Ripples
Por Yellow Mask
Olá, esta é uma de minhas favoritas FF. Resolvi traduzí-la para o português, uma tarefa difícil e trabalhosa, mas também muito agradável.
Para quem puder recomendo a leitura em inglês (id:4328663)
Ela já está finalizada e é um pouco longa, mas vale muito à pena.
Espero que curtam tanto quanto eu.
Abraços!
dai86
Ripples – "ondulações causadas por um corpo que rompe a superfície da água."
"Quando uma pequena pedra cai num corpo d'água sob repouso, causa ondulações em todas as direções, perturbando até mesmo águas distantes em calmaria."
- Science Daily, .2007
Capítulo 1
Captura
'Tsunade disse que minha compaixão seria minha morte, ' Sakura refletiu com amargor. ' Nunca imaginei que ela quis dizer literalmente. '
Sakura havia sido enviada para uma vila na Terra do Fogo pra cuidar de um surto de uma variação particularmente vil de sarampo. Não era uma ameaça significativa para a população adulta saudável, mas muitas crianças pequenas haviam contraído a doença vindo a falecer. Demorou alguns dias, mas ela foi capaz de isolar todos os infectados e suspeitos de infecção, planejando deixar que a doença ocorresse normalmente entre aqueles que estivessem saudáveis e fortes. Nas crianças – o grupo de risco – ela executou um jutsu de cura.
Infelizmente, um jutsu dessa completude era extremamente exaustivo, e Sakura se dirigiu pra casa com um nível de chakra muito baixo – erro número um.
Então, quando ouviu sons de batalha e gritos de desespero na estrada à frente, correu naquela direção sem realmente considerar as conseqüências – erro número dois.
Em resumo, alguns erros a levaram à atual situação – enfrentando um grupo de ninjas de Oto numa tentativa de libertar um grupo de viajantes que estavam sendo seqüestrados.
Era uma batalha que ela estava claramente perdendo. Seu chakra estava baixo, ela estava exausta e havia se jogado em batalha contra mais de 20 ninjas sem considerar as conseqüências.
'Ainda bem que estupidez não é crime, ou eu seria condenada em 5 minutos.'
A batalha passou rapidamente de 'ajudar as pessoas que estavam sendo seqüestradas' a 'tentar não ser seqüestrada você mesma.' Ela não sabia por que eles estavam capturando pessoas indiscriminadamente, mas todos os ataques tinham intenção de desabilitar ao invés de matar – talvez Kabuto estivesse precisando de pessoas pra suas experiências ou algo do tipo.
Sakura recuava em saltos, evitando uma chuva de dardos que sem dúvida continham algum tipo de veneno... e descobriu que se esquecera de levar em conta a posição do rio quando se movia.
'Outro sinal que você realmente não estava pronta pra essa batalha,' ela disse pra si mesma enquanto relaxava o corpo esperando que a queda no barranco não quebrasse nenhum osso. 'Você não está nem raciocinando direito! Idiota!'
O mergulho na água tirou quase todo seu fôlego, mas Sakura teve presença de espírito o suficiente pra não emergir imediatamente. Ao invés disso, entregou-se à corrente, esperando ser carregada pra longe do perigo antes que o oxigênio em seus pulmões se esgotasse.
Ela se permitiu um momento pra agradecer ser a temporada de chuva – permitindo, uma forte corrente – e que o rio fosse profundo.
Quando Sakura finalmente emergiu e escalou a vegetação no barranco às margens do rio, por um momento acreditou ter escapado deles... até que ouviu berros e o som de muitas pessoas correndo pela floresta.
Qualquer que fosse a categoria que esses ninjas pertencessem em Oto, discrição não era uma de suas melhores qualidades.
Infelizmente, ela havia atingido um ponto calmo do rio – a corrente não a carregaria rápido dali, e certamente não a levaria pra muito longe a tempo. Ela poderia correr, mas duvidava que chegaria longe. Ou ela poderia lutar... e morrer com esplendor.
Honestamente, Sakura preferia a opção de lutar – pelo menos assim ela não acabaria à mercê de mais de 20 ninjas sem morais ou escrúpulos, mas...
