutamente nada.

A duração de todo o período paleozóico parecia ter se passado até que Hermione se desse conta que Harry voltara a falar com ela sobre a tarefa de poções, o que a deixava numa situação desconfortável, porque se atentar a Harry obviamente significava perder uma guerra de olhares com Malfoy.

"Você acha que seis giradas no sentido anti-horário é o suficiente ou que devemos nos ater ao livro de girar oito vezes?"

Era isso o que ele estava fazendo, não era? Só podia ser. Primeiro Malfoy espirrava, depois ele tirava o pó das fadas mordentes como quem tempera a comida e agora ele a encara sem o crispar característico dos lábios que se seguia toda vez que Hermione entrava em seu campo de visão.

"- a cor é praticamente a mesma."

Quer dizer, não é como se Hermione pudesse simplesmente parar de encarar Malfoy agora. Obviamente havia algo de errado com ele naquela manhã e, por mais que Malfoy entrasse na escala de preferências de Hermione abaixo de objetos inúteis e inanimados e unhas encravas, era provável que ele entrasse em combustão expontânea a qualquer minuto, tamanha a estranheza no seu comportamento.

"- fúcsia. Que diabos é fúcsia, certo? Fúcsia, amarelo... aposto que é parecido."

Aquele devia ser o maior período de tempo na história da humanidade que duas pessoas ficaram se encarando. Hermione sentiu o impêtuo de piscar, mas de alguma forma, ela sentia que aquilo ia contra os regulamentos do jogo imaginário que vinha jogando com Malfoy.

Ela estreitou os olhos.

"- Ron também acha que fúcsia e amarelo são a mesma cor. Então deve ser, não é, Hermione?"

Malfoy ergueu uma das sobrancelhas e Hermione sentiu vontade de levantar e fazer a dança da vitória por ter arrancado uma reação dele. O que era absolutamente estúpido, já que a meta de vida de Hermione era não arrancar reação nenhuma dos membro da Slytherin. Apenas se afastar e seguir a vida como se eles fosse radioativos.

"- é normal borbulhar desse jeito?"

Então por que naquela manhã ela se sentia vitoriosa por arrancar um erguer de sobrancelhas de Malfoy? Provavelmente tinha algo a ver com o espirro ou a sapiência em como tirar o pó das fadas nordentes. Aquele definitivamente não parecia o Malfoy que no começo do aula rira quando Neville quase perdeu a ponta do dedo. Aquela pessoa que a encarava era um enigma. Um enigma travestido como seu arquiinimigo, mas que na última meia hora vinha se comportando como um garoto normal e ela não entendia.

"- hm... Hermione? Acho que você precisa dar uma olhada nisso aqui."

Mas acima de quaisquer considerações sobre Malfoy, Hermione tinha 96% de certeza que aquela história de a encarar era um jogo e ela preferia perdeu seus dois braços a perder o jogo.

"- aralho!", Harry gritou, instantes antes de a poção (amarela, não fúcsia) voar pelo ares e aterrissar como um míssil em todo o corpo de Hermione.

Era engraçado pensar que total e completo pandemônio eram uma espécie de rotina, mas aquilo com certeza se aplicava à aula de poções: Neville subia em cima de uma bancada, urrando para que os colegas próximas à gosma amarela fugissem e zelassem por suas vidas. Harry encarava boquiaberto uma Hermione que pulava e gritava para que o amigo checasse se o seu cabelo estava sendo corroído. Ron dava risada e Hermione pegava a colher de pau no chão e arremessava na testa dele, bradando sobre como ele era um bastardo desleal e que ela o faria engolir a meleca amarela se ele não a ajudasse agora.

E, é claro: depois de o pânico se instalar, vinha Snape, a cereja do desgosto no topo do Sunday de catástrofes que eram as aulas de poções.

Mesmo levando em conta o baixíssimo padrão que eu uso para julgar a casa da Gryffindor, vocês ainda assim são uma decepção.

"Mesmo levando em conta o baixíssimo padrão que eu uso para julgar a casa da Gryffindor, vocês ainda assim são uma decepção."

Hermione levara seis anos para aperfeiçoar a sua cara de quem honestamente sentia muito pela situação, muito embora aquilo não fosse culpa dela e ela reconhecia ser inútil tentar argumentar.

Perder (insira aqui o valor correspondente ao PIB de um pequeno País Africano) é o menor do problema de vocês. Detenção comigo pelo resto da semana.

"Perder 120 pontos é o menor do problema de vocês. Detenção comigo pelo resto da semana."

Ela suspirou, tentando calcular mentalmente quantos caldeirões ela teria que ariar até o final daquela semana.

E eu vou fazer especialmente desagradável para você.

"E eu vou fazer especialmente desagradável para você."

Mas o que realmente incomodava Hermione naquele momento, era que ela havia quebrado seu contato visual com Malfoy e, já que as regras do jogo não estavam claras, ela não sabia se uma explosão em que estilhaços voassem contra o corpo dela serviam como motivo válido para abandonar a competição.

Agora suma da minha frente e vá para a ala hospitalar, essa... coisa pode ser contagiosa (cara de desprezo).

"Agora suma da minha frente e vá para a ala hospitalar, essa... coisa pode ser contagiosa.", concluiu Snape, sustentando a maior expressão de desprezo que suas feições permitiam.

Levando com conta o bastardo injusto e impiedoso que Malfoy era, provavelmente nem a morte seria um motivo válido o suficiente para abandonar a competição. Bem, pelo menos para o antigo, para esse novo Malfoy que espirrava e temperava comida, no entanto, até poderia ser.

Antes de sair da sala, Hermione olhou para trás uma última vez, apenas para testemunhar o sorriso presunçoso que Malfoy lhe lançava. Ele baixou a cabeça antes que ela pudesse gesticular onde ela achava que ele poderia enfiar aquele sorriso.


Notas da Autora: Essa fanfic ia ser uma oneshot enorme, mas já eu eu tenho os nove primeiros fragmentos prontos, eu pensei em ir publicando semanalmente, para não deixar o perfil inativo enquanto eu termino os projetos maiores. (:

Revisem!