Acenei pela última vez para minha família na plataforma, antes de embarcar no trem. Meu primo Alvo veio logo atrás de mim, agarrado à gaiola de sua coruja pintada, Ginger, que piava e se sacudia zangada.

- Para com isso, Ginger – ele disse – Não me faça passar vexame, não vê que estão todos olhando?

Eu abafei uma risada.

- Al, você tem falado com essa coruja por duas semanas. Está parecendo um maluco.

- Eu não sou maluco, não é Ginger? Fale pra Rose que eu não estou maluco.

Ginger eriçou as penas, como se dissesse: Você só pode estar brincando comigo.

Ajeitei a mochila sobre o ombro, respirando fundo. Eu já estava ficando desconfortável com os olhares que nos eram dirigidos pelos outros alunos. Alguns deviam estar no sétimo ano, mas nos fitavam como se nunca houvessem visto coisa parecida.

Eu já estava acostumada a ser reconhecida como filha de Hermione e Ronald Weasley, os heróis da segunda grande guerra bruxa, mas isso não significava que eu gostasse da atenção. A semelhança assustadora entre mim e mamãe não ajudava em nada, e muitas vezes eu desejei ter nascido como minhas primas: ruiva de olhos azuis.

Alvo também era muito parecido com tio Harry, mas ele não se importava com o que pudessem comentar. Na verdade, se um dragão de bolinhas roxas passasse voando e cuspindo fogo a única maneira de fazê-lo perceber seria apontar e dizer: Olha, um dragão!

No momento a única coisa que poderia interromper seu monólogo com a coruja seria surgir com um assunto mais interessante. Como eu não tinha um, preferi ficar quieta.

Encontramos uma cabine vaga no fim do vagão. Ao que nos acomodamos, uma voz anunciou que o trem partiria em cinco minutos. Encostei a cabeça na vidraça e fechei os olhos, e antes que eu pudesse impedir já havia adormecido.