Naruto nunca a perdoaria. Mais importante, Sakura nunca se perdoaria. Ela fora testemunha do desespero que tomou seu amigo após o desastroso encontro com Sasuke e ela não iria – não podia – lhe tirar outra pessoa querida.
Independente do quanto poderia custar a ela.
Assim, ela revisou seus planos em sua mente. ' Vou ter que ser apanhada, por enquanto pelo menos. Estou exausta demais agora. Vou ter uma melhor chance de fuga após algum descanso. Mesmo que represente uma noite ou duas em cativeiro. '
Ela não era estúpida – ela sabia que estava dando espaço pra uma série de problemas ao permitir sua captura... mas era sua melhor opção no momento.
Dessa forma, juntando todo o chakra restante em seu corpo, ela executou um jutsu de transformação.
Ela não seria capturada como Haruno Sakura, porque isso já era abusar demais da sorte. Ela não seria nem mesmo capturada como uma garota – algo lhe dizia que não seria uma boa idéia ser uma prisioneira do sexo feminino.
O pulso de energia em seu corpo se esvaiu como um fraco zunido, e ela se inclinou sobre a beira da água pra avaliar seu trabalho.
Avaliou o adolescente que a encarava na superfície da água, sua pele alguns tons mais escuros que a dela, com cabelos castanhos curtos que caíam sobre olhos verdes brilhantes.
Por alguma razão, uma mudança na cor dos olhos era difícil de manter em uma transformação, e ela não tinha idéia de quanto tempo seria obrigada a manter essa charada. Sakura achou melhor ser prudente.
Escutando seus perseguidores se aproximando, ela rapidamente se livrou de sua saia pra parecer estar utilizando uma vestimenta unissex, assim como todo seu equipamento ninja, enfiando tudo sob uma folhagem densa.
Então, apesar de difícil, deitou às margens como se estivesse tomando sol, completamente ignorante dos ninjas se aproximando. Com um pouco de sorte ela poderia se passar por um garoto matando tempo à beira do rio. Eles viriam e ela... bem, ela tinha certeza que a maioria das pessoas correria por suas vidas ao se deparar com um grupo de ninjas.
Ela ficou tensa conforme eles se aproximavam, finalmente olhando naquela direção quando eles surgiram abruptamente por dentre as árvores.
Sakura simulou sua melhor expressão de susto antes de se levantar e tentar correr na direção oposta. Ela nem precisou fingir correr em velocidade de uma pessoa normal – a exaustão, juntamente com o esforço de manter a transformação lhe dava a certeza que uma lesma geriátrica a venceria.
Assim, não foi surpresa quando alguém lhe agarrou os braços e os torceu, forçando-a a se ajoelhar.
"Garoto!" Um dos ninjas lhe agarrou os cabelos, puxando sua cabeça pra trás. "Você viu uma garota de cabelo rosa passar por aqui?"
Sakura sacudiu sua cabeça negativamente, tentando agir como se estivesse muda de medo.
"Quem se importa?" um deles retrucou. "Podemos atingir nossa cota com esse garoto. Leva ele!"
Sakura se viu jogada em direção à estrada onde lutou contra os ninjas. Os viajantes que tentara ajudar estavam alinhados em uma longa fila com suas mãos atadas à frente, amarrados entre si por cordas em seus pescoços. De fato, isso parecia...
Sakura paralisou quando entendeu do que se tratava. Era uma fila de escravos!
É claro, ela não deveria estar surpresa. Oto era tão corrupta que não lhe chocava que eles fizessem uso de escravos ou lucrassem com sua venda.
Ela torceu pra que eles apenas fossem vendidos num mercado em algum dos países menos cordiais – seria muito mais fácil de escapar desses locais do que da segurança de Oto.
Sem mencionar que ela poderia se deparar com...
Ela sacudiu a cabeça expulsando qualquer pensamento de Sasuke de sua mente. Ela precisava se concentrar em sua própria sobrevivência em primeiro lugar.
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Quando a longa linha de escravos finalmente pôs os pés em Oto, Sakura já estava furiosa com o mundo. Furiosa consigo mesma por ser estúpida e se envolver numa batalha sem considerar as conseqüências; furiosa com o fato de que os prisioneiros, juntamente com ela, estavam sendo levados pra uma base de Oto ao invés de um mercado de escravos qualquer; definitivamente furiosa com os ninjas escoltando eles.
