Capítulo 1

Lily olhou para o comboio escarlate à sua frente e deu um meio sorriso. O primeiro verdadeiro em tanto tempo. Não conseguia deixar de o fazer pois sempre que via aquela estação, era como se estivesse outra vez no primeiro ano com o coração acelerado, as malas na mão e os olhos vidrados de emoção da descoberta. O Severus ao seu lado, o seu primeiro amigo que lhe contara tudo o que sabia sobre o maravilhoso sonho que com onze anos iria começar a descobrir.

Agora no sexto ano tudo mudara, desde o ano passado tudo era diferente e ela sentiu um arrepio ao lembrar aquele Severus de olhos meigos que era uma alavanca para todas as outras memórias do fim do ano passado.

Tinha sido um ano difícil, mas agora ela estava de volta com força e segurança em si mesma ou assim ela esperava.

Ela sentiu a sua áurea brilhante e pura e virou-se com um sorriso de orelha a orelha no rosto e foi envolvida pelos braços de um ruivo alto.

-Quase não acredito que estás aqui! Que bom ver-te Fabian, que bom! – disse realmente feliz. Ele estava diferente, mais alto, mais forte.

-Bom é ver que estás inteira e com esse sorriso, tive medo de como te ia encontrar. Não balances os ombros como se não fosse nada contigo, a tua mãe disse-te que eu passei por tua casa?

-Todas as vezes – respondeu com um sorriso envergonhado e depois acrescentou baixinho – desculpa.

-Não peças desculpa, fico feliz de estares aqui porque eles vão precisar muito de ti .

"E eu ? A quem é que vou poder recorrer?" mas Fabian adivinhou os seus pensamentos e deu-lhe um encontrão carinhoso.

-Vou estar por perto Lily e tenho um presente para ti, achei que ias precisar depois deste Verão horrível – disse tirando um livro da capa que usava – toma – novamente um sorriso enorme – sempre que precisares de mim .

Ela agarrou-se ao livro de capa negra sentindo a magia que emanava dele e pela segunda vez escapou-lhe um sorriso do rosto.

-tens de treinar esse sorriso Lily, já teve melhores dias. Não fiques com essa cara – disse ao ver que o pequeno sorriso tinha desparecido – Eu não sei o que aconteceu mas... vai ser mais fácil eu tenho a certeza, um dia de cada vez.

Ela assentiu. Tinha sido o mantra dela por dois longos meses "um dia de cada vez, sem objetivos, sem planos...um dia de cada vez"

Mas tentou mudar de assunto, não podia mergulhar naquela dor e só ela sabia como lhe custava cada segundo, era como aprender a respirar.

-Tu não estás aqui só por causa de mim , onde está a Alice? Diz lá de uma vez onde está a minha amiga que eu não vejo à tanto tempo ? "Apanhei-te, olha só esse ar de menino que comeu o passarinho? "

-Ela...já entrou no comboio, não era seguro sermos vistos juntos.

- Eu sinto a falta dela.

- Eu também

-Já? "Senhor Prewett quase que podia gargalhar com esse corar"

-Foi um Verão intenso não olhes para mim com esse ar de gozo, eu não sei como vou ficar tanto tempo sem ela.

-Vocês são o casal mais forte que eu conheço e eu sei que vão arranjar uma solução. Vamos Fabian, nem vais ter tempo de pensar nisso com tanto treino para o curso de Auror.

-Mesmo assim não me importava de estar mais perto dela até para a proteger...

-Pensa que aquele monstro já não vai estar cá e ela tem-nos a nós. Este ano vamos ser só nós raparigas, compras aos fins de semana, passeios por Hogsmeade, banhos de sol ao pé do lago...

-han han quem não vos conheça que vos compre, suas pestes!

-já vais embora? – disse sentindo o coração falhar uma batida ao ver o amigo virar costas.

-Remus! Ele vai ser quem vai garantir que vocês vão andar na linha.

-O Remus? Tu não conheces o meu amigo... ele vai acabar por se juntar a nós.

-Temo que a Lily tenha razão. Apesar de tudo sou um Maroto Prewett.

