Dia da Colheita. Distrito 4.

PRÓLOGO

O tempo está ridiculamente bom para tal situação. Todas as crianças de 12 a 18 anos enfileiradas por idade em duas filas de meninos e meninas. Há uma mulher de cabelos roxos anunciando a excitação dela ao ver o mesmo vídeo de sempre – a guerra, os rebeldes e, enfim, os tributos.

Um bebê estava chorando ao fundo. O mar parecia rebelde e agitado para aquela data, como um pequeno lembrete do que as mães, pais e irmãos sofreriam nas próximas duas semanas. Algumas mães estavam com lágrimas no rosto. As crianças de apenas doze anos se contorciam na fila, tremendo de medo.

- Primeiro as damas! – Effie anunciou com tom de piada. Ninguém riu. Ninguém se quer esboçou um sorriso. Haveriam vaias, se não fossem os pacificadores agressivos.

Effie se aproximou da grande tigela de vidro onde haviam nomes e mais nomes de meninas que iriam sair em um encontro com a morte. Ela puxou um papel do fundo, delicadamente, o abrindo com as unhas compridas e bem pintadas. Leu com um sorriso:

- Uranya Tiés – assim que ela terminou a sílaba do sobrenome, há um grito. Um grito alto e claro – um urro de tristeza. Não, um urro de desespero.

Uma menina loira berra. Ela saiu da área dos quinze anos, mas seu choro descontrolado somando sua baixa estatura a fez parecer ter apenas doze anos recém feitos.

- Venha, amadinha, venha cá! – Effie disse, tipicamente empolgada. Uranya andou lentamente, chorando como um bebê, seu olhar estava vago e perdido. Ela parecia imersa na desgraça.

- Uranya Tiés, Distrito 4! – Effie levantou a mão de Uranya, que tremia, chorava, fazia uma cara de desespero tão grande que parecia já estar na arena. Porém não houveram voluntários. Ninguém faria o sacrifício pela menina.

- Calma, amadinha – Effie murmurou baixinho ao seu lado, o que fez a menina se sentir mais desesperada ainda. Effie limpou a garganta e anunciou: - Meninos agora!

Puxou o papel mais de cima e mais do meio.

- Poe Facril! – Assim que seu nome foi chamado, Poe, um homem já feito de dezessete anos, robusto, pele morena e olhos verdes se levantou. Foi até o palco com um sorriso metido, como se fosse uma estratégia de jogo.

- Apertem as mãos, sim? – Poe apertou a mão mole e fria e Uranya, que ainda chorava baixinho e depois, Effie disse sua clássica fala: - Feliz Jogos Vorazes, e que a sorte esteja sempre a seu favor!