Notas do Autor
É o seguinte, a igreja GaaLee tem regras, e uma delas é que, se eu to chorando, vocês tem que chorar junto comigo também.
Então, peguem suas trouxas e se preparem para regurgitar seus arco-iris.
A presente história foi escrita por smoresies e a mim ficou cabível a tradução apropriada.
Boa leitura
xoxox
Capítulo 1
- Metal. Metal, por favor, coloque isso no chão.
Lee não conseguia mais fechar os olhos por um segundo sem arriscar cair no sono. Nem mesmo um reles pestanejar que fosse. Para uma pessoa que costumava ser tão feliz e cheio de energia, tinha que admitir, isso era preocupante.
Seu filho de um ano e meio, Metal, estava fazendo tudo em seu maior esforço para testar sua paciência e, aparentemente, uma das poucas palavras que sua mãe lhe ensinara fora 'nã'. Lee estava ouvindo 'nã' com tanta frequência que começava a lhe soar cada vez menos como uma palavra e mais como uma maldição.
Esfregando as têmporas, ele sentou no sofá de seu pequeno apartamento. Metal havia se interessado em seus equipamentos de exercícios, o que seria uma coisa boa em alguma outra situação que não envolvesse o risco dele os colocar na boca ou deixar cair. A possibilidade de seu filho ficar doente era desesperadora, então não podia o deixar colocar coisas na boca. Se ele derrubasse os pesos, o vizinho do andar de baixo reclamaria ou, na pior da hipóteses, Metal poderia até acabar quebrando um dedo do pé, o que andava longe da gravidade das crises que se achava capaz de resolver, principalmente com a privação de sono que já vinha experimentando com o passar das noites.
Cansado de tantos 'nã's, Lee entrou na cozinha para preparar o jantar. A pia estava abarrotada com mais pratos do que pensava ter tempo ou a estabilidade mental necessária para lidar, além disso, não havia nada para comer. Sequer havia leite.
Ele apoiou sua cabeça contra o congelador, sentindo um impulso irresistível de chorar. Estava exausto. Tão exausto. Ele não vinha fazendo outra coisa além de trabalhar. Claro que era quase uma bênção o serviço de creche oferecido por seu emprego, mas ele só desejava que tivesse como ir para casa tirar uma soneca, recarregar as energias, e só então buscar Metal para poder lidar com tudo aquilo novamente com, ao menos, um pouco de sanidade.
E pior do que aquele sentimento de fracasso que insistia em badalar em sua cabeça, era a rejeição incisiva da criança. Tudo bem que o conhecia apenas por cerca de um mês mas, ainda assim, com tudo o que estava fazendo para acomodá-lo bem, se sentia no direito de ganhar, pelo menos, um abraço. E só havia gritaria.
Metal saía da creche aos berros, era colocado na cama aos berros, tomava banho aos berros, era alimentado aos berros. O menino só queria sua mãe, e Lee só queria dormir.
- Parece que vamos dar uma volta.
- Nã!
Ele fechou os olhos com exasperação, mas não disse nada.
Levar uma criança tão agitada para o supermercado realmente não parecia uma boa ideia. A sua única vantagem era que Metal parecia uma versão sua em miniatura, apenas com olhos mais angulares, então isso ajudaria que eles passassem por aquilo sem que parecesse um sequestro. Ainda assim, era tão estressante quanto poderia ser.
Lee tentou colocá-lo na cadeirinha, mas ele não queria de jeito nenhum e começou a chorar até ser colocado no chão. Metal riu e empurrou o carrinho e, na maior parte do tempo, ficou dando seus passinhos apressados ao seu lado. Isso era bom. Os seus ouvidos já estavam latejando, era relaxante ter um momento de paz.
Caminhando até a seção de laticínios, ele deu uma olhada em todos os diferentes tipos de leite. Havia tantos... Por que havia tantos? Sabia que precisava encontrar o certo, mas não tinha certeza do porquê. O que aconteceria se lhe desse o de coco ou amêndoas ou até o de 2% de leite?
No momento em que voltou sua atenção para baixo, Lee percebeu... Metal já não estava ao seu lado.
Sentindo o coração despencar para seu estômago, ele percorreu os corredores freneticamente.
- Metal? - não conseguia encontrá-lo em lugar nenhum. - Metal?!