Fabian fez um ar de descrença como se o mundo estivesse perdido e Lily aproveitou para olhar Remus e não queria ver nos olhos dele a pena que sabia que ele sentia dela. Porque Remus era o único que sabia ...que sabia porque ela tinha passado o Verão sozinha , sem querer uma palavra do mundo bruxo.

Mas ao vê-lo ali... aquele sorriso na cara de força e coragem...os olhos azuis e o sol a bater no cabelo loiro, ela atirou os braços ao pescoço dele num abraço apertadíssimo e as lágrimas que achou que tinham secado, afinal estavam ali à superfície prontas para cair.

-Desculpa Remus! Desculpa, desculpa , desculpa...tu não merecias o meu silencio. Nenhum de vocês, eu sinto tanta vergonha. Desculpa . – após a surpresa inicial Remus passara os braços em volta dos ombros dela como se a tentasse proteger dos olhos do mundo e Lily ainda conseguia ouvir Fabian respirar , muito quieto...a sua áurea quietinha..- sou uma idiota ! por pensar que podia ultrapassar tudo sozinha.

-chhhh está tudo bem, vamos ter tempo para conversar , eu só quero saber que estás aqui, o resto não me interessa . eu senti tanto a tua falta...pronto está tudo bem – disse-lhe enquanto acariciava o cabelo côr de fogo. – recompõe-te, o que vão achar se nos virem assim? Vá lá ... elas estão todas lá dentro à tua espera e só querem saber que estás aqui, ninguém vai fazer perguntas não te preocupes , eu não vou deixar e tu és forte, a mais forte...tudo vai passar.

Foi com estas palavras que Lily se sentiu segura para respirar pela primeira vez em dois longos meses, que sentiu que estava protegida e ia correr tudo bem.

Finalmente sentiu-se confiante para se separar dele, ia correr tudo bem "um passo de cada vez. Dados os acontecimentos estás a ir lindamente Lily!"

Fabian como ela pensava, estava muito quieto e deu-lhe um sorriso de coragem.

- Tenho de ir e vocês têm de entrar. Lily , o livro não te esqueças. Se precisares, eu venho a correr. Lupin – um aperto de mão – toma conta delas por favor, alguém com juízo por perto delas é o que me faz dormir à noite descansado.

O outro riu envergonhado e Lily viu aquele que se tinha tornado talvez um dos seus melhores amigos, tal como Remus, passar a passagem para o mundo dos Muggles.

-e nós? Estás pronta para mais um ano? – o lobisomem agarrou na mão dela com força.

Pronta? Não sabia ...não até dar de caras com ele, então aí talvez percebesse em que estado é que ela afinal se encontrava. Mas ela ia dar o seu melhor. Ela era forte, ela era Lillian Evans e não só! Ela era muito mais, agora sabia...

A viagem de comboio correu bem. Gostou de ter revisto os seus colegas Monitores, tinha-se esquecido que pertencia ali naquele sítio que transpirava magia , os seus poderes formigavam depois de tanto tempo sem usar magia. Aproximavam-se de Hogwarts com rapidez e ela sentia a floresta proibida a chama-la, a sua querida floresta...e tantas memórias.

- Lili! Como foi o Verão? Remus...o Sirius e o Peter foram comprar doces à senhora do carrinho se quiseres ir ter com eles.

-eu vou acompanhar a Lily até à carruagem das meninas.

Lily sentia o estomago embrulhado apenas pela menção do nome dele e decidiu naquele momento que também não tinha gosto nenhum em rever Potter.

- O que se passa ruiva? Nem uma palavra? Talvez um insulto? Nada?

-É Evans, Potter – disse com desanimo.

-Só isso? Sem berros ou maldições?

-Preferia berros ou maldições Potter? – ela disse com um sorriso trocista – acho que isso ficou no ano passado

- de certeza? Isso é por causa do Snape ainda? "Idiota!"

-Potter tira a mão.

Remus bufou.

-As meninas ficaram muito preocupadas o verão todo, Fabian então não falava noutra coisa, já para não falar de Remus. O que aconteceu Evans? Porque nem uma palavra durante todo o Verão?

