"FOGOS DE ARTIFÍCIO"

ou

"BONFIRE NIGHT"

umafanfic por
Holly Moon.

AVISO! — Como acontece com a maioria das fanfics que você escreve há muito tempo atrás, essa daqui me dava nos nervos quando eu relia. Então eu resolvi reescrever boa parte. O conteúdo não foi drasticamente modificado, mas há alguns detalhes esparsos. Para quem já leu os capítulos, recomendo reler... desculpa, não teve outro jeito :x

Sobre: Bom. Esta história fala sobre o Remus. Sobre a infância dele, no geral. Eu sempre quis ler uma história que contasse como Remus era, da infância até a idade adulta. Uma história que mostrasse todas as mudanças que Remus sofreu, em seu nível mais humano. Então aqui está. Pode ser que o meu jeito de escrever não esteja à altura, que as piadas sejam insossas, que a falta de personagens familiares entediem você, mas de qualquer jeito, eu tentei... :)

Retratação: A história abaixo foi baseada em personagens e situações criadas por JK Rowling (Jo pros íntimos — e pra quem visita o website?), e compilada sem nenhuma intenção lucrativa. Eu sou responsável somente pelas personagens criadas por mim, ou por certos aspectos criados para adaptar as personagens da Jo no universo da fanfic. De resto, qualquer reclamação pode ser mandada por e-mail, do tipo "oooommmmggggg oq ki vc fez com u lupin, eu gsotava tanto dele e vc conseguuiu fzer ele ki nem um idota!!!!!!11one!!1 que eu vou tentar fazer o máximo para que você se acalme e, de preferência, continue a ler minha fic :D porque todo mundo merece uma segunda chance. né?


CAPÍTULO UM:

Novelo de Lã


Debussy
- Manuel Bandeira

Para cá, para lá . . .

Para cá, para lá . . .

Um novelozinho de linha . . .

Para cá, para lá . . .

Para cá, para lá . . .

Oscila no ar pela mão de uma criança

(Vem e vai . . .)

Que delicadamente e quase a adormecer o balança

Psio . . —

Para cá, para lá . . .

Para cá e . . .

O novelozinho caiu.


"Que curioso...", murmurou Remus para si mesmo. Falava do novelo que saíra rolando pela sala, deixando um rastro irregular de linha vermelha. Sua mãe não lhe deu atenção, sabendo por antecedência que o garotinho achava praticamente tudo "curioso". Remus então riu de puro deleite, e observou sonolento o novelo mudar sua trajetória e, v a g a r o s a m e n t e, quase parar de rolar — para ser novamente provocado, desta vez por um pequeno gato que pulava ferinamente sobre o amontoado de lã. Começou, a partir daí, uma atarracada luta que irremediavelmente despertou o garoto — este endireita-se no sofá, já completamente desperto, e inicia uma sensacionalista narração:

— Novelo de Lã vs. Gato Scooffy; faaaaçam suas apostas! Scooffy começa com vantagem, tá em cima do adversário, tá dominando a arena, mas esperem, queee que é isso? Parece que o Gato se embaralhaçou todo, e Novelo toooooma conta da luta! Mas o Gato recuperou a liderança, e pula para frente, e pula para trás, e se enrosca, embaraça o Novelo, rola pelo chão, pára, e está miando com cara de mau — será que tá desistindo? Mas nãããão! Recomeçou tudo de novo! Siiiim, e o público vai a delíííírio, WAAAAAAAAAHHHHH! (público delirando)...

A Sra. Lupin puxou o fio de lã para si, sem tirar os olhos das agulhas de tricô, e exclamou, impacientemente:

— Remus, pare com esse ataque de bobeira, você está bagunçando todo o novelo.

— Ahhhh, mãe! Mas nem sou eu, é o Scooffy!

— Remus... Remus. Você sabe que não pode pôr culpa no coitado do gato. Sempre assuma seus erros, filho.

Remus deu de ombros e quase que respondeu com uma frase muito mal-educada. A Sra. Lupin tinha esse dom (amaldiçoado) de estragar toda a diversão. Pronto, agora o Scooffy não queria saber mais do novelo, e a luta ficara sem vencedor. É, e aí? Agora ele não tinha nada pra fazer. A não ser enrolar o novelo de lã, e não porque ele gostasse disso, mas porque senão a mãe ia ficar ainda mais irritada do que ela já estava. Quer dizer, Remus não sabia se ela estava irritada (ela sempre vinha com essas frases estranhas do tipo "sempre siga seu coração"), mas por via das dúvidas, era melhor não arriscar. Mais que isso, Remus tinha que fazer jus a sua reputação — que outra criança de seis anos arrumaria todos os brinquedos imediatamente depois de brincar com eles, e ainda por cima os organizava em prateleiras coloridas e catalogadas? Só Remus, é claro.