É claro que eles provavelmente estavam furiosos com ela também. Nos três últimos dias, desde que ela havia sido capturada, Sakura ganhou uma reputação por ser um encrenqueiro teimoso. Ela tentou escapar um total de quatro vezes, sendo recapturada e arrastada de volta cada uma das vezes. Suas costas ainda ardiam das pancadas que recebeu como punição, mas pelo menos os ferimentos haviam parado de sangrar.
Tudo que suas tentativas frustradas de fuga conseguiram foi provar que ela teria que jogar conforme as regras, pelo menos por enquanto. Afinal de contas, ela não podia escapar se fosse espancada até quase a morte, não?
Ela lançou um olhar de compaixão às pessoas à sua frente. Após três dias de cativeiro, marcados por ameaças constantes, e suas próprias punições públicas pelas tentativas de fuga, os prisioneiros pareciam verdadeiramente intimidados. Era quase irônico: as surras tiveram maior efeito sobre eles do que sobre ela.
Mas ela era uma kunoichi, estava habituada à dor. Não era agradável, mas era algo com o qual ela sabia lidar.
A fila parou diante do que parecia ser um paredão de um penhasco... até que um shinobi deu umas batidas contra ele – Sakura decorou o padrão: duas batidas fracas, três fortes – e uma entrada secreta se abriu na pedra.
Sakura não sabia o que estava acontecendo, mas a fila se movia lentamente, dando alguns passos e então parando. Sua primeira impressão era a de que eles estavam sendo processados de alguma forma, e uma ansiedade lhe tomou de assalto ao imaginar o que esse processo envolveria.
Quando chegou sua vez de passar pela entrada, ela firmou o queixo e os ombros, determinada a encarar o que quer que a esperasse...
Ela se deparou com um homem magricela usando uma bandana de Oto, segurando uma coleira e roupas marrons. Ela teve a impressão de ver outros atrás dele, mas a repentina transição da luz da floresta para o escuro corredor de pedras fazia manchas brilhantes dançarem à sua frente enquanto seus olhos tentavam se adaptar.
Alguém lhe agarrou os cabelos e ela resistiu a vontade de reagir, se limitando a apertar seus punhos amarrados em frustração. O homem à sua frente levantou a coleira de couro... então franziu a testa.
"Consigo sentir um forte chakra vindo dele," ele sussurrou, fazendo um gesto atrás dele que Sakura não conseguiu ver na luz escassa.
A outra coleira que ele trouxe à tona fez o sangue congelar em suas veias. Também era de couro, mas tinha uma uma tira de metal no meio, com uma longa agulha saliente. E não havia apenas uma simples correia pra prendê-la, parecia mais uma espécie de tranca.
Sakura sabia que ela não queria aquele colar perto dela. Ela não fazia idéia do que ele faria, mas aquela agulha com certeza não lhe faria bem.
Assim, ela lutou pra se livrar dos homens que a seguravam, tentando futilmente se esquivar da coleira. Alguém a chutou atrás do joelho, forçando-o a se dobrar e atirando Sakura em direção ao chão. Mãos agarraram seus ombros, forçando ela pra baixo enquanto seus cabelos eram puxados pra frente com tanta força que ela podia sentir lágrimas em seus olhos. Sentiu sua nuca exposta.
Ela ainda lutava, mas não havia muito que pudesse fazer. Não conseguiu evitar o grito de dor que lhe escapou quando sentiu a agulha penetrar sua nuca.
Mas a dor da agulha não era nada comparada à sensação que percorreu seu corpo quando a coleira foi fechada, como um forte choque elétrico. Ela não sabia o que a agulha estava fazendo, mas de alguma forma estava interferindo com seu chakra. Sakura lutou pra manter a transformação conforme o mundo se distorcia ao seu redor, seus membros cedendo como galhos verdes. Ela direcionou cada resquício de energia em seu corpo para manter a ilusão de um rapaz moreno, de cabelos escuros...
E pareceu funcionar. Com certeza não ouviu nenhum grito de surpresa ou raiva que sinalizasse que a ilusão desaparecera. Quando foi forçada a se levantar novamente, Sakura percebeu que a coleira teve algum efeito sobre seu chakra. Ela não sabia o que ao certo, mas ele parecia... restringido. Como se a transformação fosse tudo que ela conseguiria manter.