-James...

-Deixa Remus, ele é um enxerido. Não vai parar de fazer perguntas, sempre foi assim, mas devia ter aprendido com o ano passado que a curiosidade matou o gato.

-Matou um gato? Como assim? "Super idiota, é com isto que tenho de lidar mais dois anos "

-Esquece – não tinha paciência para lhe explicar o proverbio Muggle – achei que podia tirar férias da tua presença Potter.

-Então espero que tenhas aproveitado as férias porque agora que estamos todos juntos novamente – ele disse apoiando um braço em Lily e o outro em Remus – temos de comemorar! Uma festa de boas vindas a Hogwarts hoje à noite!

-Não – disseram os outros dois.

- Uma pena , já está tudo a andar. Sirius vai buscar as bebidas e Peter a comida e eu estou a tratar das pessoas. "Se ele continuar a sorrir ainda lhe parto um dente"

E temos tanta coisa para pôr em dia Lily. Eu admito que Fabian sabe uns truques mas treinar com ele é estranho e falta-lhe alguma elegância.

Ela deu as costas, não conseguia continuar a ouvi-lo e quanto mais tempo ficasse ali mais provável era de dar de caras com quem não queria. Assim que formulou este pensamento, Severus Snape entrou no corredor e deu de caras com ela.

-oh – ela disse "oh?depois de tudo?é so isto que lhe consigo dizer?"

-Seboso -James disse com tom de asco e muito rapidamente sentiu Remus ao seu lado e Potter à frente dela , o primeiro tentando conduzi-la para uma carruagem mas o seu lado masoquista levou a melhor.

-Potter - o outro respondeu, o ódio na voz mas os olhos fugiam para Lily vez ou outra.

-Não olhes para ela Seboso, não tens esse direito depois do que lhe chamaste.

-mete-te na tua vida Potter.

-Então vai à tua vida Seboso e deixa-a em paz.

Snape fez um gesto de quem procura pela varinha mas a mesma apareceu nas mãos de Potter "continuo sem perceber como é que ele faz isto"

-Era isto Snape?

-James – Remus segurou-lhe no braço e acenou que não com a cabeça.

Para lily aquilo já chegava, deu as costas e ia embora, não queria ter mais nada a ver com aquilo. Que se matassem, não era ela que ia dizer o que quer que fosse, não daquela vez pelo menos.

-Lily... – "que raios porque tenho de olhar?"

E o olhar dele dizia tanto!

"Pois é mas desta vez eu não quero saber Severus, adeus."

Quando entrou na carruagem e largou os pensamentos sobre Severus no corredor, as três amigas deram um salto e lançaram-se sobre ela. Estava em casa, onde quer que isso fosse. Com Ana, Marlene e Alice à volta dela e Remus na porta com aquele sorriso, ela sabia que tudo ficaria bem. Ela devolveu o sorriso e respirou fundo "eu sou corajosa Remus , tu vais ver"

-Contem-me tudo, o que foi que eu perdi?

As três começaram a falar ao mesmo tempo. Ana dos pais, assim como Alice. Esta ultima saíra de casa e morava com Fabian e Marlene, a mais descontraída, falou um pouco de tudo: roupas, rapazes e das férias longe de Inglaterra.

Ninguém lhe fez nenhuma pergunta, sabiam e não era preciso falar, que alguma coisa não estava bem mas Lily agradeceu por não lhe fazerem o interrogatório que tanto lhes apetecia.

Pelo canto do olho viu Remus sair e fechar a porta "obrigada"

Quando chegaram a Hogwarts começou a chover e elas mudaram de roupa. As quatro saíram apressadas, mas Lily disse-lhes para seguir ao ver uma certa figura mais a trás a olhar para ela.

-O que se passa?

- Olá

-Olá – Lily retrucou – como tens estado?

A outra mexeu-se desconfortavelmente "Não muito bem, estou a ver"

-Devíamos reunir, precisamos de falar os três. Sem o Prewett há coisas que precisam ser ajustadas.

-Muito bem, fica atenta. o mais cedo que conseguir eu irei passar uma mensagem.

