N/A: Olá pessoal! Sejam bem vindos a minha primeira fic publicada! Centrada em Rada e Val mas vamos ver se dá de descrever um pouco mais todos os espectros.
Misguided Ghosts é uma musica da banda Paramore, foi escolhida pela letra/título, que se encaixou bem na minha visão dos espectros, e não pela melodia, que não combina em nada com o clima da fic.
Sejam bonzinhos e critiquem! Comentários fazem autores felizes! =D
Misguided Ghosts
I'm going away for a while
But I'll be back, don't try to follow me
'Cause I'll return as soon as possible
See I'm trying to find my place
But it might not be here where I feel safe
Eu estou indo embora por enquanto
Mas eu vou voltar, não tente me seguir
Por que eu vou retornar assim que possível
Veja, eu estou tentando achar meu lugar
Mas talvez não seja aqui que eu me sinto segura
Cidade de Larnaca (Chipre), 07 de fevereiro de 2002.
A boate era uma das mais famosas de Larnaca, já fora noticiada várias vezes como point para celebridades em férias. A entrada era minimalista, escura com letras prateadas, os manobristas garantiam a livre entrada e saída de pessoas com tranqüilidade, aquele tipo de lugar não possui uma fila de entrada, ou seu nome está na lista ou você é convidado a freqüentar uma das tantas outras boates da cidade. Ao adentrar pela pequena porta escura de aço escovado, abria-se uma grande pista de dança com o bar de estilo antigo em U contornando parte daquela perdição de música e corpos, ao fundo sofás espaçosos se posicionavam estrategicamente em pontos pouco iluminados. Já o piso possuía pequenos pontos brilhantes refletindo as várias luzes coloridas que o impediam de ser observado em sua totalidade. O que mais gostava era aquela exposição anônima maravilhosa que só uma boate badalada podia oferecer.
Estava fora de casa faziam 3 dias, não dera um sinal. Sua tia sempre dizia "Esse menino parece uma tempestade, não tem como passar sem fazer estrago! É uma vergonha!",Valentine não sentia raiva dela, ela era apenas a única com coragem para externar aqueles sentimentos que todos em casa guardavam para si. Apesar da aparência tranqüila, com olhos verdes tranqüilos e cabelos ruivos compridos na altura dos ombros, Valentine era uma força da natureza, não poderia ser impedido de fazer nada que quisesse.
Tinha uma vida perfeita é verdade, uma família grande, amorosa e rica, nos moldes gregos, mas de alguma forma seu coração era infeliz, insatisfeito. Como se soubesse que existia algo mais para si no mundo do que aquela vida mais ou menos que seus primos se acostumaram. Mais que casar, ter zilhões de filhos e reunir a família para o almoço de sábado. Sabia que esse algo mais existia e o estava procurando. Era uma angustia que não podia explicar, como uma voz o chamando para algum lugar. E todo o seu corpo clamava por aquela voz, parecia até que não pertencia aquele mundo, àquela família. Ao mesmo tempo havia a frustração, Valentine não se considerava um apático, mas não havia nada a se fazer além de esperar que um dia a vida mudasse.
A família já até buscara auxilio médico. Passou de psicólogos, a terapeutas e até psiquiatras. Acharam que estava tendo traços depressivos. Tentara explicar que o que sentia passava longe de depressão. O deprimido se sente incapaz de mudar sua condição por mais que queira, Valentine não. Ansiava tão fortemente por combater esses sentimentos que só restava a ele fugir para um buraco qualquer, até que seu coração se aquietasse e ele pudesse voltar para casa. Logicamente sua família se preocupava, mas o recebia de braços abertos, quase como se nada tivesse acontecido, afinal, é isso que as famílias grandes e amorosas fazem. Isso o deixava mais irado, ele estava sendo um babaca, um egoísta, queria que sua família gritasse, o expulsassem de casa.
Assim, lá estava ele em uma boate gigantesca de Larnaca, não possuía dinheiro algum consigo, mas o dono era um velho conhecido seu, que achava vantajoso que homens bonitos como ele freqüentassem aquele espaço para atrair turistas.
Homens e mulheres se aproximavam tentando colar seus corpos ao dele. Sabia que sua aparência é exótica, principalmente entre os cipriotas, e não achava errado se aproveitar disso. Parou de dançar, caminhou até o bar e esperou que alguém lhe pagasse uma bebida.
Um homem loiro rapidamente se aproximou, empurrando um copo de uísque nas suas mãos. O sotaque acusava: inglês.
- Alguém como você só pode estar esperando um belo homem com um belo copo de uísque.
-E onde estará o belo homem? – Valentine falou desinteressado. Estava acostumado com essas abordagens tanto de homens como mulheres. Ele simplesmente nunca havia se interessado, aquela vez não foi diferente.
Observou de cima a baixo. Os dois tinham quase a mesma altura, os olhos eram indecifráveis com as luzes coloridas da boate. Bebeu o uísque sentindo-o descer amargo, queimando a garganta, apoiou o copo na mesa e sustentou o olhar ao do loiro que sorria levemente.
