Sinopse: Ansioso para suas férias, Harry sai de Hogwarts feliz. Seus melhores amigos – Ron e Hermione – juntos, futuros passeios com os padrinhos – Sirius Black e Arabella Figg – e ainda uma amigável relação com Ametista – a neta do diretor de Hogwarts. Mas, será que a situação se manterá dessa forma? Suas férias serão repletas de emoções, onde podem ser incluídas confusões com os trouxas Dursley e ainda o conhecimento da família Figg. Visitará lugares cheios de magia e encantamento, além de um castelo magnífico e misterioso na França. Em Hogwarts, no sexto ano, Harry se unira com velhos inimigos, conhecera uma antiga legião especial de bruxos, e descobrirá o prazer da adolescência. Além de ter uma nova matéria inclusa no currículo escolar – que fará olhos brilharem de satisfação – Harry terá ainda de conhecer novos professores. Podem esperar muitas confusões, muitos romances, muitos atos impensados e ainda, a ira de Voldemort – que agora, além de querer vingança sobre Harry Potter, quer seu maior bem do seu lado. Será que o sangue Dumbledore-Riddle resistirá ou deixará levar-se pelo encanto do mal? Harry Potter está de volta, carregando dezesseis anos e uma fama especial, para novas aventuras.
Aviso: Isso é uma obra de ficção. Algumas personagens e lugares citados pertencem à J. K. Rowling e foram usados sem permissão. Essa estória foi escrita sem fins lucrativos. Qualquer transgressão a marcas registradas não é intencional. Outras citações serão feitas quando necessário. Esta fic contém cenas fortes e não é recomendada para menores de 14 anos. Se você ainda não atingiu esta idade, mas acha que possui maturidade suficiente para lê-la mesmo assim, vá em frente, a responsabilidade é inteiramente sua.
Notas da Autora: Uau! Eu ainda não acredito que cheguei até aqui. Já faz mais de dois anos que me empenho a fazer uma série que seja muito loka, mas sabem como é. Acho que cheguei aqui porque muita gente me apoiou e me empurrou a não desistir de uma louca que nem a Ametista. Cada vez que recebo um e-mail, eu me sinto pressionada a fazer o melhor possível no capítulo seguinte. E foram os e-mails que recebi na época da "Herdeira" que me impulsionaram a fazer esta estória, esta continuação. Vocês sabem quem são, cada um. Só queria deixar registrado que vocês foram fundamentais para o nascimento dessa segunda fic (que aliás, eu gosto muito mais do que a primeira). Agora, se eu desejar me jogar da janela amanhã ou parar de escrever, espero que vocês continuem tão compreensivos e meus amigos como já são (HAHAHAHA!). Harry Potter e o Olho da Escuridão é a continuação da minha primeira Fanfic, Harry Potter e a Herdeira de Hogwarts. Sendo assim, é extremamente necessário que se tenha lido a "Herdeira" antes de iniciar esta. Mais uma vez, os personagens e muitas das situações citadas não são de minha propriedade. Essa é a minha segunda fic e espero que gostem muito dela! Muito obrigada! Divirtam-se...
***
Prólogo
O ano anterior de Harry foi um tanto agitado. O primeiro fato a ser citado seria certamente a absolvição de seu padrinho, Sirius Black, após um justo julgamento. Não podemos também esquecer da descoberta de uma madrinha, a professora de Aparatação de Hogwarts, Arabella Figg (se você não está entendendo, volte e leia Harry Potter e a Herdeira de Hogwarts), filha da velha vizinha com que Harry passava alguns dias no mundo dos trouxas.
Além disso, agora Rony e Hermione estavam namorando – finalmente, Rony declarara-se à garota, que com muita relutância, aceitou – mas ele não estava nem um pouco incomodado. Até mesmo não se importava mais com as constantes provocações de Draco Malfoy – que vinha rodeando Gina, sendo parte de um plano – ou do professor de Poções, Severo Snape. Na verdade, havia outra coisa que realmente o fez sair do sério e perder a paciência: Ametista Dumbledore.
A neta do sábio diretor ganhou certo ódio declarado do garoto mais famoso do mundo mágico, a partir de sua postura ríspida e provocadora. Mas, acreditem ou não, andaram trocando alguns breves beijos – finalmente, o primeiro dele. Porém, a inconstância dos sentimentos de Ametista por Harry e vice-versa causou um afastamento e negação – eles não estavam juntos e prosseguiam com intensas discussões, que deram origem a uma coleção de detenções para ambos.