-Evans sei que estiveste fora do mundo, mas nós não nos conseguimos dar a esse luxo. Por aqui..tudo piorou.

Ela tinha percebido o recado. O mundo andara sem ela que fora egoísta e que passara o verão todo apenas a pensar em si mesma.

Ainda não confiava totalmente nela e tinha arrepios de todas as vezes que se falavam.

Avançou para as carruagens e entrou na primeira que apareceu. Só então percebeu que não estava sozinha, ia falar quando percebeu quem estava lá dentro. Congelou. Dois meses a preparar-se para aquele momento não tinha sido suficiente. Havia raiva dentro de si, tanta que quase transbordava e dor e um pouquinho de loucura...acima de tudo ela não compreendia. Mas sabia que era impossível voltar atras, ele deixara isso claro.

A porta da carruagem voltou a abrir-se e Remus ficou a segurar a porta enquanto olhava para eles. Lily não desviou o olhar por um segundo e percebeu pela áurea de Remus que ele queria estar em qualquer outro lugar menos ali. A áurea dele... a áurea dele não dizia nada, não conseguia lê-la e ainda bem. Não queria. Não queria nada naquele momento que tivesse a ver com ele.

-Lils

Algo se quebrara nela . ela tinha conseguido ouvir e Sirius também. Ela afinal não estava preparada para o ver, quanto mais falar , não confiava em si perto dele nem perto de ninguém. Ele acabara com ela, com os sonhos dela e deles e com a inocência deles, tudo de uma vez. E porquê? PORQUÊ?

-PORQUÊ?

Baixou os olhos quando percebeu que gritara o ultimo pensamento em voz alta. Ela saiu da carruagem, os cabelos vermelhos balançando até à cintura, conseguia sentir os seus poderes a formigar na palma das suas mãos.

-Eu vou a pé. Sozinha, não me sigas Remus – o nome do amigo saiu abafado pelas lagrimas. Quando a primeira caiu , ela tornou-se invisível e desapareceu na floresta proibida.

Ela era corajosa e ia ultrapassar tudo, só não podia querer tudo de uma vez. Com o tempo iam restar as memorias boas, apenas essas e ela ia perdoar e aceitar porque essa era a sua natureza.

Os seus pensamentos voaram longe na primeira memoria que tinha de como tudo tinha começado, ao mesmo tempo que largava aquela descarga de energia e dor. Um pé a seguir ao outro , deixando para trás a dor e cada vez mais perto de...casa.

"

Setembro do ano passado:

-Sabia que viria

-Ai sim?

-Sedento por poder e sangue...tinha de vir mas a jóia não está comigo.

-Porque é que eu acreditaria? Que razões teria para me dizer a verdade?

-Nenhumas

-Cruciatus

O velho caiu no chão arquejando de dor. Lily quis berrar mas ninguém parecia ouvi-la . o homem que torturava o velho caído no cão, estava noutro mundo completamente concentrado na raiva e odio e lily não pertencia aquele sítio.

-diz-me ou o poder irá perder-se.

-nunca se perderá. Ficará adormecido, à espera.. – os olhos do velho começaram a fechar-se.

-espere...ESPERE – o homem de cabelos castanhos e tez pálida berrou e só então Lily percebeu que tinha berrado com ele.

O velho abriu os olhou e viu-a ali.

-ah – e sorriu- vieste – Lily quase sentiu o toque dele , gostaria de fazer alguma coisa para aliviar a sua dor, mas sabia que ele morreria não tarda.

-estou aqui.

-Sari e..e...Selene ...abençoada sejas.

-Não ! velho!enervate! ENERVATE!

O velho tirou do bolso uma joia linda, uma maçã de ouro presa por um fio e estendeu as mãos para ela. Lily ao ver a urgência do velho esticou as mãos e pegou na maça admirando-a perdendo assim o momento do ultimo suspiro de vida do ultimo guardião .

O sonho mudara mas ela ainda segurava a maçã bem presa na sua mão. Não conseguia dizer onde estava mas assustou-se quando percebeu que não estava sozinha. Uma mulher muito jovem e pálida aproximou-se de Lily com os cabelos longos e negros, alguns entraçados a esvoaçarem nas suas costas.

