Capítulo 1 – Lembranças
Já fazia quase duas semanas desde que eu me tornara uma caçadora de Ártemis e não me arrependo de ter tomado essa decisão.
Zoe Doce-Amarga, uma grande amiga de todas nós, havia morrido a pouco tempo e todas as noites olhávamos para o céu e admirávamos uma estrela em especial, a estrela de Zoe, e é por isso que eu estou sentada na grama contemplando o céu estrelado. Mas sempre que eu olhava para aquela estrela várias memórias me vinham a cabeça, memórias boas e ruins. Lembrar de Zoe me fazia recordar de minha última missão com meus amigos do Acampamento Meio Sangue, sinto saudades deles, apesar de ter brigado muitas vezes com meu amigo Percy Jackson, no final das contas eu percebi que ele era um cara muito especial, um verdadeiro amigo. Também tem minha amiga Annabeth e meu amigo Grover que me acompanharam desde o inicio, quando ainda nem sabíamos que o acampamento existia, enfrentamos muita coisa juntos naquela época, mas meu coração dói ao pensar nesses tempos, dói ao pensar em uma pessoa que era meu amigo nesses tempos.
A recordação de Luke é com certeza uma das piores que eu tenho por que eu dei minha vida por ele, e por Grover e Annabeth, acreditei que ele realmente gostasse de mim, bom, na verdade ele podia ter gostado quando nos conhecemos, mas agora com certeza não gosta mais. Luke foi meu primeiro amigo e me ajudou em tempos difíceis quando eu não tinha mais ninguém, mas isso mudou quando ele foi para o lado do mal, para o lado de Cronos. Me lembro da primeira vez que vi as caçadoras, eu estava com Luke e me recusei a ir com elas por causa dele, me recusei porque tudo que eu queria era ficar perto dele, meu maior medo era de perdê-lo. Zoe, minha amiga que morreu, discutiu comigo dizendo coisas horríveis ao respeito de Luke, briguei com ela por causa dele e sabe o que dói mais? Saber que ela estava certa em cada palavra que disse.
Em minha última missão com meus amigos do acampamento eu o reencontrei e senti meu coração gelar quando vi com meus próprios olhos tudo o que diziam sobre ele. Meu amigo Percy o criticava mas eu não queria acreditar, mas depois de vê-lo daquele jeito eu percebi que o havia perdido, que ele estava perdido. No inicio meu coração quase saltou pela minha boca, não sei explicar o que senti quando o vi, tudo que eu mais queria ver desde que ressuscitei era ele, era os olhos dele que eu queria ver quando acordei. Meu coração não parava de bater fortemente naquele momento, eu tive vontade de abraçá-lo e dizer o quanto era importante para mim, queria ver ele sorrindo ao me ver, mas nada disso aconteceu. Ele ficou surpreso mas ao invés de dizer palavras amigáveis ele tentou me levar para o lado negro e eu tenho vergonha de admitir que por um momento pensei em ir com ele, pensei em tudo que havíamos planejado anos atrás, mas eu não podia abandonar a razão. No fim eu acabei lutando com ele, o que foi uma experiência horrível para mim, ver aqueles olhos concentrados em me acertar, concentrados em me machucar, aquele olhar me feriu por dentro.
Foi como o pior pesadelo de minha vida. Ele se fora, o Luke que eu conheci já não existia e foi isso que me levou a continuar a lutar. Eu gritei com ele e o ataquei com toda raiva que sentia por ele ter se tornado aquilo, por ter sido tão estúpido, mas não consegui segurar as lágrimas, acabei chorando ali mesmo de dor e decepção. E finalmente eu fiz algo que me assombra até hoje, eu o chutei precipício abaixo, eu o empurrei para a morte, eu o matei. Eu não consigo explicar o quanto aquilo me feriu, o quanto ainda me dói. Nada pelo que passei se compara a dor que senti naquele dia e especialmente naquele momento que eu o vi estirado nas pedras.
As lágrimas já estavam correndo pelo meu rosto, eu procurava pensar sozinha, não queria que ninguém me visse chorando pelos cantos. Mas eu não choro sempre, ser uma caçadora foi minha salvação, me faz esquecer o meu passado e me faz esquecer uma coisa que eu daria tudo para esquecer. Uma coisa que não mudou nem após minha morte. Eu sou apaixonada por Luke.