-Acho que além da bebida você precisa de óculos. - O sorriso do estranho aumentou, sentou na banqueta ao lado de Valentine e se curvou no balcão de madeira. Pediu ao barman Gim e tônica. O corpo do estranho estava perigosamente próximo demais, investidas assim irritavam o jovem ruivo.
Valentine terminou seu copo e o estranho o ofereceu mais um, tentou conversar sobre amenidades. Recusou o mais educadamente que o seu nível de álcool permitia, sentia a cabeça latejar, afinal estava há muito tempo sem comer. Talvez estivesse na hora de voltar para casa.
Saiu da boate com o olhar perdido. Um manobrista rapidamente se aproximou dele e Valentine o dispensou com um aceno. Andou pela rua movimentada, com seus museus famosos, as igrejas ortodoxas e os pequenos jardins.
Após alguns minutos de caminhada entre as ruas e atingiu a orla. O vento e a maresia balançavam seus cabelos, as praias do mediterrâneo faziam bem a qualquer um. Eram capazes de curar qualquer alma atormentada. Fechou os olhos e inspirou profundamente, sentia na sua alma que algo estava mudando, uma nova ordem estava surgindo. Mal acabara de pensar isso e uma lufada mais forte de vento o atingiu, como a onda de choque de uma explosão, olhou ao redor assustado, mas não havia nenhum sinal de alteração.
Ao fitar o horizonte nada podia ver a não ser a luz do farol a distancia. Seu coração estava estranhamente muito acelerado, as pernas estavam tremendo. Pousou a mão sobre o peito tentando acalmar seu espírito. Ao fitar as próprias mãos teve a leve impressão que elas estavam com um brilho arroxeado. Apoiou-se num poste de luz com a mão ainda sobre o peito, algumas pessoas pararam e perguntaram se estava tudo bem, ele não foi capaz de responder, apenas voltou a andar.
Refez seu caminho pelas ruelas até um bairro mal encarado. A rua era de tijolinho antigo e possuía esparsos focos de luz, aquele era um bairro mais humilde da cidade. Os apartamentos daquela região eram iguais ao que procurava, apertados, com janelas pequenas e com grades, eram quase uma gaiola. Virou mais uma esquina e encontrou a construção abandonada. Deu a volta no prédio entrando num beco sujo, apoiou-se na lata de lixo ficando em pé para alcançar a escada de incêndio e com um puxão a desceu. Observou ao redor se o ruído enferrujado não havia atraído a atenção.
Subiu até o segundo andar. Com um puxão a escada estava de volta no lugar, não podia deixar rastro. Abriu a portinha gradeada que dava para o cômodo que estava habitando nos últimos três dias. Seus sinais ali eram visíveis, as garrafas de cerveja barata e o pão velho estavam em um canto escuro, fora nisso que gastara seu ultimo dinheiro. Sabia que se usasse o cartão para fazer compras sua família o rastrearia. Nas outras noites seu passatempo fora beber e brincar de atirar as tampinhas pela janela na noite de Larnaca.
Sentou-se no canto empoeirado, pegou a última cerveja e o último pão amanhecido. Obrigava-se a comer nesses dias, não sentia fome. Podia ouvir ao longe uma baladinha de Anna Vissi tocando. Somente quando parava assim é que deixava sentir algum remorso das fugas. Pelo que se lembrava de sua infância sempre fora uma criança pacata, não conseguia entender porque ultimamente sentia aquela explosão de sentimentos. Agindo como um marginal sem lar, se escondendo de sua família como se fosse um toxicômano. Suspirou, novo gole de cerveja, suas pálpebras estavam pesadas.
Talvez dormisse ali mais uma noite.
We all learn to make mistakes and run
From them, from them
With no direction
We'll run from them, from them
With no conviction
Todos nós aprendemos a errar e correr
Deles, deles
Sem direção
Correr deles, deles
Sem convicção
Acordou assustado, o céu ainda estava escuro. Seria ainda dia 07? Ou já seria dia 08? Tinha ouvido barulhos, parecia que alguém tinha forçado a porta lá embaixo na rua. Valentine ultimamente estava tendo um ótimo sexto sentido e ele o dizia agora para sair dali. Juntou as garrafas de cerveja na sacola de pão, prendeu tudo com um nó apertado. Tinha medo de ser a polícia e coletarem suas digitais. Já era um desgosto familiar grande o suficiente sem ficha na polícia.
Um estrondo maior foi ouvido. Valentine sabia, sua intuição não falhava, eles arrombaram a entrada do térreo e estavam subindo pelas escadas. Foi até a sacada da escada de incêndio, fez força para que ela descesse, estava emperrada. A porta do quarto em que ele estava sacudiu, ele sabia que teria que pular dali. Pulou. Aterrissou em pé, mas os joelhos fraquejaram. Com a mão ao chão se apoiou para evitar a queda do tronco e sentiu uma fina dor na palma da mão. Tentou se recompor rápido. Ouviu a porta do quarto que estivera ser arrombada com violência. Jogou a sacola que carregava no contêiner de lixo ao lado e correu como nunca havia corrido antes. Seu coração estava disparado, tudo passava a sua frente como um borrão enquanto ele corria. Adentrou num beco e se encostou a parede de outra construção. Observou a palma dolorida e pode identificar o brilhinho da tampinha de garrafa cravada na sua mão. Arrancou o objeto e deu uma boa olhada no circulo perfeito que ele havia feito, sangrava um pouco, Valentine praguejou. Ninguém nunca aparecera lá! O que diabos foi aquilo?
