Autor: LauhMalfoy
Título: Verdades Que Magoam
Sinopse: Algumas verdades magoam, e não são compreensíveis. Contudo, há sempre quem as perdoe.
Shipper: Harry Potter & Draco Malfoy
Classificação: Slash
Gênero: Drama/Romance
Spoilers: Deathly Hallows
Observação: Pós-Hogwarts; desconsidero o epílogo.

CAPÍTULO UM

- Não tem problema? – repetiu Draco lento e incredulamente.

- Não. – a sua mãe respondeu-lhe calmamente, como se apenas dissesse o quão bonitos eram os seus cabelos loiros.

- Mãe… eu acabei de dizer que tenho uma relação com o Potter há quase um ano e que vou morar com ele. – o loiro repetiu. Harry, por sua vez, começou a estalar os dedos nervosamente. Decididamente, aquilo que esperava era que a mulher gritasse, esperneasse, desmaiasse, chorasse,… . Resumindo, todas as coisas más que se possam encontrar terminadas em –asse que, definitivamente, não correspondiam à resposta dela.

- Eu não sou mouca, Draco! – ela respondeu, agora já um pouco irritada o que, pelas mais estúpidas razões, acalmou ambos os jovens. – Eu já entendi que és namorado do Potter, não precisas dizer mais nada. – os rapazes permaneceram a olhar para a mulher loira à sua frente como se esta fosse Merlin em versão travesti¹. Ela girou os olhos com impaciência – O que foi? Estão à espera da minha bênção? – gozou. Harry sentiu-se corar.

- Não! – Draco retrucou, maldisposto. – Estamos de saída. – deu um beijo na face da sua mãe e depois rodeou a cintura do moreno, Aparatando de seguida para a casa de ambos.

Assim que se viu sozinha, Narcissa sorriu. Sem dúvida que o charme Potter era predominante…

- Potter, Potter… - deu uma curta gargalhada e alisou a sua camisa preta quando se levantou. Logo, dirigiu-se ao seu quarto e abriu a sua cómoda para retirar de lá de dentro uma caixinha de mogno trancada à chave, que abriu sem demoras. Haviam alguns pergaminhos e objectos pessoais da mulher, mas aquele que ela considerava mais precioso (além da chucha do seu menino…) era o seu caderno de poemas. Fora ali que escrevera variadas poesias, quer fossem por meio da criatividade, quer fossem um desabafo do seu dia-a-dia. Aquele pequeno caderno, com capa preta e velha e folhas amareladas, sabia mais dela do que o seu próprio marido alguma vez soube. Aquelas páginas desbotadas foram as únicas a saber do charme que fora imposto nela por um moreno arrebatador, que partira sem lhe deixar mais do que a promessa de um ínfimo sentimento, considerado impuro pelo próprio.

O seu marido não gostaria de saber aquilo. Talvez tenha sido essa a razão que a levou a nunca contar nenhum facto que ali aparecesse, além do que seria um escândalo se tornado público. Narcissa acreditava que o seu filho nunca iria perceber o porquê de ela o ter feito e, o mais provável, era nem o aceitar. Mas o que mudaria agora? Nada.

Por essa mesma razão, Narcissa Malfoy, viúva há um ano, pegou no pequeno caderno e desceu com ele até ao escritório. Lá, escreveu uma pequena nota, enrolou o livro e o bilhete num papel duro e selou-o com mágica, permitindo apenas que este fosse aberto pelo seu próprio filho. Depois, dirigiu-se a uma sala adjacente à cozinha, onde permaneciam agora apenas duas corujas – a sua e a do seu falecido marido, Lucius -, e, após atar um cordel à volta do embrulho, deixou que a coruja o pegasse com o bico.

- Entrega ao Draco. – fez uma pequena festa na cabeça do animal e viu-o partir logo de seguida. Sorrindo melancolicamente, voltou para o seu quarto, onde se recostou para ler um livro.


- Draco! – ele ouviu Harry gritar – Chegou um embrulho da tua mãe para ti! – o loiro franziu o sobrolho e, após marcar devidamente a página onde ia, pousou o livro cuidadosamente em cima da cama, descendo até à cozinha. O que quereria Narcissa? Eles tinham praticamente acabado de sair de lá, era simplesmente impossível que ela tivesse um novo assunto para tratar. Certo?

- Deve ser importante… está selado com mágica e tudo. – Harry informou, ao que Draco pensou mentalmente "errado!". Pegou o embrulho das mãos de Harry e viu este voltar-se para Nix², a coruja de sua mãe, afagando-lhe as penas e dando biscoitos próprios para o animal. Draco não resistiu a dar um risinho pelo nariz e a girar os olhos. Talvez um dia procurasse por uma coruja das neves parecida com Hedwig para diminuir as saudades que ele sentia do animal.

