Ele some sem querer, sem avisar. Espero. Tenho a sensação de que cada minuto de espera é um ano, uma eternidade. Cada minuto é lento e transparente como vidro. A cada minuto que passa, vejo uma fila de infinitos minutos, à espera. Por que ele foi aonde não posso ir atrás?

A mulher do viajante no tempo, Audrey Niffenegger.

Capítulo um - Partida

Os dedos delicados dela deslizavam pelo peitoral desnudo dele, enquanto um lindo sorriso brincava em seus lábios. Deixou-os percorrerem o braço musculoso dele, contornando a pequena tatuagem que possuía no braço. Era o símbolo do clã Uchiha.

Sasuke fechou os olhos, esperando. Sempre esperando.

- Eu te amo. – Ela disse, num sussurro sonolento.

Ele não respondeu, como ela sabia que não responderia. Não ligou. Sakura, em seu íntimo, sentia-se amada - e isso era o importante. No entanto, ficou surpresa quando ele ergueu o rosto dela pelo queixo e encostou a boca suavemente em seus lábios. Beijaram-se por alguns instantes.

Sakura sorriu para o marido e desejou boa noite, enquanto aconchegava-se confortavelmente no peito dele.

Sasuke sentia a respiração dela se tornar uniforme conforme adormecia. Não demorou muito – a espera estava acabando. Embora ele mesmo estivesse cansado, de todas as formas que eram possíveis, sabia que não podia dormir. Algo precisava ser feito. E precisava ser feito àquela noite.

Quando ele decidiu que ela dormia profundamente, desvencilhou-se delicadamente dela. Sua bonita esposa franziu o cenho, mas não acordou. Ele respirou, aliviado.

Seus olhos correram pelo quarto, enquanto procurava algo que pudesse cobrir sua nudez. Suas roupas, agora amassadas e espalhadas pelo chão do quarto, pensou, não eram adequadas. Foi até o armário e tirou mais mudas de que precisaria para se cobrir.

Colocou suas roupas de missão e guardou as extras dentro de uma mochila. Aquilo tudo iria acabar, pensou. Foi até o banheiro, onde pegou mais coisas e logo voltou para o quarto. Encarou a esposa adormecida.

Com um longo suspiro, foi até ela. Inclinou-se e encostou os lábios, de maneira delicada, na testa dela. O terno beijo durou mais do que ele havia planejado.

O coração dele batia forte, todos os músculos estavam tensos. Respirou fundo, enquanto retirava a aliança de seu dedo anelar. Contou mentalmente até dez.

Quando estava na porta do quarto que dividiam, olhou para trás, para sua mulher adormecida, próxima ao criado mudo onde estava a aliança que ela dera a ele.

"É para o próprio bem dela", pensou, e, com isso, teve a coragem de atravessar a porta.


Ela estava decidida a ignorar o frio e a continuar a dormir. Tentou por longos cinco minutos e, percebendo que não obteria sucesso, puxou ainda mais a coberta para o lado dela. Quase riu, sabendo que seu marido odiava quando ela fazia isso. Esperou o resmungo alto dele. Mas nunca veio.

Abriu os olhos, que logo se incomodaram com a claridade. Jurou, mentalmente, que compraria persianas naquele mesmo dia. Procurou Sasuke pelo quarto, enquanto tateava o lado dele da cama. Estava frio, o que só podia significar que ele se levantara havia algum tempo.

Sentou-se na beira da cama, espreguiçou-se, levantou e vestiu a blusa em que pisara acidentalmente no caminho para o banheiro. Era dele, sorriu com o pensamento.

Terminou de escovar os dentes. Estava tão sonolenta que não percebeu que a escova de dente que ficava ao lado da dela, não estava ali. Enquanto descia animadamente as escadas, perguntava-se se Sasuke havia comprado algo para tomarem café da manhã ou se estava esperando que ela acordasse para preparar um, como de costume.

Franzindo o cenho, percebeu que ele não estava na cozinha. Revirou os olhos, percebendo que não ficaria envergonhada com o "Sexy, Sakura" que ele provavelmente diria quando a visse usando a roupa dele.

