- Katekyo Hitman Reborn® e seus personagens pertencem à Amano Akira;

- Essa é uma fanfic yaoi, ou seja, contém relacionamento homossexual entre os personagens. Se você não gosta ou sente-se ofendido com esse tipo de conteúdo sugiro que vá ser feliz lendo shoujo;

- A fanfic foi inspirada na música "Back to December" da Taylor Swift e "Rain" da Patty Griffin. Não é uma songfic, mas elas foram meu plano de fundo do primeiro ao último capítulo. Recomendo que ouçam =)


to listen to a hard hard heart

Prólogo

Àquela não seria mais uma das muitas noites que ambos passariam juntos. Desde o começo daquele dia as coisas estavam diferentes. Confusas, pedantes e totalmente irritantes. O ar parecia pesado, as paredes pareciam diminuir o espaço do quarto fazendo com que a cama, o guarda-roupa e a pouca mobília criasse uma estranha sensação de confinamento.

Não havia som, reinando o mais puro e incômodo silêncio.
As palavras haviam sido ditas sem nenhum tipo de pretensão. Não era um pedido de autorização, mas sim um aviso. Gokudera não era mais um adolescente e Yamamoto não era seu pai. Entretanto, a maneira como o moreno recebeu aquela notícia lembrou muito uma figura paterna ouvindo que sua única filha deixaria a proteção da casa para se aventurar pelo mundo. Ou coisa parecida.

- Não, você não vai!

A resposta do Guardião da Chuva foi resumida e dita sem nenhum tipo de expressão. Seus olhos castanhos estavam firmes na direção do homem sentado na cama à sua frente. O olhar era tão sério e penetrante que Gokudera achou que ele fosse capaz de atravessar seu corpo e chegar à parede. Eram raros os momentos em que aquele lado aflorava em Yamamoto, porém, em quase todas as suas aparições o homem de cabelos prateados estava presente. Ironicamente ele sempre era a causa da tensão entre as sobrancelhas do moreno.

- Não é algo que será discutido ou votado. Eu irei e está decidido. - A resposta do Guardião da Tempestade soou fria. Ele esperava por aquilo.

- Não, não irá.

Yamamoto passou uma das mãos nos cabelos negros. Gokudera desviou os olhos e suspirou. Aquele era o sinal de que a paciência do moreno começava a se esvair e a conversa tomaria um rumo esperado, mas completamente diferente.
Quando entrou naquele apartamento no começo da noite, o Guardião da Tempestade tinha o único intuito de comunicar que em dois dias partiria para a Itália com o Jyuudaime. Tsuna - oficialmente o Décimo Chefe da Família Vongola há alguns anos - permaneceria alguns meses na Europa para resolver alguns assuntos de extrema importância. A viagem era para ter sido realizada há algum tempo, mas Tsuna adiou o máximo possível aquela parte de suas responsabilidades. Lidar com mafiosos não era exatamente o que ele gostaria de fazer com seu tempo.

Como fiel braço direito, Gokudera tinha como certa sua presença o tempo que o Jyuudaime achasse necessário. O homem de cabelos prateados jamais permitiria que seu Chefe fosse para um local tão perigoso como a Itália sem que ele estivesse lá para garantir sua segurança.
O único obstáculo estava andando de um lado para o outro do quarto, lançando olhares ofendidos em sua direção.

- Dez meses, Hayato? Dez meses é muito tempo - A voz de Yamamoto começava a vacilar. Eles estavam juntos há quase cinco anos, tempo suficiente para que o moreno conhecesse o gênio e personalidade de seu amante. Se Gokudera dizia que pretendia ir, então ele iria.

- Dez meses passam rápido - O Guardião da Tempestade não mentiu. Juntos esse tempo passaria em um piscar de olhos, mas ele sabia que a distância faria com que esse tempo parecesse muito mais longo.

- E quanto a nós? E quanto a mim? - Yamamoto parou e virou-se. A seriedade em seu rosto parecia distorcer suas belas feições. Era estranho observar traços que sempre foram tão alegres e vividos mostrarem uma expressão tão dolorosa.

- A Itália não é em outro planeta, nós podemos muito bem pensar em uma maneira de nos vermos.

