Harry Potter não me pertence.

Nota: Eu ia colocar esse pedaço de história em alguma das muitas antologias que eu tenho perdida no perfil, mas esse pedaço de história tem muito do que eu sinto sobre Harry Potter e eu decidi que essa devia ser a minha história número 100. Obrigada por quem ler isso até o fim. Comentários são bem-vindos.

Sobre um garotos de ossos largos

Os olhos marejam e ele sente vontade de soluçar (as crianças ao redor não gostam muito dele, pelo que parece). Os risinhos debochados dos maiores é perceptível até para alguém como ele (ele sempre ouviu que não era tão inteligente assim).
(Não era - como diziam? - o forcado mais afiado do celeiro.)
Dizem que tudo é mágico em Hogwarts, porque dizem que a magia dos alunos alimenta o castelo.
Um depende do outro e ele aos onze anos, com os joelhos arranhados por andar por aí atrás de animais grandes e sozinhos (como ele), sabe disso. Sabe porque se importa.
Se importa porque já ama a escola.
O banquete. O diretor o olha como se duvidasse de sua magia, como se esperasse que ele fosse atacar os outros.
Ele não sente mais dor (já apanhou tanto que os olhares deixaram de importar).
Quando o chapéu e colocado em sua cabeça, morde o lábio inferior (e se não encontrar seu lugar ali? E se nenhuma casa o desejar? E se todos ali o odiarem? Ele teria que voltar para casa andando?). O chapéu lhe dá um lar.
E seus novos amigos desembestam a perguntar por que ele é tão alto e grande, se ele é tão forte quanto parece.
Uma palavra pequena como lar aquece tanto seu coração que se esquece do verbo pertencer.
Um menino de ossos largos e força descomunal encontrou um lugar para pertencer, com amigos para conversar, por mais que ainda exista um pouco de medo, eles pelo menos tentam fazer amizade.
Um professor lhe sorri com simpatia. Nunca nenhum adulto (exceto seu pai) tinha lhe sorrido simpaticamente, como se ele não fosse um palmo maior que a maior parte dos adultos presentes (Como se fosse a criança que era).
Decide que será o melhor aluno daquele professor, custasse o que custasse.
Provaria para o mundo que seu tamanho não importava (assim como o rapaz extremamente pequeno que veio antes dele provaria que era forte mesmo pequeno).
Há esperança. Vontade de ser maior do que é (ser um grande bruxo que todos se orgulhem).
A força não o abandonou quando, aos treze anos, foi expulso e teve sua varinha partida.
Pelo menos seu pai não estava ali para sofrer com sua expulsão.
Terá de se virar e sabe que ser motivo de chacota dos outros alunos dói como nunca doeu. E as lágrimas grandes e pesadas (como ele) caem e molham suas vestes. Ninguém vai consolá-lo. Ninguém vai se importar com ele.
Um maldito mestiço! Como ouviu de alguns alunos. Tudo o que ele é!
"Certa vez, eu ouvi que quanto mais misturamos raças, mais especiais são as pessoas que saem da mistura." a voz do professor do sorriso simpático parece querer consolá-lo, como ninguém fez na vida.
Ninguém nunca se importou o bastante.
Ele é o primeiro.
Professor Dumbledore sempre é o primeiro.
Os anos correm, vê a primeira guerra começar, vê olhos brilhantes (como os de James, Sirius, Marlene...) perderem o brilho e vê a dor dos que sobreviveram.
Então vem Harry e se sente pertencendo a uma família, porque tem Harry, Ron e (é claro) Hermione. Tem a Dumbledore, tem à escola, tem aos olhares brilhantes que se depender dele não vão apagar.
Pena que nunca dependeu, ele pensa ao ver o funeral de mais um pequeno herói.
Pequenos demais para morrerem, ele pensa.
A morte nunca vem para quem está de peito aberto para aceitá-la (por seus amigos).