Hoje tinha estrelas em Forks.
Não era algo que se via com freqüência, num céu quase sempre cinzento.
Mas ainda estávamos no verão.
Era meu último dia em Forks de um verão perfeito.
-Está quieta.
Eu tirei meus olhos do céu e pousei em Jacob do meu lado.
Sentiria falta dele. Era meu melhor amigo. Meu único amigo.
-Já estou sentindo falta disto.
Ele riu. Um riso juvenil que dizia o quanto ele era jovem. Apenas 16. Dois a menos do que eu.
Eu me sentia quase uma velha às vezes perto de Jake.
-Você não gosta de Forks.
-Não disse que sentirei falta da chuva e do frio.
-Faz frio para onde vai também
Eu suspirei.
-Não me lembre. Deveria ir para a Califórnia.
-Mas vai para Boston University.
-Sim, mas não é Darthmouth – falei irônica.
Obviamente era pra onde meu pai queria que eu fosse, mas não podíamos pagar.
Eu ri, me lembrando de como Charlie ficara orgulhoso quando eu fora aceita. Queria até fazer um empréstimo, mas eu não deixei.
Universidade de Boston era tão boa quanto qualquer outra.
Eu passara o verão com Charlie, como todos os anos desde que minha mãe fora embora.
A partir de agora, eu era praticamente adulta, estava indo para a universidade e não precisaria mais passar os verões naquela cidade cinzenta e fria, se eu não quisesse.
Mas eu sabia que sempre voltaria. Por Charlie. E por Jake.
Eu lamentava que Jacob não tivesse a minha idade, que não pudesse ir para a faculdade também. Talvez eu estivesse com medo de enfrentar o desconhecido sozinha.
-Estou com medo – sussurrei, me sentando no cobertor que Jake colocara para a gente sentar na praia. A fogueira ainda estava acesa a alguma distância e focalizei meus olhos nas labaredas, abraçando meus joelhos.
Era estranho, como se fosse um ataque de pânico.

O que eu conhecia do mundo, além de Phoenix e Forks e dos livros que eu considerava melhor companhia do que seres humanos?
Não que eu fosse anti-social.
Quem me conhecia diria que eu era a mais normal das pessoas, talvez um pouco tímida e introspectiva. Mas absolutamente normal. Uma garota comum, de uma beleza esquecível, inteligência mediana e um tanto propensa a acidentes. Acrescente a isto que era péssima em esportes, não conseguia manter uma conversa descente com meninas da minha idade sem me entediar totalmente e o único cara com quem eu saia era Jacob: um amigo de infância quileute que eu via uma vez por ano nas férias de verão. E quando eu digo sair, não quero dizer nada romântico.
Eu realmente amava Jacob. Mas como amigo.
E agora eu estava saindo da minha bolha de normalidade e indo para o desconhecido e assustador.
Universidade. Eu deveria estar feliz e ansiosa.
Ia estudar língua inglesa. Me especializar naquilo que eu gostava, os livros.
Mas obviamente faculdade não era só isto.
De repente eu me senti a pessoa mais inexperiente e imatura do mundo.
-Qual o problema, Bella? - Jacob indagou, tocando meus ombros.
Eu podia me abrir com ele. Era meu amigo, não era?
E hoje era nossa última noite juntos.
-Este negócio de ir pra universidade... me assusta.
-Por quê? Achei que era o que você queria.
-Eu quero. Mas... Como é que eu posso me dar bem sozinha num lugar daqueles?
-É só uma faculdade, Bella.
-Eu sei, este é o problema.
-Todo mundo passa por isto.
-É que eu me sinto tão... tão...inexperiente.
-Espera ai, está falando de... meninos?
Eu fiquei vermelha.
Sim, estava falando disto também.
Dei de ombros.
-Não é só isto.
De repente Jacob parecia diferente.
-Porque se isto for o problema, eu posso te ajudar.
-Do que esta falando?
Ele desviou o olhar por um momento, ficando vermelho.
-Jake?
Ele riu me encarando de volta.
-Na verdade acho que resolveria o meu também.
-Ainda não estou entendendo.
-Estou falando de nós dois... juntos... adquirirmos experiência... juntos.

