DISCLAIMER: Natsuki Takaya é uma maravilhosa desenhista e escritora de mangás, e é ela quem possui Fruits Basket, não eu. Também não possuo o Barney (pelo que eu agradeço a Deus três vezes de manhã e três à noite, todo dia).


Doze

Capítulo Um: O Ataque Histérico de Akito


Cercado de papéis, exames médicos, diagnósticos e receitas de medicamento, Hatori calmamente preparava seu material de trabalho. Hoje atenderia vários familiares seus, como todo dia. Como todo dia também, ele o faria como se fosse um robô, um muito alto e cego de um olho.

Ainda bem que o dia estava calmo, pensava ele, tranqüilo. Sem Ayame ligando para ele o tempo todo para falar de Yuki, sem Shigure fazendo barulho e tirando sua concentração. Aparentemente, eles haviam ido a um lugar qualquer juntos, o que lhe era bastante conveniente.

E Akito parecia bem calmo hoje, graças aos deuses. Estava até vendo televisão…


Akito, o patriarca dos Souma, aquele que todos temiam por algum motivo, no momento, encontrava-se jogado em cima de sua poltrona preferida e exclusiva. Estava numa posição tal que parecia um boneco (vestido de preto, lógico) que alguma criança jogara de qualquer jeito num canto quando se cansara de brincar. Mas jurava que estava confortável.

Assim, confortavelmente, ele brincava com o controle remoto e sua tevê gigante.

Anime, anime, programa de auditório, programa de culinária, canal de vendas… o que era aquilo, estavam vendendo mangueiras pela tevê agora?... canal de esportes, notícias, correspondente de Londres, anime, anime, guerras no Oriente Médio, uma gaivota coberta de petróleo, anime, Barney, enlatado americano, Shigure num talk-show, anime, canal francês, anim—

Akito voltou três canais.

Shigure num talk-show.

Bem, isso não se vê todo dia, não é.

Como estava de ótimo humor, Akito resolveu perder seu tempo com o inútil do Shigure. Este estava sentado ao lado de algum gordo vestido de terno risca-de-giz, separados por uma espécie de balcão, parecendo bastante satisfeito consigo mesmo. Mas que grande babaca, pensou Akito, alegremente.

'… livro que está fazendo um grande sucesso, mesmo tendo sido publicado há apenas duas semanas,' dizia o gordo do terno. 'Poderia nos contar algo sobre sua obra, Souma-san?'

'Não gostaria de estragar a surpresa. Mas, creio que algumas pessoas aqui do auditório podem ter lido,' disse Shigure, indicando com a mão alguma coisa atrás da câmera.

O gordo do terno dirigiu-se ao auditório. 'Alguém gostaria de dar algum depoimento?' A câmera girou, de forma que agora mostrava um número considerável de pessoas, sentadas em cadeiras pretas acolchoadas de vermelho.

Akito sempre quisera uma cadeira daquelas. Hm.

Agora algumas pessoas começavam a levantar a mão, cautelosas; mas alguém vestido de verde-limão, numa das cadeiras da frente, já estava fazendo um pequeno estardalhaço para que o escolhessem.

'Eu! Eu! Minha maravilhosa e adorável pessoa! Escolham-meee!' gritava Ayame, os cabelos prateados intactos enquanto ele pulava para cima e para baixo em sua cadeira.

O gordo do terno pediu para que Ayame se aproximasse, o que ele fez quase que rodopiando. 'Sente-se conosco,' disse o gordo, simpático. 'O senhor seria…'

'Souma Ayame, Gordo-san!' disse Ayame, muito emocionado ao lado de Shigure. Este parecia estar se divertido muito.

Ele não devia estar se divertindo sem mim, pensou Akito, irritado. Depois acertaria as contas com ele.

'Ah, são parentes, então! Que coisa fantástica,' disse Gordo-san, muito interessado agora. 'Então, poderia nos dizer quais foram suas impressões sobre o livro de Shigure-san aqui? Se identificou com o enredo?'

