Dragon Ball Z não me pertence.
*Se é que me entende*
Yamcha era um cara legal.
Ele era desses rapazes que sempre dizia 'Poxa, você está linda hoje!', mesmo se ela estivesse trancada no laboratório há dias, sobrevivendo apenas à base de café e cigarros, com o cabelo todo despenteado e com olheiras tão profundas que a faziam se questionar se o ser humano não tinha evoluído dos pandas ao invés dos macacos.
Yamcha era um cara gentil.
Ele gostava de andar de mãos dadas com ela, de contemplar o pôr-do-sol enquanto dividiam uma taça de sorvete, de pegá-la de surpresa e beijá-la na nuca, na bochecha, nos lábios. Gostava de presenteá-la com coloridos buquês de flores, caixinhas de chocolates e cartões com dizeres românticos, que eram, até mesmo, um pouco bregas, mas que a faziam suspirar profundamente e sorrir como a verdadeira tonta apaixonada que era.
Yamcha era um cara compreensivo.
Desses que, mesmo quando tinha razão, sempre admitia que estava errado. E ele ficava de joelhos, se arrastava e rastejava aos pés dela enquanto não apenas pedia, mas implorava por perdão e por uma segunda chance.
Ou por uma terceira... uma quarta... ou até mesmo por uma vigésima chance.
E ela sempre dava a ele uma outra oportunidade, mas não deveria. Porque Yamcha também era um mulherengo ordinário!
Desses que fedia a perfume barato que, com certeza, não era a fragrância que ele usava, porque Bulma sempre o presenteava com colônias caras e de excelente qualidade. Ele era do tipo que, vez ou outra, aparecia com marcas de batom nos colarinhos das camisas, que não cansava de dar desculpas esfarrapadas para justificar o fato de receber tantas mensagens de mulheres no celular, e que adorava olhar para trás quando uma garota passava rebolando por ele na rua. E ele não era nada discreto quando isso acontecia.
Bulma, às vezes, se perguntava o que tinha acontecido com aquele lobo do deserto que ela conhecera quando ainda era uma adolescente... e por quem ela tinha se apaixonado perdidamente. Naquela época, anos atrás, Yamcha era muito diferente do Yamcha de hoje, com seu jeito solitário, olhar hostil e longos cabelos selvagens. Naquela época, ele sonhava em vencer sua timidez extrema – que a cientista considerava como sendo uma verdadeira fobia de mulheres – para conseguir, assim, se casar com alguém. E Bulma queria ser esse alguém. Queria muito, mas muito mesmo!
No entanto, o tempo passou... e Yamcha mudou.
Aquele jovem tímido e que aparentava ser tão indômito se tornou um homem extrovertido e domado, mas que ainda tinha as mulheres como a sua maior fraqueza. Só que agora, ao invés de não conseguir ficar perto delas, Yamcha não conseguia era ficar longe de um belo rabo de saia!
E Bulma não aguentava mais aquela sem-vergonhice ilimitada do seu namorado!
"Ei, garota terráquea, vai comer isso ou vai ficar só olhando mesmo?"
As palavras grosseiras a despertaram do seu devaneio, e Bulma piscou algumas vezes até conseguir se situar em onde realmente estava. Vegeta, sentado bem a sua frente na mesa da cozinha, já tinha devorado toda a comida dele e, agora, olhava ambicioso para os intocados e apetitosos bolinhos de arroz no prato da cientista. Suspirando fundo, ela encarou os quitutes por um instante, não sentindo a menor vontade de comê-los. As lembranças do comportamento promíscuo de Yamcha deixaram em sua boca um gosto amargo muito ruim, e a bela cientista se viu completamente sem fome.
"Não, não estou com muita fome. Pode comer, quiser." Ela o ouviu grunhir em resposta e estendeu-lhe o prato logo em seguida, apoiando o cotovelo na mesa e descansando o queixo na palma de sua mão. Olhos azuis passearam preguiçosos pela mesa de madeira até alcançarem a figura do saiyajin, e foi aí que Bulma reparou num pequeno – mas muito importante – detalhe.