'Provavelmente serve pra restringir o chakra de alguma forma, ' pensou consigo enquanto lhe era entregue um uniforme marrom e ela era empurrada na direção de outros escravos sob ordens de trocar de roupa logo. 'A agulha deve ter algum tipo de toxina.'
Ela sabia que provavelmente a agulha deveria manter o chakra em nível equivalente ao de um civil, mas ela teve sorte sob esse aspecto – ela já estava esgotada. Assim, o chakra que o ninja havia sentido não era seu nível original. Em outras palavras, a restrição imposta por sua coleira não seria suficiente pra conter 100% de seu chakra quando ela se recuperasse. Seria difícil lutar numa batalha, mas ela certamente teria mais chakra do que seus inimigos esperariam.
É claro, assumindo que a coleira estivesse programada para um nível específico.
Livre de suas amarras e deixada na companhia dos outros prisioneiros, Sakura começou a se trocar e discretamente utilizou suas roupas originais pra amarrar seu peito. A transformação era completa e eficaz, mas ela precisava ter certeza de que não haveria evidência física de seu gênero.
Ao final, seu peito não estava completamente achatado, mas o suficiente pra ficar sutil sob o uniforme de escravo. Ela podia passar por um homem fisicamente, mas precisava alterar seu comportamento a certo nível também. Durante suas missões, ela havia coletado aspectos de seus colegas com a intenção de simular o comportamento masculino. Considerando que seus colegas se tratava de Kakashi, Naruto e Sai, os outros prisioneiros acharam que ela era louca, mas era melhor do que se achassem que ela era uma garota disfarçada.
Encostando-se contra a parede de pedra enquanto os outros prisioneiros circulavam confusos, Sakura estudou seu entorno. Este parecia ser outro esconderijo subterrâneo de Oto, mas ela não tinha como saber sua exata extensão ou se era um dos principais. Pelo o que ela sabia, este podia ser apenas uma parada antes de alcançar o verdadeiro destino.
"Haru?"
Sakura teve que se lembrar de se virar para o garoto que se dirigia a ela. Ela havia se apresentado como Haru, levando em conta que soava masculino, e como ela já estava habituada a atender por Haruno quando chamada, não seria tão estranho responder por esse nome.
"Sim, garoto?" ela perguntou.
"O que você acha que vai acontecer com a gente?"
"Não sei," Sakura admitiu, tentando soar impassível, mesmo querendo reconfortá-lo. "Talvez eles estejam tentando descobrir –"
"Calados!"
Sakura saltou automaticamente quando um dos captores gritou, sua voz reverberando contra as paredes de pedra.
"Alguém não tomou seu café hoje..." ela resmungou. Sarcasmo e bravata ajudavam a lidar com a situação; contanto que ela pudesse desafiá-los de alguma forma, ela podia fingir que seu futuro imediato não estava nas mãos de corruptos sádicos.
"Vocês trouxeram uma boa colheita..." A voz macia vindo das sombras fez um arrepio correr por sua espinha.
Orochimaru.
Parece que eles foram trazidos pra base principal de Oto afinal.
Seus captores se curvaram em reverência, enquanto o evocador de cobras se revelou das sombras... com Uchiha Sasuke ao seu lado.
Sakura ficou tensa, seu coração batendo violentamente em seu peito como coices de um cavalo selvagem.
"Bem, algum deles lhe apetece?" Orochimaru perguntou à Sasuke, como se eles estivessem discutindo sobre gado.
"Eu não preciso de um escravo." Sasuke retrucou.
E não precisava mesmo. Escravos em Oto sempre o deixavam desconfortável; suas cabeças baixas e olhos vazios sempre lhe davam uma sensação estranha. Algo que ele chamava de desprezo, mas perigosamente próximo de pena.
Orochimaru ignorou sua petulância, e Sasuke pôde sentir um indício de ira dentro de si.
"Pode escolher," o sannin deu com os ombros. "Já que você parece tão relutante a aceitar qualquer um dos escravos que já temos aqui..."
Sasuke correu os olhos pelo grupo de esfarrapados – aparentemente uma família de viajantes que sofrera uma emboscada na estrada.