Começava a surgir uma agitação a poucos metros de mim, pude ouvir algumas das caçadoras gritando ordens e correndo, me levantei em um pulo e corri em direção a elas. Elas lutavam contra uma Quimera que estava colocando fogo em nossas barracas. Paralisei por um instante e logo peguei meu arco e corri para ajudá-las. Atirei algumas flechas no monstro.
- Thalia! – berrou Ártemis vindo em minha direção – Há mais inimigos!
- Mais monstros senhora? – perguntei com a voz firme.
- Semi-deuses – respondeu ela me olhando nos olhos.
- Onde? – perguntei pegando mais uma flecha.
- Perto do rio, vá! – ordenou ela apontando em direção a floresta.
Comecei a correr o máximo que conseguia, o rio não estava muito longe. Assim que fui me aproximando avistei a sombra de alguém bebendo a água do rio. Escondi-me atrás de uma árvore e firmei o arco pronto para atirar. Me aproximei em passos surdos, o inimigo estava de costas e ainda bebia água. Já estava perto o suficiente para ver seu rosto, o brilho do luar nos iluminava.
- Renda-se! – gritei apontando o arco para o inimigo.
Ele se levantou e me olhou. O brilho da lua deixou seu rosto pálido, mas eu o reconheci, eu o reconheceria em qualquer lugar, aquele rosto havia me assombrado durante toda minha vida. Meu coração parecia prestes a explodir, minhas pernas ficaram bambas, senti minhas mãos ficarem trêmulas. Senti dificuldade para respirar, parecia que todo ar havia desaparecido. Abaixei o arco para poder vê-lo melhor.
- Surpresa? – perguntou Luke indiferente.
Eu abri a boca algumas vezes, mas não conseguia dizer nada.
- Você não estava morto? – perguntei confusa.
Ele riu pelo nariz, mas ainda continuava com a expressão vazia.
- É uma pena decepcioná-la velha amiga – disse ele com os olhos cheios de frieza.
- O que está fazendo aqui? – perguntei apertando meu arco.
- Vim destruir as caçadoras, ordens de Cronos – respondeu ele com a voz cortante.
Voltei a levantar meu arco, dessa vez com mais firmeza. Não podia fraquejar agora, eu iria defender as caçadoras.
- Eu não vou deixar seu traidor – falei em voz alta.
- Eu não pedi sua permissão – disse ele ríspido.
- Não faz diferença, daqui você não passa – disse com toda coragem que eu tinha.
Ele pegou sua espada e a apontou para mim. Novamente eu iria viver meu pesadelo. Mas não iria vacilar, irei lutar até a morte.
Luke aproximou-se ameaçador, eu disparei uma flecha contra sua cabeça, mas ele desviou e continuou avançando. Disparei mais uma que passou de raspão em seu braço. Ele avançou mais rápido e investiu contra mim, eu saltei pro lado no momento que ele iria me acertar. Disparei mais uma flecha e dessa vez acertou em seu ombro, ele gemeu de dor e arrancou a flecha.
- Você não pode me vencer – disse ele avançando.
- Eu já venci uma vez! – gritei preparando outra flecha, porem ele foi mais rápido e quando eu ia atirar ele arrancou o arco de minha mão.
Fiquei paralisada, estava sem armas, havia deixado Aegis em minha barraca. Dei um passo para trás e tentei pensar em uma estratégia.
Luke saltou para cima de mim, me derrubando no chão bruscamente. Tentei me levantar, mas ele estava sobre mim e colocou a espada em meu pescoço.
- O que está esperando? – perguntou desafiadora.
Ele ficou calado por um momento, somente me olhava, eu o olhava nos olhos tentando encontrar algo do antigo Luke, mas nada. Então para minha surpresa ele soltou a espada. Seus olhos pareceram brilhar com algo que parecia felicidade, aquele brilho me lembrava o Luke pelo qual dei a vida.
- Thalia – sussurrou ele.
E para minha surpresa ele me beijou.