E esse mesmo Remus estava prestes a se arrastar até perto das pernas da mãe e começar a arrumar o novelo, um tanto emburrado. Ia começar a resmungar, só para deixar claro que ele absolutamente NÃO estava fazendo isso por ser um "garotinho bonzinho", quando a sua mãe percebeu sua contradição (como será que a Sra. Lupin percebia tudo?), e comentou num tom indiferente:

— Remus, querido, não precisa arrumar isso se não quiser. Ao invés disso, seria bem mais útil se você fosse lá em cima e avisasse seu pai que nós vamos almoçar logo... e leve o Scooffy com você.

Claro, Remus adorava ser útil! Bom, na verdade não, mas pelo menos agora ele não precisava mais enrolar aquele novelo quilométrico, e ainda por cima ia visitar o local de trabalho do pai, que além de tudo era um dos lugares mais... curiosos do mundo. Remus foi correndo subir as escadas, levando Scooffy em seus braços.

A verdade era que Remus achava o pequeno animal em seus braços realmente curioso. O que era sempre um bom sinal, já que o garotinho afeiçoava-se rapidamente a coisas que provocavam curiosidade. Tudo bem, ele não gostava do jeito que o gatinho andava, com as pernas meio arqueadas e um ar meio sonolento, nem dos seus olhos azul-pálidos, e muito menos do barulho estranho que o animal fazia quando Remus acariciava seu pêlo cinza-azulado. Mas, de resto, ele achava o animal engraçado, e ele o entretinha quando não havia nada para fazer.

Além disso, Remus podia segurar o gato com um braço — ou uma mão — só, de tão pequeno que ele era. Essa era a outra razão para que Remus gostasse tanto do gato; ele não repreendia o garoto por ser muito pequeno. Mas até Remus tinha que reconhecer que o gato crescera bastante desde que ele o o encontrara — perdido nos arredores da estrada, abandonado pela mãe num dia chuvoso. Isso mesmo, abandonado — que espécie de mãe abandonava o próprio filho debaixo de uma moitinha de samambaia, quando o céu estava prestes a desabar de tanta chuva? Só uma desnaturada, isso sim. Remus nunca perdoaria a sua mãe se ela tivesse feito isso. Mas talvez a mãe do Scooffy não quisesse ter largado ele lá — talvez algo tenha acontecido a ela. Remus não sabia, mas achava tudo isso muito curioso (um mistério!). Talvez ele devesse investigar isso. Talvez ele devesse pregar cartazes por toda a Cliffe dizendo — "GATO PERDIDO ENCONTRADO! pêlo bege-acinzentado, olhos azuis arregalados, modo de andar arqueado"... quem sabe alguém soubesse de algo. E sim, seria uma aventura fazer Scooffy reencontrar sua mãezinha, um mistério com final feliz!

Mas é claro que ele deveria deixar isso para depois. Remus tinha suas prioridades, como qualquer criança pequena sensata e, no momento, a sua era ir lá em cima chamar o pai. O que não era de todo mau, pensou o garotinho ao entreabrir a porta do ateliê do pai. Remus adorava entrar lá; o ambiente nunca era o mesmo. Às vezes suave, às vezes sombrio, outras vezes festivo, e sempre mudando. Você nunca sabe o que vai encontrar no ateliê de um pintor!

Remus gostaria de ter um ateliê quando crescesse. Ia ser que nem o do pai, só que maior e mais elegante. Todos gostariam de entrar lá, e todos pediriam que Remus pintasse os seus retratos. Depois de pintar bastantes retratos e ficar muito rico, Remus viajaria, e conheceria o mundo todo, teria um porção de amigos e nunca mais trabalharia no resto de sua vida. Claro que pra início de conversa ele teria que aprender a desenhar igual ao pai, o que era muito difícil e complicado, e dava preguiça só de pensar. Remus era uma criança organizada e sensata, mas preguiçosa, o que acabava dando numa combinação de "eu-posso-fazer-mas-não-quero". Isso causa bastantes problemas, principalmente quando você tem seis anos e responsabilidades demais— para citar algumas, aprender a ler e escrever, a fazer contas, a tocar piano, a falar francês, ir à Igreja, ajudar nos deveres da casa, cuidar do Scooffy e, obviamente, brincar. Além de tudo isso, às vezes Remus gostava de tentar aprender a pintar com as tintas do pai. Era difícil, complicado e exigia uma combinação extremamente complexa de habilidade e desenvoltura (ou pelo menos era isso que o Sr. Lupin dizia).

