São 19:17.
Shiryu acabou de entrar na sala de cirurgia. É minha culpa. Shun, Hyoga e Seiya não estão preocupados em encontrar um culpado para tudo aquilo, e eu sei que eles só querem que Shiryu fique bom. Os médicos, disseram, eram muito bons, professores de medicina e especialistas de suas áreas. Disseram os funcionários puxa-sacos. Que puxem o saco da verdade porque perderão os empregos caso façam qualquer besteira com o meu cavaleiro. Que loucura foi aquela, ver os olhos chorando sangue, literalmente, que horror de visão. Falando em visão, e se ele não voltar a enxergar? Eu não consigo imaginar um mundo negro, em que apenas sensações e sons me guiam. Se ele não voltar a enxergar... será horrível para alguém como Shiryu, que mora nas montanhas. E Shunrei? Ah, ela vai me odiar. Sei que muitos me odeiam por trás desses rostos sorridentes, pensando... morra, sua falsa! Que elas me odeiem, mas o pior é que sei que Shiryu nunca me odiará, apesar de ter todo o direito. Hyoga já me disse que quis me odiar várias vezes, mas não tinha tempo para isso. Afinal, o Santuário é muito mais importante que nossas diferenças. Bem, agora ele deve estar pensando nisso, já que estamos esperando pelo final da operação e temos tempo à beça. Ela ainda deve durar horas por causa daqueles ferimentos tão graves, e nem sabemos se dará certo. Queria que eles saíssem da sala neste exato momento e me informassem a situação do Shiryu. Não vão sair logo não? Até parece que entraram lá há uma hora. Se bem que uma operação assim é muito delicada, demanda tempo, paciência... Paciência... É algo impossível de ter agora! Ele estava com os olhos sangrando! Se ele ficar cego, nunca mais me perdoarei. Por que coisas ruins precisam acontecer logo com pessoas boas que só merecem o melhor? Melhor seria para Shiryu se ele voltasse pras montanhas, junto com Shunrei, sem esse negócio de ser cavaleiro e de arriscar a vida. Ora, poderiam ser uma família, ter filhos, viver felizes. Pobre Shiryu. Pobres cavaleiros. Por quanto tempo mais terão de lutar, de sofrer, de morrer um pouco a cada luta? Por quantos anos? Podem ser apenas meses, que terminarão invariavelmente num cemitério. Aquele era apenas o começo do desfiladeiro, apenas a primeira gota da tempestade, o início da ruína de tudo e tudo, tudo por minha culpa! Tudo! Como sou inconveniente para eles. E mal sabem... que é apenas o começo de tudo. Ah, vovô, eu não sei se agüento, não sei se chego ao final, não sei sequer se um dia eu me perdoarei, não sei se eles vão me perdoar, não sei se o Santuário voltará a ser como era antes, não sei...
"Saori? Você está bem?"
"Shun...? O que foi?"
"Eu perguntei que horas são... Não tenho um relógio aqui comigo."
Olho de novo para o relógio. Que inferno!
São 19:18.
*FIM*