Mesmo com tudo isso, a vida do garoto, que parecia não ter mais nenhuma novidade, transformou-se num inferno constante e até no paraíso na presença da garota, que, agora, descobrira seu passado. Ametista era filha de Hariel Dumbledore – filha do diretor – e, mesmo que pareça impossível, Tom Riddle – ou Voldemort. A situação ficara ainda mais delicada quando ela tivera conhecimento de que sua mãe fora casada com Sirius Black – que a odiava com todas as suas forças – e que ele a abandonara quando soubera da "traição" da mulher.
Na realidade, Voldemort havia feito um feitiço que possibilitou uma união de sangues – mas isso só será discutido mais adiante. Com isso, houve inúmeros acontecimentos – na maioria, muito ruins – entre a garota e Sirius. Agora, ambos não se encaravam e sequer trocavam qualquer palavra.
Harry, ao final de seus dias, – que incluíram até mesmo um ataque surpresa do comensal, Lúcio Malfoy – regressou a casa dos Dursley e, assumiu seus confusos sentimentos em relação à Ametista. Seu futuro estava à espera de grandes diversões dali a vinte dias. Num compromisso feito, Sirius e Arabella prometeram a Harry pegá-lo e, assim, as férias seriam passadas em "família". Em sua verdadeira família.
***
CAPÍTULO UM – O CASARÃOCandelabros clássicos, sustentando delicadas velas brancas, espalhados por todas as escuras paredes. Portas de madeira e carvalho fechadas ou trancadas por toda a extensão dos inúmeros corredores. O piso estava desgastado e rangia conforme o andar das pessoas.
Muitos diziam estar abandonado. Os mais próximos diziam estarem enganados. Uma rajada de vento carregada de desgraça e sofrimento cobriu aquele casarão por quinze anos. Os armários coloniais já serviam de alimento aos cupins há infinitos dias. As cortinas em tom pastel não mais enfeitavam as janelas destruídas.
Caminhar até o imenso jardim poderia ser ainda mais apavorante. Rosas, violetas, lírios, girassóis. Todos destruídos. A relva havia misturado-se a terra e adquirido uma coloração negra. A erosão arrastou-se, levando consigo a beleza da área mais perfeita do lugar.
Entretanto, o que mais despertava interesse da pequena população da vila eram os fundos. O jardim estendia-se em grandes parcelas, um dia floridas, até o quintal, onde em seu centro estava localizado algo parecido com um chafariz. Surpreendentemente, ainda jorrava água cristalina e pura do artefato. A única suspeita de vida concentrava-se ali. Um pouco mais adiante, encontrava-se o final da colina e um enorme barranco ou precipício, envolvido por árvores altas e também tomadas pelo tempo.
O casarão foi consumido pelas raízes do tempo e dificilmente seria restaurado algum dia. Não que fosse impossível. Porém, seria preciso uma incrível força, mágica e não mágica que pudesse salvá-lo. Ainda havia seres que poderiam executar esta tarefa com louvor. Mas não era tão fácil assim. Barreiras e obstáculos foram colocados em sua frente, impedindo que a felicidade voltasse a provir daquela que, um dia, fora a casa mais abençoada por Merlin.
Observando longinquamente, parados à frente do casarão, estavam dois seres. O primeiro era alto, cabelos negros e ligeiramente compridos. O segundo, igualmente alto, cabelos mais negros que os do interior e muito compridos.
A mulher procurou aproximar-se, encostando a face direita de seu corpo esguio e belo no companheiro. Sua mão direita foi de encontro às costas do homem, em sinal de conforto.
- Eu havia me esquecido – soltou as cordas vocais, produzindo um som grave, mas feminino. – As ruínas tomaram conta dele.
O homem respirou profundamente. Deu mais um passo para frente, soltando-se da mulher. Seus olhos perseguiam cada canto exterior do casarão. Voltou o passo e suspirou. Sentia uma dor contínua em seu peito. Sempre se sentira assim quando estava lá.
- Temos que entrar – a voz era bem mais grave e em tom receoso. – E ainda precisamos encontrar o elfo.
A mulher assentiu com a cabeça e ambos caminharam até a porta de entrada do casarão. Procuraram não se demorar demais no jardim.