Agora eles encaravam uma vida de servidão.
Sasuke expulsou sentimentos de compaixão que rondavam sua mente, se forçando a sentir nada senão desgosto pelo óbvio medo em seus olhares, pelo modo como se encolhiam contra a parede como ratos a mercê de um gato. Seus espíritos já submissos.
Então seus olhos pousaram sobre um garoto ao fundo. Ele também se apoiava contra a parede, mas era mais uma postura de casual, relaxada, do que de medo. Ele também olhava em outra direção, mas não por medo – pelo contrário, parecia mais um ato de desinteresse, como se o próprio Orochimaru estivesse aquém de seu interesse.
E a coleira; couro reforçado com uma trava de metal... Sasuke havia visto esse tipo de coleira antes. Eram usadas apenas em indivíduos capazes de manipular chakra – indivíduos com treinamento ninja.
Sua curiosidade havia sido atiçada. O garoto não parecia muito mais velho do que ele próprio... talvez um genin separado de seu grupo?
Como se sentindo seu olhar, os olhos do garoto se voltaram para ele, e Sasuke se viu encarando olhos verdes brilhantes. Um olhar feroz e vivaz, que certamente não pertencia a um homem domado.
Havia algo estranhamente familiar naqueles olhos. Algo que cutucava sua mente, provocando com sussurros de familiaridade e ecos de memória.
"Ele," Sasuke disse bruscamente, apontando o garoto de olhos verdes.
Sakura mordeu sua língua pra controlar sua vontade de praguejar. No momento que a presença de Sasuke se fez clara, ela tentou ser o mais discreta possível, torcendo pra que ele não a escolhesse. Ela não precisava de um balde de tormentos emocionais despejados sobre seus já complicados problemas. Ela até mesmo desviou seu olhar, lembrando que contato visual era garantia de ganhar a atenção de alguém.
E mesmo assim ele a escolheu.
'Perfeito. Realmente perfeito.' Até seus pensamentos eram sarcásticos.
"Tem certeza que não prefere uma das mulheres?" Orochimaru murmurou. "Os homens podem ser fisicamente mais aptos, mas as mulheres podem cuidar de... certas necessidades. Apesar de que você pode usar homens pro mesmo propósito, se desejar assim."
Sasuke o ignorou.
Sakura por sua vez estava a ponto de gritar. Como ela poderia escapar quando estaria perto de Sasuke o tempo inteiro? Ela se recusava a admitir que parte dela estava contente; mas, se ele estava preparado pra matar Naruto, certamente não hesitaria em se tratando dela.
Um sutil empurrão em seu ombro a tirou de seus terríveis pensamentos.
"Vá com Lorde Sasuke," seu captor grunhiu.
Sakura revirou os olhos (discretamente – não seria bom causar problemas agora) e obedeceu.
Ela se virou e seguiu pelo corredor sem olhar pra trás. Assumindo que ela deveria segui-lo, Sakura se apressou atrás dele, lançando um olhar em direção ao grupo de prisioneiros sendo inspecionados por Orochimaru, até que, virando uma esquina, não pôde mais enxergá-los.
Ela o seguiu de perto pelos corredores, tentando montar um mapa em sua mente pra quando fosse escapar. Quando eles chegaram a uma porta pesada ao fim do corredor, Sakura presumiu que eles haviam alcançado seu destino, o que se provou correto quando Sasuke abriu a porta e entrou sem delongas.
Ela entrou atrás dele, um pouco surpresa com o tamanho do quarto. Seu apartamento não era tão grande assim!
Sasuke gesticulou com a cabeça em direção a um canto vazio do quarto. "Você dorme ali. Se quiser algum tipo de cama, arranje você mesmo."
Aparentemente, Sasuke era um cretino com qualquer um, incluindo seu próprio escravo. "Alguém está fulo... " Sakura murmurou, baixo o suficiente pra não ser ouvida.
Mas ela não levou em consideração que as paredes de pedra ampliassem o som, ou a boa audição de Sasuke. "O que?"
"Nada," ela negou imediatamente.
Ela duvidou que Sasuke a questionasse além disso, – ele provavelmente acreditava estar abaixo dele – se surpreendendo quando seus olhos negros se voltaram pra ela, perspicazes, como se buscassem algo. Teve o impulso de se afastar, mas firmou os pés de maneira determinada.