Às vezes Remus gostava de ficar olhando o pai pintar, espiando sem dizer nada. Era o que ele estava fazendo agora, e se fosse por Remus, ele podia passar horas e horas assim (o Sr. Lupin, quando pintava, nem parecia o Sr. Lupin, parecia um homem de outro mundo que via alguma coisa que ninguém mais podia ver; Remus queria ver o que ele via, e por isso ele queria ser pintor também). Mas se ele demorasse muito, a Sra. Lupin ia ficar impaciente e provavelmente ia obrigá-lo a enrolar o novelo de lã só de raiva, então era melhor Remus se apressar. Ele abriu a porta de todo e tomou todo o fôlego que podia:

— ... PAAAAAAAAAA-AAAAAAI!

O Sr. Lupin estava de costas para a porta, de modo que só articulou um mero "hm" pra mostrar que estava ouvindo.

— A mamãe, ela perguntou... ah, se você quer almoçar agora!

— Hmm. Não sei, Remus, o que você acha?, disse o Sr. Lupin, sem parar de rabiscar alguma coisa num papel.

Remus deu de ombros.

— Sei lá, termina o que você tá fazendo e depois vem, oras!, e revirou os olhos. Às vezes, os pais podiam ser bastante estúpidos. Ou gostavam de fingir que eram.

— Boa idéia, Remus, — e se virou para o filho, rindo. — Vem aqui, vem ver o esboço que eu estou fazendo.

O garotinho largou Scooffy em uma poltrona e se aproximou da escrivaninha do pai, com os olhos grudados no papel esboçado.

— Que curioso, pai! É uma mulher! Quem é?

— É a filha do Duque Wescott, Remus. Ela que vai se casar no próximo mês; o Duque quer que eu faça seu retrato para recordação.

De repente, Remus percebeu que conhecia a mulher; ele a vira uma vez, subindo as escadas e entrando no ateliê. Ele estranhara de início, mas se esqueceu de perguntar à mãe quem era. Agora ele entendia porque ela estava lá; precisava posar para o retrato, já que no próximo mês era o casamento que todo mundo comentava ("o maior casamento que Cliffe já viu", diziam os mais entusiasmados). Mas o que ele não entendia é por que a mulher que ia se casar não tinha aparecido por lá nas últimas semanas; Remus a vira no mínimo um mês atrás. O pai de Remus demorava meses e meses pra pintar um quadro bom, e ela devia saber disso. Por que, então, não viera mais cedo para posar? Pensando nisso, Remus repentinamente notou algo no canto do desenho que atiçou sua curiosidade.

— Pai, o que é isso aqui? — o garoto apontou para um esquema ainda sem forma aos pés da mulher.

— ...É um lobo. Quer dizer, ainda vai ser, eu ainda nem comecei. Mas parece que é o símbolo da família do noivo ou algo do tipo.

Remus soltou uma exclamação de compreensão e depois olhou pro pai, com uma seriedade amedrontada. Não gostava de lobos. Nem de cachorros, nem de gatos, nem de feras em geral. Tirando o Scooffy, que era um boboca e não seria capaz de machucar nem um ratinho.

— Ah... Termina isso depois, paiê. Vem, vamos almoçar agora.

O pai sorriu e deu de ombros. Aliviado, o filho o puxou escada abaixo, com o gato em seu encalço.

— MÃÃÃÃÃE, o papai já está aqui, vamos almoçar agora? — Remus gritou.

— Sim, querido, num instante. E pare de gritar — seria mais rápido se vocês dois me ajudassem, sabe.

Remus largou a mão do pai e disparou em direção à cozinha, alegre. Ajudar na cozinha era sempre divertido, e bem, se você conseguisse irritar sua mãe no processo, melhor ainda, porque aí você não precisava fazer absolutamente nada!