- Eu ir vê-lo, você quer dizer - O Guardião da Chuva engoliu seco - Porque você estará lá tranquilo enquanto serei eu quem terá de enfrentar horas de viagem se quiser vê-lo.

Aquele comentário fez os olhos verdes de Gokudera se estreitarem. O assunto começava a tomar um rumo que ele não estava gostando, e a maneira nem um pouco amável com que o moreno escolhia suas palavras começava a ofendê-lo.
Os trovões de uma briga soavam em seus ouvidos.

- Não vá. Fique no Japão. Eu não me lembro de ter pedido que faça esse enorme sacrifício de passar algumas horas em um avião. Se não quiser ir, então não vá. Não estou te obrigando a me fazer companhia nesse tempo. Mas é minha responsabilidade e meu trabalho estar ao lado do Jyuudaime.

- E quanto a mim? Qual a sua responsabilidade e seu trabalho em relação a minha pessoa? Você não pode simplesmente fazer as malas e se mudar para outro país enquanto eu fico aqui. Hayato, são cinco anos. Nós precisamos conversar sobre isso.

- Não existe nada para ser discutido, mas se você faz tanta questão de conversar então fique ciente de que minha decisão está tomada e nada do que você disser me fará não ir. Estou aqui tentando encontrar uma maneira de resolvermos a situação, mas pelo visto sou o único que se importa com a possibilidade de não nos vermos nesse tempo.

A conversa não era mais uma conversa. As vozes que começaram baixas tornaram-se altas e distintas. Os olhares que até poucos minutos demonstravam um sentimento terno e agradável agora queimavam com cólera e orgulho ferido.
O quarto transformou-se na arena em que Yamamoto e Gokudera tentavam defender seus pontos de vistas com argumentos cada vez mais falhos e impossíveis. Do seu lado, Yamamoto dizia que não admitiria ser deixado para trás. Do outro, Gokudera rebatia com o peso de suas responsabilidades e o egoísmo por parte do moreno.

O calor da discussão fez o Guardião da Tempestade ficar de pé. Sua voz estava alta, rouca e todas as vezes que precisava responder uma indireta ou um comentário pretensioso da parte de Yamamoto, sua paciência parecia desaparecer um pouco mais.
Por minutos que pareceram horas, os dois homens esqueceram os momentos e lembranças que passaram juntos, perdendo-se em uma discussão que só poderia ter uma conclusão.
Quando entrou naquele apartamento, Gokudera jamais pensou que a conversa chegaria até aquele ponto.

- Se a situação está tão insuportável para você então não me espere. Quando eu deixar o país siga com a sua vida como se eu nunca tivesse feito parte dela. Eu estou cansado de você e da maneira como me trata como se eu lhe pertencesse. Eu sou livre e não ficarei nem mais um minuto perdendo o meu tempo discutindo isso - As palavras saiam pelos lábios do homem de cabelos prateados de maneira impensada. Yamamoto calou-se e ouviu com uma expressão surpresa, completamente sério. - Agora saia do meu apartamento se você não tem mais nada a dizer, porque do momento em que você fechar aquela porta eu não quero mais vê-lo, Takeshi.

A resposta do Guardião da Chuva demorou alguns segundos para ser dada. O impacto daquelas palavras pareceu feri-lo tão visivelmente que após ter dito todas aquelas coisas, Gokudera sentiu o peito automaticamente apertado. Os olhos castanhos que até poucos segundos atrás o olhavam com cólera agora pareciam chocados e machucados.

- O que você está falando, Hayato? - A voz de Yamamoto mal saiu por seus lábios. Suas sobrancelhas tremiam assim como todo seu corpo. - Você está terminando o que temos?

- Eu estou fazendo aquilo que já deveria ter feito. Não posso conviver mais com essa situação. Você sempre soube que o Jyuudaime seria a minha escolha se a situação aparecesse, e mesmo assim você age como se não soubesse disso - A fúria do Guardião da Tempestade estava longe de ser aplacada. Por mais que seu peito doesse e sua mente afirmasse que ele deveria calar-se, as palavras simplesmente não paravam de sair.

- Eu nunca soube que estava competindo com o Tsuna - O Guardião da Chuva engoliu seco e abaixou o olhar. Quando ele o ergueu, seus olhos estavam úmidos. - Não acredito que você está jogando no lixo todos esses anos e tudo o que já passamos juntos por causa de uma estúpida viagem, Hayato.