O cômodo principal seguia-se logo após a porta dupla de madeira que trancava a casa. Não havia cores, nem movimentos e muito menos qualquer sinal de vida. Imediatamente, a primeira visão que encheu os olhos do homem fora ele mesmo e um amigo, sentados num dos sofás, agora carbonizados. A mulher deu um leve toque nas costas do homem novamente e disse calmamente:
- Acho melhor você olhar o andar de cima. Eu cuido deste aqui.
O homem arriscou um agradecimento e tomou a direção das escadas que se localizavam no lado direito. Passou a mão esquerda pelo corrimão de mármore lentamente, ouvindo gritos e sussurros de alegria entrando e saindo pelos seus tímpanos.
A mulher caminhou até a cozinha. A antiga geladeira estava corroída e largada num canto escuro da copa. O fogão partido ao meio, seus pedaços espalhados pelo meio do âmbito. Seus olhos fecharam-se por um momento e pôde recordar. Havia duas mulheres, conversando em tom alto, encostadas ao lado do fogão. Em cima da pia, duas crianças fingiam pegar o polegar da outra e rir deliciosamente. Abrindo-os novamente, toda a fantasia se extinguiu, dando lugar à agonia. Deixou de lado a cozinha e ultrapassou as portas do fundo, encontrando a Bacia de Pandora. Notou que, seguidamente, os olhos encheram-se de lágrimas.
Por sua vez, o homem caminhava pelo corredor principal do andar de cima. Tinha em mente dois lugares que precisava ver novamente. O primeiro era o dormitório situado do lado esquerdo, a terceira porta. Entrando, via-se os restos de uma cômoda de madeira clara, a janela coberta por uma cortina rasgada, de tom azulado, e o mais importante: um berço. Branco, conservava-se perfeito. Uma leve cortina azul cobria-o de forma uniforme, deixando apenas para fora uma pequena parte, que podia ser fechada por um elástico. O homem aproximou-se devagar e colocou a cabeça dentro da cortina, encontrando uma pequena e velha boneca de pano. Pegou-a e abraçou-a carinhosamente. Sentiu que iria chorar, mas segurou-se. Caminhou em círculos durante alguns segundos e deixou o cômodo.
A boneca em seus braços e um punho fechado. O homem andou até o final do corredor principal e encontrou a porta fechada. Respirou fundo antes de girar a maçaneta e quase desmaiou ao entrar. No dormitório havia uma imensa cama de casal, coberta por lençóis brancos, pratas e azuis, duas cadeiras delicadas, uma espreguiçadeira e uma porta ao lado direito. O homem teve de se apoiar no batente da porta. Ao contrário dos outros cômodos da casa, este estava totalmente intacto. Os lençóis de seda dispersavam-se pela cama, caindo como ondas até o chão. Havia quatro pilares em volta do leito, cobertos ligeiramente por uma camada fria de algo parecido com seda, como um dossel. O homem caminhou até a cama, deixando a boneca cair no carpete de forma descuidada. Ajoelhou-se diante do móvel e agarrou com força os lençóis, tomando a seda entre os dedos. Encostou o nariz levemente no travesseiro que não estava muito longe. Um perfume conhecido alastrou-se por suas narinas. Sândalo. Imediatamente, seus olhos marejaram e pegou-se chorando como uma criança sem seu presente de Natal.
Nos fundos, a mulher curvava-se ligeiramente sobre uma grande bacia de cristal, rodeada de gramas verdes, jorrando fios de água. Viu-se por um instante na superfície da bacia e arrepiou-se. Fechando os olhos novamente, ouviu gritos e berros de crianças. Havia uma pequena reunião de pessoas, todas em volta da bacia, correndo de um lado ao outro, tentando ajudar o máximo possível. Sorrisos e risadas enfeitavam o cenário tão majestoso. Talvez fora uma das vezes em que se sentiu feliz em sua plenitude. Quem sabe, a única.
Contudo, uma presença a fez despertar de seu transe e concentrar seus olhos nos do homem postado as suas costas. Eles estavam vermelhos e saltados, como se tivesse se libertado de algo muito forte.
- O quarto. Está intacto. – afirmou o homem infeliz.
- Mesmo? – respondeu a mulher, voltando a sua postura natural. – Eu já tinha alguma idéia sobre isso...
