FINO ALL'INFERNO CON TE
Até ao inferno com você.
Capítulo Um – Perdonami! Perdoe-me.
Sorveu os últimos goles da água escura e sentiu sua garganta queimar como nunca. Tentava gritar por ajuda, mas não tinha mais controle de seus sentidos. A visão, completamente embaçada, começava a pregar-lhe peças de mal gosto. Via sombras onde não deveriam existir. Não sentia, não ouvia, não via, mas ela continuava em sua cabeça. Aquelas mãos frias tocavam suas canelas e a cada interminável segundo, o frio subia por suas pernas e gelava sua espinha. Mas sua voz rouca estava ali, gemendo seu nome baixinho enquanto sentia, na noite anterior, cada movimento do parceiro. Ele aproveitava para imortalizar o tom sensual de sua voz em seus ouvidos. Sim, Bellatrix Black é misteriosa e tenebrosa e, quando quer, sabe provocar medo. Mas ela te abraça e te defende, se a escuta e se jamais a trai com o sol e com os seus raios. Ela teria que perdoá-lo um dia por confundir-la com a noite, às vezes. Ele costumava ouvir seu silêncio, seus segredos e esse era o motivo dos passos que deu contra as pedras da caverna naquela noite. Ela o protegia dos insultos e das más línguas que procuravam feri-lo, mas o deixava errar sozinho, deixava-o ferir-se, sem ofendê-lo. Não como ele mesmo, que apagou todos os olhares, todos os toques e gemidos e dentro dele, deixou permanecer somente o pior: o erro e o medo. Regulus Black procurava ver novamente os olhos dela antes de perder o fôlego em baixo d'àgua.
Ele sempre soube que todas as noites, ela pensava nele, mesmo tendo ao lado outro homem. Que no escuro, enquanto procurava o alívio com seus próprios toques, procurava as suas mãos, para mais uma vez dá-la o alívio e mostrá-la um caminho de fuga da realidade que ela tanto precisava.
Naquela mesma noite, no centro frio de Londres, ela fingia que tudo estava bem, sorrindo afetada, forçando a bebida alcoólica descer, mas era impossível fingir. Era impossível esquecer assim tão rápido. Esquecer algo tão profundo e intenso. Sua mente ouvia aquele grito agudo e desesperado que esperou jamais ouvir. As pessoas ao seu redor brindavam e trocavam cumprimentos enquanto saltos e mais saltos entravam no salão. Ela queria gritar de volta para ele, mas já não tinha força. As lágrimas negras que seriam derrubadas mais tarde no travesseiro, seriam por ele. Por um dia a ter mostrado um mundo onde só existiam dois amantes, que juntos exploravam cada nova sensação. As texturas, os sabores, os odores, os sons. Em sua mente, o turbilhão de sensações, desorientava-a. Sentia seu horizonte girar e seus joelhos cederem ao peso das lembranças.
Na caverna fria, enquanto sentia seu pulmão queimar sem oxigênio, Regulus lembrava-se de quando acreditava que conseguiria fazer algo e então falhava e cometia os mesmos erros. Escorregadas nos momentos de desconforto, quando tudo ao seu redor era escuro como a noite, como as feridas abandonadas e jamais curadas, ainda abertas. Errar é humano mas para ela, um erro era tudo. Ele era só um miserável violento que pela primeira vez tentava escutar o coração e não o orgulho. Piscou pela última vez e deixou-se envolver pelo calor dos braços da morte.
Bellatrix sabia que estava tudo acabado, que não teria mais um amanhã. Deixou o cálice de cristal espatifar-se no piso de mármore negro e subiu a escadaria infinitamente longa com o fôlego que ainda lhe restava. Jogou-se na varanda e gritou com a mísera força ainda presente em seu corpo, o nome dele. Apoiou-se na velha poltrona do quarto e deixou que seus sentidos fossem carregados para perto de sua estrela.
Era o fim de uma constelação. O fim de Bellatrix e Regulus.