- Sasuke-kun? – Chamou. Não houve resposta.

Continuou chamando, enquanto percorria os cômodos da casa. Foram precisos três minutos inteiros para ela perceber que ele não estava. Estranhou. Sasuke não havia avisado que teria missão no dia seguinte ou que iria sair. Perguntou-se mentalmente se ele não estaria treinando. Descartou a possibilidade. Ele sempre tomava café da manhã antes.

Subiu as escadas, indo até o quarto. "Talvez ele tenha deixado um bilhete", pensou, enquanto ia até o criado mudo. Um calafrio desceu por sua espinha quando encontrou a última coisa que esperava encontrar: a aliança de Sasuke.

Sentou-se na cama, enquanto pegava o anel. Ainda que nem sempre ele usasse a aliança, ela sempre estava com ele. Quando ia para missões, ele a colocava numa corrente e usava como se fosse um pingente.

Devolveu a aliança para a cômoda e levantou-se num pulo, indo até o banheiro. Como temia, a escova de dente dele não estava lá também. Com o coração na mão, abriu o armário que dividiam. Percebeu que boa parte das roupas dele haviam desaparecido. Foi como levar um soco no estômago.

Ele havia deixado-a, mais uma vez, era isso? Recusando-se a acreditar nisso, mas sem descartar a possibilidade, pegou sua calça jeans, que estava no chão, e procurou pelos bolsos seu celular. Ao encontrá-lo, discou os números que conhecia de cor, ao mesmo tempo em que vestia a calça.

Foram necessários alguns instantes para que atendessem.

- Sim? – Disse uma voz feminina.

Sakura corou, reconhecendo aquela voz como a de Hinata. Esperava, intimamente, que não estivesse interrompendo nada.

- Olá, Hinata-chan. – Disse Sakura, mas rápido do que gostaria. – Desculpe. Hm... o Naruto está por aí?

- Um minuto, Sakura-chan. – Sakura sabia, pela voz dela, que a menina estava envergonhada.

Depois de alguns segundos, Naruto estava na linha.

- Naruto – começou Sakura, se sentindo um pouco idiota. –, o Sasuke-kun não estaria aí, estaria?

- O teme? – Ele disse, um pouco desconcertado, ela percebeu. – Não, Sakura-chan. Estamos só eu e a Hinata-chan. Por quê?

O coração dela disparava, todo o seu corpo tremia. Precisou lembrar-se de respirar. Era horrível, doía mais do que o imaginável e fora extremamente difícil.

Com uma força que não sabia possuir, ela disse não mais que num sussurro:

- Acho que ele me deixou.


Não sabia como aquilo havia acontecido. Não sabia como a situação havia progredido para uma reunião em sua sala de estar. As últimas duas horas pareciam um borrão de pessoas andando de um lado para o outro e fazendo perguntas para as quais ela não tinha resposta. Não tinha certeza como tinha chegado a sua sala de estar, só sabia que estava sentada no sofá e que segurava uma xícara de chá nas mãos – que ela também não conseguia lembrar quem havia preparado.

Quando reparou que a mulher alta e loira estava de volta em sua frente, Sakura conseguiu lembrar. Levantou-se imediatamente, quase derrubando a xícara que segurava.

- Então? – Perguntou, ansiosa.

Tsunade suspirou, enquanto passava a mão pelos cabelos. Sakura sabia que aquilo não podia significar coisa boa. Com muito esforço, manteve-se de pé.

- Eu fiz algumas ligações. E, ao que me parece – ela fez uma pausa quase dramática. -, ele se foi. Foi visto deixando a vila esta madrugada.

A xícara escorregou de sua mão suada, rolando pelo chão sempre impecavelmente limpo de sua sala. Ela não soube o que aconteceu primeiro. As lágrimas ou a queda. Só sabia que, em um segundo, seus joelhos tremiam e que no, no outro, estava no chão (com o rosto já encharcado).

Era só até aí que sua memória ia. Mas os que estavam presentes - Tsunade, Naruto e Kakashi - conseguiam se lembrar muito bem o que se sucedera.

