Capítulo I – Tudo que era velho

Eu disse que ia esperar a raiva passar para fazer alguma coisa e realmente esperei. Quando meu rosto já não estava mais vermelho, minha cabeça não doía mais, meus olhos pararam de lacrimejar e parei de xingá-lo em pensamento, peguei o telefone e liguei... para Harry.

É óbvio que eu iria aproveitar a chance de que o meu ex-namorado é o maior inimigo do meu atual namorado. Como nunca tinha tido essa idéia antes?

Esse é um dos pontos fortes de namorá-lo: ele é odiado por todos (há quem considere algo ruim, mas eu gosto de ver a parte boa: se ele fizer algum mal pra mim, tenho milhares de pessoas contra ele). Sem contar que é loiro, beija bem, tem um corpo de MERLIM ME AJUDE, é rico e não liga quando eu o chamo pelo sobrenome. Sabe, ainda não me acostumei a chamá-lo simplesmente de Draco. Os pontos fracos são que ele quase nunca sorri, adora me provocar – de maneiras boas e ruins -, não se dá bem com a minha família, não gosta dos meus amigos, não suporta As Esquisitonas (como, me diga como, alguém pode não gostar delas?!), não curte afetos públicos, tem uma família de monstros e um milhão de meninas correndo atrás, é sonserino, por vezes um idiota e vive tentando mandar em mim. Sem contar, é claro, que ele é Draco Malfoy.

Por que eu tenho a impressão de que, se tivesse dito só "Draco Malfoy", tudo o que pus acima estaria resumidinho no pacote?!

-Gina? – Oh, Harry querido!

-Como vai? – fiz minha voz mais doce e odiei o tom choroso que ela ficou.

Incrivelmente, ele pareceu notar.

-Aconteceu alguma coisa? O Malfoy te fez alguma coisa?

-Oh, Harry! – um fato: chorei lágrimas que não tinha – Ele é perfeito sabe? – juro que o ouvi fungar – Mas às vezes, só às vezes, ele me acaba com a animação...

-Gina, o que ele fez? – ele nasceu lindo daquele jeito, Harry, foi isso que aconteceu!

O que aconteceu foi o seguinte...

Eis que estávamos nós dois, namorando no sofá da sala, enquanto a mãe dele não aparecia (Narcisa Malfoy é uma mulher de uma doçura incrível – menos comigo), quando uma coruja insistente começou a bicar a janela. Ele fez um bico perfeitamente mal-humorado e levantou-se para ver o que era. Eu dei uma de criança e corri, pegando a carta antes.

-Tem o meu nome nela, Weasley – ele também me chama pelo sobrenome, mas eu gosto.

Dei de ombros e abri-a. Meus olhos a percorreram rapidamente e senti que o sangue correu de meu rosto. Draco segurou-me pela cintura (acho que ele teve medo de que eu caísse) e pegou a carta.

"Caro Draquinho,

Leu minhas duas últimas cartas, não é? Então por que não as respondeu?

Eu disse que estava morrendo de saudades de você e que não parava de pensar em todas aquelas noites que passamos juntos no seu dormitório de monitor em Hogwarts.

Faz dois anos que não nos vemos e isso é muito tempo. Por isso, fico feliz em te dizer que estou voltando a Londres. Chego amanhã à noite voando e pouso às 9:45 PM em Hogsmeade. Você pode ir me pegar lá, não é? Então talvez possamos repetir nossas sessões do travesseiro. Isto é, se a sua namorada não te castrou.

Atenciosamente, Pansy Parkinson."

-Oh, Pansy vai voltar – comentou ele, dobrando a carta e a enfiando no bolso.

O QUÊ?! Ela manda uma carta daquelas, insinuando aquilo, para o MEU namorado, e tudo o que ele diz é "oh, Pansy vai voltar"?!

-Estou indo embora – falei, já ficando vermelha.

-Poupe-me, Weasley. Você não vai sair a essa hora da noite sozinha – ele revirou os olhos, me apertando com mais força.

Desvencilhei-me e lhe dei as costas, nervosa demais para continuar falando com ele. Mas, como já suspeitava, ele veio atrás de mim e me virou de frente.

-Gina, qual é! – exclamou, passando a mão pelos cabelos.

-QUAL É?! – berrei, alterada – O que você faria se eu recebesse uma carta daquelas do Harry?!