"Qual é o seu nome?" ele perguntou abruptamente.
"Haru," Sakura respondeu.
"Nome ou sobrenome?" ele indagou.
"Não acho que quero que você saiba," Sakura retrucou ansiosa. O que é que Sasuke estava querendo?
Sasuke encarou o garoto, meio intrigado, meio exasperado. Ou Haru ignorava completamente sua situação, ou tinha mais coragem do que Sasuke pensava.
Mesmo que essa petulância lhe desse vontade de bater nesse garoto, ainda sim era melhor do que o tipo usual de escravo, que se arrastavam quase beijando o chão em submissão.
Mas Haru nem prestava mais atenção a ele; seus olhos percorriam o quarto de uma forma que uma pessoa menos perspicaz identificaria como medo. Mas Sasuke pôde ver seu olhar calculista – a forma sutil como franzia as sobrancelhas, num sinal de concentração mais do que de desconforto – e sabia que ele estava examinando o cômodo sem janelas procurando pontos fracos ou vias de fuga além da porta pela qual acabaram de entrar.
"Você já está planejando fugir," Sasuke comentou, apenas pra ver a reação de Haru ao ser flagrado.
"Você não faria o mesmo em meu lugar?" o escravo retrucou.
'Fica fria, Sakura,' ela implorou pra si mesma.'Fica fria, fica fria – você consegue, você consegue...'
Sasuke sorriu com desdém. "Eu nunca vou estar em seu lugar."
Sakura sentiu algo reconfortante no fato da arrogância de Sasuke não ter mudado. "O que você preferir acreditar..."
Ela torceu pra que esse comentário encerrasse essa estranha conversa. Porque Sasuke estava se dando ao trabalho de conversar com ela? Até onde Sasuke sabia, ela era um jovem escravo de língua afiada que ele não queria lhe servindo pra começo de conversa.
O que ela sabia era que não lhe agradava o olhar em seu rosto. Como se estivesse encarando um quebra-cabeça incompleto, e ele tentasse imaginar a imagem completa. Como se ela o intrigasse, e ele quisesse entendê-la.
Francamente, sua fuga seria muito mais complicada se Sasuke fosse vigiá-la assim.
Quando ela quis sua atenção, nunca conseguiu, e agora que não queria, ele lhe dá até demais. Irônico... e também um pouco doloroso, mas Sakura não queria pensar sobre isso.
"Você está fedendo, vá se limpar," Sasuke ordenou, lhe dando as costas.
Em outra situação ela se sentiria ofendida, mas ela sabia que ele tinha razão. Após três dias de jornada na floresta, uma tentativa de fuga que terminou no pântano, e o sangue seco que fazia suas costas coçarem, Sakura tinha certeza que seu cheiro não era dos mais agradáveis.
E ela não estava em posição de recusar um bom banho. Pelo menos foi o que ela entendeu que ele a mandou fazer.
Assim ela se dirigiu à porta na outra ponta do cômodo, a porta que ela tinha quase certeza se tratar de um banheiro, enquanto Sasuke remexia um armário como se ela sequer estivesse ali.
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Cinco minutos mais tarde Sakura decidiu que ela amava quem quer que tenha inventado encanamento doméstico. Amava completamente, profundamente e incondicionalmente. Amava, amava, amava, amava.
Nunca um banho quente foi tão bom.
Mas também fazia arder as feridas em suas costas, colorindo de rosa a água que corria para o ralo. Ela podia ver tons marrom velho, e tons mais vívidos e frescos de onde as feridas abriram novamente. Ela torceu o nariz ao perceber isso, tocando suas feridas com cuidado e avaliando a possibilidade de infecção. Por um lado ela era jovem e saudável, e se alimentava bem, dormia bem, e de forma geral mantinha um sistema imunológico saudável. Por outro lado, ela estava cansada, passando por muito stress emocional (com mais por vir), e os ferimentos ficaram várias horas expostos a todo tipo de sujeira.
Definitivamente infecção era uma possibilidade. Nada sério talvez, mas com certeza nocivo e incômodo. Além disso, ela não duvidava que Orochimaru preferisse matar um escravo doente a lhe disponibilizar tratamento médico.