Oh deus, e se ele foi sequestrado? O que poderiam fazer com seu bebê? Lee era um pai terrível! Como pôde deixar Metal sair de vista assim?
Estava a ponto de ceder às lágrimas quando uma voz feminina soou pelo alto-falante:
- Se você perdeu uma criança, venha até a recepção.
Diante a isto, sentiu o próprio rosto queimar, em vergonha. Todos em seu caminho pareciam o estar julgando por perder seu filho em um supermercado. Hoje, definitivamente, não era para ter levantado da cama! Pelo menos poderia se agarrar ao pequeno alívio de que, devido ao horário, tinha poucos clientes ali para testemunhar o quanto ele podia ser um pai desastroso. Esse dia parece que não chega ao fim...
Gaara estava cansado.
Não tanto fisicamente, a despeito do fato de sua insônia severa raramente o deixar dormir, mas, emocionalmente. Ele estava exausto. Estava farto de ficar em casa. Até não lhe tomava tanto esforço manter sua média elevada nos exames do ensino médio, mas toda a expectativa alta em torno do seu comportamento, por conta do alto cargo de seu pai, parecia que sugava todas as suas energias.
E então havia aquela baboseira social que o obrigava a ser educado com gente que estava claro se aproximar só por conta do status de sua família. Estava rodeado de pessoas falsas.
Gaara odiava ter de interagir, era bem raro que desse intimidade pra qualquer um, e era exatamente isso que fazia com que o trabalho dele como caixa de supermercado parecesse um tamanho suplício. Ele não conseguia lidar com pessoas e ficava bem ansioso por conta isso. Na verdade, não sabia nem porque trabalhava no caixa. Às vezes, seus superiores o tiravam do registro, o empurrando para tarefas domésticas pelas seções, só para evitar que proporcionasse uma experiência negativa aos clientes. Não que fosse mal-educado com eles ou coisa do tipo, mas simplesmente não conseguia ser um rosto sorridente no final de suas experiências de compras.
Com certeza o gerente já deve ter pensado em dispensá-lo de uma vez, mas com Rasa sendo tão influente em sua cidade meio que fazia-os pensar duas vezes antes de uma decisão tão drástica.
Então lá estava ele, de pé, organizando as frutas na seção correta. Disseram que era importante. Não era. Mas Gaara não se importava, ao menos havia conseguido escapar das interações, e as pessoas que vinham ao mercado a essa hora costumavam estar todas meio de pá virada, de qualquer forma. Era mais ou menos o horário dos que acabaram de sair do trabalho, não têm nada para comer em casa e também não querem sair para comprar, então estão bem putos com isso. Ele podia compreender porque, mas ainda sim era irritante.
Sentindo um puxão na ponta de seu avental, Gaara olhou para baixo e se deparou com um par de grandes olhos pretos que brilhavam tanto quanto seus cabelos lisos de mesmo tom. E também havia sobrancelhas muito escuras para uma criança tão pequena.
- ...Olá? - disse devagar, enquanto o menino puxava sua roupa novamente. - Onde estão seus pais? - e olhou em volta. Não havia mais ninguém. Fantástico. - Vamos.
Começou a se afastar, mas ele ficou ali e sentou-se no chão.
- Vamos. - Repetiu. Vendo que ele não se movia do lugar, retornou, e quando chegou perto o suficiente, os bracinhos se ergueram em sua direção – Você quer que eu... pegue você?
O pequeno era, aparentemente, novo demais para entender frases completas e permanecia balançando os braços em expectativa. Gaara procurou ao redor mais uma vez e suspirou, se abaixando e pegando-o no colo. Ele imediatamente se enrolou, abraçando seu pescoço e se sustentando nele. Até que era reconfortante.
Apesar de nunca ter segurado uma criança antes, parecia leve. Claro que ajudava que o garoto estivesse sustentando boa parte do seu peso na mão em seu pescoço. Ele caminhou, então, até o balcão de atendimento ao cliente, onde Ino estava digitando no computador. Quando ela ergueu o rosto e o avistou com um bebê, soltou um pequeno grito contido não se contendo em paparicá-lo.
- Aw! Ele é adorável! É seu primo ou algo assim? O formato dos olhos parecem com os seus. - Ino exclamou e Gaara levantou uma sobrancelha.
