Feiticeira

Obs: Os personagens de Inuyasha infelizmente não me pertecem e essa historia eu adaptei de um livro de romance da autora Meagan Mckinney.

Prólogo

Ela era Kagome outra vez.

Em seu sonho, voltara ao castelo de Mhor. Era um ano antes, 1745. Culloden ainda não se transformara em um campo de batalha, e os ventos das planícies que açoitavam seu querido lar ainda sussurravam de maneira idílica e pacífica.

Kagome ria.

Os aposentos que compartilhava com a irmã gêmea ficavam na ala este, e no momento se encontrava no quarto de vestir, observando Kikyo, experimentar um vestido atrás do outro.

- Não, não, Kikyo! – dizia sorrindo. – O de Brocado verde é muito ousado! O que pensará a Sra. Kaede ? Jamais nos permitiria sair assim!

Riu de novo, afastando dos ombros uma mecha de cabelos negros e brilhantes.

- Kagome, estou farta de ter uma guardiã, portanto pouco me importa o que a Sra. Kaede pensa!

Kikyo fitou a irmã pelo espelho, um sorriso travesso nos lábios.

Kagome fiou olhando enquanto sua gêmea baixava ainda mais o decote do vestido verde, de modo atrevido.

- Bem, isso por certo irá impressionar Inuyasha - disse kagome com frieza – Mas o que pensará de uma moça que irá a um piquenique usando um vestido de baile? Inuyasha irá concluir que é demente Kikyo!

- Que nada! Garanto que vai gostar e muito!

- E dizem que eu é que sou a travessa – Kagome balançou a cabeça ante a tal absurdo, e foi ficar ao lado da irmã. – Use o vestido azul de cetim Kikyo. É muito mais apropriado para um piquenique. Além disso a Sra. Kaede concordou que só eu a acompanhasse desta vez, e se descobrir que usou outro vestido, jamais permitirá que volte a sair sem um bando de acompanhantes.

- Tem certeza que é minha irmã e não minha mãe, Kagome?

Kikyo lançou-lhe um olhar de reprovação, mas o sorriso maroto continuava a pairar em seus lábios.

- Às vezes confesso que não sei.

Assim dizendo, Kagome ajudou-a a desamarrar os laços, e em breve o traje verde foi para o armário.

O vestido de cetim azul com flores resultou em uma escolha muito melhor. Kikyo parecia um anjo e Kagome sabia que jamais teria tal aparência. Embora as duas tivessem os mesmos olhos azuis, as mesmas sobrancelhas arqueadas, igual nariz arrebitado e idênticos lábiospolpudos e vermelhos como pétalas de rosas, fora Kikyo quem nascera com cabelos de um louro prateado. Em contrapartida as madeixas de Kagome eram negras como asas de corvo. Desde crianças, quando as pessoas precisavam decidir qual das duas fizera uma travessura, era sempre o rosto angelical de Kikyo que a livrava do castigo.

- pode me ajudar a arrumar os cabelos irmã?

Kikyo sentou-se diante do espelho da penteadeira e Kagome postou-se às suas costas com a escova de cabo de prata começando a fazer as tranças.

- Kagome – perguntou Kikyo de repente. – Por que não está usando um vestido mais bonito? Lamento dizer, mas com esse de lã cinza não vai encontrar nenhum pretendente.

- quero desenhar esta tarde. O que gostaria que vestisse? Meu melhor vestido de seda?

- Não, porém poderia se arrumar um pouco mais, Inuyasha talvez traga um dos irmãos hoje e se isso acontecer parecer uma mendiga!

- Estou assim tão relaxada?

- Não! É minha irmã gêmea maravilhosa – riu Kikyo , tomando a escova da mão de Kagome – Mas pelo menos me deixe pentear seus cabelos. Vou fazer um coque alto como o meu. Muito mais na moda, verá.

- Se lhe agrada...Mas não se assuste se quando voltar dos meus desenhos Inuyasha disser que estou um horror, porque todos os grampos caíram.

Assim dizendo Kagome ocupou o lugar da irmã na penteadeira e Kikyo começou a arrumar as negras tranças.

- Tem mais grampos?

Kikyo sacudiu uma caixinha incrustada de pedras preciosas, e dois grampos caíram.

- Não. Basta pôr o laço de volta Kikyo. É o que melhor segura meus cabelos.

- Dê-me sua caixa Kagome. Deve ter grampos.

- Não! Acabaram-se...

Kagome se calou de modo abrupto, enquanto observava Kikyo se dirigir à outra penteadeira e abrir sua caixinha de grampos.

- Kagome! Está cheia de carvão!

- Sim, desenho com isso.

Kagome se ergueu com ímpeto, tratando de dar o laço de cetim azul nas tranças brilhantes e negras.

- Você não tem jeito, sabia? Mamãe mandou fazer essas caixinhas para nos dar sorte e usa a sua para carregar...carvão?!

- Mas adoro minha caixinha e a levo sempre comigo!

- Creio que quando nossa mãe as deu não pensava em algo tão prosaico. – Kikyo colocou os dois objetos delicados sobre sua penteadeira, lado a lado e os analisou com as mãos nos quadris. - veja!Há uma mancha enorme e escura no seu retrato. Carvão, é claro!

Pegou um lenço da mesa e esfregou a tampa até vê-la limpa. As caixas eram esmaltadas no tom de azul cobalto, com minúsculos brilhantes e safiras nas bordas. Eram idênticas, exceto pelos retratos das gêmeas pintados em cada tampa. E abaixo da pintura de Kikyo e Kagome haviam duas palavras respectivamente. A mãe das gêmeas, muito supersticiosa, adquirira os objetos de uma feiticeira, que parecia lhes ter transmitido certos poderes.