Ela ficou lá sob a água considerando o que fazer. Ela podia informar Sasuke de seus ferimentos se eles infeccionassem, mas não tinha idéia de como ele reagiria. Além disso, mesmo que ele decidisse prover tratamento, isso envolveria ser examinada por Kabuto, quem ela preferia evitar a qualquer custo. Tanto Kabuto quanto Orochimaru na verdade.
Ela tinha confiança em suas habilidades de transformação, mas também não ia presumir que seu disfarce era infalível contra ninjas desse calibre.
É claro... ela também podia tentar se curar sozinha. A coleira restringia seu chakra, mas não o bloqueava completamente. Com certeza ela levaria uma bela surra numa briga, mas provavelmente tinha chakra suficiente pra fechar as feridas em suas costas sem muita dificuldade.
Mesmo assim, ela não sabia o que a coleira faria se tentasse executar outro jutsu enquanto mantinha a transformação.
Com esse pensamento em mente, Sakura girou o pescoço até que conseguisse enxergar o espelho pelo canto do olho. Ela havia evitado olhar pra ele quando entrou (não por vaidade, mas era bem estranho ver um homem olhando pra ela no espelho), mas agora ele tinha uma utilidade. Alinhando bem os olhos e o espelho (e afastando os cabelos, é claro) Sakura deu a primeira boa olhada na parte de trás da coleira.
Havia uma pequena tira de metal, não muito diferente da trava que a prendia. Exceto pelo fato de ser redonda e saliente. Ela imaginou se não haveria aí algum tipo de toxina. Isso explicaria a agulha, e também a sensação de dormência nessa área.
Presumindo que houvesse uma quantidade limitada de toxina na coleira, isso significaria ela tinha um prazo de validade. Haveria um momento em que ela não funcionaria mais.
É claro, com a sorte que ela tem tido ultimamente, esse prazo seria de uns dez anos.
Sakura mexeu e cutucou a coleira de todas as maneiras possíveis, chegando a tremer de dor quando a puxou forte demais, fazendo a agulha se mover sob sua pele. Aparentemente, a toxina não causava dormência total. Se alguém decidisse agarrá-la e sacudi-la, ia doer pra caramba.
Jurando não permitir que qualquer pessoa tocasse sua coleira, Sakura decidiu arriscar. Não faria mal algum tentar um pouco de jutsu de cura... só pra checar até onde ela conseguia chegar.
Além disso, ela não precisava se curar completamente – apenas o suficiente pra fechar as feridas e tratar qualquer infecção que já tenha se instalado.
Com uma respiração profunda, Sakura pressionou a mão contra sua lateral, acumulou seu chakra... e arriscou.
Sentiu um pouco de vertigem, que a deixou zonza e um pouco enjoada, mas as feridas cicatrizaram até certo ponto, apesar de ainda parecerem vermelhas e vívidas.
Sakura se enxugou e vestiu o uniforme marrom que parecia ser a marca registrada de um escravo por aqui, saindo então do banheiro...
Freando antes de dar com a cara contra o peito de Sasuke.
"Opa!" exclamou recuando, só então percebendo que seus movimentos e reflexos não foram típicos de um civil. Com certeza essa coleira era um sinal de que eles haviam detectado chakra nela, mas podia se tratar de um garoto comum com afinidade maior com chakra do que a maioria.
Mas ela acabara de denunciar que havia recebido treinamento profissional. Sasuke provavelmente não era capaz de determinar a que nível, mas o fato dele saber já era motivo suficiente pra preocupação.
"O que você estava fazendo lá dentro?" Sasuke perguntou num sussurro ameaçador. Ele sentira um pico de chakra do quarto, fraco – obviamente por causa da coleira – mas ainda forte o suficiente pra que ele sentisse. Não era o significativo o suficiente pra representar ameaça, então resolveu esperar Haru sair do banheiro pra confrontá-lo.
"Tomando um banho," Haru disse num tom surpreendentemente calmo. "Presumi que era isso que você quis dizer quando mandou eu me limpar."
"Eu senti um pico de chakra," Sasuke disse de forma brusca, seus olhos começavam a se tingir do vermelho e preto característicos de seu kekkei gekkai. "O que você estava fazendo?"