Voltou-se, então, para o embrulho e levantou uma sobrancelha ao deparar-se com um caderno. Só faltava aquilo ser um guia prático da dona de casa…

- E então? – o moreno perguntou, abraçando-o pelas costas – Não me digas que esse livro é de contos infantis e estou encarregado de tos contar à noite… - gozou. Draco deu-lhe uma cotovelada.

- Não gosto de contos infantis. – mentiu com desprezo. Abriu a capa do caderno e viu lá um pergaminho, que logo começou a abrir para ler.

- O que diz? – Harry questionou, ainda a esfregar as costelas.

- Não tenho visão laser, Potty. – este ignorou o comentário, ciente de que mudá-lo seria torná-lo em alguém que não ele. Draco deixou-se ser abraçado novamente pelo moreno, que lhe depositou um beijo no pescoço. Ignorando o arrepio que lhe subiu a espinha, focou o seu olhar nas letras perfeitas que sua mãe escrevera.

"Talvez assim entendas a minha serenidade.
Beijos, Mãe."

Sem perceber completamente o que ela queria dizer com aquilo, virou uma página do caderno, perfeitamente consciente de que Harry também via o seu conteúdo. Começou a ler aquilo que parecia uma introdução.

"Nunca vira razão
Para memórias escrever
Mas temo que o meu coração
Não se possa estender
Para guardar, então, tanta paixão.
Faço um esforço,
Uso tinta e uma pena.
Começo, pois, a rimar,
Sendo a minha experiência pequena.
Talvez tenha de me apresentar,
Sou Narcissa, muito prazer.
Mas terei consequentemente de contar
Tudo aquilo que me faz sofrer?
Por ora basta mostrar
O quão grata sou
Por ter sido tão amada
Por aquele que tanto me beijou.
Vou deixar para uma próxima
O relato de um amor
Que além de verdadeiro,
Foi arrebatador."

Arqueou uma sobrancelha ao terminar a leitura do poema e sentiu Harry beijar-lhe o lóbulo da orelha.

- Parece que a tua mãe decidiu contar-nos a sua relação tórrida de amor com o teu pai. – o rapaz voltou a beijar o loiro no pescoço, dando depois uma pequena mordida.

- Parece que sim. Mas acho que leio o resto depois… - voltou-se para Harry e beijou-o carinhosamente.


Mexeu-se na cama lentamente, apenas para conseguir sair do abraço de Harry que, como sempre, já dormia. Ele era sempre o primeiro a adormecer. Impressionante como alguém conseguia dormir tanto…

Draco vestiu os seus boxers³ e, mesmo descalço, desceu até à cozinha para pegar o caderno que tinha deixado em cima da bancada. Quando o tinha nas suas mãos, ponderou em subir novamente e ler perto do seu moreno, mas se a sua mãe queria que apenas ele soubesse do conteúdo do caderno, era porque o que lá estava escrito era demasiado pessoal para ser partilhado que não com ele.

Por essa mesma razão recostou-se no sofá e relaxou, pronto para ler o que viesse a seguir da primeira página que lera.

"Para percebermos o presente,
Temos de entender o passado,
É por isso eu vou escrever cuidadosamente
Tudo o que a mente tinha guardado.
Foi a um de Setembro
Que o vi pela primeira vez
E ainda hoje me lembro
Da confusão que ele fez.
Era irrequieto e divertido,
Alto e moreno,
Os seus cabelos formavam vários bicos;
Piscou-me o olho por divertimento."

- Ahn?... – Draco sussurrou para o nada. Que porra era aquela?! O seu pai não era moreno e o seu cabelo não tinha bicos! Era loiro, sedoso e PERFEITO! Agora ele percebia porque vinha o caderno num embrulho selado magicamente. Oh, Merlin…

"Mas aquele sorriso malandro
E aquele olhar brilhante
Viriam a criar o pranto
Que a Lua ouviu tanto.
Logo o seu nome
E as rivalidades familiares
Vieram eliminar qualquer hipótese
Para prazeres trocarmos.
Remediámos de várias formas,
Isto ainda na escola,
Mas logo criámos normas,
E os sentimentos ficaram nas sacolas.
Foi errado, agora eu sei.
Mas o passado já está feito
E o presente não tem lei.
Por isso escrevo onde me deito,
Onde o meu marido dorme,
De todos estes pensamentos ausente
E do meu dilema igualmente.
O meu coração pede por algo mais
E é isso que me machuca tanto.
Terei eu o direito,
De vestir aquele manto,
E esquecer o preconceito?
Ele também tem uma mulher,
Ainda que eu permaneça nele.
Será que se ele puder,
Me tornará dele?
Ele ama-a, não haja dúvida,
Mas também eu amo Lucius
De uma forma bem estúpida."