- Não. É uma criança aleatória qualquer. Você deveria anunciar no alto-falante que encontrei o filho de alguém. Não estou a fim de ficar andando com ele por aí. - olhou para a criança que o encarou - Sem ofensa.
- Espera, você tá falando sério? Alguém deixou seu pequenino fugir? - Gaara encolheu os ombros e a loira bufou, pegando o microfone - Se você perdeu uma criança, venha à recepção. - falou com uma voz automática de atendimento e desligou, fazendo o rapaz revirar os olhos.
- Esse foi o jeito mais indelicado que você poderia ter falado. - murmurou e ela sorriu.
- Poderia ter feito pior...
Ele sacudiu a cabeça para o seu deboche e ficou atento em procurar no horizonte os pais desaparecidos da criança.
- Eu sinto muitíssimo! - Gaara se assustou pelo barulho repentino, porque nem mesmo viu o cara aparecer. - Metal, por que você faz isso comigo?
- Nã! - ele empurrou o rosto contra seu pescoço.
- Por favor, Metal. Deixa esse bondoso rapaz voltar ao trabalho.
A criança, agora conhecida como Metal, o agarrava com tanta força que até estremecia.
- Nã!
O pai o olhou com exaustão e remorso.
- Sinto muito. Meu nome é Rock Lee. Este é meu filho, Metal. Ele não me escuta muito bem.
Ele parecia tão triste. Não aparentava ser muito mais velho do que Gaara, o que fazia destacar a questão: quando ele havia tido o bebê?
- Tudo bem. - falou, calmamente. - Por que você não termina suas compras? O metal ficará bem aqui comigo, por enquanto.
Os olhos de Lee literalmente se encheram d'água e ele baixou a cabeça. O que o teria sensibilizado desse jeito?
- O-obrigado. - rapidamente enxugou os olhos. - Se você está falando sério, eu prometo que só vou levar cinco minutos.
Gaara ajustou a forma como o menino estava em seus braços e, surpreendentemente, Metal começou a adormecer.
- Olha, honestamente, está tudo bem. Eu não estava fazendo nada demais, de qualquer jeito.
Lee agradeceu-lhe quase cem vezes antes de sair rapidamente para terminar de fazer seus afazeres. Enquanto isso, Gaara caminhou por trás do balcão e se aconchegou numa cadeira, com seu novo amigo. Ino virou-se com um olhar curioso e sentou-se ao seu lado.
- Eu não esperava que você fizesse isso. - ela disse sem rodeios e o amigo a respondeu com uma careta.
- Parece que ainda consigo surpreender, mesmo a você.
Ela assentiu com a cabeça.
- Parece que sim... Pobre rapaz, ele parecia um zumbi.
- Eu não acredito que ele chorou quando eu me ofereci para olhar seu filho por 5 minutos. Ele deve realmente estar estressado.
Ino concordou novamente e suspirou.
- Quantos anos você acha que ele tem? Me parece muito jovem. Eu me pergunto onde a mãe está... E se ela está tão fodida quanto.
- Ino. Linguajar. Existe um pequeno humano presente.
Diante sua repreensão, ela lhe socou o ombro, rindo.
- Você está certo. Desculpe, espero não ter ofendido você, Gaara.
Ele a encarou, sério, só para ser ignorado.
- Mama. - Metal murmurou, sonolento.
- Desculpe, criança, você está com o seu pai. E um cara aleatório chamado Gaara. - Ino falou.
- Mama. - Ele repetia, esfregando os olhos com cansaço.
- Apenas durma, Metal. – Gaara disse com calma e ficou maravilhado quando o menino o fez.
- Mas olha só, veja você, o encantador de bebês.
- Você não tem algum trabalho a fazer?
Gaara a cortou, perguntou secamente e ela o olhou, divertida ao retrucar.
- Você não?
Ele olhou para o bebê em seus braços.
- Estou um pouco ocupado agora.
Poucos minutos depois, um afoito Lee reapareceu em frente ao balcão.
- Tudo bem. Acabei. Muito obrigado por sua gentileza... ele está dormindo? – ele se interrompeu, abertamente admirado – Como... como você fez isso?
- Ele é o encantador de bebês. – a loira comentou sorrindo, mesmo fuzilada pelo olhar que veio de seu lado.