Ouviu um barulho no fundo do beco. Pensou que só podia estar ficando louco. Uma pequena luz roxa estava lá, no fundo do beco. Apertou os olhos, mas era difícil de enxergar. Tinha certeza que avistara algo se mover na escuridão, pareciam... tentáculos?
Valentine não conseguia se mover, suas pernas pareciam geléia, seu coração novamente estava acelerado. Os tentáculos se moviam delicadamente e possuíam um brilho arroxeado sombrio, se a morte fosse uma cor provavelmente seria aquela. Deu alguns passos para o lado, sem se desencostar da parede, assim que houvesse uma brecha voltaria a correr. Aquilo estava esperando para atacá-lo, brincando com ele. Um tentáculo veio fortemente em sua direção, fincando-se na parede do seu lado esquerdo. Não se moveu, mais um pouco e poderia fugir. Foi surpreendido por uma voz na entrada do beco.
-Nós o queremos vivos Raimi, acabemos logo com isso!- Era um homem alto, de cabelos prateado curtos e espetados, também usava uma vestimenta com o mesmo brilho arroxeado de morte, mas não era uma vestimenta qualquer, parecia uma armadura, as ombreiras muito largas e afiadas, no lugar dos pés a armadura tomava a forma de garras de uma ave de rapina, o par de asas se moviam gerando uma corrente de ar escura.
-Eu sei, eu sei!- Valentine viu o serzinho Raimi sair da escuridão. Pequeno e recurvado, com muitos daqueles tentáculos se movendo perto de si.
Estava encurralado por aqueles dois estranhos. Sentiu o sangue correr mais rápido nas veias e o coração acelerar. Pulou quando um dos tentáculos de Raimi se moveu na sua direção, caiu desastradamente para o outro lado do beco. O chão no local que estava antes fora destruído.
-Não resista Harpia, venha conosco. – O homem de cabelos prateados falou.
-Sou Valentine, não Harpia! – Não sabia como sua voz havia saído, sua garganta estava seca.
-Ele não vai se lembrar Sylphid! O melhor era matá-lo e esperar que a Estrela do Clamor escolha outro corpo para habitar! De preferência um corpo que obedeça ao chamado de Hades-sama!
-Não foram essas as ordens do Kyoto! – O tom de Sylphid era baixo, mas mortal. Valentine pode ver o tal Raimi se encolher um pouco
Ainda no chão agarrou um punhado de areia suja com as mãos, sem que os dois homens o vissem. Levantou com dificuldade, suas juntas protestavam de todo o exercício feito antes e agora. Correu passando ao lado de Sylphid arremessando areia em seus olhos.
-Mas o que? – O espectro de Basilisco levou as mãos aos olhos. Mais pela surpresa do que pela eficácia da estratégia de Valentine estava sem ação. Raimi lançou uma última vez seus tentáculos, mas Valentine fora inesperadamente rápido. Ao ver que o perdera Raimi riu.
-Hehehe parece que a Harpia habita nele afinal! E Sylphid, para quem é a estrela da perspicácia você é bem torpe...
-Cale a boca e vá atrás dele pelo chão seu infeliz! –Sylphid limpou o rosto uma última vez e suas asas bateram fortemente levantando vôo.
Valentine estava longe, não havia diminuído o ritmo de corrida nem por um instante. Observando o seu redor parecia que voava, os dois homens estranhos haviam ficado para trás. Seria sua imaginação? O que era aquilo?
Aprofundou-se no bairro pequeno, correndo pelas vielas estreitas, era quase um labirinto, ora virava à direita e ora à esquerda, sabia que estava se aproximando da parte movimentada. Só mais um pouco! Já podia ver as luzes fortes da rua principal, mas o chão aos seus pés começou a tremer. Raimi se lançou do solo contra Valentine que o olhava incrédulo.
-Não...não pode ser!
-Chega de fugir Harpia! Você vai se machucar e Radamanthis-sama vai ME machucar! – Raimi então voltou a se esconder sob o solo para captura-lo de surpresa.
Valentine viu a rua principal a poucos metros de si. Estava tão perto! Respirou fundo e correu, sua última chance!
Raimi e Sylphid, que o observava de cima, gelaram até os ossos imaginando a fúria de Radamanthis. Valentine correra desesperadamente até a rua, numa última tentativa de fugir.
O ruído estridente da buzina foi a última coisa que ouviu antes de perder a consciência. Fora acertado em cheio pelo veículo, amassando o capô e rolando pela lateral do carro até o chão.
O motorista perdeu o controle do veículo, parou em cima da calçada e desceu do carro desesperado. Tinha certeza que havia acertado uma pessoa, o capô do carro denunciava. Qual não foi a sua surpresa ao olhar em volta e só distinguir no chão um pequeno túnel que destruíra parte do asfalto.