Na caixa de Kikyo lia-se A amada e de fato ninguém costumava ficar irritado ou triste quando Kikyo estava por perto. Entretanto na caixa de Kagome lia-se A enfeitiçada. Para espanto do pai inglês das gêmeas, muitos criados escoceses haviam abandonado o castelo de Mhor depois de ver o que estava escrito na caixinha de sua filha morena.

- Vamos lá. Kikyo. Perdoe meu sacrilégio, pelo menos hoje. – Kagome enfiou a caixinha cheia de carvão dentro do bolso coulto do vestido cinza. – Já estamos muito atrasadas e é possível que Inuyasha tenha deixado Miroki e ido ao piquenique sozinho.

- Tem razão, mas continua sendo um caso perdido irmã. – Kikyo voltou a sentar-se em frente à penteadeira e acabou de arrumar os cabelos louros. – Tenho certeza que vai se transformar em uma solteirona ou pior, se ver na contingência de ter que casar com o primo Narak.

- Bem, não se preocupe com a segunda opção. Ia lhe contar hoje no café da manhã que o primo parou de me perseguir.

Kagome enfiou um grampo no coque alto de Kikyo.

- Como foi isso? Pensei que Narak jamais desistiria. Parecia tão...desesperado por você! – Kikyo estremeceu e entregou o último grampo para a irmã. - Como gostaria que papai não tivesse dado a propriedade de caça de Mhor para ele! Desde que nossos pais morreram Narak parece rondar o tempo todo. Admito que é homem bonito, porém...seus olhos são tão estranhos...E é tão velho! Deve ter no mínimo trinta e cinco anos!

- Que contraste com os vinte e oito anos de Inuyasha – provocou Kagome.

Kikyo apoiou o queixo nas mãos e olhou de modo sonhador para o espelho.

- Sim, mas Inuyasha é tão...

- Irado.

- Como?!

- Pelo menos deve estar. Faz idéia de que horas são Kikyo?

- Claro!

Kikyo pulou da cadeira como se fosse impulsionada por uma mola. Encheu sua caixa com objetos úteis e bem femininos, uma tesoura minúscula, linha, o derradeiro grampo e pareceu pronta para partir. De repente olhou para Kagome de maneira horrorizada.

- Abainha! – gritou.

- O que foi? Descosturou?

Kagome baixou os olhos para a saia e viu um lado da bainha pendendo e se arrastando no chão.

- Vou me trocar correndo! Juro!

- Não, Kagome ire na frente. Encontrarei Inuyasha e depois voltarei, nos reuniremos no outeiro de Forsyth. Faremos nosso Piquenique ali.

- E vai sozinha? O que dirá a Sra. Kaede? Ficará furiosa!

- A Sra. Kaede jamais saberá. Está fora visitando a irmã doente e se você não contar...

- Não contarei, mas...

- Até o outeiro de Forsyth Kagome!

Assim dizendo Kikyo saiu dos aposentos, mas Kagome foi atrás.

- Talvez seja melhor me esperar e...

Porém suas palavras ecoaram nas paredes, pois Kikyo desaparecera.

Kagome não demorou a trocar de roupa e em breve estava no alto do outeiro de Forsyth, observando a carruagem da irmã se dirigir para a estrada de Moray Firth. Pensou em descer correndo o outeiro e tentar alcançar o coche, porém o dia estava quente e agradável e resolveu permanecer no alto.

As urzes floresciam ao seu redor, em um tom lilás muito claro. Tojos perfumados, com suas folhas pontiagudas, cobriam o outeiro. O ar cheirava a cedro, lã de carneiro e mar e a vida era maravilhosa, pensou Kagome.

Deixando as saias voejarem com a brisa sentou-se junto a umas samambaias e decidiu desenhar a carruagem de Kikyo enquanto descia lentamente a colina. Entretanto, antes de tirar um pedaço de carvão da caixa esmaltada, notou que algo estava errado.

Com espanto e desespero, Kagome ficou paralisada no alto do outeiro, assistindo à carruagem da irmã tombar na ravina, perto do grande lago. Um minuto depois surgiram na estrada cerca de doze homens a cavalo. Kagome não fazia idéia do motivo desses cavaleiros estarem ali, nem por que não atendiam logo aos gritos de socorro de Kikyo. Em vez disso, desmontaram e começaram a observar a carruagem caída.

Horrorizada porque a irmã se ferira ninguém a ajudava, Kagome começou a descer o outeiro às pressas. Precisava ajudar Kikyo! Na metade do percurso, viu um dos homens que não reconhecia à distância, abrir a porta da carruagem tombada.

O alívio a invadiu porque por fim alguém ajudaria sua irmã. Mas antes que desse mais um passo o grito terrível de Kikyo atingiu seus ouvidos.

Kagome estacou, quase caindo, o corpo entorpecido pelo choque e confusão mental. Logo o homem emergiu da carruagem e dessa vez ela o reconheceu. Tratava-se de seu primo Narak, o belo e rejeitado pretendente. Atrás dele vislumbrou o corpo sem vida de Kikyo, rolando dentro da carruagem.

Com um horror indescritível, Kagome viu uma mancha rubra surgir no vestido azul da irmã e não conseguiu refrear um grito. Em seguida arrependeu-se, porque percebeu que talvez acabasse de decretar a própria morte também.