- Onde está Caius? Quem és tu?

Lily não sabia do que ela estava a falar e isso só pareceu irritar a outra até que percebeu a maçã na mão da ruiva. Grandes olhos verdes tao parecidos com os seus olharam-na de um rosto bem diferente do seu . um pouco de odio naqueles olhos e paixão também."os olhos são o espelho da alma"

-Um senhor deu-me, sabe o que é? Ele foi...foi...

E a mulher percebeu o que tinha acontecido e os seus olhos esmeralda afinal também tinham dor, mas não verteram nenhuma lágrima.

-Faz todo o sentido...

-Se for sua – disse a ruiva estendendo a maçã .

-sim é minha, mas não é para mim. Agora é tua, que não saia da tua mão...

-Lillian Evans.

-Lillian...abençoada sejas. Deves ter muitas perguntas mas não é a hora. Tu tens de descansar e não comentes isto a ninguém . Procura-me quando tudo acalmar.

-Mas como ? eu nem sei quem tu és e isto ..."isto é só um sonho!"

- O meu nome é Selene e tu vais saber como.

Acordou sobressaltada e com a sensação de mau estar no fundo do estomago. Tinha adormecido em cima da lição de transfiguração. Na sala comunal onde as brasas na lareira se apagavam, era demasiado cedo para ter ali alguém.

Lá fora o primeiro raio de sol surgiu no céu.

"o sol brilha para todos"

Foi quando sentiu o peso extra na capa e ao levar a mão ao bolso o seu coração já aceitara o que era. A maçã de ouro, ali na sua mão. Não tinha sido um sonho, ela estivera lá e vira o velho perder as suas forças e morrer deixando-lhe a sua ultima esperança. Rodou-a na mão , mal acreditando...

Sentiu medo misturado com uma maravilha que não conseguia explicar, um formigueirozinho na ponta dos dedos...um segredo.

Guardou a maçã no bolso para a analisar mais tarde e apressou-se. Não conseguia dormir e tinha tanto para fazer.

Vomitou urgentemente o que tinha no estomago num caixote ao lado dela e apesar de estar a tremer sentiu-se significativamente melhor. Pelo menos o zunido nos ouvidos parecia ter parado.

Uma mão tocou-lhe nas costas e ela saltou de medo e pavor, acalmando-se logo a seguir quando viu quem era .

-Sentes-te melhor? - Sirius Black estendia-lhe um lenço que ela aceitou. Sentia-se agora extremamente envergonhada por o Maroto a ver naquela situação.

-Sim, obrigada - Sirius encolheu os ombros com descaso – não sei o que se passou.

-. Queres ir apanhar ar? Ou queres que chame a Ana ? O Remus?

Ela abanou que não com a cabeça, encostada à parede.

Evanesco – disse para limpar o caixote de lixo.

O silêcnico reinou durante os minutos que se seguiram. Ela não gostava de Sirius especialmente ou de James Potter. Desde sempre, a implicância que tinham com ela por ser amiga de Remus, era enorme. Sirius no entanto costumava ignora-la simplesmente. Odiava a forma como eles tratavam os mais novos e os Sonserinos e a única opinião que tinha sobre eles é que eram irresponsáveis e imaturos, sem noção do que as suas acções provocavam nos outros.

No entanto, naquele momento, agradeceu interiormente por ter alguém ali com ela. Mesmo que esse alguém fosse Sirius Black.

-Toma. O chocolate faz bem a tudo – disse estendendo à ruiva um sapo – foi o Remus que me ensinou.

Lily sorriu um pouco ao lembrar-se do amigo e aceitou o chocolate. Sirius tinha mãos grandes e elegantes, fortes e seguras. Ao aceitar o chocolate, ele ficou um tempo quieto a olhar para ela. Grandes olhos azuis escuros presos nela, com uma cara tão séria que ela não podia adivinhar o que ele estava a pensar. Ela estava quase a perguntar-lhe o que é que se passava, quando ele disse com um pequeno sorriso, passando a mão pelo cabelo:

-Passo a vida a perguntar-me o que raios o Aluado vê em ti.