- Eu não fiz nada. Eu apenas o segurei. - Gaara disse, simplesmente, se levantando.
Lee parecia devastado.
- Ele... nunca me deixa... segurá-lo... - o ruivo franziu a testa, honestamente não sabendo o que dizer. – Um ... eu ... eu posso pega-lo agora. – completou e foi então que os funcionários perceberam a pequena quantidade de coisas que ele comprara. A maior parte em galões de leite.
- Você estacionou por aqui? – perguntou, o rapaz balançou a cabeça.
- Não, eu, vendi meu carro. – ele disse, embaraçado e Gaara permaneceu pensativo, mas não perguntou porquê, supondo que não era da sua conta.
- Bem, espero que você tenha trazido um guarda-chuva.
Os olhos de Lee se arregalaram um pouco e se voltou para a janela, percebendo o cair das gotas que não havia prestado atenção antes. Fechando as pálpebras em derrota, ele inspirou fundo e exalou lentamente.
- Eu... não sabia que ia chover.
Gaara e Ino se entreolharam. A moça o encarou com cumplicidade e ele buscou o relógio, confirmando que só tinha mais uma hora de expediente. E também não havia tirado seus quinze minutos até agora.
- Se você encontrar com alguém, diga que eu estou no intervalo. – comentou à amiga enquanto, segurando Metal, se afastava do balcão, separando sua jaquetas e chaves do carro. – Venha, eu o levarei até em casa.
- Oh, não! Eu não gostaria de impor isso a você! Você já me foi tão gentil. – sendo inteiramente ignorado, o rapaz continuou em seu caminho para o estacionamento, utilizando sua jaqueta para cobrir a criança. Esperava que o garoto ainda pudesse respirar ali debaixo.
Com Lee finalmente parando de protestar, e entrando no banco de trás do carro, Gaara o entregou seu filho e deu a partida. Teria sido um desastre se eles tivessem que caminhar para casa, Metal provavelmente ficaria doente e então passaria a doença para si e, então, Lee teria faltado o trabalho e não sabia como iria sobreviver cuidando de uma criança pequena tão adoecida quanto ele.
- Eu agradeço imensamente, Gaara. Obrigado. Eu não acho que eu poderia agradecer o suficiente.
Conseguindo notar o embargar de sua voz, Gaara não sabia bem o que pensar. Ninguém nunca o havia agradecido assim.
- Sério, não se preocupe com isso. Todos têm seus dias ruins. – disse, vendo Lee balançar a cabeça vigorosamente pelo espelho retrovisor. – Você tem dormido direito?
Claro que perguntou aquilo por educação, porque estava certo de que a resposta seria 'não'. Se havia alguém que era capaz de reconhecer falta de sono em qualquer lugar, seria ele.
- Eu tento quando posso. – respondeu calmamente, segurando Metal mais próximo ao peito. Gaara balançou a cabeça, aceitando isso como uma resposta. Não era como se ele tivesse alguma moral para discursar sobre as propriedades saudáveis de uma boa noite de sono, de qualquer forma – Por favor, faça isso dar certo.
Quando chegaram ao prédio, Lee estava absurdamente aliviado e o agradeceu tantas vezes, e ofereceu algum dinheiro para a gasolina, o que Gaara recusou. Afinal, seu pai pagava seu combustível, ele não poderia aceitar nenhum tipo de dinheiro de alguém que obviamente precisava de mais do que ele.
- Não se preocupe. Pense nisso como o começo das coisas ficando mais fáceis. Agora vá, entre antes que você fique doente.
O rapaz assentiu e o agradeceu uma última vez antes de correr em direção ao toldo da entrada.
Gaara ficou observando a porta fechada por um tempo, perdido em pensamentos. Este dia se provou interessante e ele se perguntava se iria ainda iria rever os dois ou se Lee ficaria muito envergonhado de aparecer novamente.
Mesmo uma semana depois, ainda não havia voltado ao supermercado. No dia seguinte ao que Gaara o havia deixado em casa, Lee ligou para o mercado e falou com o gerente sobre o quão gentil lhe fora o funcionário, dando a mais completa recomendação que ele já recebera na vida. Esperava que não estivesse passando muito dos limites com isso. Ele só queria que Gaara fosse reconhecido por suas boas ações.