O loiro tentara de todas as formas confortá-la, abraçando-a forte e dizendo que tudo ficaria bem. Ela não parecia ouvir. Sem protestos, conseguira colocá-la nos braços e levá-la para o quarto, onde a repousara na cama. Ela não disse nada.

Tsunade disse que precisava ir, mas os dois homens sabiam que era simplesmente horrível para ela ver a pupila naquele estado.

Naruto e Kakashi tinham uma missão naquele dia, então o primeiro ligou para Ino, que não demorou dez minutos sequer para chegar e dizer palavras de consolo que Sakura não ouvia.

Antes de sair do quarto, Naruto viu a amiga abraçando o próprio corpo, trêmulo, enquanto enterrava ainda mais o rosto no travesseiro. Ele jamais conseguiria esquecer aquela imagem.

"Droga, Sasuke!", pensou, antes de sair do aposento.


Sakura não saberia dizer quantas horas haviam passado ou há quanto tempo ela estava deitada naquela cama. Mas percebeu que não se importava. Duvidou que, algum dia, encontrasse algo para se importar outra vez.

Estava escuro, então tudo indicava que era noite, ela foi obrigada a notar. Procurou forças para sentar-se, mas percebeu que já não as tinha. Fechou os olhos. Percebeu que era capaz de sentir o cheiro dele. Hortelã, pensou.

Algo que não esperava, invadiu todo o seu corpo. Era raiva. Raiva essa que lhe deu forças para levantar rapidamente e tirar bruscamente os lençóis da cama. Ela não percebeu que estava gritando xingamentos até que Ino, que cochilava numa poltrona próxima a cama, abriu os olhos e a encarou assustada.

Pegou todos os tecidos que jogara no chão e os levara para banheiro, no qual tentara, sem muito sucesso, enfiá-los de qualquer jeito na cesta de roupa suja. Deixou-a sem fazer muito progresso. Não importava.

Ino tentara ir até ela, mas fora muito lenta. Sakura trancou a porta. Tentava recuperar o fôlego, enquanto escorregava até o chão. Encostou a cabeça na porta, fechando os olhos com força, enquanto as lágrimas insistiam em escorrer impiedosamente por suas bochechas.

Afastava as mexas do cabelo do rosto, quando percebeu que elas também tinham o cheiro dele. Levantou-se, arrancando as roupas e abrindo o box. Ligou o chuveiro.

A água quente lhe trazia lembranças. Os dois ali, tomando banho juntos. Ela rindo e esfregando as costas musculosas dele. Sasuke sorrindo um sorriso minúsculo, beijando o pescoço dela, deslizando as mãos por seu corpo.

A água agora era gelada. Mudara esperando que o choque de temperatura a trouxesse de volta para o presente. Funcionara. No entanto, percebeu que o passado era um lugar muito mais feliz, caloroso e agradável. A água gelada misturou-se as lágrimas salgadas.

Quando voltara para o quarto, percebeu que sua cama estava perfeitamente arrumada, com edredom, lençóis e fronhas limpos. Mas o quarto estava longe de ser um local seguro.

De roupão mesmo, deitou-se na cama. Encolheu-se até seu rosto estar enterrado em seus joelhos. Não importava se a posição era terrivelmente insuportável. Mais uma vez, lembrou-se, que nada era realmente importante.

Sentiu quando Ino sentou ao seu lado. Os dedos da amiga deslizavam por seus cabelos molhados, quase que maternalmente.

- Vai ficar tudo bem – Ela disse, baixinho. – Vai ficar tudo bem.

Por mais que todos continuassem a repetir aquilo, Sakura duvidava que, algum dia, tudo voltasse a ficar bem.

Ela estava perdida.


Notas da autora: Mais uma fanfic sasusaku, haha. Essa vai ser um pouco mais dramática, adulta e longa do que as que eu costumo escrever. Vai ter, mais ou menos, 10 capítulos.

Se vocês gostarem, me digam e eu continuo postando. :)

Obrigada e até a próxima!