Tristan entrou naquela casa desconhecida, colocando as suas malas perto do sofá e a guitarra em cima deste.

- O seu irmão ainda deve estar dormindo. – Anne começou, num tom atencioso. – Depois, quando ele acordar poderá levar as suas coisas para o quarto. Se o acordarmos agora ele fica rabugento pelo resto do dia.

Tristan riu. Bem, pelo menos uma coisa ele tinha em comum com o irmão: nenhum dos dois gostava de se levantar cedo. Se bem que Tristan raramente estaria dormindo às três e meia da tarde; a não ser que tivesse deitado tarde.

- Quer comer alguma coisa? – Anne voltou a falar.

- Não, obrigado. – ele respondeu, enquanto olhava em volta.

A casa parecia ainda maior no interior. A sala era um espaço amplo, com um teto alto e portas de vidro que davam para um jardim na parte de trás. Estava decorada em tons de vermelho, preto e branco, que davam um ar sofisticado e rebelde ao mesmo tempo. Uma das paredes, a maior, perpendicular às portas de vidro, estava pintada de vermelho e cheia de posters de desenhos abstratos colados com fita preta e larga. Havia um local menor, atrás do sofá maior, que poderia se considerar um hall de entrada, onde havia um conjunto de prateleiras negras com objetos que não servem para mais nada além de decorar, com exceção do cinzeiro cheio de chaves. E depois havia aquilo a que se podia chamar de sala, com uma TV de plasma no meio da parede vermelha, um móvel preto com prateleiras cheias de CDs e DVDs, um aparelho de DVD e um pequeno rádio bem moderno, pelo que parecia; sofás negros com almofadas vermelhas e quadradas e uma mesa de vidro no meio, com uma jarra vermelha e os controles de todos os aparelhos eletrônicos. Depois, do outro lado da parede vermelha, havia uma escada e um corredor do tamanho da sala, onde se podiam ver três portas de madeira.

Tristan arregalou os olhos quando uma garota, loira, somente de lingerie, saiu correndo da porta da direita e entrou na do meio, fechando-a na cara do rapaz que ia atrás dela, ele também só de roupa íntima.

- Amy, abre já essa porta! – ele protestou, dando uma palmada na porta.

- Nolan, assim o seu irmão até ficará com uma má impressão de você. – Anne quase gritou para o rapaz.

E logo depois o rapaz se virou e quase correu escadas abaixo, se inclinando depois por cima de um sofá e estendendo a mão para Tristan. O mais velho apertou a mão do rapaz, ainda digerindo a informação que Anne lhe dera.

- Bem vindo a esta casa. – o mais novo disse.

- Obrigado. – Tristan respondeu quase automaticamente, antes de largar a mão do outro.

Quando Anne lhe dissera que seu irmão estava muito diferente de como ele lembrava que o mesmo era, Tristan pensou que fosse exagero, mas afinal não, uma vez que o outro rapaz era também quase o oposto dele.

- Ela não me deixa entrar no banheiro, acha isso normal?! – Nolan disse para Anne, apontando o andar de cima com um ar indignado.

Anne revirou os olhos com um ar suplicante assim que Nolan virou as costas e voltou a subir as escadas. Ele parou na porta do meio, se encostando a ela.

- Amy – ele arrastou a palavra. – Eu prometo que me portarei bem. – e riu. – Faço tudo o que você quiser. – o tom perverso da sua voz se notou até da sala.

Tristan quase arregalou os olhos de novo, quando a garota abriu a porta rapidamente e puxou o rapaz lá para dentro, fechando a porta com a mesma rapidez com que a abriu. Anne suspirou.

- É a namorada dele? – Tristan deu por si perguntando.

- Não. É a melhor amiga. – Anne respondeu.

Tristan deu por si pensando que nunca tivera uma melhor amiga. Talvez porque todas as garotas que ele conhecia começavam a gemer na cama dele ou no banheiro de uma discoteca qualquer e acabavam o chamando de canalha. Sim. De qualquer forma, Tristan também não precisava de uma melhor amiga.

- Bem, eu tenho que voltar ao trabalho. – Anne disse, chamando Tristan dos seus pensamentos. – Você se entende com o seu irmão? – ele assentiu. – Eu volto só lá pelas onze da noite, ficarão por suas contas. – ela disse, dando um beijo na bochecha do rapaz e saindo de casa depois.

Tristan deu por si no meio da sala, sem saber o que fazer. Até o seu olhar encontrar a sua amada guitarra.

Estava o mais velho concentrado compondo uma melodia na guitarra quando a garota, agora devidamente vestida, se sentou ao seu lado, olhando-o atentamente. Ele virou lentamente a cara para ela, a vendo sorrir.

- Mas você é mesmo bonito! – ela exclamou, levando-o a rir com a sua frontalidade. – Adorei as roupas.

- Amy, pelo amor de Deus, não comece já a assediar o rapaz. – a voz de Nolan apareceu do outro lado.

- Eu estava só socializando com ele. – Amy respondeu.

- Eu conheço a sua definição de socializar. – o rapaz, arqueou uma sobrancelha.

- Ciumento. – ela bufou.

- Tristan, quer ir conosco? – Nolan fingiu não ouvir a amiga.

- Onde? – o de cabelos castanho perguntou surpreendido.

- Um amigo do Nolan voltou hoje das férias e estamos fazendo uma festa de boas-vindas. – Amy respondeu primeiro; Nolan lançou-lhe um olhar que Tristan não entendeu.

