O Lírio e o Verde de um Velho Professor de Poções
por Marfire
Protegia os olhos verdes porque imaginava estar a proteger os dela. Os óculos, uma muralha. Uma muralha de aros redondos, fragmentando uma ligação que existira. Que poderia ter existido. Que ter-se-ia fortalecido não fosse a intercessão da morte. Iludia os seus próprios sentidos com promessas e quimeras de reencarnação. Fantasmagorias, esqueletos de um passado cuja mão violácea do último inimigo, perfeita de veias negras, roubara ao envelhecido professor de Poções. Tens os olhos da tua mãe. Protegia o verde porque imaginava estar a protegê-la a ela. Acarinhava o verde porque imaginava estar a acarinhá-la a ela, um lírio de encarnadas pétalas que murchara sob o sopro daquele que nunca será derrotado. O último inimigo, nefasta criatura de desprezível reputação, cuja vivência era inquestionável e cuja derrota era impensável.
Fatigado, ele protegia e protegeria o verde porque ela era… verde. A íris era verde e a pétala, caindo para emoldurar o rosto, era castanha-clara. Velho, o professor de Poções, o príncipe dos mistérios, acarinhava o verde da sua casa, o verde do seu brasão, porque a cor, o borrão, lhe trazia memórias dela. Vivia de agradáveis enganos. Amenos, prazenteiros enganos que o guiavam a proteger o verde dos olhos daquele rapaz, que também ainda vivia de ledos enganos. A proteger o que os olhos representavam, sem nunca transpor a gasta muralha de aros arredondados, sem nunca sorrir ou revelar qualquer detalhe que denunciasse a sua intimidade com o verde e com o ruivo.
Para aquele rapaz de singelos olhos verdes, de rebeldes cabelos negros, o único verde que Severus Snape acalentava pertencia à sua casa naquele velho castelo e estava cozido no seu manto, anexo ao peito. Para Harry Potter, Severus Snape só amava a antiga e arrogante Slytherin.
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