'Lógico, afinal, meu querido priminho resolveu libertar nossa família das garras da escuridão e revelar nosso sofrimento a todo o mundo!'

'Eu diria que Akito não ficaria feliz se soubesse desse meu livro,' disse Shigure, sorridente. Akito franziu o cenho. O que ele quis dizer com isso? O que ele quis dizer com isso? 'Aaya, não quer fazer um resumo da minha obra para aqueles que ainda não tiveram a felicidade de lê-la?'

'Faço qualquer coisa em nome de nosso amor… Gure-san,' disse Ayame, em tom profundo.

'Meu agradecimento será feito hoje à noite… Aaya,' disse Shigure, em tom igualmente profundo.

'Yes!' disseram os dois, com carinhas felizes e o polegar para cima.

Akito caiu da poltrona.

'B… bem,' murmurou Gordo-san, meio pasmo, 'Por favor, Ayame-san, prossiga.'

'Ah, sim!' Ayame parou para pensar um pouco. Parecia muito concentrado.

Alguém na platéia assobiou. Ayame mandou-lhe um beijo.

'Devo falar em tom profissional, não acha, Gure-san?' perguntou ele, enquanto o alguém da platéia se derretia todo. Shigure fez que sim com a cabeça. A voz de Ayame ficou subitamente séria. 'Muito bem. O livro de meu primo Shigure, de título "Doze", relata toda a nossa dor perante uma maldição…'

'Epa,' murmurou Akito.

'… que atinge doze integrantes de nossa família. Logo no primeiro capítulo compreendemos que essa maldição está relacionada à lenda dos Doze Animais do zodíaco chinês…'


Hatori molhou seu carimbo na almofadinha de tinta. Preparou-se para carimbar seu diagnóstico.

'HATORIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIII!'

E carimbou a mesa.

Suspirando resignado (era bom demais para ser verdade, mesmo), Hatori ergueu-se de sua cadeira e se dirigiu à fonte dos gritos histéricos – em outras palavras, seu patriarca.

'Sim, Akito, em que posso ser útil?' disse ele, roboticamente.

Akito estava, no momento, pisando e pulando em cima de sua tevê gigante, ou os destroços dela. Ah, ótimo, pensou Hatori, agora tanto exercício vai deixá-lo cheio de dores no corpo. E quem vai ter que cuidar dele? Eu mesmo.

Akito olhou furioso para seu médico particular. 'Hatori! Quero que você vá AGORA MESMO procurar os malditos do Shigure e do Ayame e fazer algo bem malvado com eles! Uma sugestão: disseque-os!'

Hatori ergueu uma sobrancelha. 'O que eles fizeram dessa vez?'

'PERGUNTE A ELES QUANDO OS ENCONTRAR!'

'Sim, senhor,' disse Hatori, dando de ombros. 'Mais alguma coisa? Particularmente, creio que o senhor não devia estar pulando ensandecidamente como está fazendo agora. Vai ficar cheio de hematomas, o senhor sabe como seu organismo é frágil.'

Akito parou. Ficou pensativo por alguns segundos. E finalmente, disse 'E daí? É você quem vai ter todo o trabalho!'

'Tem razão,' disse Hatori, conformado. 'Peço licença para me retirar, então.'

'Vá com Deus,' retorquiu Akito, voltando a massacrar sua pobre, pobre televisão.

E então, lembrou-se.

'Ah, sim! HATORIIIII!' berrou para o médico, que já ia longe no corredor. Este olhou para trás. 'Me arranje uma daquelas cadeiras de auditório que a gente vê na tevê! PRA ONTEM!'

'Sim, senhor,' disse Hatori, sempre obediente.

Akito, já satisfeito em ver sua tevê reduzida a pó, pegou o controle remoto e foi para a janela.

Ora, ora, não é que aquele era a aberração do Kyo? Ele estava sempre por perto quando era necessário.

Akito jogou o controle remoto na cabeça dele.