-O Potter não teria capacidade pra fazer as coisas que eu fiz com a Pansy, portanto, ele não escreveria carta alguma – Draco sorriu, cinicamente.

-Vá às favas, Malfoy – resmunguei, continuando meu caminho até a porta que levava para fora.

-Hei, você não pode estar com ciúmes, pode? – perguntou, voltando a me virar para ele.

-CIÚMES?! – gritei, batendo repetidas e raivosas vezes no peito de Draco – Eu. Não. Estou. Com. Ciúmes. De. Você. Mafoy.

-Ah, você está sim – ele segurou-me pelos pulsos e me jogou de costas no sofá – Gina, a Pansy está em Verona há anos! Você mesma viu, eu não respondi às suas cartas...

-Nada é impossível quando se trata de você, Draco – sibilei, levantando e não deixando que ele encostasse em mim de novo.

-Vai acreditar em mim ou não? – exclamou e pude ver que já estava perdendo a paciência.

-Não – disse, pegando minha bolsa e me preparando para sair.

-Certo, nos vemos amanhã – respondeu, seco.

-Amanhã você precisa ir buscar a Parkinson, lembra? – lembrei-o, no mesmo tom, prestes a chorar de raiva.

-É claro que eu não...

-Ah, vai sim – balancei a cabeça, estreitando os olhos perigosamente – E eu vou sair com alguém.

-Alguém?! O único alguém que você vai sair sou eu – Draco crispou os lábios, me mostrando que estava começando a chegar na área perigosa.

-Amanhã você vai sair com a sua ex – oh-oh, eu sempre sei aonde tocar, achei que ele soubesse disso – E eu vou sair com o meu ex.

Sua boca se abriu, seus olhos ficaram cinza e ele sibilou:

-Você não vai sair com...

-Harry? Sim, eu vou. E não tente me impedir – retruquei.

-Se você sair com ele, eu vou sair com a Pansy – ele arqueou as sobrancelhas; eu espremi ainda mais meus olhos – É pegar ou largar.

-Está tão louco assim pra sair com ela? Pois bem, pode ir – e, lhe dando as costas raivosamente, eu saí dali.

-EU VOU MESMO! – ainda ouvi-o gritar, antes de fechar a porta com estrondo atrás de mim.

E, agora, lá estava eu, ignorando solenemente as ligações de Draco e chorando minhas pitangas ao telefone com Harry. Quer vingança melhor?

-É sério? Ele vai se encontrar com a Parkinson?

-É – funguei lasciva e fingidamente – Ele vai buscá-la em Hogsmeade amanhã.

-Gina, eu odeio admitir isso, mas talvez, só talvez, você esteja exagerando – EU NÃO SOU EXAGERADA! – Eu odeio falar isso, dói meus ouvidos, mas ele parece gostar de você. E quando se gosta de uma pessoa, não vai buscar ex nenhum em lugar nenhum...

-Ele disse que não ia – concordei – Mas eu não teria tanta certeza assim.

-Bem, você o conhece melhor do que eu. O que quer que eu faça por você? – e toda essa lengalenga pra chegarmos onde eu queria...

-Você pode sair comigo amanhã? – cruze os dedos, Gina, cruze os dedos!

-Gi, eu adoraria, mas você não acha que...

-Harry, eu não quero passar a noite de amanhã sozinha sabendo que eles estão juntos! – exclamei.

-Por que você não vai até a Mansão Malfoy amanhã e...

-Eu não vou correr atrás dele! – okay, aquilo estava começando a me irritar profundamente.

-Certo, certo...

-Eu não posso pedir pra Mione porque ela está muito ocupada com o emprego novo, nem pro Rony, porque eu tenho certeza de que ele mataria o Draco. Mas tudo bem, se você não puder, eu ainda posso ligar pro Dino...

-Eu vou com você - uma coisa sobre ligar para ex-namorados: todos eles odeiam quando você fala sobre os ex antes dos ex – Mas você tem certeza...

-Absoluta. Obrigado, Harry – eu sorri triunfante ao ouvir o barulho do telefone desligando.

Naquele momento, eu vi que nada bom podia sair daquela história de ex retornando à ativa. Mas, se Draco Malfoy quer ficar com a ex, ótimo. Eu também tenho ex-namorados. E um deles se chama Harry Potter. Veremos se é verdade que tudo o que é velho pode ser novo novamente...