Fechou o livro. Agora as coisas pareciam sérias demais, tão sérias que ele já não tinha certeza se que queria ler mais. A sua mãe gostava de outro homem quando era casada com o seu pai?...

Deixou a cabeça cair no encosto do sofá enquanto ponderava a questão. O que a sua mãe fizera não estava certo. Ela traíra o seu pai?

Levantou-se rapidamente sentindo-se agoniado com a ideia. Quando se ama não se trai. Não há dúvida. Pelo menos não ao ponto de se fazer uma estupidez daquele género. Quando se ama não pensamos em mais nada a não ser estar com quem nos completa, em partilhar os nossos problemas para nos sentirmos apoiados; damos tudo o que conseguimos de nós e esperamos receber de volta.

Como fora a mãe dele capaz de fazer algo assim?


- Devias vestir qualquer coisa. – Harry disse enquanto bocejava. Draco mantivera-se a olhar para o tecto. – Estou a falar a sério, Draco! – ele gritou da cozinha. O loiro apenas suspirara e se levantara em direcção à janela da sala. Encontrava-se em pleno dilema: não tinha a certeza de que a sua mãe traíra o seu pai, mas não queria continuar a ler por temer encontrar algo que o fizesse arrepender-se. Queria descobrir que não acontecera nada de mal, de que a sua mãe esquecera o tal homem e, inclusive, começara a amar o seu pai. Eles foram felizes, nunca houve uma discussão séria demais, o seu pai nunca dormira no sofá, não existia motivo para desconfiar de nada.

Mas ela própria admitira que o amava "de uma forma bem estúpida".

- O que se passa? – ouviu Harry às suas costas.

- Nada.

- E eu não dormi nestas últimas duas horas… - ironizou, ao que Draco sorriu. – Tem a ver com aquele caderno de poemas da tua mãe? – o outro suspirou.

- Tem, mas não posso contar…

- Vais começar com segredos? – disse ressentidamente, ao que Draco o olhou.

- Não são segredos, okay? Deixa-me ler o caderno todo, depois falamos sobre ele. – ouviu Harry suspirar.

- Certo. – o loiro aproximou-se dele com um sorriso de lado e beijou-lhe o peito. Sentiu o moreno a abraçá-lo e fez uma trilha de beijos até ao pescoço deste, subindo depois para o lóbulo da orelha, onde passou a brincar com sua língua. Começou a sentir a respiração de Harry ofegante e preparava-se para descer a calça dele quando o mesmo o parou. – Er… Draco?

- Hum? – perguntou com a sua boca ainda colada ao pescoço de Harry.

- Eu vou a casa do Ron… - esta era a parte que ele mais gostava na relação deles: primeiro falava-se sobre diversos assuntos que afectavam o momento, depois ele iniciava os preliminares, tendo o cuidado de lhe tocar em pontos sensíveis, e então o Potty dizia que ia ver o Weasel. Uau. Limitou-se a fuzilá-lo com o olhar para, de seguida, subir para o quarto e se trancar na casa de banho.

- Idiota… - murmurou enquanto se olhava ao espelho.


Estava farto de esperar pelo idiota do Potter, mas como ele teimava em não aparecer, Draco limitava-se a ler melhor alguns versos.

Até àquele momento, já tinha percebido que a mãe havia traído o seu pai – aliás, isso era mais do que claro. Até o Kreacker entendia…

Traição essa que havia sido com um moreno qualquer. A questão era: qual a razão específica para que a sua mãe lhe enviasse aquilo? Quer dizer, ele estava a descobrir metade da vida dela e de um homem que não fazia a mínima noção de quem era o que não estava directamente relacionado com a sua vida actual.

Ele fazia-me sentir viva
De uma forma bem diferente
Daquilo que Lucius conseguia
'É insano',
Dizia ele,
Sem prestar realmente atenção
Ao porquê do clamar do seu coração.
'Não é insanidade',
Eu falei-lhe docemente ao ouvido
'É necessidade.'
E com o beijo dele, um gemido foi contido."

Naquele preciso momento, ele só queria perceber o que relacionava aquele texto com a sua vida actual. Mas não haviam indicações… Ele não estava interessado em saber o que a sua mãe tinha feito com o tal homem. Não mesmo.

Talvez tenha sido essa a razão que o levou a colocar o caderno de lado e a deitar-se no sofá para descansar a vista. Potter não deveria demorar muito – ele assim esperava.

Contudo, Harry acabou por demorar mais tempo do que o normal, e Draco acabou por adormecer no sofá.


¹ - Oh Merlin, ultimamente só faço frases que criam imagens mentais bizarras e que fazem vomitar. I'm sorry, dears.

² - "A deusa grega Nix era a personificação da noite".

³ - Imagem mental MUITO boa, não reclamem dears. Haha!