Não era um elogio. Pelo menos Lily não conseguia ver assim. Ninguém tinha o direito de se meter na amizade que ela tinha com Remus, nem aqueles dois. Era a relação mais saudável e o seu amigo mais íntimo, nunca deixaria ninguém dizer o contrário.

-Óptimo, temos algo em comum. - disse de braços cruzados e o sorriso desfeito. - Não passo um dia sem me perguntar, porque raios vocês os quatro são amigos.

Sirius gargalhou alto com a atitude da ruiva e Lily desencostou-se da parede ainda mais ofendida, mas assim que ele deixou de rir, o olhar que ele pôs nela era tão intenso que ela se voltou a encostar à parede, certa de que tal como para ela, aquele era um assunto sensível para Sirius. Ela pensou que ele lhe ia tirar o chocolate da mão quando ele esticou a mesma num gesto infantil, mas ele levou as duas mãos à gravata da ruiva, ajeitando-a enquanto disse:

-Temos bem mais coisas do que tu pensas em comum, Se...

Sirius não acabou a frase, pois ouviram um barulho no alta da escada e uma pessoa a sair do dormitório masculino. Sirius endireitou-se e virou-se para a mesma, à espera de quem ia sair. Era Remus é claro, que olhou para os dois com um olhar intrigado, analisando a situação, o chocolate e o olhar de choque na cara de Lily e o porte altivo de Sirius. Quando falou nem sequer olhou para Sirius.

-Está tudo bem contigo Lily? - ela acenou que sim com a cabeça – hum – disse desconfiado.- ouvi um barulho.

-O que se passa Moony? Achavas que eu ia devorar a tua preciosa amiga?

-O que se passa afinal? O que estão os dois aqui a fazer?

"Sim, o que estamos os dois aqui a fazer?"

-Acordei mais cedo e vou descer.

-Eu adormeci aqui.

-Outra vez? – o loiro apontou

-Sim... hey Black , ainda é horário noturno.

Mas Sirius riu alto do comentário da ruiva e passou pelo retrato não dando explicações e Lily ficou com a certeza absoluta de que não o conseguia decifrar. O rapaz de cabelos negros irritava-a , era petulante e ela não conseguia nunca perceber as suas reacções e acções. Remus no entanto, não parecia sofrer do mesmo mal e olhou para o retrato fechado com uma sobrancelha levantada e Lily teve a clara noção de que os dois iriam ter uma conversa mais tarde. "

Tinha sido assim que tudo tinha começado. Essa noite tinha sido o inicio de uma grande reviravolta na vida de Lillian Evans.

Agora que se aproximava do castelo, as lágrimas deixadas para trás, sabia que tinha de andar para a frente. Andar para a frente e mostrar a Sirius que o passado tinha ficado no ano anterior e ela tinha superado.

Quase riu daquele pensamento "Superado, pff Lily não te iludas!um dia de cada vez"

Remus estava à espera dela à porta do castelo , muito quieto e atento e tinha um ar de alivio quando a viu aparecer encharcada. Ela podia ter passado por ele, invisível, mas decidiu não o fazer, viu pelo olhar do amigo que ele não aguentava mais ser posto de parte.

-Podia ter sido pior não é? – ela disse com um sorriso trocista que nos últimos tempos começava a ser a sua marca.

Atirou-se ao pescoço do loiro fazendo uma réplica do abraço na estação.

-Porquê? Eu só queria perceber...

-tu querias que tudo fosse como antes mas isso não é possível.

-Eu sei

-Porquê não vai servir de nada, porque nada apaga...

-Nada apaga o que estou a sentir. Como é que ele está?

Remus riu alto finalmente apertando-a com força.

-Agora sim a minha Lily está de volta. Sempre preocupada primeiro com os outros do que com ela. Anda, o salão comunal precisa dos seus monitores ou o James vai acabar por desfaze-lo .

Mas Lily percebeu que Remus não lhe respondera.

-Não quero vê-lo.

-Ele não vai lá estar.

- Onde é que ele está?

