-Harry... –murmurou uma voz masculina entre os destroços do corredor explodido.
O garoto estava estirado entre os resquícios do que antes fora um lado do castelo, agora destruído, provavelmente alvo de algum poderoso feitiço. O ar frio denunciava que estava certo, que não havia mais corredor ou sala precisa.
Sangrava. No momento não poderia determinar exatamente onde, seu tato estava abalado e ainda recuperava os sentidos. Teve a impressão de que alguém o chamara.
-Rony? –indagou Harry, levantando-se tonto.
-Harry, aqui. –disse a mesma voz que ouvira antes, próxima.
O menino olhou para os lados procurando por quem o chamava, sua cicatriz ardia terrivelmente, e por conseqüência mal conseguia se concentrar na busca.
Foi então que sentiu uma mão agarra-se ao seu tornozelo. Sua primeira reação foi se afastar, empunhando a varinha com força, preparado para lançar um feitiço estuporante caso necessário.
-Sou eu Harry, por favor, não acho que vou conseguir resistir por muito tempo.
Harry finalmente descobriu quem era o dono daquela voz: Entre os restos de pau e pedra pode reconhecer a silhueta do homem que um dia fora seu professor de Defesa contra as artes das trevas.
-Lupin! –exclamou, dando um salto na direção do antigo professor.
Ele sangrava profusamente, com uma enorme estaca de mármore fincada um pouco abaixo de seu coração. Era obvio que lhe restavam poucos minutos de vida.
-Eu preciso que você, -Lupin sussurrava, suas forças se extinguindo aos poucos. –Preciso que você me faça dois grandes favores.
Harry o fitou assustado, com lágrimas já lhe brotando nos olhos. O homem a sua frente estava morrendo e a culpa era toda sua, mais um filho que nunca chegaria a conhecer o pai. Agitou a varinha de Draco, lançando diversos encantamentos na esperança de que Lupin vivesse.
-Não adianta, Harry. Mas, não me importo de morrer aqui. –Disse Lupin com um meio sorriso, na tentativa de tranqüilizar um pouco o garoto. Tossiu uma ou duas vezes, espichando gotas de sangue no queixo de Harry. –M-me desculpe. Bem, não tenho muito mais tempo, acho. Preciso que me diga se ira fazer duas coisas para mim depois que eu ... –ele hesitou um instante, preocupado com a reação de Harry. –não estiver mais aqui.
As lágrimas escorriam muito agora, algumas caindo no rosto pálido do ex-professor. O som da batalha continuava, entretanto no momento parecia muito distante, como que em outra realidade.
Com o dorso da mão Harry enxugou a face manchada de sangue. Seu sangue. Mas isso não importava, Lupin desfalecia a sua frente, esta era a única verdade que conseguia assimilar naquele instante.
-Eu faço.
O homem abriu um caloroso e imenso sorriso, o que fez Harry pensar que ele iria se levantar animado, pronto para acabar com mais Comensais da morte. Contudo, para sua decepção isto não aconteceu.
-Ótimo, ótimo. –Disse, ainda sorrindo. –Não sabe o quanto me deixa feliz, Harry.
O lobisomem teve um ataque de tosses que o impediu de continuar, o sangue escorria pelos cantos de sua boca. Suspirou suavemente, forçando-se a se manter vivo por pelo menos mais meio minuto.
"Primeiro, prometa que irá falar para meu filho que eu o amo, que perdoe meus erros, e que estarei sempre olhando por ele. A verdade é que um dos grandes motivos de eu ter participado desta batalha foi para garantir o bem estar de Ted, o mundo em que ele ira viver."
Harry assentiu.
-Irei dizer sim, e também não vou esquecer de mencionar o quão corajoso você foi.
Lupin pareceu concordar, satisfeito.
-E a outra coisa... –sussurrou, Harry percebeu que ele corava. –Quero que veja minhas memórias. Não posso morrer com este segredo, já o guardei por tempo demais. –ele riu baixinho. –Deus, às vezes acho que pareço com Dumbludore falando. Enfim, quando possível prometa que irá ver minhas memórias.
O garoto o mirou confuso, o outro tossiu mais vezes, seus olhos estavam semi-cerrados, quase se fechando para sempre.
-Está bem, eu prometo.
-Obrigado. –murmurou ele, descontraindo-se, estava pronto para morrer.
Harry chorava, pedindo entre soluços que o ex-professor não morresse, que agüentasse mais um pouco, ele traria ajuda.
Mas Harry não conseguia entender, era tarde demais. Ele fora um tolo, um verdadeiro tolo. Perdera sua felicidade já fazia dois anos, não soubera aproveita-la.
-Me perdoe Sirius...
