Autora: Mary Spn

Beta: TaXXTi

Sinopse: Entre dois mundos, entre o passado e o presente, no terreno da dor e do tormento pode renascer a esperança, reencontrar a felicidade e florescer o amor.

Avisos: Conteúdo slash - Padackles - AU


Quero dedicar esta fic, de coração, para a Claudia Carvalho...

Essa loira linda que conquistou meu coração (nada de ceninha de ciúmes, Michelle... rsrs)

e de quase todo o fandom, com sua alegria e seu jeito especial de ser...

Te adoro!

PS. Não, não é prêmio de consolação... Sua oneshot está em andamento. Leeeento, mas está! rsrs. Beijos!


"Entre nós"

Capítulo 1

Ano de 1993...

Sentou-se na primeira fileira de bancos, próximo do altar. Olhava fixamente para as luzes em torno da grande cruz de madeira. Seus cabelos, um pouco mais compridos que o habitual, lhe caíam sobre os olhos, mas mesmo assim não os afastou, permanecendo imóvel, concentrado na imagem à sua frente.

Fechou os olhos por um instante, tentando assim apurar os seus ouvidos, mas estava tudo quieto. Nenhuma voz, nenhum sussurro, apenas o som da sua própria respiração. Sentia-se em paz.

Em pensamento, fazia um pedido, mas precisava ter certeza que seria ouvido, então se levantou e caminhou com passos hesitantes até o altar, onde se ajoelhou em frente a cruz iluminada.

- Por favor... - Sua voz saiu quase num sussurro. - Só faça com que eles parem. Faça-os irem embora... Eu estou com medo.

- Jared? - A voz de sua mãe rasgou o silêncio e fez com que se sobressaltasse. - Jared, meu filho! - A mulher correu até ele e o envolveu em seus braços. O menino sentiu que as mãos dela tremiam, assim como a respiração estava ofegante. - Eu te procurei pelo bairro inteiro, meu amor! Já estava ficando desesperada... O que você está fazendo aqui sozinho? - O olhar dela era um misto de alívio e desespero.

- Elas não me incomodam aqui, mamãe.

- Elas quem? Quem é que está te incomodando, meu filho? Por que não falou comigo? - Ela se abaixou, ficando na mesma altura que o filho, para poder olhar em seus olhos e segurou seus ombros.

- As vozes.

- Vozes? Que vozes? - A mulher só queria compreender.

- Dentro da minha cabeça... Elas não querem parar.

- Oh, meu anjo... - Apesar dos seus sete anos, sua mãe o pegou e carregou no colo para fora da igreja. - Você está tão assustado... O seu primo deve ter assistido aqueles filmes de terror enquanto você estava na sala, não é? - Ela beijou sua bochecha, e o menino apenas se agarrou ao pescoço dela com mais força.

Dias atuais...

Aquela era a terceira vez que Jared se mudara em menos de um ano, já achando que tinha batido o seu recorde. Ainda tinha um pouco de suas economias guardadas, então alugou uma casa simples, com poucos cômodos e se instalou em uma cidade pequena, pensando que ali, talvez, pudesse ter um pouco de paz.

Em menos de duas semanas conseguiu um emprego, trabalhava agora no depósito de uma loja de auto peças. Serviço braçal era tudo o que conseguia, já que não tinha concluído a faculdade e, também, devido ao pouco tempo que geralmente permanecia no mesmo lugar.

Jared já estava acostumado a ser olhado de um jeito estranho pelas pessoas, como se estivessem sempre o avaliando, ou talvez isso fosse paranóia da sua cabeça, mas naquela loja, não era diferente. Era como se houvesse uma plaquinha escrito: afaste-se, colada na sua testa. Isso não era de todo ruim, apesar de se sentir solitário algumas vezes, pois desta maneira não precisava mentir ou ficar se explicando para as pessoas.

O único que parecia não enxergar a tal plaquinha, tinha sido Chad Michael Murray, um cara loiro que tinha praticamente a sua idade e também trabalhava no depósito. Desde o primeiro dia ele cercara Jared com inúmeras perguntas, logo percebendo que o loiro falava muito, o tempo todo. Decidiu não mentir sobre a sua vida, apesar de ter falado pouco a respeito de si mesmo para o colega de trabalho. Apenas omitiu as partes que julgava necessário, pois não queria afastar o único amigo que tinha conquistado nos últimos anos.

- O que você vai fazer hoje à noite? – Chad perguntou enquanto distribuía as caixas nas devidas prateleiras do depósito.

- Nada. Quero dizer, vou pra casa, passear com a cachorra, ler um livro ou assistir algum filme. O de sempre.

- Cara, mas hoje é sexta! – Chad o encarou como se Jared fosse uma criatura de outro mundo.

- E o que tem isso? – Jared teve que rir da cara de espanto do seu amigo.