Franzi a testa tentando entender aonde ele queria chegar com aquele papo estranho, e então eu entendi.
Arregalei os olhos, chocada.
-Está propondo que a gente transe?
-Sim.
-Da onde tirou isto, Jacob? Está maluco?
-Não, você acabou de falar que queria ser mais experiente com sexo.
-Eu não falei isto.
-Então você já...
-Não!
-Eu também não.
Eu desviei o olhar. Como é que tínhamos chegado naquele conversa estranha?
-Então porque não podemos?
-Porque somos amigos.
-Por isto mesmo. Eu te conheço Bella, se ainda é virgem...
-Qual o problema com isto?
-Esta indo para a faculdade e achei que estava se referindo a isto quando disse que se sentia mal.
-Eu não disse... - parei. Sim. Eu pensava nisto também.
Mas não era em absoluto meu único "problema". Na verdade não era um problema, porque tinha de ser?
Eu simplesmente não conhecera nenhum cara com que quisesse fazer isto até hoje.
E daí que tinha 18 anos e estava indo para a faculdade sem ter feito sexo? Ninguém precisava saber disto. Era total problema meu.
Quer dizer, não era um problema.
Respirei fundo, encarando Jacob.
-Jake, eu não vou transar com você. – disse devagar.
Eu ainda não podia acreditar que ele estava propondo uma coisa daquelas!
Era quase como um... incesto!
Ok, talvez fosse um exagero. Jacob não era meu parente, afinal.
Era meu amigo.
Eu sempre imaginara que minha primeira vez fosse com alguém que eu gostasse de verdade.
E eu gostava de Jake, não gostava?
Sacudi a cabeça. O que eu estava pensando?
Estaria mesmo pensando em transar com Jacob?
Devia estar maluca.
-Por que não, Bella? Não confia em mim?
-Claro que confio. Mas nós somos amigos.
-Não estou pedindo pra casar comigo! - ele riu – eu apenas andei pensando...
-Andou pensando? - levantei a sobrancelha.
De repente aquele cobertor na areia e a fogueira na noite estrelada tomou um outro significado pra mim.
Será que Jake tinha planejado tudo aquilo?
Ele ficou vermelho.

-Então, eu só pensei que... você sendo virgem e eu sendo virgem... Que podíamos fazer isto um com o outro. Uma hora a gente vai ter que fazer mesmo, e eu não sei você, mas eu gostaria mesmo que fosse com alguém como você. E está indo pra faculdade e achei que, seria...
-Oh, Jake. - Eu sorri. Parecia mesmo doce e plausível ele pensar assim. – Não é uma boa ideia.
-Eu acho que seria.
-Jake, você tem 16 anos, em alguns lugares eu poderia ir presa!
-São só dois anos de diferença, Bella. Esta encanação com a idade é ridículo.
-Mas ainda é menor de idade e eu não.
Ele rolou os olhos.
-Não sou criança.
-Eu sei.
-Então vamos fazer.
-Jake – eu comecei a rir.
Me lembrei de como ele me convencia a fazer alguma traquinagem com ele quando crianças, como eu era suscetível, em como ele sempre acabava me convencendo.
-Você me acha feio? Repugnante?
-Claro que não.
-Você me acha bonito então?
-Jacob!
-Vamos, Bella, é só responder.
-Ok, você é bonito – e era verdade. Ele crescera bem no último ano. Ficara mais alto do que eu.
E cortara o cabelo. – Este corte lhe caiu bem – brinquei, passando os dedos pelos cabelos curtos, despenteando-os.
Ele segurou minha mão e ficou sério.
Eu quis puxar.
-Bella, estou falando sério.
Suspirei. Será que devia deixá-lo me convencer?
Eu o encarei por uns instantes. Sim, ele era bonito. Eu não parava pra ficar reparando nele fisicamente, mas claro que eu o achava atraente. Qualquer menina acharia.
E ele era meu melhor amigo. Haveria alguém que eu confiaria mais um dia?
Mas então o que eu faria com alguns sonhos românticos tolos e ultrapassados?
Eu já sabia a resposta. Porque eu tinha que esperar por um amor verdadeiro e único que poderia nem existir?
Haveria em algum lugar do mundo e do tempo alguém destinado a mim?
Não tinha como saber; E mesmo se existisse... quando é que eu o conheceria? Deveria ficar esperando intocada como as donzelas do século passado, enquanto um cara legal e bonito como Jacob pedia pra transar comigo?
É, talvez não.

Mas este era Jacob. Meu amigo
E pra onde iria nossa amizade depois de tudo? Ainda sobreviveria?
Não, eu não poderia deixar nada entre nós, nada que desfizesse aquele laço perfeito que tínhamos.
E se eu transasse com ele, tudo mudaria.
Por mais que ele insistisse que não. Eu sabia bem lá no fundo.
Podia estragar tudo.
Acabar tudo.
E isto eu não suportaria.
Eu puxei sua mão para mim e a beijei, a colocando no meu rosto, sacudindo a cabeça negativamente.
-Não, Jake. – murmurei.
-Está me dando um fora, Bella Swan.
Eu sorri, largando sua mão.
-Apenas sendo sensata. Sim, eu me sinto mesmo meio idiota em estar indo pra faculdade sendo tão inexperiente e, sim, eu talvez devesse aceitar sua proposta, e acabar logo com este assunto. Talvez você fosse o cara perfeito, afinal. Confiaria minha vida a você se fosse preciso, sabe disto.
-Então ainda posso ter esperança?
-Jake...
-Vamos fazer assim: Daqui dois anos eu terei 18. Se eu ainda for... E se você ainda for... Nós faremos juntos. Você pode estar disposta a ir virgem pra faculdade, mas eu não.
-Daqui dois anos? Duvido que não tenha arranjado uma namorada em dois anos, Jacob!
Ele deus de ombros.
-Você também. Então acho que podemos prometer.
Ele estendeu a mão.
Eu hesitei.
Dois anos pra tudo mudar. Era óbvio que mudaria, não é? Pra Jacob com certeza.
E quem sabe pra mim também.
Eu podia conhecer o amor da minha vida, afinal.
Quase ri deste pensamento e segurei a mão de Jacob.
-Combinado.