Largo da mão dele e corro. Corro com medo. Com medo de deixá-lo." Eu não podia estar fazendo isso. Eu prometi a ele." Uma súbita lembrança me ocorre. Eu e ele. O nosso primeiro beijo. Enquanto lembro disso vou diminuindo a velocidade,por causa das lágrimas tampando minha visão. Mas ai lembro do perigo que ele está correndo comigo perto e enxugo rapidamente meus olhos com a manga da blusa e recupero a velocidade. Se algo lhe acontecesse, eu jamais me perdoaria, ele é tudo para mim. "Eu não posso deixá-lo assim" penso comigo mas logo caio na realidade. "Eu devo deixá-lo, eu tenho que fazer isso".
Eu estou confusa. Não sei mas em quem confiar, já que tenho que me afastar de todos que amo para mantê-los seguros. De repente paro. "Não olha para trás Alice, não olhe, continue correndo, saia daqui enquanto é tempo e salve a vida dele." Mas acabo me virando, como se minha razão tivesse parado de comandar todo meu corpo e eu fosse comandada apenas pela emoção. Como se algo me obrigace a olha-lo. "Droga", penso assim que meus olhos se encontra com os dele. Pretos. Pretos como uma jabuticaba. Mesmo a uma certa distância posso ver lágrimas em seus olhos. Ele está do mesmo jeito que o deixei.
Meu cachecol está em sua mão esquerda. Ele deve ter agarrado na hora que comecei a correr. Na outra mão está minha flor. A flor que delicadamente se molda ao meu nome segundo nome. Alice de Luna.Lótus. Surpreendentemente da cor de meus olhos. Azuis. Lótus Azul. Perfeita combinação. Meus olhos descem para a sua roupa. Ele está estiloso, como sempre. Calça Jeans, blusa com coloração verde, uma blusa xadrez combinando perfeitamente com o casaco Jeans. Olho para os seus cabelos castanhos, cortado, do jeito que eu gosto.
Estamos parados em uma estrada. Atrás dele está o carro que ele pegou "emprestado" de seu pai para vir até aqui comigo fazer um pique-nique. O carro está em vertical, como se alguém estivesse mandado parar as preças e virado o volante. Incrivelmente, foi realmente isso que aconteceu. Graças aos Grandes está é uma estrada deserta, desde que o West Street foi inaugurada como "rodovia principal" e nenhum carro mais passa por aqui. Eu apenas descobri este caminho, por quê costumava ir pescar no lago ao lado com meu avô.
Do lado da estrada, várias árvores verdes vivas com flores de todas as cores moldam toda a estrada até o lago. Cercas de pintura muito gasta e que parecem estar sem retoque algum desde 1960 caminham juntos as árvores. O céu hoje está lindamente todo azul, sem nenhuma nuvem para botar defeito. Aqui daria um lindo lugar para um pique-nique, se eu nao estivesse em circunstâncias tão, desesperadoras e confusas.
Quando meu olhar volta para Felipe, percebo um desconforto na sua reação, ele começa a querer correr e gritar algo. A princípio penso que ele não quer me deixar ir e está vindo correr atrás de mim. Mas logo percebo o tom de urgência com que ele corre e grita algo que ainda não consigo entender. Forço meus tímpanes, mas meu lado esquerdo não anda muito bom desde o episódio com o raio (conto depois). Ele vai chegando mais perto e entendo sua mensagem em forma de grito. CUIDADO. Mas quando percebo, é tarde de mais. Apenos escuto um rugir. Tão alto que você não precisa ver, para crer, que se trata de um monstro enorme. E nem vai querer ver, vá por mim, experiência própria. Minha mente busca uma saida. Mas infelizmente não sei o que fazer, afinal, nem sei que tipo de monstro se trata. Enquanto penso no que fazer, vejo Felipe se aproximando, ainda com meu cachecol em mãos. Então sinto algo me levantando, e me empurrando de volta ao chão. Enquanto sou levantada vejo Felipe tirar algo do bolso, mas não consigo ver o que é, pois sou jogada contra o chão da estrada.
E apago completamente.