- Hello? Cerveja, gatinhas? Qual é? Você precisa se divertir.

- Chad, eu... Eu não sei se você já percebeu, mas... – Jared pigarreou. – Eu não sou uma pessoa muito sociável.

- E se continuar enfiado naquela sua casa fedorenta, jamais vai ser, né? – Chad sorriu torto.

- Minha casa não é fedorenta! Você nem nunca esteve lá! – O moreno o olhou, indignado.

- Está bem, mas se você continuar preso lá dentro, nunca vai fazer amigos. Nem arranjar mulher, nem... Qual é? Ninguém vive só de punheta!

- Chad! – Jared balançou a cabeça, não acreditando no que estava ouvindo.

- Vai sair comigo pra beber ou não vai? – O loiro insistiu, ignorando a cara feia de Jared.

- Eu até posso abrir uma exceção hoje, mas... Tem algo que... É bom que você fique sabendo desde já. Quero dizer, se você quiser cancelar a nossa saída depois disso, eu vou entender. – Jared falava olhando para as próprias mãos.

- O quê? Você é um psicopata, ou algo assim? – O loiro brincou.

- Eu sou gay, Chad. – O moreno falou rapidamente, sem olhar nos olhos do outro.

- Ah, era isso. Bom, desde que você não esteja de olho no meu traseiro, por mim tudo bem. – Chad deu de ombros, fazendo Jared sorrir. - Eu passo pra te pegar as oito. Esteja pronto!

Jared olhou o loiro se afastar, em direção à pilha de caixas e não conseguiu conter um sorriso. Tinha gostado muito dele, sentia que nasceria uma forte amizade ali. Só esperava não acabar estragando tudo, mais uma vez.

- x -

Toda manhã, quando o despertador tocava, era o mesmo suplício... Os remédios o ajudavam a dormir, mas também o faziam sentir-se ainda mais cansado no dia seguinte.

Era sempre a mesma coisa, acordava, tomava seu banho, uma xícara de café preto, depois ia para o trabalho. Gostava da rotina, pois seu corpo reagia mecanicamente a ela, não era necessário nenhum esforço extra.

Há seis meses sua vida era assim, e cada dia era uma batalha para não entregar-se de vez à depressão. Trabalhava como gerente em uma loja de auto peças, e usava seu trabalho como uma fuga... Passava o dia resolvendo problemas, alguns até que não eram da sua alçada, pois isso o fazia sentir-se útil e mantinha sua cabeça ocupada. Enquanto trabalhava, conseguia esquecer-se do marasmo que era a sua vida. Do quão vazia ela tinha se tornado.

Ao lado da cama, em cima do criado mudo, ainda estava o retrato dele, com os cabelos loiros espetados e um sorriso maroto no rosto. Justin Hartley, seu primeiro e único amor.

Jensen sentou-se na cama e segurou o retrato em suas mãos, então fechou os olhos, querendo lembrar o som da sua voz, das suas risadas... Muitas vezes tinha a sensação de que ele ainda estava ali, era como se sentisse a sua presença de alguma maneira, mas então a realidade voltava e o atingia como uma bomba.

Colocou o retrato de volta no lugar e foi para o chuveiro. Tomou um banho rápido e quando abriu a porta do closet, lá estava ela... A camisa xadrez de flanela que Justin tanto gostava. Tirou-a do cabide, entre as suas roupas e a encostou em seu rosto. O cheiro dele ainda estava nela, apesar de já terem se passado seis longos meses.

Lembrou-se de quantas vezes pensou em se livrar dela, achando que desta maneira conseguiria finalmente esquecê-lo, mas sempre acabava colocando-a de volta no lugar.

Por que ainda era tão doloroso pensar nele? As pessoas viviam lhe dizendo que o tempo curaria tudo, mas a sua dor só aumentava a cada dia que se passava.

A saudade fazia o seu peito sufocar, e o seu coração sangrava cada vez que pensava que sequer tinha se despedido de uma forma decente, que a última vez em que falara com seu amor, tinha sido uma briga, porque fora teimoso demais para tentar entendê-lo...

Flashback...

- Você sempre está ocupado, Justin! Sempre tem algo mais importante pra fazer... Eu estou sempre sendo deixado em segundo plano, será que você não entende? – As palavras saíram amargas, ditas em um tom quase cruel.

- Jen... Não é nada disso, amor. Espere até eu chegar em casa e nós conversaremos com calma. Você nunca está em segundo plano pra mim, só precisa compreender que...

- Compreender o quê? – Jensen o interrompeu, com a voz alterada. – É o terceiro final de semana que eu passo sozinho, eu deixei de ir à praia com os meus amigos pra ficar aqui, esperando por você.

- Você devia ter me consultado antes. Eu nunca pedi que deixasse de fazer nada por minha causa.

- É... – Jensen suspirou, passando a mão pelos cabelos. – Talvez eu seja mesmo um idiota...