— Aaah, oooh! Me dê todos os pratos, mãe, eu vou fazer uma pilha gigante! — ele riu, já começando a empilhar dois pratos. Sua mãe, alarmada, tirou o prato da mão de Remus.

— Pensando bem, querido, por que você não vai brincar lá fora enquanto eu preparo o almoço?

Remus concordou de imediato e correu animadamente até a rua, arrastando seu gatinho de estimação com ele. Lá fora, na estrada, havia um movimento incomum. O pequeno vilarejo nos arredores de Londres estava excitado com a aproximação do Dia de Guy Fawkes, um feriado tradicional britânico. Todos iam em busca de gravetos e fogos de artifício, enquanto uma grande fogueira ia sendo montada perto dos arredores. As damas observavam os passantes e davam risinhos entre si. Dois garotos, um tanto maiores que Remus, passavam em frente à casa de Remus arrastando o que pareciam dois enormes bonecos deformados.

— Olá, Remus! — eles saudaram alegremente.

— Oi, Johnny! Oi, Tommy! — Remus sorriu com todos os dentes, notando os objetos disformes que os amigos arrastavam — Que curioso!

— O que raios tem de curioso nisso? Onde está o seu Guy, Remus? — Tommy perguntou interessado, encarando os braços do outro garoto, que só seguravam o gatinho.

Remus arregalou os olhos, confuso.

— Guy?

— Remus, você sabe que o Dia de Guy Fawkes é amanhã, né?

— Ahhh. É?

— Você se esqueceu do Dia de Guy Fawkes? — Tommy exclamou, incrédulo. — Meu Deus, que panaca.

— Ah, pega leve com ele, Tommy. Ele é pequeno. — mediou Johnny, puxando o amigo com uma mão. Mas, por melhores que fossem as intenções de Johnny, o comentário só serviu para irritar o garoto menor.

— EU NÃO SOU PEQUENO! — ele gritou, fazendo que o gatinho que ainda estava em seus braços miasse alarmado.

— Ah, imagina. Você é o cara mais grande que eu já conheci. — troçou Tommy, revirando os olhos.

— Pra sua informação — Remus adorava frases iniciadas com "pra sua informação". Elas geralmente eram seguidas de correções, e correções aborreciam qualquer um. — pelo menos eu não fico falando "mais grande, mais grande" por aí.

E realmente, isso deixou Tommy um tanto aborrecido.

— Pra a sua informação — ele exclamou, erguendo o punho — você só tem seis anos, então devia aprender a ficar quieto nas horas certas.

Remus olhou feio para Tommy, e depois falou:

— Me bate, eu conto pra Sra. Moore. Johnny, você tá vendo, ele quer me bater e eu nem fiz nada.

— Fica quieto, pirralho. — Tommy disse, emburrado.

— Fico nada.

— Fica sim! — dizendo isso, Tommy largou o seu boneco e empurrou Remus. O gato Scooffy deu um miado baixo e pulou dos braços do dono. Caído no chão, Remus começou a chorar numa voz tão alta que todo o vilarejo seria capaz de ouvir. De fato, alguns dos passantes já encaravam os três garotos com indiscrição. Tommy olhou preocupado para a janela da casa de Remus, tentando ver se a Sra. Lupin ouvira a choradeira. Johnny arregalou os olhos e tentou acalmar o garotinho, gritando numa voz que tentava se sobressair ao choro descontrolado do garotinho.

— Calma, Remus! Pára de chorar! Pára! — mas isso só fez Remus chorar mais alto ainda. — Remus! OLHA, SE VOCÊ PARAR DE CHORAR, EU E O TOMMY TE AJUDAMOS A FAZER SEU GUY!

O choro de Remus parou abruptamente. Secando as lágrimas com as mãos, ele perguntou, numa voz chorosa:

Mesmo?

Johnny olhou pra Tommy, que fechou a cara e deu de ombros.

— Aah. Tá bom! — Remus disse, repentinamente animado. — Eu vou perguntar pra minha mãe e se ela deixar aí eu vou na casa do Tommy e vocês me ajudam!