O homem colocou-se ao seu lado e viu o próprio reflexo na bacia de cristal igualmente. Muitas lembranças vieram à sua mente naquele breve momento.
- Já está na hora de acabarmos com essa história – disse a mulher, olhando a sua volta e caminhando até a beira do precipício. – Já tomou tempo demais em nossas vidas.
O homem acompanhou-a, mais lento e chegou até ela, postando-se ao seu lado novamente. Pediu que ela olhasse dentro de seus olhos. A mulher obedeceu e suspirou, dizendo:
- Você terá toda a ajuda que necessita. Você sabe disso.
O homem ameaçou um sorriso e apenas conseguiu abraçá-la.
***
- Não! Largue isso! – gritava uma mulher descontrolada com uma criança tentando puxar as penas de uma coruja presa numa gaiola.
Um ao lado do outro, o homem e a mulher caminhavam silenciosos. A vila ainda trazia em suas ruas um traço de tristeza, desgraça. Alguns olhavam discretamente pelo canto de seus olhos os adultos.
- Vamos nos transformar, é mais seguro. – disse a mulher.
No segundo seguinte, ao lugar dos cabelos negros de ambos apareceram ondas loiras e olhos azuis. Andaram mais alguns metros e encontraram uma pousada. Calmamente, entraram e foram direto ao balcão. Um homem baixo e ligeiramente gordo os atendeu.
- Quarto para o casal? – perguntou ranzinza.
A mulher ia responder, quando o homem tomou a dianteira.
- Por favor. Até amanhã.
O velho mexeu num pergaminho e arrancou uma pena da mão de um moleque travesso sentado acima do balcão logo ao seu lado.
- Quarto cinco. Subam três lances de escada e virem a esquerda. É o primeiro dormitório. – explicou com muita má vontade o velho.
Seguindo as instruções, o homem e a mulher logo encontraram o dormitório para passarem a noite. O sol se punha e em breve a noite chegaria. A mulher procurou rapidamente voltar a sua aparência real, enquanto o homem continuou loiro e esbelto.
- Você vai ficar assim até quando? – perguntou a mulher.
O homem arriscou um sorriso.
- Vai me dizer que não estou irresistível?
A mulher bufou e murmurou algo como "metido". Depois, voltou seus olhos negros para onde o homem estava sentado.
- Uma cama de casal?
O homem franziu a testa e torceu a boca.
- Qual é o problema?
- Tenho certeza que haveria um outro quarto nessa...nessa espelunca com duas camas! – irritou-se com o pouco caso feito pelo homem.
Logo, um sorriso contido foi aparecendo no rosto do homem. A mulher fechou seus olhos por um momento e, quando os abriu novamente, encontrou os velhos olhos azuis a olharem com intensidade.
- Você acha que eu vou te atacar no meio da noite? – zombou o homem, em um tom sedutor.
A mulher cerrou os olhos de raiva.
- AH! Por favor, Sirius! – reclamou brava, depois retomou a postura e escondeu um sorriso. – Bem, pelo que te conheço, faz bastante tempo que você não fica com uma mulher e...
Sirius corou furiosamente.
- Por acaso você me acha um tarado, Bella?!
Arabella não conseguiu conter-se e caiu na risada. Apoiou-se na ponta da cama e sentou-se nela gostosamente.
- Eu não quis dizer nada com isso. – afirmou a mulher, ainda rindo.
Sirius e Arabella começaram a rir juntos e encararam-se ao final. O homem parecia evitar ao máximo o olhar dela, fugindo de seus belos olhos negros e misteriosos.
- É melhor pensarmos no que faremos amanhã. Somente nos resta quinze dias para buscar Harry e temos de resolver logo essa questão. – disse a mulher rapidamente, levantando da cama.
O bruxo bufou e entrou no banheiro. Passaram-se dois minutos, e então ele saiu, limpando as mãos molhadas na calça preta.
- Não tem toalha? – indagou Arabella, franzindo as sobrancelhas surpresa.
Sirius arriscou um sorriso culpado e sentou-se ao seu lado.
- Bom, acho que primeiro devemos jantar e dormir.
Arabella deu uma olhada veloz pela janela na parede oposta e voltou-se para o rosto de Sirius. Decidiram descer e comer. A pousada estava praticamente vazia. Quando se sentaram à mesa mais ao fundo do salão, o velho recepcionista veio ao seu encontro, carregando sua varinha na mão esquerda. Os olhos, agora azuis de ambos, tornaram-se sua direção.
