Eu não entendia o motivo pelo qual você se enfeitava com tanto esmero, Silena.
Desde o começo, eu te achei fútil - pois sim, havia uma guerra prestes à estourar e mudar a vida de todos, e da mesma forma, você se via disposta à perder tempo escovando os cabelos quinhentas vezes por dia, gastar horas e horas entre tratamentos estéticos, como se não houvesse nada mais importante a ser feito.
"É uma questão de se valorizar, Clarisse. Você devia tentar, faz um bem danado para a auto-estima", tentaste me explicar em um dia qualquer de verão no acampamento. Seus fios dourados faiscavam ao serem pegos por um raio de sol, dando-me a impressão de que eras iluminada feito um anjo.
E, de fato, tal comparação não se distanciava tanto assim da realidade.
Ultimamente, vinhas se mostrando mais agradável do que eu jamais pudera supor. Parecia ser a única por ali capaz de conceber que a durona chefe do chalé de Ares também possuía, apesar de tudo, um coração; e entre conselhos amorosos e outras conversas de caráter até então inédito para mim, acabamos por discutir leviandades, como aconteceu neste momento.
Não pude pensar em nada decente a ser respondido - sua imagem resplandecente tirava-me da minha linha de raciocínio. Ante meu silêncio, você apenas sorriu como se compreendesse meu constrangimento, o respeitasse. No entanto, duvido que fosse capaz de entender a atração que vinha exercendo em mim.
Porque o rubro do seu batom, emoldurando as duas fileiras de dentes perfeitamente brancos, tornava o seu sorriso o mais belo dentre todas as filhas de Afrodite. Foi quando eu percebi que, acima de tudo, você se dedicava à se tornar mais encantadora do que já era - eu não pude deixar de achar isso cruel, Silena.
Pois dias depois, quando não resisti à crescente tentação e resolvi descobrir se seus lábios eram tão macios quanto convidativos, você se afastou com uma expressão assustada no semblante e disse-me que aquilo era errado, que amava unicamente a Beckendorf.
Mas se havia alguém errada naquela história toda era você, simplesmente por ser quem você era e um pouco mais do que isso. Por possuir uma natureza tão gentil e acolhedora, por ser cativante e bela à ponto de fazer-me te amar para, depois, não corresponder e me deixar sozinha com um orgulho ferido e meia dúzia de lágrimas.
E eu ainda não entendo o motivo pelo qual você se enfeita com tanto esmero, Silena, se insiste em dizer que nunca quis magoar ninguém.
Descobri recentemente que acho-as muito interessantes juntas. O item escolhido foi "batom", e tenho a esperança de tê-lo usado razoavelmente bem nesta história.
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