Os dois amigos concordaram com a cabeça. Tommy se abaixou para pegar o seu boneco caído no chão, que Scooffy olhava com curiosidade. Arrastando os bonecos consigo, os dois se despediram, e pegaram novamente o caminho da estrada. Remus ficou sentado no chão por um bom tempo, brincando de fazer fortes de lama, e pensando sonhadoramente no Dia de Guy Fawkes. Ele se lembrava do ano passado; recordava-se da grande fogueira, e dos fogos de artifício subindo, chiando e explodindo, em mil pedacinhos que pareciam estrelas, caindo e dançando pelo céu. Remus também lembrava da comida, principalmente das batatas, assadas e recheadas. Talvez esse ano ele pudesse levar Scooffy consigo, e o gatinho pudesse experimentar um pouco das batatas. Mas será que ele gostava de batatas? Remus não tinha certeza.

Ele estava prestes a perguntar ao gato o que ele achava das batatas, quando ouviu sua mãe o chamando. Levantando-se rapidamente, ele limpou as mãos sujas de lama nas calças e correu para a cozinha, todo alegre. A Sra. Lupin, ao ver a roupa do filho totalmente encardida, exclamou:

REMUS! Deus do céu, você está imundo! Venha aqui se limpar, AGORA!

O garotinho riu e parou em frente à mãe, que agitava a varinha murmurando "Limpidus". O pai estava lendo o jornal vespertino à mesa da cozinha, e soltou uma risadinha marota, balançando a cabeça. A Sra. Lupin, que ainda mostrava sinais de irritação, mandou o pai de Remus "guardar aquele jornal" e começou a servir a comida. Remus elogiou a comida da mãe, só por precaução.

Passados alguns minutos de silêncio, o garotinho olhou cautelosamente pra mãe e disse:

— Mãe, amanhã é o Dia do Guy Fawkes.

— Sim, eu sei. — a Sra. Lupin respondeu, e Remus tomou isso como um sinal para que continuasse.

— ... Posso ir? — e sem esperar a resposta da mãe, emendou — A propósito, se eu for, eu vou precisar de um boneco, aí o Johnny e o Tommy disseram que me ajudavam, e eu disse que eu ia perguntar pra você, e aí se você deixasse eu tava pensando em levar o Scooffy junto só pra ele ver se ele quer ir depois de amanhã ver a fogueira e comer as batatas! — parou para respirar e olhou cheio de esperança para a mãe.

— Ah. Bom... — ela respondeu, insegura, e depois olhou para o Sr. Lupin.

O Sr. Lupin suspirou e, coçando levemente a cabeça, disse:

— Deixe o garoto ir, Nicole. Ele já tem seis anos.

— Mas, John...

— Ele sabe se virar do que muitos garotos de dez anos por aí. — o Sr. Lupin falou, sério. — Nós não queremos que ele se torne o tipo de garoto que depende de nós para sempre... — e depois sorriu, amenizando o clima. — Não passa de meio-dia ainda, Nicole. Não vai acontecer nada.

Remus olhou da mãe para o pai, balançando os pés.

— Do que vocês tão falando, hein? Eu quero iiiiiiir. Mãe, mãe, mãããe, por favoooor!

— Está certo, está certo. Você pode ir. — a Sra. Lupin respondeu, sem convicção.

— EEEEEEEEEEEEEBA! — ele comemorou, risonho.

— Mas você terá que fazer todos os seus deveres antes.

— Tá bom!

— E suas tarefas também.

— Tá!

— E vá agasalhado. E hoje, volte antes do escurecer. É sério, Remus. Não importa o que o seu pai diga, você ainda tem seis anos.

Remus fez um muxoxo de indiferença e terminou o seu prato. Os pais não sabiam, mas ele sabia do que estavam falando. Morte. Tinha havido uma morte no vilarejo, não mais de um mês atrás. Além de estar sob circunstâncias misteriosas, ainda por cima não era a primeira. Muito menos a última, segundo as conversas que Remus ouvia dispersas entre comadres velhas e entre companheiros no pub. Um enigma macabro pairava acima do vilarejo. Remus gostaria de desvendá-lo algum dia, e então talvez as pessoas parassem de dizer que ele era pequeno demais para isso, pequeno demais para aquilo. Talvez até o consagrassem herói, e parassem de ter a impressão errônea que seu tamanho importava em algo.