Remus suspirou alto

-Desculpa

-Isto não é fácil e não me estou a queixar, a minha preocupação dia e noite têm sido vocês os dois e não me arrependo, mas eu preciso de vos ver a andar, pelo menos a fazerem um esforço . Têm de fazer um esforço por vocês para que isto resulte. Não estou a dizer que comecem a falar ou a portarem-se normalmente à frente um do outro, mas um pequeno passo a seguir ao outro...ok?

Não teve forças para responder e apenas acenou com a cabeça.

-isso, vocês são fortes, os mais fortes... se vocês não sobreviverem quem vai?

O salão comunal era a loucura total com pessoas a dançar em cima de poltronas e musica alta. Lily não quis acreditar quando viu Potter a mandar os alunos do primeiro e segundo ano subir para os respetivos dormitórios "o que é que eu perdi estes meses?", Marlene ria alto da torre de copos que faziam em cima de alguém que dormia profundamente apesar da barulheira e só quando se aproximou percebeu que era Peter " que maldade"

-Parem com isso, não têm mais com o que se divertir? – disse limpando tudo com um gesto de varinha.

-LILLYYYY!

E desabou no chão sobre o peso de Marlene e Ana que se tinham atirado sobre ela

-Onde é que andaste?

-Pelos vistos não sentiram a minha falta

-Não estavas aqui para nos controlar e nós ...hmm

-Vocês foram fazendo das vossas não é Mckinnon? – disse um Remus que pousava uma Alice muito quieta e de olhos arregalados no chão – O Prewett incumbiu-me de olhar por ti, faz o favor de me ajudares ou queres que ele me degole na próxima vez que me vir? – disse apontando-lhe o dedo indicador como quem ralha a uma criança.

- Eu não sou uma criança e Fabian pode confiar em mim.

"ela vai começar a corar" e assim que Lily pensou, a face de Alice preencheu-se de um vermelho rosado "bom saber que nem tudo mudou por aqui."

-REMUS!

Lily mal viu a massa que se lançou sobre o seu amigo mas viu muito surpresa o beijo que Ana pregou num despreparado Remus. "Mas que merda se passa aqui?"pelo olhar de Marlene não era a única surpreendida.

- Pois é Evans, aconteceram algumas coisas durante este tempo.

-tira a mão do meu ombro Potter.

- Não fiques com ciúmes, há muito amor Maroto para todas.

- Potter...eu estou a avisar.

- Hey , Hey ! Moony tira já essa mão daí, quem é que tu pensas que és? Ana é a minha prima

-Eu tinha a mão na cintura dela – pela cara de Remus aquela cena já era velha e Lily riu . sabia muito bem como é que o Potter era com os namorados da prima.

-James pára de ser metediço e arranja uma rapariga que te ature.

-Bem dito Ana – disse Remus beijando o canto dos lábios da morena. Remus olhou pelo canto do olho para ela, queria saber a reação de Lily , queria a sua aprovação, ela sabia, mas ela estava maravilhada.

Como é que podia ser? Que aqueles dois que se odiavam e que no ano passado quase se quiseram matar, estavam ali à sua frente com todo aquele mel?

Potter aproveitou a distração de Remus para lhe lançar uma maldição de pernas bambas que o fez cair sobre Peter e acorda-lo, atirando os dois ao chão e fazendo com que Remus rogasse uma serie de pragas a Potter. Lily gargalhou alto.

-Evans agora que recuperei o teu humor e seguindo a dica do Moony. "Não, por favor não perguntes isso" Queres sair comigo?

Ela já tinha a varinha preparada mas não estava pronta para a raiva que ela sempre sentia quando o ouvia dizer aquilo . quase podia sentir no fundo da garganta, o berro...

-POTTER!

N.A- Estou finalmente a rever esta fic e vim para ficar! Tenho mais dois capítulos preparados que serão mais curtos mas a partir daí irão crescer. Desculpem se o enredo parece confuso por estar constantemente a falar no sexto e quinto ano, mas tudo se vai esclarecendo. Se gostaram mandem reviews.

Estou muito feliz por estar de Volta! E AMO L/J !