- É trabalho - Gokudera deu ênfase à palavra.

- É sempre alguma coisa, não? Antes era o Colégio, depois o trabalho, mas não importa o que apareça sempre vai ser sobre o Tsuna, nee? Nossa vida sempre girou em torno dele e provavelmente seria assim até o fim - A maneira ferida como Yamamoto respondia denunciava que ele desistira de persuadir o homem a sua frente. Tanto a batalha quanto a guerra estavam perdidas.

- O fim de nós dois é aqui e agora. Não ficarei ouvindo você criticar o Jyuudaime.

O moreno olhou mais uma vez na direção de Gokudera antes de passar ao seu lado e abaixar-se para pegar o terno e a gravata que estavam jogados sobre a poltrona. Ao retornar, o Guardião da Chuva parou em frente ao homem de cabelos prateados, em uma distância relevante para aquele momento. Os rostos dos dois estavam a poucos centímetros de distância, e o braço direito do Décimo podia ouvir claramente o barulho do maxilar de Yamamoto. Ele estava se controlando.

- Você tem certeza? Porque se eu sair por aquela porta eu não retornarei para este apartamento. Eu deixarei você e todos os meus pertences para trás e não pensarei duas vezes em recomeçar minha vida. - As palavras saíram devagar e foram ditas de maneira bem clara. - Porque por mais que eu o ame, Hayato, o que você disse nesse quarto não desaparecerá da minha mente e não importa o que você faça, quantas vezes peça desculpas, eu não vou perdoá-lo.

A autoconfiança que acompanhou o Guardião da Tempestade por toda a discussão vacilou. As palavras chegaram aos seus ouvidos e por um momento ele pensou em ouvir a voz dentro de sua cabeça que implorava para que sua boca pedisse desculpas. Os olhos castanhos de Yamamoto não mentiam e ele sabia que o moreno faria exatamente tudo o que estava dizendo.

- Deixe sua chave.

A resposta de Gokudera foi á última coisa que Yamamoto escutou naquele apartamento.
Sem nenhum outro comentário, o moreno deu meia volta e deixou o quarto. Segundos depois a porta de entrada fez barulho e quando ela se fechou, o homem de cabelos prateados tremeu, piscando várias vezes em seguida. Seus olhos verdes correram pelo quarto, vislumbrando a bagunça. A cama estava amarrotada, denunciando as horas em que ambos passaram procurando alivio um nos braços do outro. Havia peças de roupa espalhadas pelo chão, e mesmo após ter deixado o apartamento, o cheiro de Yamamoto era a única coisa que Gokudera sentia.
Cinco anos. Milhões de lembranças. Milhares de sorrisos. Centenas de noite juntos.
Naquela noite, tudo desapareceu.

O Guardião da Tempestade não tornou a ver o moreno nos dois dias que se seguiram. Ele estava ocupado demais com os preparativos da viagem e os assuntos da Família para pensar em outra coisa.
Quando a sexta-feira finalmente chegou, Gokudera embarcou para a Itália com Tsuna e Ryohei. Sua mala era pequena, e ele teria de comprar basicamente tudo novo quando chegasse à Itália.
Ao ser questionado sobre a pouca bagagem, o Guardião da Tempestade disse muito pouco, entrando em um taciturno e pensativo silêncio. Enquanto olhava pela janela do avião, o homem de cabelos prateados relembrou o motivo pelo qual aquele era seu único pertence. Após a briga com Yamamoto, Gokudera deixou o apartamento minutos depois, indo se instalar em um Hotel.

Ele não retornara para o apartamento. As coisas haviam ficado da maneira como eles deixaram. A cama desarrumada, as roupas no chão, a garrafa de vinho aberta na sala... Tudo estava exatamente da mesma forma. E de todas as lembranças que o Guardião da Tempestade tinha daquela noite, a mais forte era a do buquê de rosas vermelhas que recebera do moreno no começo da tarde, e que provavelmente estaria morrendo no vaso de sua sala.
Com um sorriso triste, Gokudera fechou os olhos, admirado com a alusão da situação. As flores morriam exatamente como seu relacionamento.

Continua...