- Temos muitas opções para o jantar. – e ele sacudiu a varinha no ar, fazendo aparecer letras, constituindo o cardápio da noite.
Arabella e Sirius fizeram seus pedidos. Em seguida, os pratos apareceram diante de sua visão, acompanhados de duas velas delicadas apoiadas na mesa.
- Oh, não, não precisamos das velas. – disse Arabella aflita.
- Isto é cortesia do hotel para casais. – respondeu o velho mal humorado, dando as costas.
A mulher olhou para Sirius e mordeu o lábio. Sirius adorava quando ela fazia isso, mostrava o quanto poderia estar envergonhada.
- E ele ainda chama isso de hotel... – murmurou a bruxa em tom baixo.
Após a refeição, ambos subiram para o dormitório. Foi uma briga decidir quem iria tomar banho primeiro. Sirius acabou ganhando. Arabella esperou cerca de meia hora do lado de fora, tentando ajeitar alguns planos, escrevendo-os em seu pergaminho. Logo, o bruxo deixou o banheiro e Arabella sequer o olhou, carregando suas roupas para dentro do âmbito e trancando a porta. Sirius não deixou de sorrir num modo debochado.
Porém, algo tomou sua atenção. Nos pergaminhos de Arabella, ele encontrou o suposto roteiro que a mulher havia feito para a viagem deles com Harry. Arregalou os olhos ao ver um nome em especial.
Arabella demorou quase uma hora para arrumar-se, deixando um ar perfumado de camomila espalhar-se pelo quarto quando abriu a porta do banheiro. Sirius não retirou os olhos do pergaminho e perdeu a chance de vê-la corar ao observa-lo vestindo apenas uma calça comprida e uma camisa velha de botões, todos abertos, deixando à mostra seu tórax. Sentou-se ao seu lado e disse:
- O que achou?
Sirius estava com a expressão carrancuda quando levantou a cabeça. Mas logo se esqueceu do que iria falar. Arabella estava com o cabelo preso em um coque mal feito, deixando algumas mechas escuras de seu liso cabelo soltas. As bochechas rosadas contrastavam com sua pele branca e perfumada. A boca vermelha e delicada fazendo um conjunto perfeito com seus olhos negros olhando-o curiosos e tímidos ao mesmo tempo.
- Então, o que você achou? – repetiu.
Sirius engoliu em seco e molhou os lábios. Pela primeira vez após seu casamento com Hariel, lembrou-se de Arabella numa forma diferente. Como um dia a vira, há muitos anos. Respirou fundo e tentou desviar seus olhos azuis dos dela. Não calculou o tempo direito. Inevitável, lá estava ela lendo a sua mente. E lendo também, suas lembranças do passado.
Instintivamente, Arabella levantou da cama e pigarreou, cortando o campo visual.
- SIRIUS! – não conseguia falar mais nada que não fosse seu nome. Piscou inúmeras vezes e respirou fundo mais ainda. – É...é melhor dormirmos. – gaguejou ao final.
Arabella enfiou-se debaixo dos lençóis pastéis do quarto e fechou os olhos. Sirius sentiu-se muito mal. Enrolou os pergaminhos da mulher e deitou-se na cama igualmente, soletrando algumas palavras e apagando a luz. Na escuridão, ele ainda pôde sentir o aroma divino que exalava de seu corpo e observou-a até dormir. O passado fora especial. Mas, como já mesmo é dito, é passado.
***
Despertar em algo que se mexia definitivamente não era o modo como Arabella esperava acordar. Abriu os olhos devagar e encontrou-se apoiada em uma macia e clara pele. Suas mãos estavam abraçando costas largas e sentia uma respiração fraca afastar fios de seu cabelo do topo de sua cabeça. Dormira abraçada a Sirius!
Imediatamente, levantou-se da cama, acordando-o fracamente. O homem murmurou qualquer coisa, virou para o outro lado e dormiu. A primeira coisa que Arabella resolveu checar foi se estava vestida. "Que absurdo! Nada aconteceria! Nem ao menos bêbados nós estávamos!", gritava com a própria consciência.