Depois que Metal acordou daquela soneca, ficou mal-humorado novamente. Ao menos ambos conseguiram dormir por algumas horas antes de iniciar tudo de novo. Lee não achava que poderia ficar acordado um minuto mais, e aquele pequeno período de paz havia lhe dado energia suficiente para aguentar até esse ponto.
Só que, agora, estava cansado. Estava tão cansado e só precisava dormir um pouco, nunca havia se sentido assim antes! Sempre havia pensado que crianças eram uma benção (e ainda ama muito seu filho, é claro), mas elas também podiam ser terríveis e ele não havia percebido o quanto até agora. Especialmente aquelas que queriam muito a mãe. Lee estava se sentindo tão mal por seu filho. Metal queria algo tão simples e natural, e ela apenas... se foi. Ela foi embora, o abandonando com um completo estranho. O menino devia estar tão assustado. Toda vez que se recordava disso encontrava forças para se acalmar, mesmo que seu coração ainda se apertasse por outra razão.
Mais uma vez, eles não tinham nada em casa e Lee não podia bancar muito, de qualquer forma. Assim que a mãe de Metal o deixou ali, ele teve que vender seu carro para comprar um berço portátil multifuncional para Metal para dormir (uma vez que não podia pagar um de madeira com colchão), algumas roupas, fraldas, acessórios, comida, todo o necessário para um bebê. O problema é que há muita coisa necessária para um bebê, o que Lee percebia, ao menos, duas vezes por semana, cada vez que se dava conta de precisar comprar mais e mais para Metal.
Uma das coisas mais difíceis dos últimos 45 dias foi que ele não estava atendendo as ligações de seus amigos e nem de seu pai. Não queria que soubessem que havia arruinado tudo. Estava profundamente envergonhado. Além disso, o que iriam pensar vendo Metal agir daquele jeito? Não só Lee havia virado pai aos 20 anos, mas ele também era um péssimo pai! Mal conseguia que o filho comesse qualquer coisa que fosse um pouco mais saudável - o que tentou imensamente até o ponto atual em que se encontrava apenas desejando que o menino não morresse de fome e, por isso, desse a Metal tudo que queria.
E o filho ainda o odiava. Lee realmente queria saber porque. Ele fazia tudo o que estava a seu alcance. Na primeira semana em que se descobriu pai, leu todos os livros de paternidade que conseguiu encontrar, quando estava com Metal, tentava brincar, conversar, ler, fazer qualquer coisa que pudesse para interagir e a criança odiava cada segundo daquilo.
A única vez em que ficava calmo era quando estava fazendo coisas que não deveria estar fazendo e, a essa altura, ele talvez já não se importasse tanto assim. Se ele se machucasse, talvez fosse um aprendizado que barrasse uma próxima vez. Estava cansado de dizer 'não' e ouvir 'não' de volta. Era hora de ir ao mercado e não tinha certeza se estava ansiando encontrar Gaara lá ou não.
Quando chegaram ao estabelecimento, Lee ficou nervoso. O que você diria a alguém que havia feito tanto para ajudar? Já tinha agradecido várias vezes, o que mais havia para dizer? Apenas acenar à distância? Não sabia.
Desta vez, enquanto estavam caminhando, ele se certificou de que sua mão estivesse segurando ao redor do pequeno pulso de Metal, não importando o quanto o filho se jogasse ao chão e chorasse por isso.
- Por favor, Metal. Por favor, pare. – Lee pediam calmamente à criança que continuava a fazer uma cena.
- Metal. Obedeça o seu pai. – uma voz feminina repreendeu e ele se virou, notando que era a moça que estava com Gaara na semana passada.
- Olá. – a cumprimentou, sorrindo levemente e esfregando os olhos em cansaço.
- Oi... 'Lee', não é? – ele assentiu – Metal continua a lhe dar trabalho? - perguntou com simpatia.
- Eu não entendo o porquê. Ele simplesmente parece não gostar muito de mim.
- Muitas crianças tem disso nessa idade. Ele sempre foi assim?
Lee ergueu os ombros.
- Eu não sei.
Ino levantou uma sobrancelha.
- Como... você 'não sabe'?
Seu rosto ficou vermelho com a pergunta, mas a responderia de qualquer maneira. Verdade seja dita, estava precisando desabafar com alguém sobre isso, mesmo que fosse uma funcionária do supermercado.