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Tristan acabou aceitando o convite; ele não ia ficar em casa sem fazer nada. E depois, conhecer os amigos de Nolan era capaz de ser uma boa idéia, já que ele ia ficar na Califórnia por um tempo indefinido.

Foram a pé até uma casa ainda maior que a de Anne, que tiveram que contornar para chegar ao jardim de trás. Havia uma piscina enorme com luzes fracas em volta e algumas espreguiçadeiras; um grupo de pessoas falando entre si no meio do jardim e, no canto oposto da piscina, uma mesa enorme com comidas e bebidas.

- Nolan! – um rapaz exclamou, se aproximando rapidamente para abraçar o irmão de Tristan.

Ele tinha cabelos lisos, loiros na frente e verdes atrás, e era mais baixo que Nolan, pelo que o outro loiro quase o levantou do chão ao abraçá-lo. Tristan conseguiu ver os olhos azuis e o sorriso traquinas quando ele se afastou do outro e ficou olhando-o.

- Você devia ter ido comigo mesmo. Aquilo é fantástico, eu aposto que ia amar a idéia, Nolan. Tem muitos bares legais lá. – o rapaz falou num tom excêntrico.

- Sabe perfeitamente que a Dona Anne nunca o deixaria ir com você. – Amy falou do outro lado de Nolan, chamando a atenção do rapaz loiro. – Não mereço um abraço?

- Claro que merece, amor. – o rapaz respondeu, avançando para apertar Amy nos seus braços.

Nolan apoiou um braço no ombro de Tristan, aproximando os lábios da orelha do mais velho para lhe falar.

- Não se assuste com ele; ele é um pouco maluco, mas é bom rapaz. – murmurou, rindo depois.

- God! Nolan, não me diga que você está de namorado novo e não me disse nada! – Luka guinchou, levando Nolan a se afastar de Tristan novamente.

- Na verdade ele é apenas o meu irmão. Aquele que não vejo há dez anos, chegou faz duas ou três horas e com o qual eu ainda nem tive tempo de falar sobre nada. – Nolan respondeu, levando o outro rapaz a abrir a boca, tapando-a ligeiramente com uma mão.

- Oh meu Deus, desculpa. – disse, olhando para Tristan.

Nolan encolheu os ombros. Tristan estava sem palavras.

- Hey, temos gente nova aqui! – uma voz feminina chamou a atenção dos outros quatro. – Me chamo Nadia. – ela estendeu a mão para Tristan, que a apertou sem dizer uma palavra.

- Ele se chama Tristan; é o meu irmão. – Nolan respondeu.

- Ele só deve estar um pouquinho sem palavras porque o Luka só sabe dar com a língua nos dentes. – Amy acrescentou.

- Ao menos eu só dou com a língua nos dentes, ao contrário de certas pessoas. – Luka a provocou.

Amy abriu a boca de indignação, Nolan tossiu propositadamente e Luka o olhou, semicerrando os olhos.

- Eu já te avisei que o cigarro te faz muito mal. – o loiro disse cinicamente.

- Eu estou tentando parar. – Nolan respondeu no mesmo tom.

- Vocês assim ainda estão assustando mais ainda o rapaz. – Nadia repreendeu.

Tristan suspirou; alguém que o compreendesse.

- Anda, Tristan. – Amy começou, se aproximando de Tristan e rodeando-lhe a cintura com um braço. – Eu tomo conta de você; o seu irmão não é de confiança. – concluiu, levando o rapaz até a mesa das bebidas.

Ela preparou duas bebidas, dando um copo a Tristan e ficando com o outro. O rapaz olhava o grupo onde Nolan tinha ficado. Havia agora mais um rapaz, parecido com Luka, apenas o cabelo era mais curto. Nolan o abraçou carinhosamente, beijando-lhe os lábios depois. Tristan se conteve para não arregalar os olhos.

- Ele se chama Ben. – Amy esclareceu, ao ver para onde Tristan olhava. – É o pseudo-namorado do Nolan.

- Pseudo-namorado? – Tristan inquiriu, continuando a observar o irmão que se aproximava.

- O Ben gosta do Nolan, mas o Nolan não consegue ter uma relação minimamente séria.

- O Nolan gosta de sexo. – Nolan falou, tendo ouvido a última parte da conversa.

- Porque o Nolan é um grande canalha. – Amy rematou.

- Mas a Amy o ama mesmo assim. – ele sorriu, beijando os lábios da garota antes de se afastar de novo, com Ben abraçado a ele.

Amy sorriu, abanando a cabeça negativamente. Tristan olhou-a, curioso.

- Você gosta dele? – perguntou.

- Todo mundo gosta do Nolan. – ela respondeu, com um sorriso maroto. – Todo mundo quer o Nolan.

- Mas ninguém pode tê-lo de verdade. – Luka completou, aparecendo de repente ao lado de Tristan.

- Para falar a verdade, nesta festa você é o único que o Nolan ainda não levou para uma cama –

- Ele não me levou para a cama. – Luka interrompeu.

- Okay, você o levou, vai dar no mesmo. – Amy respondeu. – O ponto é: ninguém lhe escapa.

- Ah, Amy! Está assustando o rapaz! – Luka protestou, ao ver os olhos arregalados de Tristan. – Eu acho que o Nolan não ia foder com o próprio irmão. – ele revirou os olhos.

- O Nolan é ligeiramente louco. – Amy começou. – E você sabe que ele não resiste a um rapaz bonito. – sorriu.

Tristan tentou manter os seus pensamentos no nível do racional, mas tudo foi por água abaixo quando o seu olhar se cruzou com o de Nolan. O loiro sorriu, num sorriso sedutor que fez o mais velho se engasgar com a bebida.