Capítulo1

Sara olhou para as plantas de seu jardim, com uma mistura de aprovação e orgulho; tinha feito um bom plantas estavam viçosas e as flores desenvolvidas , com cores bem vivas, deslumbrantes. Ela sempre gostara de plantas, mas lidar com elas, falar com elas, entender suas necessidades, só começara nos últimos anos,

Fora incentivada por Grissom, "Se você realmente as aprecia, cultive-as então, enfie as mãos na terra, entenda do que elas precisam, seja alguém ativa e não apenas uma amante contemplativa." Parecia que ele estava ali ao seu lado, falando aquelas coisas. Mas, ele não estava, e Deus sabe, onde estaria!

Levantou os olhos e viu um céu bem azul de primavera. Deu um profundo suspiro; já estavam em fins de abril, eles tinham rompido em fevereiro. Como o tempo estava passando rápido! Deixou seus apetrechos de jardinagem num banco do jardim e foi à cozinha tomar uma xícara de café. Era seu dia de folga e antes ela detestava porque.não tinha o que fazer e não parava de pensar nele. Agora se distraía com a jardinagem.

Começou a se lembrar do dia nefasto em que ele lhe deu o fora colossal. Foi um dia em que tudo dera errado. Há dias assim, na vida da gente, onde faríamos um grande favor a nós mesmos, se nem saíssemos da cama. Era o tipo do dia que ela gostaria de esquecer.

Quando estava tomando banho, a água quente, de repente tornou-se água gelada, justo quando ela estava toda ensaboada No café da manhã,deixara o copo de suco de laranja cair e espatifar-se no chão. Quando foi limpar, enfiou um caco de vidro na mão. Recebera uma multa quando dirigia seu carro. E, culminou com a espera angustiante, de um Grissom que não apareceu.

Já estava decidido que dariam um tempo, mas mesmo assim, ela pensou que ele viria. Ah, o coração, sempre pronto a se iludir e se machucar! É moleque sem vergonha: quanto mais apanha, mais se enamora.

Ainda estavam juntos quando ele fez as reservas. E agora eram... O que eles eram afinal? No dia, ela fantasiou que ele lhe faria uma surpresa; apareceria de repente e ficaria tudo igual, como era antes... Mas, Grissom podia ser muito inteligente e capaz, porém essas atitudes não faziam parte de sua natureza. Ele não era dado a surpresas deste tipo.

Na verdade ela nunca soube o que acontecera. Desconfiava que o desgraçado do Basderic, tinha devastado sua privacidade e, tendo conseguido o endereço de Grissom enviou-lhe aquelas fotos com Tyson. Se ele achou que tinha sido traído pela esposa, não mencionara nada.

Ela lembrava bem daquele telefonema, e como não lembrar? Descarrilou o trem da sua vida, aparentemente para sempre. A voz dele estava átona, sem vida, mas firme. Ele não gaguejou, nem se atrapalhou com as palavras nem uma única vez; para falar assim ele devia ter ensaiado algumas vezes. Quem pouco falara dessa vez foi ela. A surpresa a deixara quase muda.

Essa conversa já vinha sendo ensaiada pelos dois há algum tempo. Era uma palavra aqui, uma exclamação insatisfeita ali, uma queixa meio velada acolá... Mesmo sem muito alarde, aquele relacionamento estava dando mostras de cansaço, algo não ia bem...

Ela fora extremamente ingênua não vendo o óbvio. Ela se machucava o tempo inteiro com a solidão, com a angústia de se sentir sozinha nos seus piores dias e sem ter com quem comemorar suas pequenas vitórias. Para que estar casada então? Ter as obrigações do casamento e não desfrutar o que ele tinha de bom? Que diabo de casamento era aquele? Não era bem isso que ela planejara após esperar tantos anos que ele se resolvesse.

Ela não queria que ele enfiasse ideias absurdas na cabeça. NÃO havia acontecido nada além de uns beijos. Ela nunca tinha pensado em traí-lo. Mesmo com aquele distanciamento, entre eles, não deixara de amá-lo. Ainda eram almas-gêmeas, embora um pouco afastados no momento. E não se tratava apenas de geografia, mas de filosofia e coração. Cada um precisava recuperar-se a seu modo, antes de dar o próximo passo..

Porque daquela atitude insólita com Tyson? Nem mesmo ela saberia explicar... Só sabia que ele fora atencioso, simpático e delicado. E tanto naquele dia, como na noite de sua morte, ele tinha sido um ouvinte atento. E, foram momentos em que ela tinha necessidade de uma orelha que lhe escutasse, onde ela pudesse despejar toda sua insatisfação, seu sentimento de não dirigir seu próprio destino.