- Eu não sabia que o tinha até o mês passado. Sua mãe foi embora e o deixou comigo. Ele sente muito a falta dela, mas não me foi deixado nenhuma informação para contato.
Os olhos azuis suavizaram consideravelmente.
- Oh, meu Deus, sinto muito. Não queria te importunar assim. - ela apoiou a própria mão sobre o coração enquanto falava.
Lee ficou ainda mais corado e baixou a cabeça.
- Eu... Eu não queria fazer você ficar desconfortável. Eu só queria...
- Você queria contar a alguém? – ele afirmou – Você não me deixou desconfortável. Eu sinto muito que isso tenha acontecido com você. Deve ter sido muito difícil. Espere um segundo. – se afastou, pegando seu walkie talkie – Ei, Gaara, preciso de você na seção de enlatados. Obrigado. – e colocou o aparelho de volta em seu quadril, sorrindo – Bem, por que você não vai fazer suas compras e eu e meu amigo tiramos Metal de suas mãos? – Lee olhou para ela e depois para o filho, que estava deitado ao chão, não se levantando ou se movendo. – Metal, você gostaria de passear comigo?
A criança cobriu o rosto com as mãos.
- Nã! - gritou e o pai suspirou profundamente.
- Você precisa de mim, Ino?
O coração de Lee parou por um instante, enquanto virava o rosto para ver Gaara se aproximando. Estava tão nervoso! O que deveria dizer?
- Oi, Gaara. Muito prazer em vê-lo novamente. – disse embaraçado e o outro deu-lhe um aceno simples.
Metal descobriu seu rosto e o viu parado ali de pé sobre ele, então se sentou e ergueu os bracinhos em sua direção. O ruivo apenas olhou para Lee com uma expressão curiosa e se curvou para pegar a criança que, novamente, se aconchegou no seu colo.
- Por que você gosta dele mais do que de mim? - perguntou Lee e Metal apenas o encarou. Era frustrante o quão bonitinho era o seu bebê porque, sempre que estava irritado, ele apenas o encarava com aqueles olhos grandes e rosto rechonchudo e aborrecimento evaporava imediatamente.
- Mama. – disse simplesmente.
- Mamãe não está aqui.
- Mama. – Metal abraçou o rapaz que o segurava firmemente ao redor do pescoço.
- Ele... Ele está chamando o Gaara de 'mama'? – Ino perguntou e o rosto de Lee se aqueceu em vergonha.
- Me desculpe, não sei por que ele faria isso ou onde aprendeu.
Gaara sacudiu a cabeça, completamente indiferente.
- Se isso o acalma, você não deveria se preocupar. – com isso, o constrangimento desapareceu. Lee apenas o encarava com admiração. – Você pode ir fazer suas compras, o Metal ficará bem. – e assim que ele abriu a boca, ergueu a mão – Por favor, não me agradeça. Eu já fui muito agradecido por você. Apenas vá fazer suas coisas.
Ele o assentiu com um sorriso suave e se afastou. Gaara virou-se para Ino.
- Pobre rapaz. – ela fez beicinho quando o percebeu fora de vista – Ele tem se virado como pai solteiro há um mês.
- Sua esposa o deixou?
- Não. Parece que ele nem sabia que tinha um filho, e então ela apareceu, deixou Metal e foi embora, e ele não tem ideia de onde ela está. O Metal sente falta da sua mamãe.
O menino reagiu, ligeiramente.
- Mamã?
Ino cobriu a boca, sentindo-se mal por ter elevado suas esperanças.
- Não. Mama. – respondeu e Metal recostou-se de volta em Gaara, apenas a encarando. – Oh, eu estou devastada. Como alguém pode abandonar esse carinha? Ele é um docinho.
- Ele é. – concordou. – E também é pesado. Podemos sentar?
A loira concordou e eles foram para a área de atendimento ao cliente. Ignorando os trabalhadores que estavam por lá, se sentaram nas cadeiras por trás deles.
- Eu não sabia que vocês dois tinham um filho. – seu colega de trabalho brincou e os dois o olharam com a mesma expressão de nada.
- Ele nem mesmo se parece com a gente. – ela respondeu, com uma certa irritação. – O garoto tem sobrancelhas maiores do que eu e o Gaara nem mesmo tem sobrancelhas.