Porque era óbvio que não importava. E Remus ia provar, de qualquer forma. Um dia, talvez. Mas antes de tudo ele deveria terminar as suas tarefas, e depois estudar sua cartilha, e então finalmente ir até a casa do Tommy para preparar seu Guy. Remus gostaria de ir na floresta para catar folhas e pra depois encher tudo em um saco de batata e modelar, apertando tudo numas roupas velhas do pai. Talvez, se ele pedisse com jeito, sua mãe costuraria as bordas, então ficaria bem mais fácil. Ou ele poderia simplesmente preencher tudo com jornais velhos, mas Remus duvidava que alguém desse um penny sequer para um boneco desses. Remus pelo menos não daria, nem que ele tivesse o dinheiro.

Decidindo deixar o planejamento do seu Guy para depois, Remus saiu da mesa de jantar e rumou em direção à sala de estar. Seu pai estava sentado no sofá lendo um livro, e sua mãe ouvia o rádio. Prestando bem atenção, ele percebeu que do rádio ressoava uma alegre música francesa. Bem, ele pensou, já estamos no clima... e abriu sua cartilha de francês.

Dependendo do dia, estudar francês pode ser uma coisa muito legal ou muito chata. No momento, estava sendo algo simplesmente maçante. Quer dizer, Remus Lupin não era do tipo de garoto que adiava as coisas até que o tempo apertasse e ele tivesse que deixar de brincar para estudar, mas ele tinha que admitir que havia mil formas melhores de gastar o tempo do que ficar sentado numa sala pequena, ouvindo uma música irritantemente alegre e folheando um livro estúpido sobre um gato chamado Pierre. Primeiro porque Pierre é um nome mais comum do que o primeiro nome do Sr. Lupin (vulgo John). Segundo que ninguém no mundo inteiro deveria ser tão estúpido a ponto de chamar um gato de Pierre. E terceiro porque aquele Pierre mais parecia um gambá atropelado do que um gato francês. Remus deu uma olhada rápida para o Scooffy, como que aprovando a sua aparência, e depois voltou para a sua cartilha de francês. Hoje ele estava na página 4, e o Gato Pierre ensinava a todos como contar em francês.

Zero.. um... deux... trois. Quatre, cinq, six. Sept, huit, neuf, dix. Onze, douze, treize, quatorze, quinze, seize, dix-sept, dix-huit, dix-neuf, vingt.

Ufa.

Contar em inglês não era tão fácil assim. Mas imagine em francês. Remus sempre se embolava no "tuáh-catrre" que era o três-quatro. E o cinq, então. Como é que ele iria decorar esse número? O un-deux-trois-quatre até que lembravam os números em inglês. Mas o cinq... Remus já havia tentado de tudo, mas sempre dava branco na hora de pronunciar o número-após-o-quatro. E olha que esse nem era o mais difícil. O problema é que ele tinha uma espécie de karma com esse número (ou pelo menos era isso que o Sr. Lupin comentava). Tudo que acontecia de errado envolvia o número-após-o-quatro, desde o dia da semana em que Remus tinha aulas de piano até o número de vezes que o Scooffy quase fora atropelado. Também, um gato esquisito desses, Remus pensou. Nunca olhava por onde andava. Remus sempre olhava, olhava duas vezes, porque ele era um garoto sensato.

E porque ele era um garoto sensato ele estava lá, com a cabeça enfurnada no livro de francês, tentando decorar os números que vinham depois do cinq. E o pior era que depois ele tinha que ir praticar o piano. Pensando bem, era melhor ir agora. Porque piano podia ser mais difícil, mas quem dava as aulas era a sua mãe. E qualquer coisa tinha que ser melhor do que francês. En fait, pensou Remus, e virou a cabeça para a Sra. Lupin.

— Mãe, desliga o rádio e vem estudar piano comigo?

— Aaah, que milagre é esse, você querendo estudar piano?

— Eu gostei da música que a gente tá tocando. — o garotinho deu de ombros, emburrado. Se era assim que ele era tratado quando queria estudar piano, como a mãe queria que ele fizesse isso freqüentemente?

— Pena que nós não estamos tocando nenhuma música no momento! — riu a mãe, dirigindo-se graciosamente para a cadeira de piano. Remus a seguiu, praticamente escalando o banco. Ela abriu uma partitura e colocou na frente do garoto.

— Agora preste atenção — a Sra. Lupin prosseguiu — o que nós estamos tocando não são músicas, e sim estudos.

— Pra mim dá na mesma. — ele respondeu, ainda mal-humorado.

— Não dá, Remus. Estudos são um tipo de preparação, uma melodia repetitiva para treinar os dedos. Eles facilitam na hora de tocar uma música com dedilhado difícil.