Foi até a janela e observou que o sol havia nascido há pelo menos uma hora. Apertou os olhos e dirigiu-se até o banheiro, tomando um novo banho. Ao sair, já vestida, encontrou Sirius olhando-a estranhamente. Havia uma penteadeira na frente da cama, onde se localizava um espelho. Arabella sentou na desgastada cadeira e olhou-se no espelho. Fez aparecer uma escova de cabelos e começou a alisá-lo. Sirius aproximou-se e parou ao seu lado, dizendo:
- Eu queria me desculpar por ontem, eu não pretendia...
- Não há do que se desculpar, Sirius. Vamos fingir que aquilo foi apenas um lapso maluco da sua mente. – respondeu séria, colocando a escova em cima da mesa.
Sirius assentiu e também se banhou. Voltou ao dormitório, assistindo Arabella calçar suas botas negras. Parecia fazer um frio lascado do lado de fora. Apressou-se e logo se juntou a mulher, descendo as escadas e deixando a chave do quarto com o velho recepcionista.
Colocando os pés para fora da pousada, transformaram-se e seguiram caminho. Arabella fez um mapa de qualquer jeito à frente de ambos e começou a indicar com a varinha, explicando para Sirius:
- Temos de correr, o turno deles acaba em seis horas. Não dá para aparatar até lá, então devemos pegar o trem às nove horas, esperando chegar lá em quatro horas. Isso nos dará um total de cinco, já que temos de esperar ainda uma hora até a chegada do trem.
Sirius ficou observando tudo atentamente e não deixou de elogiar:
- Não é para menos que você era a melhor aluna do nosso ano!
Arabella sorriu pela primeira vez após a noite passada. Sirius sentiu o rancor passar. Voltaram a caminhar, esperando chegar a tempo na pequena estação.
Dez minutos depois, Arabella e Sirius estavam sentados num banco da estação, esperando o trem. O frio estava fácil de suportar. O difícil mesmo era coragem para enfrentar a cidade que deveriam embarcar.
- Nunca gostei de Snowville. Para mim, somente os solitários e malucos conseguem ser felizes naquela cidade.
- Você diz isso porque não conhece Snowville o bastante. Fui muito feliz lá! E também porque você não gosta de frio...
- Frio?! Lá é provavelmente o lugar mais gelado de toda Inglaterra! Espero que ele esteja lá, não acho nem um pouco legal voltar a Snowville.
Arabella parou por um instante e ficou encarando Sirius.
- Sabia que você pode ser muito rabugento!
A bruxa pôde ver a boca de Sirius contorcer-se exatamente como a de Snape. Arabella riu.
- Você ficou igualzinho ao Snape!
Sirius revoltou-se e arregalou os olhos pasmo, levantando-se.
- Até mesmo você me compara àquele verme?!
- Não estou te comparando, e você sabe muito bem disso – Sirius fechou a cara e sentou-se novamente. – Imagino o quê Remo deve estar passando com ele em Hogwarts...
- Bem, isso é verdade. Agüentar Snape é realmente uma tarefa muito difícil. Prefiro ir a Snowville a ficar aqui com aquele... – Arabella olhou feio para Sirius. – aquele homem.
Arabella sacudiu a cabeça em tom de reprovação. Sirius riu. O tempo foi passando e logo estavam embarcando em Snowville. Arabella conjurou algumas roupas mais quentes para ela e Sirius, que ficou muito satisfeito.
Esperaram o horário do almoço e transformaram-se novamente.
- Ali! Estamos em cima da hora! – disse Arabella, aumentando o passo.
Uma estalagem. Lia-se em letras curvilíneas e difíceis de serem entendidas: A Última Parada. Sirius balbuciou qualquer coisa e respirou um pouco mais fundo, deixando uma fumaça branca diante de seu nariz.
- É melhor acabarmos com isso de uma vez. – sibilou a si mesmo, observando atentamente a porta dianteira.
Arabella seguiu na frente, loira e esbelta. Vê-la daquela forma não era nada convencional a Sirius, que sempre achou lindo seus compridos cabelos negros. Ele também não se sentia nada à vontade. Loiro daquela maneira, uma imagem passava por sua mente rapidamente: Lúcio Malfoy.
Atravessando a porta de madeira, entraram numa sala escura, cheia de homens, no mínimo, bêbados, e mulheres sujas. Sirius notou no mesmo momento em que entraram. Foram checados de cima a baixo. Deixou-se aproximar de Arabella, ouvindo ela murmurar:
- Não preciso de proteção.