- Obrigado, Ino.
- Estou só comentando. – ele ficou em silêncio, enquanto ela continuava – De qualquer forma, eu acho que você deveria se oferecer para cuidar do bebê. – Gaara a encarou – O que? Eu diria 'nós', mas o Metal também não parece gostar muito de mim. Ele ama você. Ou nós poderíamos só levá-lo ao parquinho. Aquele perto daqui. Lee poderia tirar uma soneca. Ele parece que não dorme a 32 anos.
O ruivo teve que concordar com isso.
- Não tenho certeza, Ino.
Ela deu de ombros.
Um pouco depois, Lee terminou suas compras. Desta vez, trouxe com ele um carrinho de passeio, então conseguiu comprar uma maior quantidade pois havia os compartimentos inferior e laterais para colocar as sacolas. Metal estava, mais uma vez, dormindo quando apareceu e ele estava grato por isso. Colocou, então o filho no carrinho, o abotoando e se voltando para agradecer, mas então lembrando do que o rapaz o havia dito mais cedo, mordeu o lábio, se detendo.
- Não há de quê. Vá tirar uma soneca enquanto você pode.
Lee assentiu e sorriu, estava começando a sentir que talvez pudesse, de fato, fazer isso.
Dessa vez, levou apenas três dias para que ele desistisse e se dirigisse a caminho do supermercado com seu pequeno, rezando para que Gaara estivesse lá. Era 17h numa quinta-feira, então, geralmente, ele deveria estar por lá. Estava tarde demais para que ainda estivesse na escola, e não queria pensar em quão triste era depender de um aluno do ensino médio para tornar seu filho mais suportável.
Lee escreveu uma lista de coisas para comprar, desta forma, não pareceria tanto que ele tinha ido até lá especificamente para o alivio temporário que Gaara forneceria. Assim que Metal avistou a fachada, ele se animou significativamente. Já devia conseguir associá-la a Gaara.
Os dois deram duas voltas pelos corredores e, sinceramente, estava tão cansado que simplesmente esqueceu o que estava procurando, mesmo que estivesse anotado na lista em suas mãos. Ele parou no meio da passagem para consultar o papel, mas era como se não tivesse escrito em sua língua, não conseguia ler. Seus olhos queimavam em exaustão.
- De volta tão cedo? – uma voz perguntou, em suas costas e Lee se assustou. Metal, que estava sentado na cadeirinha do carrinho, começou a saltar e elevar os braços.
- Gaara! Olá! Sim! Eu vim para comprar algumas coisas... – e olhou para sua lista – Mas eu... não consigo entender o que eu estou procurando agora. Meu cérebro... não está funcionando muito bem. – o menino começou a lamentar em seu assento e os dois olharam para ele. Lee não sabia o que dizer. – Metal. Você pode relaxar, por favor? Gaara tem trabalho a fazer.
- Mama. – ele repetia, pulando em seu assento novamente. – Mama.
Gaara pareceu ignorar as palavras do pai e desabotoou o cinto da cadeirinha para pegá-lo. Metal gritou de prazer e Lee olhou para Gaara, agradecido.
- Peço desculpas por ele te chamar assim. Não sei onde aprendeu. – disse, ainda embaraçado sobre o todo. Gaara não pareceu se importar e agarrou o papel de suas mãos.
- Tudo bem, parece que a primeira coisa é pasta de dente. Vamos.
Lee o seguiu pelo estabelecimento, enquanto ele pegava tudo o que estava anotado. Era muito bem-vindo não precisar pensar e apenas acompanhar. Assim que tudo terminou e estava devidamente pago, Metal estava profundamente adormecido nos braços onde estava.
- Eu não sei como você consegue fazer isso, mas eu estou muito agradecido. Eu não acho que você perceba o quanto significa para mim que ele adormeça tão bem. Ele não dorme muito à noite.
Gaara franziu a testa com o pensamento. Certamente fazia sentido, diante o quão exausto Lee parecia. Ele simplesmente não conseguia imaginar o Metal não sendo todo dengoso e sonolento. Aqueles pareciam ser seus dois modus operandis sempre que Gaara estava por perto.