— ... O que é 'repetitiva'?

— Uma coisa sempre igual.

— Hmm. Por isso que isso é tão chato. Ahhhh, mãe, eu não agüento tocar a mesma coisa mil vezes de novo, por favor, a gente pode tocar alguma coisa nova? POR FAVOR?!

— Nós podemos, mas você tem que continuar praticando os estudos.

— Aaaah, mããããe! Eu já sei tocar a nota , olha — e ele começou a pressionar o dedão repetitivamente contra a tecla branca — ...viu? Eu não preciso praticar mais!

— Você acha que não precisa, Remus. Então tá, toque um acorde de para mim.

— O que é um 'acorde de dó'?

— É quando você aperta as notas dó-mi-sol ao mesmo tempo.

Remus tentou, tentou de verdade, mas ou ele apertava todas as teclas ou não conseguia apertar nenhuma.

— Não dá pra fazer isso, mãe.

E então a Sra. Lupin pressionou as três notas com facilidade profissional (e uma sonoridade estrondosa).

— QUE GOLPE BAIXO, MÃE! A senhora é muito mais velha que eu!

— Claro que sou. Agora pare de reclamar e pratique, Remus.

Praticar, praticar. Do jeito que as coisas andavam, parecia que ele ia ter que praticar até o piano quebrar, ou até os seus dedos congelarem. Porque estava realmente frio na sala (será que o inverno tinha chegado mais cedo?). E a desvantagem de ter dedos pequenos é que eles esfriavam mais rápido, ou pelo menos era assim que Remus pensava.

Ok, na verdade o que acontece é que ele pensa demais. Pensa muito para um garoto de apenas seis anos. E isso não é uma coisa necessariamente boa, porque geralmente ele demora tempo demais pensando e acaba tomando a decisão errada. O Sr. Lupin sempre fala para ele não vacilar e fazer escolhas com firmeza. A Sra. Lupin sempre fala para ele seguir seu coração e esperar que tudo dê certo. Mas não importa, Remus prefere pensar e ponderar e pesar opções e tomar conclusões por si mesmo. E o pior, quando você passa tempo demais pensando, você passa tempo demais imaginando. E quando você faz isso, você geralmente não presta mais atenção em nada, então corre o risco de errar uma nota musical a cada dez segundos, e aí você acaba levando uma baita bronca, quando suas intenções nem eram ruins. É uma sensação horrível, ser repreendido por uma coisa que você não teve a intenção de fazer. Como é que ele ia parar de pensar, por acaso? Ele simplesmente não conseguia se concentrar nas coisas, ele tinha que ficar imaginando e vivendo no mundo da Lua.

Às vezes isso é bom, porque faz o tempo passar mais rápido. E aí ele não precisa sofrer tanto com coisas chatas, por exemplo a aula de piano. E foi isso mesmo que aconteceu; de tanto Remus desligar o seu cérebro e pensar em coisas distantes, a aula de piano passou num pulo. Num pulo bem alto, é verdade, mas nem pareceu uma hora! E de repente Remus estava livre, livre para correr por aí, livre para brincar com o mundo, livre para ser livre!

E a primeira coisa que Remus fez foi sair correndo pela porta da frente, deixando a mesma escancarada, e saltitar alegremente até a casa do Tommy.

Aquele dia prometia!

ִ

ִ

-- TBC.


NOTAS FINAIS (... que eu duvido que você vá ler :)

1. sobre a fanfic; o tom da fanfic é bem bobo, mas prometo tentar gradativamente aprofundar as situações. é que quando o amuado Prof. Lupin fala, "eu era um garoto muito pequeno quando fui mordido", eu não consegui decidir: o quão pequeno? três anos? quatro? seis? bom, ninguém quer ler a história de um bebê, eu acho, então resolvi adotar uma idade onde você é simplesmente... uma criança. Remus não é mais um bebê, mas também não é um adolescente, apesar de pensar que pode praticamente tudo. então pra contrabalancear a personalidade dele, eu resolvi adotar esse jeito coloquial de escrever. não me matem, não me matem!