Ele estava olhando para ela.
Claro que, quando Bulma o encarou de volta, franzindo suas elegantes sobrancelhas e fixando no guerreiro seus vívidos olhos azuis, ele desviou o olhar rapidamente, tratando de comer os bolinhos de arroz como se fosse um esfomeado. As bochechas dele assumiram um tom mais vermelho, e Bulma precisou lutar bravamente contra o sorriso travesso que ameaçava irromper em seus lábios.
Bem, se era isso o que ele queria, os dois podiam muito bem jogar esse jogo!
Fingindo nada perceber, ela aparentou desviar o olhar, mas continuou a vigiá-lo de soslaio. E foi com uma satisfação repentina – e muito da inesperada – que Bulma o viu erguer aqueles olhos negros e cravá-los nela. Aquele mesmo sorriso atrevido de antes ameaçou querer surgir de novo, mas Bulma se mostrou uma guerreira formidável e não se deu por vencida. Ainda fingindo estar completamente alheia aos olhos dele – e ao desejo que ela sabia muito bem que estava presente naquelas incríveis orbes negras – Bulma, sendo a cientista que era, resolveu fazer mais um teste.
Só mais um, para ter certeza do que estava acontecendo.
Devagar e de uma forma muito provocante, deslizou o dedo médio pela boca do seu copo de suco. Tão devagar quanto, parou o movimento e pegou o objeto de vidro, levando-o a boca e bebendo um pouco de seu conteúdo. Sua língua contornou seus lábios molhados pelo líquido adocicado, lambendo-os de uma forma tão exagerada que chegava a ser erótica, e ela teve certeza de que, no mesmo instante, ouviu Vegeta engasgar. Mais uma vez, experimentou daquela inesperada sensação de satisfação, seu baixo ventre esquentado ao perceber que ele, o tão arrogante e orgulhoso príncipe dos saiyajins, aparentava ter uma quedinha por ela, uma reles garota terráquea, uma mulher vulgar, como ele mesmo fazia questão de dizer sempre, ou melhor, de esbravejar. Vegeta, pelo visto, a admirava, e a descoberta a arrebatou. E por que ela tinha ficado tão surpresa com aquilo? Bulma, afinal de contas, era uma mulher muito atraente e sensual, e, para ela, era apenas uma questão de tempo até o guerreiro extraterrestre se ver enfeitiçado por sua beleza estonteante, ainda mais morando sob o mesmo teto que ela! Não... o que a deixou realmente surpresa não foi o fato dele admirá-la, mas sim o fato dela apreciar – e apreciar até demais – aquela admiração toda.
E então, de repente, uma ideia muito interessante surgiu em sua mente. Estreitando os olhos, passou a encará-lo mais uma vez, sorrindo um pouco ao perceber como ele desviou o olhar assim que notou que ela o observava. E se tinha algo que Bulma precisava admitir era que Vegeta não era de se jogar fora. Não com aquela pele morena, com aquelas feições másculas e sombrias, com aqueles olhos tão profundos e tão repletos de segredos, com aquele corpo musculoso e viril, com aquelas mãos fortes e grandes e que deveriam ser tão firmes e ásperas e possessivas e poderosas e... e...
Prendeu a respiração.
E a soltou bem, mas bem devagar.
Ele, definitivamente, não era de se jogar fora.
E Bulma sempre detestou desperdício.
"Sabe, Vegeta..." Ela disse com uma sensualidade imprevista, fitando-o de uma forma que esbanjava ousadia e provocação. "...o bolinho não é a única coisa que você pode comer." Mordiscou o lábio inferior de propósito, batendo os cílios. "Se é que me entende."
Bulma não se considerava uma pessoa vingativa. Não, de forma alguma! Mas que ela daria o troco a Yamcha na a mesma moeda, ah sim! Isso, com certeza, ela faria!
Claro que, para que o seu plano desse certo, Bulma teria que se certificar primeiro de que não tinha matado o príncipe dos saiyjains engasgado.
Bem, paciência!