- Você não precisa vir até aqui. – disse, assim que estava tudo preparado para Lee partir. Ele o olhava com confusão, em retorno. – Aqui ... – pegou o recibo das compras e anotou seu número na parte de trás. – Se você precisar de uma ajuda ou de uma soneca, basta me enviar uma mensagem. Não ligue. Não gosto de falar ao telefone. Eu vou responder assim que visualizar.
- Eu... eu não sei o que dizer. Sua generosidade me encabula, Gaara.
Uma coisa interessante sobre a maneira como Lee falava, era que parecia sempre tão genuíno o tempo todo. Ele mesmo não costumava se aproximar de ninguém, muito menos se oferecer de babá, especialmente porque, na maior parte das vezes, ele não se importava com crianças. Mas, algo era diferente com Lee e Metal. Ele realmente sentia como se Lee precisasse de um tempo.
- Sinceramente, não é tão incômodo para mim, eu moro bem perto de você. Leva 5 minutos de carro, no máximo. Você parece prestes a cair morto a qualquer momento, então se precisar que eu tome conta do Metal, está tudo bem, só... me avise.
Lee balançou a cabeça vigorosamente e Gaara acenou em despedida.
Ele ficou assistindo-os se afastar, como da última vez, encucado. Se perguntava mentalmente o que aqueles dois tinham que o fazia se sentir tão confortável perto deles. E também sobre quanto tempo iria demorar até que Lee aceitasse sua oferta. Estava falando sério quando propôs que, se Lee precisasse dormir um pouco, estaria lá. Não havia sentido em duas pessoas estarem exaustas ao mesmo tempo, quando, para uma delas já tinha virado um costume. E claro que esse pensamento se referia a si mesmo... Lee não parecia estar lidando muito bem com a falta de sono.
Levou exatos quatro dias até que Lee cedesse e enviasse a mensagem para Gaara. Sabia que não deveria, e se sentia muito mal com isso, mas havia algo de errado com Metal, ele não parava de gritar e isso de tal forma que acabou fazendo Lee chorar de tristeza, cansaço e frustração. Não saber como resolver aquilo partia seu coração. O ruivo respondeu em menos de 4 minutos para que lhe aguardasse por uma meia hora e ele estaria lá. Então as lágrimas que escorreram também foram lágrimas de felicidade quando enviou o número de seu apartamento.
Passado o tempo estipulado, houve uma batida na porta. Metal ainda estava chorando e, quando abriu, Gaara estava do outro lado. Lee percebeu que era estranho vê-lo sem seu uniforme. Ele geralmente usava um chapéu azul, uma camisa da mesma cor, um avental preto e calças marrons. Agora ele estava apenas em um suéter, o que lhe parecia bom do mesmo jeito. E seu cabelo estava bagunçado por toda parte, em um tom de vermelho que era realmente de se impressionar.
- Olá. – a voz de Lee era baixa e Gaara cumprimentou com a cabeça e entrou na casa, seguindo o som do choro. O outro continuou parado à entrada, imaginando em quanto tempo ele conseguiria fazer seu filho parar de chorar.
- Hey, Metal. Calminha...
Ele ouviu a voz murmurada do rapaz enquanto fechava a porta. Metal começou a rir.
- Mama!
E foi isso. Acabou. Lee pressionou a cabeça contra a madeira, desesperadamente se perguntando o que ele ia fazer. Ele entrou na sala e Gaara estava sentada no sofá com o menino em seu colo, olhando para nada em específico na parede.
- Oh, você pode assistir TV, se quiser. – falou rapidamente, o entregando o controle remoto.
- Obrigado. Já pra a cama. – respondeu, apenas. Lee piscou.
- O q-
- Cama. Vá para a cama. Durma. Vou colocar Metal para dormir. Qual é a hora dele dormir? - Lee encolheu os ombros. Sinceramente, a qualquer hora que ele adormecesse. – Ok. Vou colocá-lo na cama às oito. Agora vá. – ele olhou para o relógio, eram cinco horas em ponto. Gaara planejava ficar tanto tempo assim? Estava a ponto de fazer uma objeção, parando diante o olhar severo apontado em sua direção – Agora.
Lee balançou a cabeça de acordo, se sentindo repreendido, mas feliz por finalmente poder descansar. Enquanto isso, Gaara ligou a TV, descobrindo que o Metal realmente gostava de Bubble Guppies.