2. sobre o cliffe; ok, esse primeiro capítulo ficou meio grande e enrolado, não era pra ser assim. mas quem teve paciência de ler tudo não se arrependeu (right?). uma coisa sobre Cliffe: é um vilarejo de verdade, no interior da Inglaterra. Acho que o nome oficial é "Cliffe-at-Hoo" ou algo bobo do tipo, não sei direito. fica na península de Kent, pertinho de London. se quiserem mais informações, é só googlar. só achei que vocês deviam saber que eu não inventei a cidade... :D

3. sobre o Remus; eu não gosto muito quando as pessoas mostram o Remus como um garoto tímido e frágil, pelo menos na infância. então pra mim, ele é aquela criança agitada que acha graça em tudo (mas mesmo assim com uma maturidade prematura). por acaso, ele tem umas manias bobas, tipo ficar achando tudo "curioooso". meu irmão fazia isso quando ele tinha 5 anos (agora ele tem 8 e ri quando eu comento que ele fazia isso). em relação às atividades extra-curriculares do Remus: ele aprende francês porque a Sra. Lupin é francesa (mas isso é outra história). quanto ao piano, não é que ele não goste, mas é irritante estudar piano. eu comecei a tocar mais ou menos aos 6 anos também; "Estudos" eram a coisa mais abominável de todas. é super frustrante ficar tocando a mesma coisa até conseguir, ainda mais se você realmente quer tocar aquelas músicas lindas de Bach ou Debussy que os outros tocam. mas eventualmente a gente supera.

4. sobre os nomes na fic; eu decidi manter o original de JK Rowling, ainda porque a maioria das fics hoje em dia são desse jeito. mesmo assim, pode soar meio estranho. shrugs sabe, eu comecei a gostar de 'Remo'. é simples e bonito! além de ser o original italiano. vocês já tentaram falar "Remus" com uma pronúncia britânica várias vezes? soa como um sapo velho engasgado, lol.
outros nomes, tipo John, Nicole, Tommy, Johnny e tal, pode parecer estranho. eu morro de medo que vocês confundam quem é Johnny e quem é Tommy na história! mas assim: o Thomas "Tommy" Moore é um garotinho rico e um pouco mimado. já o John "Johnny" Duncan é o vizinho do Remus. com isso acho que dá pra se localizar. esperem o próximo capítulo, as coisas ficam mais fáceis.

5. sobre o Dia de Guy Fawkes; é um feriado tradicional britânico, e eu fico surpresa que tanta gente nunca tenha ouvido falar dele. comemorado no dia 5 de novembro, à razão da morte de Guy Fawkes, também conhecido como Guido... ahn. complicado? bom, é o seguinte: Guido e seu grupo de conspiradores estavam realmente chateados com a posição do Rei James I (séc XVII) em relação ao catolicismo. cansados de esperar, eles resolveram que uma investida violenta era a melhor solução. de fato, estava marcado para o dia 5 de novembro um atentado para explodir o Parlamento, botando 36 barris de pólvora em seus aposentos subterrâneos. entretanto, uma carta escrita por um dos conspiradores foi apreendida, e o atentado, desmascarado. Guido e seus companheiros foram torturados e executados. a partir daí, todo dia 5 de novembro os ingleses soltam fogos e queimam efígies (bonecos realmente grandes) do Guy/Guido na fogueira; esse dia é conhecido como Dia de Guy Fawkes ou Bonfire's Night. mais detalhes em breve :D

6. sobre reviews; tipo, ajudaria muito você dando a sua opinião em relação à história, muito MEEESMO! e claro, feedback não é só elogio. eu sei que ás vezes a gente lê uma fic tão horrível que nem dá vontade de avaliar. mas, se tiver ruim, justifica pra mim... se tiver bom, me fala do que você gostou... é fácil, ou você clica em 'Submit Review' aí ou manda um e-mail: hollymoon (at) gmail (dot) com ... em ambos os casos, deixa seu e-mail para contato, aí eu prometo responder sua avaliação legal. c'mon, eu tô implorando aqui. please please pretty pleeeease?!

5. extras; porque eu tenho tempo livre. demais.
foto do remus (créditos: gettyimages e photoshop): (w w w ponto) img.photobucket. com/albums/v290/hollymoon/remusphoto.gif
tirem os espaços, tááá? na verdade é só um, antes do 'com'.


e... é isso. lol, eu não consigo me segurar e acabei de falar um monte de coisa que ninguém queria ouvir,
essas notas praticamente viraram um
making-of da fanfic. oh, well! quem sabe se a fanfic fizer sucesso,
eu lanço uma versão estendida e uma edição de colecionador... :P então até o próximo capítulo.