Sakura torceu pra que não estivesse a ponto de desmoronar. Havia uma tensão e intensidade perigosas em sua voz, como se uma lâmina afiada estivesse sendo pressionada contra seu pescoço.
Mas Sakura era uma kunoichi – mais especificamente, uma mednin, habitualmente obrigada a tratar de pacientes à beira da morte – e estava acostumada a pensar rápido sob pressão.
'Se eu mentir e não disser nada, ele vai perceber com certeza,' ela raciocinou. 'Então a melhor opção é...'
"Se você faz questão de saber, eu estava vendo se conseguia tirar essa coleira," disse, dando com os ombros pra disfarçar seu desconforto. "Agora você vai me espancar como punição ou eu posso ir procurar uma cama?"
Sasuke simplesmente a encarou por um longo momento – tão longo que a tensão começou a tomar seus músculos conforme ela se preparava pra... algo. Algum tipo de reação dele, possivelmente violenta.
Mas nada aconteceu. Sasuke simplesmente passou por ela e entrou no banheiro, o leve som da fechadura marcando o fim de... o que quer que tenha transcorrido.
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Sakura arrumou os cobertores que encontrou como uma cama no canto do quarto, consciente de que Sasuke a observava, e desconfortável com isso. Ele não havia dito nada, e o silêncio a estava deixando inquieta.
"Então... o que eu devo fazer?" ela perguntou eventualmente. Ela tinha quase certeza que escravos não deviam fazer perguntas a seus donos, mas já não agüentava mais essa observação silenciosa."
A expressão no rosto de Sasuke permaneceu inalterada.
"Quer dizer, que tipo de serviço você espera que eu faça?" Sakura elaborou.
Sasuke deu com os ombros – um movimento quase imperceptível dos ombros, como se não quisesse desperdiçar a energia. "Mantenha o quarto limpo, minhas armas em ordem e faça o que quer que eu ordene."
Sakura se virou pra enrolar um dos cobertores pra servir de travesseiro, revirando os olhos no segundo que deu as costas pra ele.
Como se fosse sua deixa, Sasuke se dirigiu à porta e saiu do quarto, detendo-se apenas para instruí-la a não deixar o quarto enquanto ele estivesse fora.
Sakura não tinha a menor idéia de como interpretar aquilo (talvez ele estivesse indo treinar), mas não iria desperdiçar essa oportunidade de ouro.
Ela começou a cuidadosamente revistar o quarto, meticulosamente catalogando o que estava ao seu alcance, caso precisasse. Quando em território inimigo você nunca sabe o que podia precisar.
Foi mais rápido do que imaginou; o quarto era sem dúvida grande, mas bem espartano em termos de mobiliário e equipamento. Sasuke tinha uma cama, um armário, uma estante de armas... e só. Seus artigos de higiene pessoal se limitavam a sabão, xampu, pasta e escova de dente.
Quanto mais ela olhava, mais aquele cômodo lhe parecia um quarto de hóspedes, com coisas que você levaria numa viagem; apenas o mínimo necessário já que você não pretendia ficar por lá por muito tempo. Mas pensando bem , Orochimaru mudava de base a cada tantas semanas. Era seguro presumir que Sasuke se mudava com ele.
Era melhor presumir isso do que imaginar que Sasuke só teve a intenção de ficar temporariamente com Orochimaru.
Certa de que havia feito uma lista mental de tudo que ela poderia precisar, e sentindo que provavelmente era tarde da noite (era difícil discernir no subterrâneo, mas seu relógio biológico estava exigindo descanso), Sakura se acomodou em sua cama improvisada. Sasuke ainda não havia voltado, mas se ele precisasse de algo, teria que acordá-la.
Após executar um truque que Tsunade lhe ensinara – um jutsu que assegurava que a transformação se manteria enquanto ela dormia (o que exigia um controle preciso de chakra) – Sakura se encolheu e fechou os olhos, dizendo pra si mesma para descansar antes de tentar escapar.
"É em seus momentos de decisão que seu destino é moldado."
- Anthony Robbins
Traduções sempre deixam um pouco a desejar. A fluidez do texto sempre fica um pouco comprometida, mas espero ter conseguido não perder muito nessa tradução.
Abraços!
dai86.