É interessante, como nessas horas a gente se sente mais à vontade com estranhos. Sara tinha os amigos Greg e Nick à mão, contudo não pensou em procurá-los pois, eles conheciam e reverenciavam Grissom, o que não lhe dava segurança. Não, para isso era melhor um desconhecido.

Certo que mais tarde, sentiu-se meio tola, ao saber da contratação dele por Ronald Basderick. Mas recusava-se a crer na falha total de seus instintos. Fossem outras as circunstâncias e ela acreditava que a atitude de Tyson seria a mesma. Agarrava-se firmemente a isso.

Com um estranho conseguira destravar a língua e aliviar o coração. Sentia-se leve, parecia ter tirado um peso enorme dos ombros. Ela e Grissom eram simplesmente um homem e uma mulher, encarando os desdobramentos de um difícil e mal planejado, casamento à distância. Acontece que o tempo e a distância, tinham elevado Grissom à categoria de um quase Deus, sendo muito difícil Sara criar qualquer confronto e sair vencedora.

A situação dela, no laboratório, por conta disso não era confortável. Para um número considerável de pessoas ela havia sido julgada e condenada CULPADA1 Fora tachada de traidora de um Deus, simples assim, injusto assim.

Existia amor ainda e ela achava que sempre existiria. Era uma tocha perene, cujo fogo nunca se extinguiria. Mas agora estava serena, recebia tudo sem estraçalhar os nervos a cada ninharia do caminho. Aprendera com o tempo a encarar tudo que viesse com mais serenidade e paciê natural impulsividade fora abrandada. A leoa não avançava a esmo; parava um pouco pra pensar antes, a maturidade estava visitando Sara Sidle e pareciam estar se entendendo bem. Sara estava um pouco melancólica, mas muito mais bonita.

Há muito tempo Grissom lutava contra esse exagero emocional de Sara. Ele não queria em absoluto aniquilar aquela sensibilidade, que fazia dela um ser especial, oh não, queria apenas retirar o excesso que a fazia sofrer e chorar. O curioso é que ela aparentava ter alcançado esse equilíbrio longe dele.

Greg e Nick não mediram esforços, para distraí-la e protegê-la durante aquele período difícil. Estavam com ela sempre que possível, faziam bobagens para ela sorrir, eram seus acompanhantes em cinemas, shoppings, partidas de xadrez e leituras policiais.

Tudo era muito bom, mas pelo visto, ela se sentia cerceada, sufocada; não costumava se sentir tão vigiada assim. Estava muito agradecida pela atenção recebida, mas gostaria bastante de um pouco de solidão.

Todos pensavam que ela estava mais calma, mas o que ela estava é anestesiada, Desde que se ouviu falando "ele não é mais meu marido!", parecia estar se movimentando em outra dimensão.

Terminou seu café, colocou sua caneca na pia, deu uma olhada rápida ao relógio de parede, eram ainda dez horas, o sol não estava forte e, milagre! Soprava uma brisinha gostosa, naquela tépida manhã de abril. Ao sair para o quintal encarou o céu, pensativa. "Pode ser que chova, hoje à tarde!", concluiu.

Seria bom se chovesse, mesmo porque fazia muito calor nessa época, em Vegas. Aquele dia tépido era uma exceção. O normal eram aqueles dias abrasadores.

Ela pegou seus apetrechos largados sobre um banco de jardim, colocou um grande chapéu de palha na cabeça e calçou o par de luvas de borracha amarela, estava pronta. Pegou um bulbos de tulipa e pôs-se a plantar.

Mexer na terra parecia lhe passar uma energia, que lhe restaurava o íntimo. Mas nem por isso ela deixava de se questionar se dentro de si reinava uma calmaria conformada ou um estado de choque paralisante..

Ela mesma não sabia definir direito o que um enorme vazio dentro de si, que quando obrigada a encará-lo a fazia chorar. Em outras vezes, acreditava de verdade, que tudo não passava de um enorme mal entendido, que acabaria por desmanchar-se no ar.

Entre essas duas versões exageradas, ela ficava jogada no meio, como um barquinho num oceano turbulento. Ora tendia para um lado, ora para outro, sem se resolver. Sentia que pouco podia interferir nesse caso, embora ele estivesse imantado `a sua própria vida, ao seu próprio futuro.

Nisso a campainha tocou. Ela teve um sobressalto e exclamou em voz alta, de uma forma incontida: GIL! Ela mesma, um segundo depois, achou a ideia ridícula. Grissom não era um homem dado a surpresas. Isso não fazia parte do seu repertório de coisas factíveis.

Mas quem seria afinal, naquele horário estranho, num domingo, sem avisar, nem nada? Franziu a testa e foi atender a quem tocava a campainha com certa insistência. Abriu a porta e só depois de alguns segundos disse:

- Greg?O QUE FAZ AQUI?