- Não! Jensen, por favor... Antes de amanhecer eu estarei de volta e você vai entender tudo, eu prometo! Só tenha um pouquinho de paciência, meu amor. Eu amo você! Nunca se esqueça disso, está bem?

- É... Que seja! – O loiro resmungou, aborrecido demais para dizer qualquer outra coisa. – Até mais Justin!

Depois de desligar o telefone, passara aquela noite em claro, angustiado, e quando o cunhado de Justin bateu na sua porta, em plena madrugada, o seu coração disparou no peito, sabia que havia algo de muito errado.

- Jensen, eu... - Clay ficou parado na porta, sem saber exatamente como dar aquela notícia. - Será que eu posso entrar? - O homem foi logo entrando, já que Jensen sequer conseguia esboçar uma reação. - Me desculpe por vir a esta hora, mas... - Clay suspirou. - Não tem um jeito bom de te dar esta notícia, cara, eu... O Justin, ele... Ele sofreu um acidente.

- Ele... O quê? - Jensen finalmente conseguiu recuperar a capacidade de falar.

- Eu não sei muitos detalhes, parece que foi na subida da serra, o carro dele vinha atrás de um caminhão, e houve uma freada brusca... Uma barra de ferro se desprendeu da carga do caminhão, e...

- E? - Jensen estava com medo da resposta, mas ao mesmo tempo precisava saber.

- Justin foi atingido no peito, ele... - A voz de Clay falhou e ele percebeu que Jensen estava prestes a desmaiar. - Você precisa se sentar, Jensen. - O cunhado de Justin o ajudou, pois o loiro parecia ser incapaz de se mover.

- Como ele...? Ele está bem, não está? Ele... - Jensen sabia a resposta, mas se recusava a aceitar.

- Eu sei que isso é cruel e doloroso demais, mas... O Justin se foi, Jensen. Ele chegou ao hospital sem vida.

- Não! - Jensen se levantou do sofá e começou a andar pela sala. - Só pode estar havendo um engano, ele... Ele vai estar aqui pela manhã, ele... Ele prometeu! Ele... - O loiro sentiu suas pernas fraquejarem e caiu de joelhos, deixando finalmente as lágrimas caírem e os soluços rasgarem seu peito... Aquilo não podia ser verdade. Só desejava que aquele pesadelo terminasse, só queria poder ter o seu amor de volta e dizer a ele o quanto o amava. Queria poder pedir perdão pelas brigas e pelas palavras duras que dissera... Mas era tarde demais.

Se já não bastasse todo o sofrimento pela sua perda, dias depois do enterro de Justin, Jensen recebeu a visita de Amanda, a irmã mais velha de Justin.

- Como você está, meu anjo? – Amanda tinha um carinho muito especial por Jensen, sempre dizia que ele o único que tinha conseguido fazer o seu irmão feliz.

- Eu estou... Tentando sobreviver. – Jensen respondeu com os olhos marejados, era doloroso demais falar com ela sem que Justin estivesse entre eles, fazendo suas piadas, brincando com a irmã que ele tanto amava.

- Eu queria te entregar isso... – Amanda entregou a Jensen uma caixinha prateada. – Não tive coragem de vir antes, me desculpe.

- O que é? – Jensen abriu o laço devagar, curioso e ao mesmo tempo com medo. Estranhou ao ver que eram algumas chaves, colocadas em um chaveiro em forma de uma metade de um coração.

- A outra metade era a dele. – Amanda sorriu triste. – Ele queria te fazer uma surpresa naquela manhã. Tinha passado os últimos finais de semana correndo atrás da papelada e fechando o negócio.

- Mas...? Eu não estou entendendo, Amanda... – Jensen a olhou, confuso.

- Ele comprou um apartamento, Jensen. Iria te convidar pra morar com ele, mas... – A loira não conseguiu completar a frase, começou a chorar.

- Ele...? Então era isso? Era isso o que ele quis dizer quando... – Jensen colocou as chaves de volta na caixinha e passou as mãos pelo rosto, sentindo seu coração ser esmagado mais uma vez.

Por que a vida tinha que ser tão cruel? Por que ele tinha sido tão estúpido e brigado com Justin, enquanto o outro estava lhe preparando uma surpresa? Por que não tinha sido um pouco mais paciente, ou simplesmente confiado no seu amor?

Aquilo tudo machucava tanto, que Jensen pensou que não conseguiria mais respirar...

Depois que Amanda fora embora, levando as chaves consigo, já que Jensen insistira que não conseguiria ficar com o apartamento, o loiro finalmente se permitiu chorar.

Queria que as lágrimas levassem embora toda aquela dor, todo o sofrimento que agora rasgava o seu peito... Queria poder parar de sentir, ou de viver, pois já não achava que merecia continuar vivo depois de tudo o que fizera.

Continua...