Sirius arriscou uma risada, mas calou-se ao enxergar um anão no meio daquele monte de gente. Vestindo calças largas e camisa rasgada, o homem disse:
- O que desejam aqui? Porque... – o baixinho deu uma olhada a sua volta. – isto não é lugar para vocês – e olhou-os por inteiro. – Posso mostrar-lhes uma outra estalagem, logo à frente, que irão adorar.
Arabella abaixou-se e tentou falar, brigando contra a música alta.
- Nós não desejamos ficar aqui – o anão franziu a testa, aborrecido. – Queríamos falar com um empregado seu, só isso.
O senhor olhou-os mais uma vez.
- Posso apostar que querem falar com Prisma, não é?
- Como o senhor sabe...? – começou Arabella, mas o baixinho a interrompeu.
- Muita gente estranha vem vê-la. – e deixou-os, sumindo no meio da multidão.
Arabella levantou-se e estreitou seus olhos pela estalagem. Sirius a cutucou levemente.
- Ela está aí?
A mulher afirmou e esperou até que o anão voltasse com uma criatura ao seu lado. Baixa como ele, olhos verdes incrivelmente arregalados, pernas e braços finíssimos, sacudindo-os freneticamente. A criatura encarou Sirius e encolheu-se ligeiramente. Arabella abaixou-se mais uma vez.
- Poderíamos conversar com ela a sós?
O baixinho resmungou, mas deu um empurrão na criatura, que seguiu até uma porta escondida logo à frente. Sirius e Arabella a seguiram. Entrando, o ser disse algumas palavras e a luz se acendeu. Vestia uma camiseta azul escura, como se fosse um vestido comprido. Virou-se aos bruxos.
- O...o...o que...que querem com Prisma? – gaguejou medrosa.
O ser viu a mulher nórdica dar um sorriso e transformar-se diante de seus olhos. A criatura arregalou os olhos mais do que podia ser possível e caiu no chão sentada.
- Sen...senhorita Figg?
Arabella sorriu mais uma vez.
- Olá, Prisma. Resolvi fazer uma surpresa.
Prisma tentou levantar-se do chão e suspirou.
- Mas a senhorita não estava na França? – perguntou de modo aflito a criatura.
- Estava, mas resolvi voltar ano passado. Recebi uma mensagem e não podia continuar longe de Londres, você sabe disso.
Arabella pôde ver um sorriso formar no rosto sofrido daquele ser. Prisma, de repente, caiu no chão sentada novamente.
- Senhorita Figg, a senhorita ficou sabendo alguma coisa do meu senhor? Ficou? Prisma leu nos jornais! Prisma leu! – repetia a criatura sem parar, perdendo o ar ao final de cada frase.
A bruxa riu e abaixou-se diante de Prisma.
- Não precisa apavorar-se. Eu voltei exatamente por este motivo.
Ouviram então um estouro e ambas olharam para trás. Um homem de feições mais que belas e maduras encaravam-nas com intensa alegria.
- Saudades?
Prisma levantou seu corpo mínimo e correu desajeitada até Sirius. Abraçou-o, batendo a cabeça na altura do ventre do homem. Sirius não deixou de rir da criatura emocionada. Quando ela separou-se dele, o bruxo pôde notar longas e grandes lágrimas saltando de seus olhos, repuxando suas pontudas orelhas.
- Prisma sempre acreditou que meu senhor era inocente! Nunca deixou de confiar em seu senhor, o senhor Black! Nunca! – esbravejava o ser, fazendo Sirius agitar suas mãos, pedindo que ela gritasse mais baixo.
- Você sempre foi um elfo confiável – elogiou o homem. – Nós temos muito que conversar, Prisma. – disse Sirius sério.
O elfo doméstico largou dos braços de Sirius e correu até a parede, batendo sua própria cabeça nela. Arabella cruzou a sala e puxou a cabeça do elfo para trás. Elfos femininas podem ser tão violentas consigo mesmas quanto os elfos masculinos. E Prisma não seria uma exceção.
- Prisma precisa voltar ao trabalho, se não será despedida! Prisma não pode perder emprego!
- Você perderá o emprego, Prisma – disse Sirius lentamente. O elfo encheu os olhos de lágrimas novamente. – Porque você será meu elfo doméstico mais uma vez!
Prisma parecia desmaiar. Antes que isto fosse possível, e provável, Arabella carregou-a para fora da sala, enquanto Sirius chamou o anão. Avisou que Prisma estava indo embora e que arranjara um novo emprego. O baixinho sequer se importou, dando as costas e distribuindo mais canecas de cerveja nas mesas da estalagem.
Do lado de fora, Arabella e Sirius procuraram fornecer rapidamente roupas mais quentes para Prisma, que os acompanhou até o trem de volta a Hogsmeade. Na noite do mesmo dia, os três estavam reservando quartos em mais uma pousada. E desta vez, seriam três dormitórios, para a felicidade de Arabella. Felicidade não, alívio.
***
Sentados numa das mesas ao canto da pousada, Arabella e Sirius tentavam contar tudo a Prisma. Durante todo o jantar e mais um pouco, o elfo agitava-se inquieta. Começaram com a velha história de Pedro Pettigrew, depois as confusões em Hogwarts até Harry Potter.
- Prisma sempre soube que filho dos senhores Potter seria especial.
Mas, foi ao chegar no ano anterior que Sirius calou-se. Arabella notou e foi logo contando sobre a verdade sobre Ametista. Prisma já sabia de tudo, mas não tinha idéia de que, agora, Ametista também soubesse. O elfo abalou-se ao falar da garota.
- Quantos anos minha senhora deve ter agora? – indagou a Arabella, assistindo Sirius com a cabeça abaixada.
- Fará dezesseis. – o elfo arregalou os olhos.
Os olhos do elfo marejaram.
- Cuidei da minha senhora até um ano. Depois, roubaram-na de Prisma, mas o senhor Dumbledore a devolveu para Prisma. Mesmo que o senhor Snape quisesse-a somente para ele.
Nesse momento, Sirius levantou a cabeça.
- Snape dizia algo sobre mim ou Hariel?
- Sempre minha senhora Black, nunca meu senhor Black. – respondeu Prisma.
Já em seu quarto, após um dia exaustivo, Sirius deitou em sua cama e olhou as estrelas pela janela do dormitório. Pouco depois, alguém tocou em sua porta. O bruxo abriu-a com a varinha e observou uma imagem negra adentrar em seu quarto. Levantou e sentou-se na cama, ainda debaixo das cobertas. Arabella apareceu na luz, sentando em sua frente e encarando-o.
- Eu não consigo dormir. Não me acostumei com a idéia de... bem, Pedro e todo o resto. Até mesmo Ametista. Não gosto de falar sobre essas coisas...
Sirius suspirou e apoiou a cabeça para trás, no encosto da cama.
- Porque será que Snape nunca comentou nada sobre mim?
Arabella deu de ombros e arriscou:
- Talvez porque ele sempre soubesse que era você inocente e voltaria para se vingar. Imagine se tivesse falado algo sobre você a Ametista...
- Mas eu ainda não entendo por que esconder? Por que não dizer que eu era um homem bom ou coisa assim? Por que nunca falou nada?!
Arabella concentrou seus olhos nas estrelas da janela.
- Snape sempre soube que, mais dia, menos dia, você iria exercer seu papel de pai com Ametista.
Sirius desencostou a cabeça e assistiu Arabella tornar seu rosto contra o dele, encarando-o mais uma vez.
- Porque, querendo ou não, Sirius, eu sei que você quer ser pai. Ser pai dela. Como você foi um dia. Mas seu orgulho o impede disso.
Sirius nada respondeu e observou Arabella deixar seu quarto. Voltou a deitar-se e contar as estrelas.
***
No Próximo capítulo: Sirius e Arabella unem-se para começar a construir uma vida para o afilhado. Convidando um estranho e velho elfo doméstico, os bruxos parecem estremecidos quando estão sozinhos. Que estará acontecendo entre eles? No próximo episódio de nossa aventura, Harry dá as caras e visita a casa da velha doida amante dos gatos - a Sra. Figg. Enquanto isso, Hogwarts em férias anda agitada com a presença da neta do diretor. E o único que pode pará-la decide ir embora...
Tudo e muito mais em "DEIXANDO HOGWARTS PARA TRÁS"
Nota da Autora: E aí? Que vocês acharam? Me digam o quê acharam! Valeu! Beijos! Angie
